terça-feira, janeiro 27, 2009

Eficácia e defeitos da ética na política


Haverá compatibilidade entre a ética e a política?

Será que fazendo a ética parte integrante da política, esta manterá a eficácia na defesa dos interesses colectivos?

Será devaneio puro reivindicar que a política contemple os valores éticos, como condição indispensável para a sua credibilidade?

Pergunto-me e arrisco-me a não ter resposta fácil para este binómio, ética e política, tal a complexidade de conceitos que me proponho analisar, sabendo-se que muita gente os considera como o azeite e a água, pois não se misturam. Contudo, assumir e professar essa atitude, é o mesmo que admitir a incompatibilidade da moral aos políticos, reconhecendo, sem reservas, que tudo vale a pena para se atingirem os fins pretendidos.

Para algumas pessoas, esta será uma falsa questão, contudo, a realidade política actual, tem vindo a confirmar uma avaliação moral negativa à classe política, comprometendo-os com todo o tipo de actos de consciência reprováveis que só os desconsideram e penalizam, não podendo simplesmente tornar-se público e ficar circunscrito a um “mea culpa” na consciência dos prevaricadores.

Sendo a moral um dos predicados e uma exigência na sociedade, inevitavelmente aos políticos se exigirá, na base do seu desempenho, comportamento e entendimento compatíveis com valores de consciência essenciais para o aumento de legitimidade no desempenho das suas funções.

A vida social privada dos políticos, confronta-os e coloca-os na atenção dos seus eleitores, aprisionando-os de certa maneira de forma ameaçadora e subjectiva, perante a sua eficácia e defeitos, enfatizando a esperança de mutação e contribuição para a moralização dos indivíduos na transformação social da sociedade.

Não podemos considerar a política e a moral como uma relação unívoca. Embora com características diferentes, torna-se necessária uma relação recíproca que não anule as características particulares de cada uma. Portanto, nem a renúncia à política em nome da moral; nem a rejeição absoluta, pura e simples da política.

Considerando-se a ética uma questão prática que ultrapassa a política, torna-se interessante como se exige ética na política, quando, muitas vezes, na vida privada procedemos de forma contraditória. Aliás, alguns casos considerados políticos, onde se exige ética, afinal de contas não passam de casos de polícia, devendo exigir-se a intervenção da autoridade policial, porque na realidade do que se trata são de casos de corrupção e não de falta de ética.

Esta relação directa de conceitos, na realidade está a contribuir para confundir e fazer passar uma pela outra, pois não podemos confundir a existência de moral nos partidos, quando o que na realidade existe, são códigos de ética e nada mais.

Não podemos confundir costumes com modos de ser. Enquanto a maneira de ser é a forma de comportamento moral dos homens em sociedade, os costumes referem-se e estão directamente relacionados com um conjunto de normas aceites pelo homem de forma livre e consciente, que disciplinam o seu comportamento individual.

A moral e a ética concorrem em patamares diferentes, mas materializam em concreto a regulamentação das relações entre os indivíduos e a comunidade, contribuindo assim para a estabilidade na ordem social.

A moral resulta da acção do homem enquanto ser social e prudente nos diversos patamares da evolução da humanidade, enquanto a ética acompanhando esse mesmo desenvolvimento, tem as suas origens em factos concretos, tendo, como particularidade, a existência de moral.Logo, se de um lado se exige ética enquanto componente da política onde a moralização se torna essencial e imprescindível, por outro, a consciência e o comportamento relacionado do indivíduo, choca e gera conflitos entre interesses de grupos opostos, potencializando ainda mais o choque com os imperativos morais do indivíduo, mostrando o quanto os interesses colectivos se sobrepõem à defesa do bem comum.


João Carlos Soares

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