domingo, janeiro 24, 2010

É PRECISO MUDAR


A corrupção dos políticos é de entre outras, o tipo de corrupção mais próxima do conhecimento público. Contudo, a corrupção dos políticos, não se inicia, nem termina na sua denúncia e “afastamento”, retirando-lhe oficialmente o acesso directo às comissões públicas, ao poder para tirar vantagens próprias, para enriquecimento pessoal, ou de favorecimentos de determinados grupos ou elites, transformando-se e dando origem a uma doença com níveis preocupantes.

Existe um outro tipo de corrupção instalado na política, com ramificações e tentáculos muito mais difíceis de detectar e sanar, do qual ninguém fala, a qual se propaga e instala no sistema político.

Não estamos a falar de privar ao bem público os seus direitos, mas diante de influências questionáveis tomarem-se decisões em proveito de grupos instalados e não com vista ao que deveria ser do interesse para a resolução dos problemas que o País enferma. Trata-se pois, de um sistema corrompido por influências para favorecer determinadas facções elitistas da sociedade, em vez de nos representar para criar melhores condições de vida a todos nós.

Não estamos a falar só de procedimentos ilegais, agora nas primeiras páginas do tablóide nacional e que daí não passa, mas também de dar provimento a decisões, algumas até certo ponto sem lógica aparente, por vezes com algum grau de estupidez e mesmo contraproducentes numa democracia participativa que se exige.

É pelo contrário a destruição e adulteração de um sonho que não deixaram evoluir, que já não nos representa e que está a ser construído para não funcionar.

O estado calamitoso incrementado pelas franjas da governança instituída que teimamos em permitir, consentido com o nosso voto o acesso aos órgãos de poder de gente sem um mínimo de clarividência de ideias nem experiência de vida, os quais se desconhece ou nunca deram algum contributo cívico para o merecerem, fazem com que esta doença epidémica atinja foros de pandemia, da qual não se vislumbra fim à vista.

Não é possível atribuir um qualquer certificado de qualidade aos políticos, para os diferenciar, apresentando uns como mais ou menos qualificados que outros para a função. No entanto, para se aceder a patamares de decisão, que vão influenciar e ditar num futuro o desenvolvimento de um país, alimentar a esperança ou não de geração em geração, devemos exigir dos líderes partidários, independentemente dos partidos no poder, uma escolha efectiva de gente que tenha capacidade para governar, decidindo, respeitando e garantindo os direitos dos seus eleitores, não os usando para moeda de troca para negócios de poder, quando deveriam preocupar-se em dedicar algum tempo a arrumar soluções contra a corrupção do sistema político, de que são responsáveis.

Esse compromisso deveria ser assumido pelos líderes deste país, numa postura efectiva de apoio a uma série de medidas que contribuíssem para aumentar eficazmente a transparência nas decisões de estado.

O Estado tem que de uma vez por todas fazer um esforço no sentido de diminuir a influência dos patrocinadores económicos partidários nas decisões fundamentais e estruturais do país, fazendo com que os políticos e as políticas defendam, como grupo de representantes da sociedade, a discussão de ideias para uma solução da crise em que vivemos, melhorando a condição de vida das famílias, e não um bando de vendedores profanos ideológicos, cuja intenção se resume a pensar em votos e a agradar os seus financiadores.

Quer queiram entender, ou não, as alterações a este sistema corrompido têm que ter alguma solução e rápida para a mudança, porque o cinismo como a questão é assumida por alguns e a relação nas possibilidades de mudança, só parecem interessar a quem gosta e lhe interessa continuar a chafurdar na lama em que vive.

O sistema político, além da corrupção que diariamente chega ao conhecimento público, começa a ser de uma ineficácia por vezes surreal, baseado num modelo ultrapassado e nada actual com a realidade e novas necessidades das gerações futuras.

Está na hora de sermos muito mais ambiciosos connosco próprios, começando para já a pensar na necessidade urgente de refundar um sistema político, consertando os problemas que o afligem, onde os políticos malandros não tenham lugar nem hipótese de manter o seu tráfico de influências.

João Carlos Soares

domingo, janeiro 03, 2010

Realidade ou futurologia


Vivemos numa era em que o desenvolvimento e as ideologias dominantes fracassaram em definitivo.
Na base do desenvolvimento e crescimento económico têm que estar salvaguardados e consignados no modelo de transformação social a adoptar, fundamentalmente através de uma rigorosa avaliação de projectos, cooperação e solidariedade onde a participação das populações se façam sentir na concepção e execução dos mesmos.
A distribuição de riqueza só será possível, se houver capacidade para fazer crescer a produção e o rendimento das famílias de forma equilibrada e sustentada em índices de rendimento aceitáveis, onde a discussão com os agentes representativos de consertação social seja respeitada.
A complexidade e realidade social são por vezes contraditórias com os objectivos e planos que reflectem única e exclusivamente os interesses e valores de grupos sociais que se encontram em campos diferentes.
As perspectivas dos governos dirigem-se e assumem como objectivos e metas uma verdade de desenvolvimento baseada exclusivamente no progresso técnico, de forma inquestionável, supostamente como paradigma das leis da evolução natural das sociedades modernas.
Na realidade, o que se passa, é um especulativo crescendo bolsista, que no interesse de alguns é utilizado como indicador de progresso, mas que na realidade o que acontece e se mascara, é uma produção que não cresce, porque não se sabe o que produzir nem o destino para essa produção e o que cresce é a ambição dos ricos se tornarem cada vez mais poderosos.
Vemos a discussão política acontecer em torno de estimativas que não são mais que extrapolações feitas na base das taxas de juro aplicadas pelo Banco Europeu e suas oscilações constantes, que são o espelho e evidenciam o carácter altamente equivocado e perverso dos grandes reguladores da economia mundial.
Entrámos na via da futurologia, quando a nossa maior preocupação deveria ser tentarmos obter uma visão consistente e real que melhor se pudesse adaptar às grandes e necessárias decisões no presente, concebendo e explorando futuros alternativos, mesmo que para isso tenhamos que aceitar a existência de certas condições, consideradas como partes do nosso futuro provável e desejável.
A insegurança e as incertezas, provocam um pesadelo cheio de contradições no nosso dia-a-dia, perante os desafios e os problemas aparentemente insolúveis por eles criados, fazendo com que o cidadão comum viva num caos de identidade, onde a perda de confiança nessa sociedade se faz sentir através da falta de credibilidade nos outros, no governo e na própria sociedade da qual são parte integrante.
Por fim, fica no ar uma simples mas inquieta questão:
Afinal, para onde caminhamos?

João Soares