segunda-feira, março 01, 2010

Onde pára a Justiça?


Quando assisto, sentado frente a um qualquer canal de televisão, vendo um qualquer programa em emissão, ou escutando e visualizando imagens degradantes de comportamentos cretinos de determinados actores com responsabilidade na nossa sociedade em completa desfiguração, dou por mim a delirar em vociferações de desespero, por não querer acreditar nem aceitar tanta cretinice.
Pois é, começo a pensar e ao mesmo tempo a ficar cada vez mais confuso, ou por outras palavras com a leve impressão de que a levar a peito tudo o que vejo e ouço, deixando de pensar, me poderá conduzir simplesmente a perguntas sem resposta, ou então a um quase estado doentio sem recuo, situação a que não me permito enquanto cidadão de direito.
É que não consigo deixar de pensar nas coisas, à procura de alguma escapatória possível nesta sociedade louca que, quer queiram ou não ajudámos a construir, numa busca desesperada de soluções, onde o empenho, o conhecimento e o esclarecimento de todos se torna cada vez mais necessário e indispensável.
No cerne de todas as minhas dúvidas e questões, as palavras formação e valores, são como que sinónimos no contraditório da responsabilidade nas causas do sofrimento desta sociedade constrangedora de penúria e lamentos que padece. Para entender toda a imbecilidade que nos rodeia, sou quase obrigado a admitir que está em curso uma qualquer mutação genética no ser humano, provocado por uma falta de vergonha insaciável de altos responsáveis, que não se coíbem de continuar a arremessar serradura para os nossos olhos, mentindo com quantos dentes têm na boca, vergonhosamente protegidos por uma justiça onde se incluem todos os sectores do poder judiciário sem excepção, onde todas as injustiças começam por se fazer sentir.
A Justiça simplesmente não faz o trabalho que lhe compete, no cumprimento das leis deste país. Deveria obrigar à apresentação de provas concretas e justificação das afirmações proferidas nos meios de comunicação social. Pelo invés, usa de uma panóplia de sigilos, continuando a proteger os interesses de uma certa elite de privilegiados, ofuscando a verdade e o conhecimento dos factos à população, os quais, fazem recair sobre os órgãos de soberania um ambiente de desconfiança e descredibilização e sobre o povo uma sensação de revolta perante tanta pouca vergonha.
Continuam a deixar em liberdade sem qualquer tipo de punição, políticos e administradores de empresas com participações do Estado, que não cumprem a lei, são useiros e vezeiros em comportamentos repreensíveis perante os órgãos que representam e a sociedade, utilizando a fuga aos impostos e servindo-se de negócios nada ou pouco lícitos perante a lei, desviando o dinheiro que deveria ser investido pelo Estado na educação do povo e na construção de condições de vida para todos, numa sociedade onde os valores sociais da igualdade de oportunidades prevalecessem.
Para que se faça cumprir a justiça num país, não basta dizer que num regime democrático todos somos iguais, quando sabemos à partida que, essa mesma justiça que protege lobbies descaradamente, considera uns mais iguais que outros, bastando para isso ser rico e bem relacionado, pois nessa condição, pelo que temos assistido infelizmente nos últimos tempos, tendo essas condições pode-se fazer tudo o que se quiser, se calhar até matar, porque não, pois a prisão parece não ter sido feita para eles.
Será caso para dizer: Se não fores rico, se não fores bem relacionado, se não tiveres amigos no poder, vais preso sem direito a qualquer perdão e prepara-te para sofrer toda uma série de injustiças.
Diz-se que este país está doente. Não será uma das suas maiores doenças a falta de equidade com que somos julgados por uma Justiça que nos faz desacreditar nos valores e na consistência de igualdade de tratamentos num Estado Democrático e na transparência e imparcialidade das suas decisões?
No entanto, independentemente das causas e da justiça que seja feita, esta é a sociedade que ajudámos a construir, à qual devemos exigir acima de tudo e em primeiro lugar, a segurança e o bem estar a proporcionar aos seus cidadãos.

Só que até a própria injustiça tem limites, limites esses que começam a ultrapassar o admissível, permitindo-se a constituição em pequenas máfias infiltradas em quase, se não todos os segmentos da sociedade, e quando menos esperarmos, rectificar os erros cometidos será tarde demais.

Vivemos tempos difíceis, atravessando um período delicado onde os valores éticos e morais são constantemente postos em causa, onde a sociedade de consumo dirigida e manipulada por uma grande indústria de magnatas e banqueiros, cuja preocupação é fabricar ilusões inebriando mentes fragilizadas de pessoas que hoje vivem como marionetas, ao sabor dos chamados especialistas de opinião, fazendo com que o mundo perca as suas referências positivas comportamentais, esquecendo-se que todos somos iguais e, que um dia vamos morrer e da Terra nada levaremos.


João Carlos Soares