sexta-feira, maio 04, 2012

A Bipolarização Eleitoral Consentida


A bipolarização eleitoral, consolida o pragmatismo geracional na política portuguesa.
Os resultados das eleições, nos quase quarenta anos de democracia, revelam que Portugal caminha a passos largos para uma cristalização de um sistema partidário, centrado numa estratégia de alternância de poder, onde a sucessão entre os dois partidos mais representativos, PS e PSD, partilham entre si e monopolizam uma estratégia político-partidária, nos projectos e estratégias para o País, impedindo assim, através do profissionalismo das suas máquinas partidárias, uma alternância e ascensão de novas agendas políticas na governação, transformando todas as outras formações políticas, em meros espectadores sem qualquer peso e orientação nos destinos do País.  
Assim sendo, a condução das políticas económicas e sociais, têm-se baseado exclusivamente na convergência de opções destes dois partidos, focado na estabilidade monetária e fiscal, e na protecção dos grandes grupos económicos, descorando os investimentos e diminuindo a participação dos cidadãos no processo de decisão e condução das políticas públicas.
A forma como estes dois partidos se tem comportado no poder, através de procedimentos marcados pela fidelidade às clientelas e pelos acordos e habilidades políticas das suas lideranças, contradizem as suas propostas sufragadas nos processos eleitorais, abrindo caminho à instabilidade e conflito aberto com os mais desprotegidos socialmente.
O acentuar desta polaridade partidária, num combate condicionado a duas opções possíveis, facilita e proporciona uma tendência cada vez maior de identificação do eleitorado no destino e aceitação desta alternância.
Numa estratégia de desqualificação do adversário directo, ou oponente, numa disputa muito acirrada e estreita entre os dois partidos, onde as tendências de escolha do eleitorado, ou pendem para um lado ou para o outro, cria a sensação e passa quase despercebida aos olhos dos eleitores, toda ou qualquer proposta alternativa oriunda de outras forças políticas, porque recai exclusivamente nestes dois contendores a liderança possível.
Face ao risco de perda directa, de um para o outro, é usual jogarem ambos de forma contida e similar, onde cada uma das partes em contenda tendem a arriscar menos nas suas propostas, centrando e reduzindo o combate político na base das diferenças e popularidade dos seus líderes, em detrimento das opções programáticas.
O descontentamento que se começa a sentir na opinião pública, nas bases partidárias e atestado pelo aparecimento de movimentos apartidários, contestando as decisões governamentais de sucessivos governos, abrem caminho e antevêem a mais que esperada diminuição do papel da militância partidária na definição das decisões e disputas eleitorais.
Se esta tendência se vier a acentuar, estarão em risco as bases de sustentação de um verdadeiro estado democrático, consolidando esta bipolarização, tornando as campanhas eleitorais mornas e sem sentido, conduzidas por políticos profissionais, dirigidas a nichos específicos de eleitores, afastando por completo qualquer hipótese de mudanças nas políticas públicas vigentes e que nos têm colocado na cauda da Europa.
Um estado democrático não pode nem deve estar condicionado ou limitado ao aspecto eleitoral, tornando-se indispensável outros elementos, tais como, a existência de um estado de direito e um sistema judicial independente, a existência de uma sociedade política responsável e democraticamente organizada, uma sociedade civil activa, que seja participativa através de várias formas na articulação da vontade política dos cidadãos.
Uma visão meramente eleitoralista ou técnica da democracia, não farão justiça ao sistema democrático, e, com toda a certeza, não contribuirá certamente para a solução dos graves e complexos problemas de que padece actualmente a nossa sociedade.
João Carlos Soares
Barreiro, 04 de Maio de 2012