sexta-feira, junho 29, 2012

Um País não se constrói a preto e branco


Um país não se constrói, nem pode ser conduzido por aventureiros, os quais, cometendo erros atrás de erros, sem qualquer tipo de escrúpulos, levados por impulsos irracionais sustentados por uma arrogância atroz, impõem com as suas decisões, angústia, descrença e sofrimento às populações.
Pelo contrário, os alicerces de uma nação têm que se consolidar, na base da esperança e na convicção em que cada cidadão deve e pode acreditar, nas suas capacidades e inclusão para a construção de um mundo melhor.
Decorrido um ano após as últimas eleições, face ao resultado encontrado, constatamos que o País deu mais um passo para o perpetuar de um sistema eleitoral, focalizado numa bipolarização partidária, dominante e consolidada, entre duas forças políticas, PS e PPD/PSD, os quais, ora um, ora outro, à frente da governação, com um pequeno apoio de ombro do CDS/PP, monopolizam o rol das políticas-partidárias e os projetos e estratégias nacionais.
Aos olhos da crítica especializada, insiste-se na catalogação destas duas forças dominantes, o PS na sua génese de esquerda, e o PPD/PSD de centro-direita, mas que na prática, face às orientações e programas apresentados nos sucessivos governos, resultam em mais do mesmo, com conteúdos e princípios programáticos muito semelhantes, os quais, na prática, se perfilam e reconhecem, nas filosofias e tendências neoliberais. Esta alternância tem, ao longo dos quase 40 anos de Democracia, consolidado o pragmatismo de gerações na política do País.
Todos os restantes partidos, se vêm arredados e marginalizados, reduzindo a sua participação e representatividade à disputa de lugares com assento parlamentar, num debate de ideias de surdos-mudos, tornando-se forças marginais, sem qualquer peso ou interferência nas linhas de orientação para o País, razão pela qual, se tem assistido a um cada vez maior afastamento e alheamento de pessoas da vida pública e partidária.
Nunca, como agora, as máquinas partidárias e o marketing político foram tão importantes, para se ganhar eleições. Os quadros profissionais de carreira, nas máquinas partidárias, figuras proeminentes no cenário político, dão-nos o sinal e indicam as tendências para o futuro, as quais, através de máquinas publicitárias, discursos e posturas de candidatos decididos, embebedam e abordam os eleitores, com promessas que sabem de antemão não poder cumprir.
Por essa razão, é com grande expectativa e receio que se antevêem os próximos anos, prevendo-se uma cada vez menor militância partidária na definição das decisões e disputas eleitorais, o afastamento cada vez maior dos cidadãos à política, o que deixa e abre caminho aos carreiristas para dominarem o aparelho de Estado, gerindo o destino de todos nós a seu belo prazer.
Se esta tendência se vier a fortalecer no futuro, as campanhas serão cada vez mais mornas, as abordagens orientadas para nichos específicos de eleitores, e assistiremos à institucionalização de “partidos-empresa”, manipulados por empresários políticos, pondo fim a um sonho chamado Abril.


João Carlos Soares
Barreiro, 29 de Junho de 2012

quarta-feira, junho 27, 2012

Desenvolvimento só com soberania e justiça social


Segundo opinião generalizada de vários pensadores contemporâneos, um sistema para ser sustentável, só será possível, existindo justiça social e soberania, através de medidas onde a harmonia entre o Homem e os recursos naturais concorram para o equilíbrio e conservação da natureza, proporcionando melhores padrões de vida às populações.
Ao defender-se e aplicar-se metodologias e técnicas que não ponham em risco a segurança da humanidade, prova-se que será possível defender ideais de conservação da natureza, garantindo o desenvolvimento dos Povos, sem explorar de forma predatória o Planeta em que vivemos.
Algumas afirmações tornadas públicas, baseiam-se em análises desenvolvidas há já algum tempo, onde os índices de degradação ambiental, constatado ao longo de várias gerações, são o resultado da criminosa materialização de conceitos nas sociedades consumistas, agravado pela privatização e controle dos recursos naturais nos países em desenvolvimento.
Face a este panorama, qualquer tentativa de utilização desses recursos pelos próprios países, incompatibilizam-se com os interesses dos grandes grupos económicos internacionais, com o argumento de que todos os recursos são finitos. Esta é uma razão expurgada de qualquer verdade, porque o argumento usado serve, única e exclusivamente, os interesses desses grupos, e colocam em causa qualquer hipótese de sustentabilidade ambiental, desenvolvimento e soberania dos países detentores dessas reservas naturais.
No fundo, depreenderemos desta posição que, o que esses grupos económicos pretendem, não é usar os recursos existentes com receio de se esgotarem, mas sim, privar os pobres do seu uso racional em bases sustentáveis, privando os países dependentes desses recursos de os utilizar, porque o egoísmo e o desrespeito pela condição humana, chega ao ponto de entenderem que esses recursos são reservas estratégicas da sua exclusividade, quando as populações famintas tanto deles necessitariam para sobreviver.
Partindo do conceito de que nada que conhecemos é infinito, não significa que, por essa razão, não possamos utilizar os recursos naturais ao nosso alcance. Deveremos isso sim, utilizá-los e rentabilizá-los da maneira mais adequada e racional possível, sempre com o objectivo de utilização das mais-valias, daí resultantes, em prol da melhoria da qualidade de vida das populações, e das estruturas de suporte ambiental.
Para um desenvolvimento sustentável, torna-se necessário e indispensável o convívio harmonioso entre a humanidade e os recursos naturais, através de uma conciliação entre a utilização dos recursos naturais, aplicando alguns recursos financeiros, resultantes da exploração desses recursos naturais, nas áreas ambientais, e desenvolvendo metodologias e técnicas que permitam à humanidade, viver com segurança, soberania, e claro, com melhores padrões de vida.
Para a concretização destes objectivos, torna-se imprescindível e nunca pode ser posta em causa a soberania do país, o que significa que, qualquer decisão sobre recursos naturais de um país depende deste, e sempre só deste, não se podendo permitir a interferência de terceiros, o que para uma soberania efetiva, outro ou qualquer tipo de decisão fora da sua competência, seria inaceitável, irracional e completamente incompreensível.

João Carlos Soares
Barreiro27 de Junho de 2012

quinta-feira, junho 21, 2012


O Valor do Nosso Exemplo
Será que a classe política e o povo deste país conseguirão, face ao riso hipócrita das hienas que infelizmente proliferam na nossa fauna política, dar uma resposta imediata e convincente, para resgatar eticamente os princípios subvertidos da democracia?
A reação dos cidadãos, face ao desmando ético e político da vida pública, traduz-se na desconfiança como os cidadãos encaram as instituições. A indiferença e a ineficácia de algumas instituições, prejudicadas pela corrupção, fraude e desrespeito pelos elementares direitos assegurados pela lei, geram cada vez mais a suspeição e o descrédito, escancarando e abrindo espaço à injustiça, descompromisso social e aumento da criminalidade, abrindo cada vez mais espaço para os oportunistas de última hora.
No meio de tanta perplexidade, começa a submergir um sentimento fétido e perigoso amparado numa retórica saudosista auto elogiosa, apontando a culpa sempre para os outros, não se admitindo e reprimindo as críticas, tomando de assalto a consciência dos que vivem o presente, num mundo que pretendem fazer gravitar em torno de fantasmas do passado.
Falar de crise neste momento, vinculados a um sistema político cada vez mais estranho, distante e alheio à realidade social, num mundo onde os nobres deputados, as vossas excelências, parecem não viver a realidade do povo, como se nada tivessem que ver com o caos que ajudaram a construir, é matéria suficiente para repensarmos os valores sobre os quais assenta a atividade política e os perigos inerentes ao descrédito diante da política e do que denominamos por democracia, a qual tendo as limitações que se lhe reconhece, não pode nem deve ser simplesmente desfigurada.
Tudo isto, potencializado por uma cada vez mais que evidente selvajaria representativa no sistema partidário, receio estarmos a contribuir para uma enorme descrença na democracia e a hipotecar em definitivo a possibilidade de se construir um país onde prevaleçam a dignidade, ética e justiça.
A História diz-nos que estes momentos de fraqueza das sociedades, proporcionam e facilitam a ascensão do autoritarismo, o populismo e o individualismo, onde o que prevalece é o, salve-se quem puder.
Todo este triste espetáculo proporcionado por agentes políticos com poucos escrúpulos, transformam, e desacreditam, cada vez mais, a própria atividade política, fazendo com que a indiferença de uns e o negativismo de outros fortaleçam os argumentos preocupantes dos que em abstrato se apresentam com indiferença perante todo ou qualquer envolvimento na política.
A abstração ingénua e moralista, que eclipsa e dissimula uma certa ignorância e leviandade egoísta de uns quantos, que não conseguem pensar para além da sua própria vida, ajuda e alimenta um triste espetáculo de oportunismo e corrupção, desacreditando cada vez mais a própria atividade e desempenho político dos seus atores, abrindo espaço a uma cada vez maior corja de ladrões que, desde sempre, espreitaram os cofres públicos, prontos para a golpada à primeira oportunidade que se lhes depare.
O acentuar de uma certa indiferença ao que se passa no dia-a-dia, o egoísmo ético e o interesse exclusivo de cada um, faz de cada cidadão cúmplice ativo do assalto a que o Estado está sujeito, ou então, é ele próprio também seu beneficiário, neste triste espetáculo de corrupção que enoja e torna a atividade dos políticos cada vez mais desacreditada perante os seus eleitores.
O Poder desde que corrompido, engrossa cada vez mais as fileiras daqueles que, pela sua indiferença, desconfiança e, porque não, algum egoísmo, inconscientemente contribuem para a manutenção ou renovação no poder, desta corja de ladrões à frente dos destinos deste país espoliado.
A falta de participação ativa dos cidadãos, a sua indiferença perante os acontecimentos do dia-a-dia, contrariamente ao que julgam, com esta atitude, proporciona cada vez mais, o avolumar da corrupção, tornando-se corresponsáveis e alimentando a corrupção.
Não tomar partido, não ter participação ativa nas escolhas que a Constituição no concede, através dos diversos atos eleitorais, contrariamente ao que pensam, estão a contribuir com a sua indiferença para a manutenção desta corja de ladrões que, à primeira oportunidade, sempre na mira dos cofres públicos, estão prontos e disponíveis para dar a golpada.

O que caracteriza um Estado como o nosso é, a forma como os seus cidadãos participam e decidem da coisa pública, onde a responsabilidade de todos, eleitos e eleitores, sem exceção, são o garante e vinculam cada cidadão aos destinos do seu país.
Pensar o contrário, nivelando todos os políticos pela mesma bitola e responsabilizando-os por tudo o que de negativo acontece na vida do País, estão a enganar-se a si próprios, pois estando os políticos no desempenho de uma atividade onde estão mais expostos, nada podem fazer se outros fatores externos não existirem, por outras palavras, se eles forem corruptos, terão inevitavelmente que existir agentes corruptores, e de igual modo não poderemos considerar que todos os políticos são corruptíveis.
Para combatermos esta turba de agentes políticos sem escrúpulos, é claramente insuficiente, ficarmo-nos pela crítica ou pela indiferença, pois é fundamental e pedagógico o nosso próprio exemplo de vida, caso contrário ninguém nos outorgará ou manifestará credibilidade suficiente, para exigirmos direitos e deveres aos outros, na defesa da justiça social, se os nossos exemplos se afirmarem exatamente pelo oposto.

João Carlos Soares
Barreiro, 20 de Junho de 2012