A avaliação que os cidadãos fazem dos políticos e da
política em geral, a simpatia ou antipatia, por determinado político ou força
partidária, não podem, nem devem ser a única regra para as nossas escolhas.
Acima de tudo, devemos ser coerentes e consistentes na
nossa postura política, mas nunca intransigentes ou receosos de modificarmos os
conceitos e práticas, desde que o façamos conscientes e com seriedade,
mostrando que mesmo derrotados nos nossos conceitos, mantemos expressa e sem
equívocos, a verdadeira motivação política que transportamos no coração.
Significa isso, uma clarividência e atenção na seleção
que fazemos dos candidatos, em quem reconhecemos competência, capacidade de
trabalho, honestidade e personalidade. Exigimos àqueles que consideramos
representantes da nossa vontade, visão, preocupação e valores éticos e morais,
na defesa dos valores da igualdade e fraternidade, avaliando o seu modo de
vida, o seu percurso político, o seu trabalho e atuação na defesa de causas e
propostas, e o alcance das suas ideias na construção do futuro.
Face às profundas formas de injustiça social,
económica e de corrupção política, que tanto têm agravado a qualidade de vida
do nosso povo, multiplicam-se as reações e indignação das populações oprimidas
e humilhadas nos seus direitos fundamentais, ampliando-se e reafirmando-se,
cada vez com mais oportunidade, uma revolução social que seja capaz de garantir
uma justiça atuante e eficaz, solidariedade, honestidade e maior transparência
na gestão da coisa pública.
Nos últimos tempos, mais implicitamente nas duas
últimas décadas, tem-se vindo a assistir a um sem número de escândalos, na
competência do poder público, vivendo-se momentos tenebrosos e inquietantes,
pondo em causa as conquistas da nossa história democrática, iniciada em 1974
que, infligindo danos profundos na credibilidade do sistema, nos deixam
indignados e revoltados face à forma sinistra utilizada pelos governantes, no
desvio dos escassos recursos públicos, em proveito próprio e pondo em risco a
própria soberania nacional.
Assistimos dececionados, à perpetuação no poder de
facínoras encapotados e protegidos em estruturas partidárias, trapaceados por
conluios e plataformas políticas duvidosas de ocasião, enganados por projetos
que não passam de adornos e aliciantes eleitorais, e ficamos surpreendidos
quando confrontados com o criticismo moral e ético, que não passam de
justificativos para a absolvição política dos seus ilícitos e imorais atos.
Aquilo que leva gerações a consolidar, numa sociedade,
se desfaz em poucos dias, respondendo às conveniências de delfins e suas
máquinas partidárias, sem o mínimo respeito pelos limites da ética, da moral ou
até dos seus conteúdos ideológicos.
Aqueles que deveriam ser o exemplo e líderes da
sociedade, guardiões dos mais altos valores, banalizam a intervenção pública
dos seus mandatos, demonstrando uma incoerência na palavra e nos atos,
alimentando a corrupção, escusando-se a julgar os culpados e absolvendo os seus
pares, o que acarreta consequências devastadoras para toda a sociedade,
influenciando de forma catastrófica a vida familiar, comunitária, profissional
e económica das populações.
Este tipo de comportamentos, deve-nos fazer pensar,
cada vez mais, sobre as nossas escolhas, pois recairá sobre as nossas escolhas,
a responsabilidade e a virtude de, num grande esforço nacional, erradicarmos no
futuro esta praga, que é a corrupção, num verdadeiro exercício da democracia.
A grave crise a que temos vindo a assistir,
conscientes do perigo real que nos tem vindo a cercar, pode ser o indicador de
que os eleitores necessitavam para o amadurecimento e aperfeiçoamento nas suas
opções, saindo da paralisia em que temos estado mergulhados, e iniciando com
esperança e coragem, uma mudança de atitude fundamental para mudar de rumo.
Alguns políticos tentam explicar-nos a crise,
imputando a responsabilidade a quem os antecedeu no poder, esquecendo-se que
também quem os antecedeu, foi antecedido por outros e assim sucessivamente. O
que não admitem, nem querem assumir, é que tem estado na classe política, a
origem e causa dos desmandos a que temos sido sujeitos, refletindo afinal de
contas que a razão só encontra uma causa, e essa causa, só pode estar na falida
prática política que nos levou a esta caótica situação, e eles, são os seus
diretos responsáveis.
As acusações de uns, o culto do poder, o egoísmo e
corrupção das classes políticas dominantes, dos diversos governos e parlamento,
não podem ser a justificação nem o ceticismo presente na forte abstenção que se
faz sentir nos processos eleitorais, colocando em causa a própria
representatividade dos eleitos, porque pior que fazer escolhas erradas, será
não as fazer, deixando para os outros essas escolhas e fugindo às nossas
responsabilidades enquanto cidadãos de direito.
Se errarmos nas nossas escolhas, quando somos
confrontados com desempenhos miseráveis de políticos, por nós sufragados, que
foram eticamente incorretos ou incompetentes no exercício das suas funções
parlamentares ou de governação, e mesmo assim conseguem ser reeleitos, temos
que reconhecer que as nossas opções foram erradas e que precisamos aprender a
usar a arma do voto, tomando as opções que achamos dever tomar, saindo da
letargia do voto útil e informando-nos politicamente das suas práticas.
Só com o interesse e participação cívica de todos, sem
exceção, daremos a devida importância que esse ato representa para o futuro,
como prova e desafio da verdadeira condição de cidadão e maioridade política.
Como prova de povo adulto e amadurecido, no exercício
dos deveres e direitos políticos que a Constituição nos confere, devemos
contribuir cada vez mais para o esclarecimento, educação cívica e política dos
cidadãos, por forma a cortar de uma vez por todas, com a perpetuação do atual
estado de corrupção e desordenado modelo sociopolítico.
João Carlos
Soares
Barreiro, 12 de Julho de 2012