sexta-feira, julho 13, 2012

E Agora? Mudar de Rumo!.

A avaliação que os cidadãos fazem dos políticos e da política em geral, a simpatia ou antipatia, por determinado político ou força partidária, não podem, nem devem ser a única regra para as nossas escolhas.
Acima de tudo, devemos ser coerentes e consistentes na nossa postura política, mas nunca intransigentes ou receosos de modificarmos os conceitos e práticas, desde que o façamos conscientes e com seriedade, mostrando que mesmo derrotados nos nossos conceitos, mantemos expressa e sem equívocos, a verdadeira motivação política que transportamos no coração.
Significa isso, uma clarividência e atenção na seleção que fazemos dos candidatos, em quem reconhecemos competência, capacidade de trabalho, honestidade e personalidade. Exigimos àqueles que consideramos representantes da nossa vontade, visão, preocupação e valores éticos e morais, na defesa dos valores da igualdade e fraternidade, avaliando o seu modo de vida, o seu percurso político, o seu trabalho e atuação na defesa de causas e propostas, e o alcance das suas ideias na construção do futuro.
Face às profundas formas de injustiça social, económica e de corrupção política, que tanto têm agravado a qualidade de vida do nosso povo, multiplicam-se as reações e indignação das populações oprimidas e humilhadas nos seus direitos fundamentais, ampliando-se e reafirmando-se, cada vez com mais oportunidade, uma revolução social que seja capaz de garantir uma justiça atuante e eficaz, solidariedade, honestidade e maior transparência na gestão da coisa pública.
Nos últimos tempos, mais implicitamente nas duas últimas décadas, tem-se vindo a assistir a um sem número de escândalos, na competência do poder público, vivendo-se momentos tenebrosos e inquietantes, pondo em causa as conquistas da nossa história democrática, iniciada em 1974 que, infligindo danos profundos na credibilidade do sistema, nos deixam indignados e revoltados face à forma sinistra utilizada pelos governantes, no desvio dos escassos recursos públicos, em proveito próprio e pondo em risco a própria soberania nacional.
Assistimos dececionados, à perpetuação no poder de facínoras encapotados e protegidos em estruturas partidárias, trapaceados por conluios e plataformas políticas duvidosas de ocasião, enganados por projetos que não passam de adornos e aliciantes eleitorais, e ficamos surpreendidos quando confrontados com o criticismo moral e ético, que não passam de justificativos para a absolvição política dos seus ilícitos e imorais atos.
Aquilo que leva gerações a consolidar, numa sociedade, se desfaz em poucos dias, respondendo às conveniências de delfins e suas máquinas partidárias, sem o mínimo respeito pelos limites da ética, da moral ou até dos seus conteúdos ideológicos.
Aqueles que deveriam ser o exemplo e líderes da sociedade, guardiões dos mais altos valores, banalizam a intervenção pública dos seus mandatos, demonstrando uma incoerência na palavra e nos atos, alimentando a corrupção, escusando-se a julgar os culpados e absolvendo os seus pares, o que acarreta consequências devastadoras para toda a sociedade, influenciando de forma catastrófica a vida familiar, comunitária, profissional e económica das populações.
Este tipo de comportamentos, deve-nos fazer pensar, cada vez mais, sobre as nossas escolhas, pois recairá sobre as nossas escolhas, a responsabilidade e a virtude de, num grande esforço nacional, erradicarmos no futuro esta praga, que é a corrupção, num verdadeiro exercício da democracia.
A grave crise a que temos vindo a assistir, conscientes do perigo real que nos tem vindo a cercar, pode ser o indicador de que os eleitores necessitavam para o amadurecimento e aperfeiçoamento nas suas opções, saindo da paralisia em que temos estado mergulhados, e iniciando com esperança e coragem, uma mudança de atitude fundamental para mudar de rumo.
Alguns políticos tentam explicar-nos a crise, imputando a responsabilidade a quem os antecedeu no poder, esquecendo-se que também quem os antecedeu, foi antecedido por outros e assim sucessivamente. O que não admitem, nem querem assumir, é que tem estado na classe política, a origem e causa dos desmandos a que temos sido sujeitos, refletindo afinal de contas que a razão só encontra uma causa, e essa causa, só pode estar na falida prática política que nos levou a esta caótica situação, e eles, são os seus diretos responsáveis.
As acusações de uns, o culto do poder, o egoísmo e corrupção das classes políticas dominantes, dos diversos governos e parlamento, não podem ser a justificação nem o ceticismo presente na forte abstenção que se faz sentir nos processos eleitorais, colocando em causa a própria representatividade dos eleitos, porque pior que fazer escolhas erradas, será não as fazer, deixando para os outros essas escolhas e fugindo às nossas responsabilidades enquanto cidadãos de direito.
Se errarmos nas nossas escolhas, quando somos confrontados com desempenhos miseráveis de políticos, por nós sufragados, que foram eticamente incorretos ou incompetentes no exercício das suas funções parlamentares ou de governação, e mesmo assim conseguem ser reeleitos, temos que reconhecer que as nossas opções foram erradas e que precisamos aprender a usar a arma do voto, tomando as opções que achamos dever tomar, saindo da letargia do voto útil e informando-nos politicamente das suas práticas.
Só com o interesse e participação cívica de todos, sem exceção, daremos a devida importância que esse ato representa para o futuro, como prova e desafio da verdadeira condição de cidadão e maioridade política.
Como prova de povo adulto e amadurecido, no exercício dos deveres e direitos políticos que a Constituição nos confere, devemos contribuir cada vez mais para o esclarecimento, educação cívica e política dos cidadãos, por forma a cortar de uma vez por todas, com a perpetuação do atual estado de corrupção e desordenado modelo sociopolítico.
João Carlos Soares
Barreiro, 12 de Julho de 2012

quinta-feira, julho 05, 2012

Liberalismo versus Capitalismo


Atento aos discursos fluentes, para não dizer convincentes, dos analistas políticos e homens de opinião da nossa praça, nos diversos canais de televisão e jornais, fico cada vez mais surpreendido e estupefacto, para não dizer mais confuso e embaraçado.
Surpreendentemente, pois há poucos anos, seria impensável se não inadmissível, assistirmos ao contraditório discurso clássico dos liberais, marcado desde sempre pela defesa do livre mercado como único e exclusivo aferidor da economia, defendendo agora veementemente com toda a sua energia a necessidade de ajuda do Estado ao sistema bancário e empresarial, em situação precária ou de falência.
Estarei a dormir ou acordado?
Então, não foram estes mesmos senhores, defensores militantes confessos de uma economia liberal, sem interferência do Estado, autores do discurso hegemónico há quase 40 anos, confundindo as causas das crises com as soluções?
Pelo que se pode constatar, das duas uma, ou estes senhores reavaliaram e reformularam as suas teorias, analisando os seus equívocos, ou então também eles andam confundidos, não percebendo, eles próprios, se estão perante uma crise do capitalismo ou do liberalismo.
Para estes senhores, a palavra capitalismo não fazia parte do seu discurso político, fazendo crer que vivíamos numa sociedade onde a desigualdade, a exclusão social e a pobreza, quando consideradas, eram analisadas como consequência e resultado da incapacidade dos indivíduos, sem que para isso se considerasse qualquer lógica estrutural que levasse os seres humanos a agir ou ter um tipo de comportamento de determinada forma.
Prova disso, é o continuarmos a assistir em plena crise à defesa deste tipo de economia, procurando bodes expiatórios da situação nos maus capitalistas, banqueiros corruptos e investidores sem escrúpulos, sugerindo-se a ampliação do livre mercado, a privatização e a interferência cada vez menor do Estado na economia, sem nunca assumir que o fator principal do fracasso se encontra exatamente na génese e essência do livre mercado.
Com o evoluir da crise, praticamente instalada por toda a Europa, perante uma depressão económica a nível Mundial, confrontados com a negação hipócrita percecionada das suas teorias liberais, tentam espalhar a ideia de um fatalismo implacável, combinado com algum ceticismo, para justificar o fracasso prático das suas teorias. Nesse sentido, fazem crer que, face à complexidade da situação, compreender a economia Mundial, torna-se numa tarefa quase impossível de concretizar, porque não existem condições para compreender os fenómenos económicos a esta escala.
Esta situação é recorrente de outras crises anteriores, tanto nas causas como na forma e tentativa de as justificar, tal o embaraço dos liberais nas explicações, perante a realidade dos acontecimentos atuais, comprovando-se que as crises não podem, nem devem de forma alguma, ser deixadas na mão invisível dos mercados.
Com a chegada da globalização económica, a qual deu os seus primeiros passos com o desmoronamento da União Soviética, permitiram a absorção de um quarto dos recursos mundiais que, há cerca de meio século, se encontravam fora do alcance do capitalismo, e proporcionaram um novo ciclo de expansão do mercado capitalista, o qual se aproxima do seu fim, deixando mais uma vez, manifestamente duas características fundamentais do capitalismo, a instabilidade e a insustentabilidade dos seus meios de produção.
Estas crises contínuas, umas maiores que outras, são a afirmação inequívoca de que as crises económicas se encontram inevitavelmente associadas ao capitalismo, onde a tendência ao investimento no mercado imobiliário, nas bolsas de valores e bancos, etc..etc., se configuram de forma desproporcional ao investimento no mercado de trabalho, levando a uma tendência na queda da taxa de lucros, pois somente a força da produção e transformação de cada país, poderão ser o motor para gerar mais valor e mais valias.
O investimento noutros setores da economia, quando determinados investimentos passam a ser considerados menos lucrativos, faz com que muitos investidores deixem de investir na produção, enviando para o desemprego milhares de trabalhadores, aumentando assustadoramente os níveis de desemprego e a consequente diminuição do poder de compra das famílias, pois o dinheiro, só por si, não gera dinheiro, o que prova que estamos perante mais um fracasso histórico do liberalismo.
As soluções apresentadas para sair da atual crise, veem confirmar o caráter ideológico do liberalismo, que se manifesta astutamente pela premissa da ideia do Estado ajudar o capitalismo a sair da crise, por outras palavras, socializando os prejuízos e privatizando os benefícios. O Estado continua a endividar-se para ajudar aqueles que, depauperando as finanças públicas, num sistema de casino global, contribuíram e são responsáveis pela crise que vivemos, reduzindo e aniquilando o investimento necessário em programas sociais e projetos de infraestrutura, e alimentando quase até à exaustão a especulação nas bolsas de valores.
O mercado livre, não passa de um instrumento de poder que manobra e define as regras, por forma a estabelecer uma cada vez maior concentração de recursos económicos, conduzindo à aceitação das suas propostas por parte da maioria da sociedade que, de forma inconsciente, arca com o ónus da crise gerada em função da concentração do capital, e se expõe cada vez mais à exclusão social.
Torna-se claro e evidente que, se quem dirige os destinos neste momento de crise, quisesse tomar as rédeas e dirigir o País para uma verdadeira solução, teria que estatizar os bancos endividados, controlando os fluxos de capital, e nunca, ajudar o sistema financeiro a sair da crise que criou, deixando depois que o mercado volte a ser o instrumento regulador, até que uma próxima crise se instaure.
É pena que os defensores do liberalismo, não retirem destas crises todas as consequências, assumindo as contradições do seu discurso, porque então outros valores mais altos se levantariam.
João Carlos Soares
Barreiro, 05 de Julho de 2012