terça-feira, agosto 28, 2012

Desvios éticos do Estado


Fazemos parte de um mundo, onde as pessoas lutam diariamente contra a arrogância a fome e a injustiça do sistema, desprezados e em total esquecimento pelos seus dirigentes. Somos peças de uma ilusão, em cada dia que passa, matando de vergonha e indignação, num mundo irremediavelmente comprometido, cada vez mais distante dos direitos das populações, onde o desencanto ocupa o espaço da esperança, e a dor emerge insensível à indigência humana, matando o sonho que o não chega a ser.

Neste mundo onde as pessoas desistem de lutar, entregues ao seu malfadado destino e sorte, prevalece a arrogância de quem tem o poder nas mãos, cada vez mais insensíveis e poderosos, num triste espectáculo de silêncios e sofrimento, insistindo em sobreviver para além das suas forças, com amor, solidariedade e fraternidade, numa luta desigual contra a intolerância e a insensibilidade dos responsáveis.

A indignação contra a mediocridade do sistema e os seus métodos, para o empobrecimento das populações, reflectido nas medidas levadas a cabo contra os trabalhadores, escondendo a verdadeira razão e causas da crise, são a imagem cruel da violência deste governo, que mutila silenciosamente com indiferença e insanidade mental, o sonho que conduz homens e mulheres dignos em democracia. 

O optimismo com que se encarou a entrada na União Europeia, as perspectivas de um espaço alargado de oportunidades para todos, desvaneceram-se em poucos anos, deixando um rasto de corrupção e degradação social, nunca vistos, o estabelecimento de novas elites aburguesadas na sociedade, submersas no obscurantismo e apadrinhadas por um justiça, tardia, lenta e ineficaz, constituindo-se no seu maior equívoco. 

O Estado está cada vez mais comprometido com os interesses dessas elites, construindo uma teia de instituições para controlar e reprimir pela força as populações, sempre que incomodados pelas suas contestações, considerando-as como elementos perigosos para a estabilidade e progresso da Nação.

Neste modelo de democracia, a vida humana reduz-se à condição de simples aparência, num simples processo de manipulação e falsa consciência, onde a propaganda faz as coisas parecerem o que não são, onde a arbitrariedade e violência contra o povo, são a fórmula de garantir aos governantes, a manipulação de verbas públicas em prol das elites ou deles próprios.

A denúncia sobre o carácter autoritário e corrupto do Estado, tornaram-se infelizmente, práticas de inúmeras dessas condutas, trazidas ultimamente à coação, onde se destaca os casos envolvendo a delapidação do património e erário público, envolvendo altas figuras do Estado. Perante estes factos, contrariando o que seria natural por parte das mais altas instâncias, nada foi feito para refrear essas práticas, tornando-se quase um desiderato no desempenho de cargos públicos, contribuindo assim dessa forma, para a fragilidade das instituições públicas e por consequência, do País.

Deturpada a democracia, por agentes que dela se aproveitam para usufruir das mordomias do poder, deve e tem que continuar a ser o garante do povo, no controle sobre todos os atos daqueles que exercem a representatividade, tornando-se imprescindível a participação social contínua, na procura da mudança nos desvios éticos na Administração Pública, compreendendo e sendo informada dos actos de desonestidade e os seus autores, batendo-se pelo exercício da Justiça, na reposição da moralidade, por forma a dar-se início a um processo de transformação na defesa dos interesses colectivos, necessária para se atingir a emancipação plena.

João Carlos Soares
Barreiro, 27 de Agosto de 2012