Fazemos
parte de um mundo, onde as pessoas lutam diariamente contra a arrogância a fome
e a injustiça do sistema, desprezados e em total esquecimento pelos seus
dirigentes. Somos peças de uma ilusão, em cada dia que passa, matando de
vergonha e indignação, num mundo irremediavelmente comprometido, cada vez mais
distante dos direitos das populações, onde o desencanto ocupa o espaço da
esperança, e a dor emerge insensível à indigência humana, matando o sonho que o
não chega a ser.
Neste
mundo onde as pessoas desistem de lutar, entregues ao seu malfadado destino e
sorte, prevalece a arrogância de quem tem o poder nas mãos, cada vez mais insensíveis
e poderosos, num triste espectáculo de silêncios e sofrimento, insistindo em
sobreviver para além das suas forças, com amor, solidariedade e fraternidade,
numa luta desigual contra a intolerância e a insensibilidade dos responsáveis.
A
indignação contra a mediocridade do sistema e os seus métodos, para o empobrecimento
das populações, reflectido nas medidas levadas a cabo contra os trabalhadores, escondendo
a verdadeira razão e causas da crise, são a imagem cruel da violência deste
governo, que mutila silenciosamente com indiferença e insanidade mental, o
sonho que conduz homens e mulheres dignos em democracia.
O
optimismo com que se encarou a entrada na União Europeia, as perspectivas de um
espaço alargado de oportunidades para todos, desvaneceram-se em poucos anos,
deixando um rasto de corrupção e degradação social, nunca vistos, o
estabelecimento de novas elites aburguesadas na sociedade, submersas no
obscurantismo e apadrinhadas por um justiça, tardia, lenta e ineficaz,
constituindo-se no seu maior equívoco.
O
Estado está cada vez mais comprometido com os interesses dessas elites,
construindo uma teia de instituições para controlar e reprimir pela força as
populações, sempre que incomodados pelas suas contestações, considerando-as
como elementos perigosos para a estabilidade e progresso da Nação.
Neste
modelo de democracia, a vida humana reduz-se à condição de simples aparência,
num simples processo de manipulação e falsa consciência, onde a propaganda faz
as coisas parecerem o que não são, onde a arbitrariedade e violência contra o
povo, são a fórmula de garantir aos governantes, a manipulação de verbas públicas
em prol das elites ou deles próprios.
A
denúncia sobre o carácter autoritário e corrupto do Estado, tornaram-se
infelizmente, práticas de inúmeras dessas condutas, trazidas ultimamente à
coação, onde se destaca os casos envolvendo a delapidação do património e
erário público, envolvendo altas figuras do Estado. Perante estes factos, contrariando
o que seria natural por parte das mais altas instâncias, nada foi feito para
refrear essas práticas, tornando-se quase um desiderato no desempenho de cargos
públicos, contribuindo assim dessa forma, para a fragilidade das instituições
públicas e por consequência, do País.
Deturpada
a democracia, por agentes que dela se aproveitam para usufruir das mordomias do
poder, deve e tem que continuar a ser o garante do povo, no controle sobre
todos os atos daqueles que exercem a representatividade, tornando-se
imprescindível a participação social contínua, na procura da mudança nos
desvios éticos na Administração Pública, compreendendo e sendo informada dos
actos de desonestidade e os seus autores, batendo-se pelo exercício da Justiça,
na reposição da moralidade, por forma a dar-se início a um processo de
transformação na defesa dos interesses colectivos, necessária para se atingir a
emancipação plena.
João
Carlos Soares
Barreiro,
27 de Agosto de 2012