Como
resultado da arrogância e desmando da classe dirigente, no nosso país, passadas
duas décadas de ilusionismo financeiro e políticas vagabundas, a caminho de uma
tragédia nacional, permitiu-se e submeteu-se as populações aos interesses
externos, num ato de extrema crueldade e sacrifício.
Diariamente
somos confrontados com a insegurança dos postos de trabalho, o que resulta a
curto prazo, numa tragédia sem fim para milhares de famílias, num processo de
destruição da classe média, numa aposta miserável para o assassinato dum estado
social já moribundo, o que para além do efeito imediato na população, hipoteca
em definitivo as gerações futuras.
Numa
autêntica e assustadora demagogia doentia, o governo de Paços Coelho, a mando
da Troika, impõe medidas atrás de medidas, num mediático show, onde à máquina
destrutiva do capitalismo é permitido o afundamento e destruição da débil capacidade
produtiva do país, restringindo as conquistas sociais e abrindo caminho à
implementação de políticas de casino, assentes em novas bases de organização
política, submetendo-se o regime ao mercado livre, e os trabalhadores a um retrocesso
social sem precedentes.
Vai
ser muito difícil a António José Seguro, ou a qualquer outro político com
intenções de vir a governar este país, em alternativa, convencer os mestres da
austeridade, na abordagem dos problemas que o país e a europa enfrentam, porque
as medidas levadas a cabo estão erradas, e os políticos e as lideranças,
incluindo a do PS, estão todos comprometidos com as estratégias ruinosas levadas
a cabo nos últimos anos, e que nos conduziram a este descalabro.
Por
isso, o seu discurso não passa de um enunciado de princípios morais, sem
qualquer sentido nem consequências, funcionando simplesmente como uma
descolagem e paliativo de oratória, como forma de se redimir das opções tomadas
pelo seu antecessor José Sócrates, e correligionários, que abandonaram o chefe
e se refugiaram nos Conselhos de Administração de empresas que tutelaram, ou
dissimulados nas bancadas do seu grupo parlamentar, à espreita de uma nova
oportunidade, como se lhes não pudessem ser imputadas, em consciência, quaisquer
responsabilidades.
Quem
pensar um pouco, e se dedicar a uma interpretação dos factos, perceberá que o
que está a acontecer, resulta da desindustrialização a que o País foi sujeito
pela União Europeia, aquando da nossa entrada na zona euro e na aceitação de
incorporar a moeda única, sujeitando-se os países aderentes à perda da
soberania monetária, e ao desmantelamento e alienação de todo o tecido
empresarial produtivo, como aconteceu em Portugal com a Siderurgia, Lisnave, Setenave,
etc..etc…etc….
O
corporativismo instalado nas mais altas instâncias do setor público, e o
dinheiro, a conta-gotas, tardiamente concedido nos empréstimos aos países em
situação de emergência, impuseram-se às populações programas rígidos e severos
de curto prazo de execução, cortes de rendimento e subidas de impostos
insuportáveis, afundando esses países com recessão atrás de recessão, provocando
o caos nas economias e reduzindo as receitas fiscais a um nível geral de
insustentabilidade.
Por
alguma razão a Grã-Bretanha se manteve fora da moeda única. Sempre que
necessitarem, é só fazer dinheiro, sem que para tal, tenham que pedir autorização
ao BCE. Pelo contrário, nós a Espanha e a Grécia, não tendo meios de
desvalorização de moeda própria, num espartilho de curto prazo, estamos
sujeitos ao descontrolo da nossa bolsa de pagamentos, expondo-nos e
tornando-nos vulneráveis, crise após crise, até à chamada rutura final, quando
o dinheiro se esgotar e entrarmos em total incumprimento para com os nossos
credores.
Esse
incumprimento, pelos países chamados do sul, está a criar o pânico e receios
dos investidores externos, face à nossa escassez financeira e desequilíbrio da
balança de pagamentos, com a louca e consequente subida de juros a esses
países, onde nos incluímos.
Por
outro lado, a poderosa e industrializada Alemanha, à custa desta crise
instalada na Europa, consegue desses mesmos investidores, dinheiro a juros baixíssimos,
muitas vezes a juro zero, garantindo a segurança do seu dinheiro na banca
alemã, que de seguida, os coloca no mercado de empréstimo aos países mais
carenciados, com juros exorbitantes, ganhando assim de duas maneiras, face à
desgraça que provocam e impõem aos, supostamente, seus aliados.
Dêem-se
as voltas que se derem, e a prova está exatamente nas afirmações do ministro
das finanças, que discurso após discurso, prolonga as dúvidas e o tempo de
crise para além do previsto, depois de afirmarem que a crise era uma situação
controlável e momentânea, e que, as medidas preparadas por este governo,
durante um curto período de 2 a 3 anos, seriam, suficientes para debelarmos as
nossas dificuldades orçamentais e de ativos, eis que começam a circular indicadores
e interpretações diferentes, de reconhecidos economistas, avisando que esta
situação irá prolongar-se por mais de uma década.
O
desmando dos nossos governantes, as políticas de sobre-endividamento impostas
pela europa e mais concretamente pela Alemanha, aos seus aliados, através de
programas financeiros de apoio ao desmantelamento da nossa indústria, mas que
mais tarde ou mais cedo teriam que ser resgatados, alimentaram durante quase
duas décadas a irresponsabilidade e petulância da classe dirigente no nosso
país, que a troco de uma economia insustentável de desvarios orçamentais,
quiseram e permitiram-se criar fortunas, gerando uma elite privilegiada de novo-riquismo,
que agora, quando o barco bateu no fundo, estão a salvo com as economias
amealhadas à nossa custa, e impunes nos paraísos fiscais.
As
cartas estão lançadas, neste jogo onde as regras estão viciadas desde o início,
ficando no ar a única pergunta possível, que consiste em sabermos até onde irá
a resistência e conformismo da população e das forças que um dia resgataram
este país das garras do fascismo.
João
Carlos Soares
Barreiro,
13 de Novembro de 2012