terça-feira, novembro 13, 2012

DO FANATISMO CAPITALISTA À QUEDA DA DEMOCRACIA, É UM PULO.


Como resultado da arrogância e desmando da classe dirigente, no nosso país, passadas duas décadas de ilusionismo financeiro e políticas vagabundas, a caminho de uma tragédia nacional, permitiu-se e submeteu-se as populações aos interesses externos, num ato de extrema crueldade e sacrifício.
Diariamente somos confrontados com a insegurança dos postos de trabalho, o que resulta a curto prazo, numa tragédia sem fim para milhares de famílias, num processo de destruição da classe média, numa aposta miserável para o assassinato dum estado social já moribundo, o que para além do efeito imediato na população, hipoteca em definitivo as gerações futuras.
Numa autêntica e assustadora demagogia doentia, o governo de Paços Coelho, a mando da Troika, impõe medidas atrás de medidas, num mediático show, onde à máquina destrutiva do capitalismo é permitido o afundamento e destruição da débil capacidade produtiva do país, restringindo as conquistas sociais e abrindo caminho à implementação de políticas de casino, assentes em novas bases de organização política, submetendo-se o regime ao mercado livre, e os trabalhadores a um retrocesso social sem precedentes.
Vai ser muito difícil a António José Seguro, ou a qualquer outro político com intenções de vir a governar este país, em alternativa, convencer os mestres da austeridade, na abordagem dos problemas que o país e a europa enfrentam, porque as medidas levadas a cabo estão erradas, e os políticos e as lideranças, incluindo a do PS, estão todos comprometidos com as estratégias ruinosas levadas a cabo nos últimos anos, e que nos conduziram a este descalabro.
Por isso, o seu discurso não passa de um enunciado de princípios morais, sem qualquer sentido nem consequências, funcionando simplesmente como uma descolagem e paliativo de oratória, como forma de se redimir das opções tomadas pelo seu antecessor José Sócrates, e correligionários, que abandonaram o chefe e se refugiaram nos Conselhos de Administração de empresas que tutelaram, ou dissimulados nas bancadas do seu grupo parlamentar, à espreita de uma nova oportunidade, como se lhes não pudessem ser imputadas, em consciência, quaisquer responsabilidades.
Quem pensar um pouco, e se dedicar a uma interpretação dos factos, perceberá que o que está a acontecer, resulta da desindustrialização a que o País foi sujeito pela União Europeia, aquando da nossa entrada na zona euro e na aceitação de incorporar a moeda única, sujeitando-se os países aderentes à perda da soberania monetária, e ao desmantelamento e alienação de todo o tecido empresarial produtivo, como aconteceu em Portugal com a Siderurgia, Lisnave, Setenave, etc..etc…etc….
O corporativismo instalado nas mais altas instâncias do setor público, e o dinheiro, a conta-gotas, tardiamente concedido nos empréstimos aos países em situação de emergência, impuseram-se às populações programas rígidos e severos de curto prazo de execução, cortes de rendimento e subidas de impostos insuportáveis, afundando esses países com recessão atrás de recessão, provocando o caos nas economias e reduzindo as receitas fiscais a um nível geral de insustentabilidade.
Por alguma razão a Grã-Bretanha se manteve fora da moeda única. Sempre que necessitarem, é só fazer dinheiro, sem que para tal, tenham que pedir autorização ao BCE. Pelo contrário, nós a Espanha e a Grécia, não tendo meios de desvalorização de moeda própria, num espartilho de curto prazo, estamos sujeitos ao descontrolo da nossa bolsa de pagamentos, expondo-nos e tornando-nos vulneráveis, crise após crise, até à chamada rutura final, quando o dinheiro se esgotar e entrarmos em total incumprimento para com os nossos credores.
Esse incumprimento, pelos países chamados do sul, está a criar o pânico e receios dos investidores externos, face à nossa escassez financeira e desequilíbrio da balança de pagamentos, com a louca e consequente subida de juros a esses países, onde nos incluímos.
Por outro lado, a poderosa e industrializada Alemanha, à custa desta crise instalada na Europa, consegue desses mesmos investidores, dinheiro a juros baixíssimos, muitas vezes a juro zero, garantindo a segurança do seu dinheiro na banca alemã, que de seguida, os coloca no mercado de empréstimo aos países mais carenciados, com juros exorbitantes, ganhando assim de duas maneiras, face à desgraça que provocam e impõem aos, supostamente, seus aliados.
Dêem-se as voltas que se derem, e a prova está exatamente nas afirmações do ministro das finanças, que discurso após discurso, prolonga as dúvidas e o tempo de crise para além do previsto, depois de afirmarem que a crise era uma situação controlável e momentânea, e que, as medidas preparadas por este governo, durante um curto período de 2 a 3 anos, seriam, suficientes para debelarmos as nossas dificuldades orçamentais e de ativos, eis que começam a circular indicadores e interpretações diferentes, de reconhecidos economistas, avisando que esta situação irá prolongar-se por mais de uma década.
O desmando dos nossos governantes, as políticas de sobre-endividamento impostas pela europa e mais concretamente pela Alemanha, aos seus aliados, através de programas financeiros de apoio ao desmantelamento da nossa indústria, mas que mais tarde ou mais cedo teriam que ser resgatados, alimentaram durante quase duas décadas a irresponsabilidade e petulância da classe dirigente no nosso país, que a troco de uma economia insustentável de desvarios orçamentais, quiseram e permitiram-se criar fortunas, gerando uma elite privilegiada de novo-riquismo, que agora, quando o barco bateu no fundo, estão a salvo com as economias amealhadas à nossa custa, e impunes nos paraísos fiscais.
As cartas estão lançadas, neste jogo onde as regras estão viciadas desde o início, ficando no ar a única pergunta possível, que consiste em sabermos até onde irá a resistência e conformismo da população e das forças que um dia resgataram este país das garras do fascismo.
João Carlos Soares
Barreiro, 13 de Novembro de 2012

domingo, novembro 04, 2012

Do abismo da sociedade à derrocada de valores do sistema



A incerteza e a perplexidade, no quotidiano de cada cidadão, aumentam consideravelmente a insegurança e a incerteza no amanhã das comunidades. Parece que tudo à nossa volta se desmorona, deixando um rasto de interrogações, desnorte, incerteza e desespero, perante as notícias contraditórias, sobre os rumos da sociedade e das nossas próprias vidas.
Encurralados e arrasados com a falta de oportunidades, num mundo de incertezas, carregado de pesadelos e absurdos, onde, fazendo-se uma análise racional, não se encontra razão ou sentido, desesperados por falsas promessas e desorientados por discursos mentirosos de políticos corruptos sem escrúpulos, onde a ganância insaciável dos mercados, controlada pelas elites, são cada vez mais enigmáticas e tenebrosas, encaminhando as populações para uma catástrofe social e em contínuo colapso de sustentabilidade.
Tudo o que à nossa volta parecia sólido se desmancha. Onde existia segurança e coesão social, existe agora insegurança, incerteza, contradição, ambiguidade e angústia, num vendaval permanente de sentimentos contraditórios, numa tendência destrutiva de valores que resgatem o sentido da vida, individual ou colectivamente.
Confirmando-se os piores prognósticos, esta triste realidade social parece impor-se, através do absolutismo de mercado e da dependência de financiamento externo a que estamos sujeitos, controlando as altas esferas da sociedade e desenvolvendo formas de exclusão dos direitos e das condições básicas de sobrevivência dos cidadãos.
A selecção e competição que se faz em torno de interesses e lideranças políticas, facilitam o controlo gerado em torno dos grandes grupos económicos, que manipulam os principais meios de comunicação, promovendo e elegendo os candidatos que mais os favoreçam, por forma a defenderem-se e controlarem os destinos da sociedade, num clima geral de incertezas e insegurança quanto ao futuro, e tendo em vista, o pouco esclarecimento de novos conceitos e análises, no debate sobre o que se entende por desenvolvimento sustentável.
Após a queda das ditaduras na década de oitenta, e a consequente democratização de alguns países, verifica-se agora o renascer de novas crenças absolutistas, através da imposição de medidas inconstitucionais e contrárias à equidade, perante o desespero dos pobres diante do fracasso das promessas de crescimento e igualdade prometidas.
Face ao clima de impunidades no espectro dos grandes negócios, onde não existe devolução do dinheiro roubado aos cofres das instituições públicas, os assaltos à economia e as perdas causadas às finanças públicas, através da evasão ou sonegação de impostos e tributos, são minimizados e mascarados os seus efeitos, através de supostos benefícios de livre iniciativa no crescimento económico e progresso da sociedade, que não passam de pura propaganda, mas que afectam em definitivo a estabilidade e confiança dos cidadãos.
O sufoco social e político que se tem verificado nas duas últimas décadas, facilitou a ascensão de demagogos populistas, que têm vindo a desvirtuar sistematicamente os programas sufragados e os resultados das eleições.
Através de autênticos currais eleitorais, onde o voto é controlado e a profissionalização dos políticos é uma realidade, deixam-se estes manietar pelas grandes empresas, que investem quantias enormes em recursos disponibilizados para os elegerem, o que os compromete e fragiliza, reforçando o compadrio que vem engrossando o poder de determinadas famílias políticas, que pretendem afirmar-se e perpetuar-se no poder a qualquer custo.

João Carlos Soares
Barreiro, 04 de Novembro de 2012