domingo, março 17, 2013

Vamos ter que reflectir!


Passados 40 anos de democracia, de certa maneira, desiludido com o rumo dos acontecimentos e escolhas do regime, continuo à espera e aguardando a concretização e materialização de um sonho, onde o optimismo de uma revolução, deu lugar e se transformou numa república em frangalhos, completamente destroçada e corrompida.
Um regime suportado por uma Constituição gizada na base do respeito pelos direitos e igualdade dos cidadãos e instituições, descredibiliza-se a cada dia que passa, quando a ética, a moralidade, a competência e a eficiência, enquanto compromisso público, assumido pelos políticos ante os seus eleitores, simplesmente desapareceram, num amontoado de insaciáveis profissionais saqueadores do erário público, na maior das impunidades, transformando aquilo que deveriam ser referências morais, em símbolos da corrupção, a coberto das mais altas instâncias do estado, numa época em que vale-tudo, onde todos querem enriquecer a qualquer preço e de forma rápida, garantidos pela impunidade, pois sabem que se forem apanhados, têm sempre um sem número de advogados, principescamente pagos, para livrá-los de alguma condenação.
Vivemos numa época, marcados pela hipocrisia e onde não existe mais o sentido ideológico, assistindo-se à disputa política pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido, pois os poderosos exercem o controlo no sentido mais amplo e tirânico possível.
Vivemos momentos difíceis numa sociedade sem coluna vertebral, amorfa, passiva sem qualquer capacidade de reacção, por mínima que seja, onde se confundem e torna difícil discernir entre os bons e os maus políticos, dificultando identificar as diferenças e tornando o panorama político cada vez mais nublado, em que os programas partidários se transformam em meras fantasias, carregados de um chorrilho de promessas sem significado e facilmente esquecidas, sem qualquer pudor de quem as fez.
O prazo e a validade de um projecto de governo é sempre muito curto, onde as alianças de hoje se transformam nos adversários de amanhã, porque simplesmente o que os unia era o esbulho do erário público e as benesses do poder.
Neste universo da política, cada vez mais sombrio, somente os protegidos e apaniguados do sistema, que são muitos, é que podem sentir-se satisfeitos, transformando-se numa nova elite de privilegiados, marcados por um comportamento bajulador, onde só sobrevivem elogiando e encontrando qualidades onde só há vazio.
A única esperança que nos resta, é que a realidade e a verdade acabem por se impor, pois quer a nível autárquico, quer a nível nacional, a corrupção e a incompetência acabam por desmascarar os seus protagonistas, marcados pelo oportunismo e compadrio de cumplicidade.
Os nossos políticos, na sua maioria, representam muito mal o papel que lhes é exigido, grande parte não têm ideias próprias, mas consideram-se pessoas importantes e acima de qualquer um, mas no fim apercebemo-nos que a montanha, afinal de contas, pariu mais um rato, não tendo nada a acrescentar nem dizer, e que para não ofuscar mais a sua imagem perante os seus pares, o melhor é alinhar com o poder instituído e ficar calado.
Perante esta triste realidade, dar-nos-ia vontade de rir, não fosse o caso da situação dramática que as suas posições e atitudes, contribuem para hipotecar cada vez mais a capacidade da sociedade se organizar e sobreviver a tamanhos dislates, afundando e deixando o País à beira do abismo, dependente e subjugado às tenazes do poder económico das grandes potências e do mercado.
O quadro é desolador, bastando para isso acompanhar as conferências de imprensa dos membros do governo, e os debates na Assembleia da República, palco de vaidades onde alguns mal sabem do que falam, sendo simples correias de transmissão de máquinas partidárias que os protege, onde o que hoje se diz, amanhã deixou de ser verdade, como se estivéssemos perante um ritual de alguma sociedade secreta, onde os pobres cidadãos sentem uma enorme dificuldade em perceber e entender o porquê de algumas decisões.
Vivemos num País onde se constata uma grande falta de compostura dos nossos representantes, onde as notícias fazem desesperar a paciências dos cidadãos, perante a total falta de vergonha dos nossos governantes, onde parece que quanto mais canalhas, melhor, esquecendo os argumentos outrora usados em campanha eleitoral, prometendo mundos e fundos com palavras bonitas e bem colocadas, através de discursos que quase sempre conseguem convencer as nossas mentes de forma persuasiva e até convincente.
Imagine-se como tudo poderia ser diferente, se tudo o que os políticos prometem em campanha eleitoral, tivessem e fossem obrigados a cumprir, talvez as campanhas decorressem num ambiente mais consciente e verdadeiro, no conhecimento das capacidades de concretização dos programas que apresentam ao eleitorado, e não como infelizmente hoje acontece, onde a realidade é outra muito diferente, sem que os mesmos tenham de se retractar e renunciar aos cargos para que foram eleitos.
Mas, o que de facto acontece, é que quando o tal político é eleito depois de convencer o eleitorado, ou seja, pelo voto daqueles que confiaram e acreditaram nas suas promessas, ele as esquece totalmente, significando isto que, depois de conseguidos os seus objectivos, serem eleitos e empossados, sofrem imediatamente de uma amnésia, ou por outras palavras, preferem não se lembrar daquilo que prometeram no passado, ou desculpando-se, numa disputa de incriminações, para outros que não eles.
Por isso, o sistema político necessita de ser repensado, porque o sistema actualmente em vigor, já não corresponde à vontade dos cidadãos, tal a descredibilização da actual classe política, aos olhos dos seus eleitores, que face ao constante incumprimento dos programas propostos e sufragados, se sentem impotentes e sem ferramentas institucionais legais, para poderem exigir aos políticos que nada fazem, de tudo o que prometeram.
Fico constrangido ao imaginar-me na pele desses políticos inúteis, lendo as críticas e as verdades que sobre eles são ditas, e que optam e insistem em viver fechados num mundo olhando para o seu umbigo. Se parassem e pensassem no que fazem das suas vidas, e da vida dos que neles confiaram, de certeza que não se suportariam. Aos políticos imbecis, peço para olharem para a História, pois ela é exigente, e é ela que fica.
O que me aflige é que depois disto, tudo vai ficar pior, não entendendo como alguma oposição, entre elas o Partido Socialista, como maior partido com representação na oposição, pode continuar de forma branda, a aceitar passivamente esta cumplicidade recheada de podridão política e mentalidades retrógradas que regem este País
O que me deixa atónito, como eleitor deste país, é que pessoas com nível de formação académica e política, não enxerguem, ou não queiram enxergar por pura conveniência, que fazem parte ou apoiam um governo deturpado e cheio de malfeitores, tolerando tamanha incompetência, obedecendo e defendendo um bando de idiotas ignorantes que estão a envergonhar e a dilacerar a memória e a História deste País.
Será que é necessário desenhar para esses sem vergonha entenderem?

João Carlos Soares
Barreiro, 17 de Março de 2013

quinta-feira, março 14, 2013

Reminiscências Saudosistas


Passados quarenta anos de democracia participativa, são os cidadãos eleitores colocados diante um sem número de escândalos, que marcam e flagelam este período de regime, a tal ponto que começam a soar os alarmes para o facto de corrupção representar, já hoje, uma séria ameaça à sobrevivência da própria democracia.
A democracia, conquistada através de muita luta e coragem, por parte daqueles que nunca se acomodaram e enfrentaram o regime castrador e retrógrado imposto por Oliveira Salazar e mais tarde Marcelo Caetano, muitas vezes com o custo da própria vida, numa sociedade que vivia anos terríveis e sombrios, onde o fantasma de uma guerra nas colónias, alimentada por meia dúzia de privilegiados, era mantida à custa da vida de uma juventude inocente, impedida, por isso, de ter futuro.
Nas fábricas e nos estabelecimentos de ensino, operários, estudantes e alguns intelectuais, enfrentavam e eram perseguidos por esbirros infiltrados a soldo do sistema, massacrados por uma ditadura cruel e feroz, que calava os ecos de uma crescente insatisfação popular, subjugada a um governo déspota e irracional, encapotada por uma Assembleia de supostos representantes do povo, que era a Assembleia Nacional.
Instalado o sistema democrático, com o movimento revolucionário do 25 de Abril de 1974, encabeçado por militares que se vinham afastando cada vez mais das linhas condutoras impostas, a sociedade civil sentiu os ventos da liberdade prometida, e o direito à livre e soberana escolha dos seus representantes.
Passados os primeiros tempos de algum alento e esperança no futuro, começaram as convulsões ao mais alto nível político, onde o peso do poder dos mercados, como suprema autoridade nos destinos do país, falou mais alto que o ideal libertário frustrado das populações, em detrimento de uma autêntica quadrilha de gente sem escrúpulos, que se têm apropriado das rédeas do poder, sem solução à vista para os graves problemas que assolam o país, e para o qual foram os principais responsáveis.
De eleição em eleição, aumenta a desilusão e a frustração das populações, onde os projetos e sonhos de melhoria de vida dos diversos e vastos setores da sociedade, aos muitos excluídos, acabam por desaparecer, face à atitude daqueles que, uma vez no poder, se esquecem rapidamente das críticas e promessas com que se apresentaram ao seu eleitorado, e sobre as quais foram sufragados.
Promessas não cumpridas, projetos sociais que, num piscar de olhos se transformam em quimeras, levam, mais uma vez, à desilusão, ao desencanto, provocando reminiscências saudosistas e perigosas de um retorno ao passado, que passam a fazer parte do oportunismo de algumas mentes doentias, abrindo espaço para os oportunistas, que manipulando setores mais abrangentes da sociedade e plateias inocentes, se fazem ouvir e se afirmam com discursos inflamados e carregados de hipocrisia, que conduzirão de novo a sociedade a uma paz podre e ao retorno da repressão, exclusão e medo, sem cidadania.
Em consequência, teremos o retorno do medo, do terror, das perseguições, da tortura e a ausência dos direitos fundamentais inerentes a uma sociedade civilizada e justa, onde a força e o triunfo do estado policial todo-poderoso e sem limites, impedirá o pleno exercício dos direitos essenciais e fundamentais à cidadania.
Sem qualquer dúvida, não é essa a escolha nem o desejo dos portugueses, numa sociedade que se pretende civilizada, pois a verdadeira paz e equilíbrio numa sociedade, só sobreviverá enquadrado numa democracia reforçada com o pleno exercício dos direitos fundamentais de cidadania.
A concretização dos objetivos de construção e consolidação de uma sociedade livre, justa e solidária, terá que ter incondicionalmente como alicerces a dignidade de todos os cidadãos, sem exceção, e a prevalência dos direitos consignados pela Constituição Portuguesa, e, essencialmente, na certeza absoluta de que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a todos o direito a uma vida digna, com liberdade, igualdade e segurança.
A questão não está no exercício da política, mas sim nas escolhas que o povo faz, conduzidos e aliciados por campanhas ostensivamente bem organizadas. Respeito a posição dos que ainda investem as suas capacidades e virtudes na política institucional e militância partidária, pois exercem um direito que a democracia nos concede, fazendo melhor que os que simplesmente criticam por criticar, fortificados e a coberto de instituições públicas e que fazem o papel de conselheiros, mas que não passam de intelectuais isolados sem qualquer compromisso social ou político.
Os que escolhem o caminho da política com honestidade, tentam fazer algo para mudar a triste realidade social e política portuguesa, pois uma sociedade justa não se constrói só com teorias e abstrações de alguns, que às vezes parecem viver noutro mundo que não o nosso, sabendo-se que as ideias só ganham força quando materializadas. 
Não pretendo fazer com isto, julgamentos morais dos que escolheram o caminho político dos partidos e do seu caráter institucional, pois também eu trilhei esse caminho. Cada um sabe o que quer, mas o que todos sabemos, é que é necessário, mais do que nunca, estarmos juntos na crítica social e política e na defesa dos princípios em que ainda acreditamos, apesar do estado da nação e do historial dos partidos em Portugal.
João Carlos Soares
Barreiro, 05 de Março de 2013