Passados 40 anos de democracia, de certa
maneira, desiludido com o rumo dos acontecimentos e escolhas do regime,
continuo à espera e aguardando a concretização e materialização de um sonho,
onde o optimismo de uma revolução, deu lugar e se transformou numa república em
frangalhos, completamente destroçada e corrompida.
Um regime suportado por uma Constituição
gizada na base do respeito pelos direitos e igualdade dos cidadãos e
instituições, descredibiliza-se a cada dia que passa, quando a ética, a moralidade,
a competência e a eficiência, enquanto compromisso público, assumido pelos
políticos ante os seus eleitores, simplesmente desapareceram, num amontoado de insaciáveis
profissionais saqueadores do erário público, na maior das impunidades,
transformando aquilo que deveriam ser referências morais, em símbolos da
corrupção, a coberto das mais altas instâncias do estado, numa época em que
vale-tudo, onde todos querem enriquecer a qualquer preço e de forma rápida,
garantidos pela impunidade, pois sabem que se forem apanhados, têm sempre um
sem número de advogados, principescamente pagos, para livrá-los de alguma
condenação.
Vivemos numa época, marcados pela
hipocrisia e onde não existe mais o sentido ideológico, assistindo-se à disputa
política pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido, pois os poderosos
exercem o controlo no sentido mais amplo e tirânico possível.
Vivemos momentos difíceis numa sociedade
sem coluna vertebral, amorfa, passiva sem qualquer capacidade de reacção, por
mínima que seja, onde se confundem e torna difícil discernir entre os bons e os
maus políticos, dificultando identificar as diferenças e tornando o panorama
político cada vez mais nublado, em que os programas partidários se transformam
em meras fantasias, carregados de um chorrilho de promessas sem significado e
facilmente esquecidas, sem qualquer pudor de quem as fez.
O prazo e a validade de um projecto de
governo é sempre muito curto, onde as alianças de hoje se transformam nos
adversários de amanhã, porque simplesmente o que os unia era o esbulho do
erário público e as benesses do poder.
Neste universo da política, cada vez mais
sombrio, somente os protegidos e apaniguados do sistema, que são muitos, é que
podem sentir-se satisfeitos, transformando-se numa nova elite de privilegiados,
marcados por um comportamento bajulador, onde só sobrevivem elogiando e
encontrando qualidades onde só há vazio.
A única esperança que nos resta, é que a
realidade e a verdade acabem por se impor, pois quer a nível autárquico, quer a
nível nacional, a corrupção e a incompetência acabam por desmascarar os seus
protagonistas, marcados pelo oportunismo e compadrio de cumplicidade.
Os nossos políticos, na sua maioria,
representam muito mal o papel que lhes é exigido, grande parte não têm ideias
próprias, mas consideram-se pessoas importantes e acima de qualquer um, mas no
fim apercebemo-nos que a montanha, afinal de contas, pariu mais um rato, não
tendo nada a acrescentar nem dizer, e que para não ofuscar mais a sua imagem
perante os seus pares, o melhor é alinhar com o poder instituído e ficar
calado.
Perante esta triste realidade, dar-nos-ia
vontade de rir, não fosse o caso da situação dramática que as suas posições e
atitudes, contribuem para hipotecar cada vez mais a capacidade da sociedade se
organizar e sobreviver a tamanhos dislates, afundando e deixando o País à beira
do abismo, dependente e subjugado às tenazes do poder económico das grandes
potências e do mercado.
O quadro é desolador, bastando para isso
acompanhar as conferências de imprensa dos membros do governo, e os debates na
Assembleia da República, palco de vaidades onde alguns mal sabem do que falam,
sendo simples correias de transmissão de máquinas partidárias que os protege,
onde o que hoje se diz, amanhã deixou de ser verdade, como se estivéssemos
perante um ritual de alguma sociedade secreta, onde os pobres cidadãos sentem
uma enorme dificuldade em perceber e entender o porquê de algumas decisões.
Vivemos num País onde se constata uma
grande falta de compostura dos nossos representantes, onde as notícias fazem desesperar
a paciências dos cidadãos, perante a total falta de vergonha dos nossos
governantes, onde parece que quanto mais canalhas, melhor, esquecendo os
argumentos outrora usados em campanha eleitoral, prometendo mundos e fundos com
palavras bonitas e bem colocadas, através de discursos que quase sempre
conseguem convencer as nossas mentes de forma persuasiva e até convincente.
Imagine-se como tudo poderia ser
diferente, se tudo o que os políticos prometem em campanha eleitoral, tivessem
e fossem obrigados a cumprir, talvez as campanhas decorressem num ambiente mais
consciente e verdadeiro, no conhecimento das capacidades de concretização dos
programas que apresentam ao eleitorado, e não como infelizmente hoje acontece,
onde a realidade é outra muito diferente, sem que os mesmos tenham de se
retractar e renunciar aos cargos para que foram eleitos.
Mas, o que de facto acontece, é que quando
o tal político é eleito depois de convencer o eleitorado, ou seja, pelo voto
daqueles que confiaram e acreditaram nas suas promessas, ele as esquece
totalmente, significando isto que, depois de conseguidos os seus objectivos,
serem eleitos e empossados, sofrem imediatamente de uma amnésia, ou por outras
palavras, preferem não se lembrar daquilo que prometeram no passado, ou
desculpando-se, numa disputa de incriminações, para outros que não eles.
Por isso, o sistema político necessita de
ser repensado, porque o sistema actualmente em vigor, já não corresponde à
vontade dos cidadãos, tal a descredibilização da actual classe política, aos
olhos dos seus eleitores, que face ao constante incumprimento dos programas
propostos e sufragados, se sentem impotentes e sem ferramentas institucionais
legais, para poderem exigir aos políticos que nada fazem, de tudo o que
prometeram.
Fico constrangido ao imaginar-me na pele
desses políticos inúteis, lendo as críticas e as verdades que sobre eles são
ditas, e que optam e insistem em viver fechados num mundo olhando para o seu
umbigo. Se parassem e pensassem no que fazem das suas vidas, e da vida dos que
neles confiaram, de certeza que não se suportariam. Aos políticos imbecis, peço
para olharem para a História, pois ela é exigente, e é ela que fica.
O que me aflige é que depois disto, tudo
vai ficar pior, não entendendo como alguma oposição, entre elas o Partido
Socialista, como maior partido com representação na oposição, pode continuar de
forma branda, a aceitar passivamente esta cumplicidade recheada de podridão
política e mentalidades retrógradas que regem este País
O que me deixa atónito, como eleitor deste
país, é que pessoas com nível de formação académica e política, não enxerguem,
ou não queiram enxergar por pura conveniência, que fazem parte ou apoiam um
governo deturpado e cheio de malfeitores, tolerando tamanha incompetência,
obedecendo e defendendo um bando de idiotas ignorantes que estão a envergonhar
e a dilacerar a memória e a História deste País.
Será que é necessário desenhar para esses
sem vergonha entenderem?
João Carlos
Soares
Barreiro,
17 de Março de 2013