“Olhos nos Olhos”, um programa que, semanalmente
prende aos écrans da TVI 24, milhares de Portugueses, famintos e interessados
em tentar perceber toda uma panóplia de tristes episódios, no que às questões da
economia diz respeito, deveria ser um palco de informação esclarecedora aos
cidadãos, onde os diversos temas e questões apresentadas, deveriam ser abordadas
e discutidas com frontalidade e sem demagogias, citando um ditado popular; “chamando
os bois pelos seus nomes”.
Pelo contrário, constatamos que se tem
transformado, de programa para programa, numa autêntica telenovela, de enredo
em enredo, onde a principal figura, Medina Carreira, conhecedor dos meandros e
também ele responsável, enquanto ministro das finanças, antes e já depois do 25
de Abril, da situação a que conduziram as finanças e economia do país, se apresenta
como se fosse a única pessoa neste país, com inteligência e sabedoria.
Por triste sina a nossa, a inteligência e esperteza
com que os deuses dotaram este espécime rara, pouco ou nada sobrou para nós,
tal a petulância com que este senhor, perante as câmaras de televisão, rebaixa
a inteligência e o saber dos cidadãos.
Chegamos à conclusão que, esta sumidade dos
números, para além de ser um ser insensível ao sofrimento das populações mais
carenciadas, não passa de mais um entre tantos, a limpar a cara das suas
responsabilidades, atirando de uma forma vergonhosa, as culpas para cima daqueles
que menos culpa têm da atual situação a que o país chegou, mas que
infelizmente, vão ser aqueles a quem a fatura será apresentada.
Quando se pronuncia sobre as diversas
vigarices e atropelos do sistema, refere-se sempre aos outros, como se ele,
também não tivesse feito parte dos outros, enquanto ministro das finanças, durante
o período a que se refere.
No último programa, com todo o descaramento
do mundo, faz a seguinte afirmação: “Nunca ninguém foi preso ou condenado por
dívidas a credores”, até parece que é verdade, dito com esta espontaneidade, e
continua a sua dissecação; “essa conversa do estado dever aos contribuintes,
portanto não poder deixar de devolver aos contribuintes, através de reformas,
os dinheiros que os mesmos lhe entregaram, para as suas reformas, não vale a
pena exigir, porque o Estado não tem dinheiro para pagar”, e continuando o
raciocínio desta sumidade; “portanto o Estado se não tem não paga e pronto”.
É chocante, se não ofensivo para a
inteligência de qualquer um, este tipo de afirmações, ainda mais vindo da boca
de quem vem. Não é que este senhor, confrontando situações idênticas, consegue
ter um conceito bicéfalo, ao dar uma interpretação a uma e outra interpretação
completamente oposta a outra que, no fim de contas, são no seu todo a mesma
coisa? Credores, caro senhor, são credores em todo o lado, razão pela qual, não
conseguimos enxergar aonde vai parar a sua esperteza saloia.
Quando se refere aos compromissos do Estado
para com os cidadãos, a dívida só será paga se houver dinheiro, se não houver
não se paga e os cidadãos que se amanhem como puderem, vão roubar, matem-se,
façam o que entenderem. Por outro lado, quando os credores são os magnatas
capitalistas do FMI, BCE e outros que tal, o seu raciocínio sofre uma invejável
inversão, porque para pagar os compromissos com os senhores da tróica, a conversa
muda de figura, os direitos dos cidadãos deixam de existir e são completamente trucidados,
porque é preciso é pagar, seja de que maneira for, mesmo que para isso se ponha
a maioria da população na miséria.
Não caro senhor, nós não somos assim tão
burros e muito menos estúpidos, como pretende fazer-nos passar, nós sabemos
quem somos, o que queremos e para onde vamos, e uma coisa sabemos nós, não é
para onde o senhor e os senhores como você nos pretendem atirar.
Costuma dizer o povo, que “quem com fogo
mata, com fogo morre”, pois será com fogo que iremos retribuir.
Empenhou-se o país, através de fundos que
serviram para encher os cofres de uma série de oportunistas, que na refrega de
uma revolução onde as liberdades e os direitos foram repostos, de mansinho,
pé-ante-pé, foram metendo a mão até romper o fundo do saco, e agora que não têm
remendo para tapar o buraco, estão bem acomodados de barriga cheia, os
parvalhões que paguem a crise.
O problema deste país, não são os
trabalhadores, os reformados e os pensionistas, o problema está neste e noutros
governos recheados de suprassumos, gente de elite, que saindo encapotados da
sombra dos partidos, julgam-se superiores e mentalmente dotados, ao invés da
avaliação que fazem das pessoas, do povo em geral, que para eles não têm
inteligência, cultura ou saber.
Esses suprassumos consideram-se seres
superiores, pertencentes a uma casta privilegiada, num patamar de sabedoria,
inacessível para aqueles a quem subjugam, e exploram, como se fossemos
atrasados mentais, que mesmo que se esforcem nunca lá conseguirão chegar.
Alguns, como Medina Carreira, e são bastantes
para nossa desgraça, até parece que têm convulsões, tal o horror de ter de
partilhar a vida com o povo, que entendem ser “gente sem ponta por onde se lhe
pegue”, termo por ele muito utilizado.
Face a esta lamentável postura de sobranceria
e falta de valores de cidadania, estes iluminados, esta raça de privilegiados,
volta não volta, lá deixam escapar entre as portas do cinismo, o que na
realidade pensam do povo, mas que por se acharem superiores, ainda conseguem
reprimir durante uns tempos, mas que mais tarde ou mais cedo, não aguentam e
por uma vez dizem o que sentem.
Esta casta de gente, sente um enorme desdém e
repulsa pelo povo que os enfrenta e confronta com a triste realidade, porque
acham que os seus cérebros pensam mais rápido que todos nós, acusando-nos de
preguiçosos, achando até que, o desemprego poderia ser uma excelente oportunidade
para o normal cidadão mudar de vida, como afirmou outro iluminado, António
Borges e bem mais recentemente outra sumidade, Belmiro de Azevedo que afirmou, "Não
sei porque não deve haver economia baseada em mão de obra barata. Senão não há
emprego para ninguém.", Pergunto eu: porque não, baixar os lucros?
Usando um termo popular, “pelo andar da
carroça”, qualquer dia serão mais os burros, que as mentes privilegiadas, tal o
crescendo de contestação de alguns que, até há bem pouco tempo, também eles se
achavam génios, Manuela Ferreira Leite, Carlos Abreu Amorim, Bagão Félix,
Ferreira do Amaral, Pacheco Pereira, entre outros, mas que se pode vir a
transformar no mais inacreditável dos milagres, a transformação de génios em
burros.
Vamos acreditar que perante tão grande afronta
ao povo, possamos assistir ao completo repúdio e rejeição, desta elite insidiosa
e vil, pelos cidadãos enganados e explorados deste país.
João Carlos Soares
Barreiro, 14 de Maio de 2013