Vivemos na era do carreirismo
político, onde o marketing assume um lugar de excelência e quase
obrigatoriedade, na formatação dos estilos e imagem dos políticos, perante uma
população de eleitores incautos, mal informados e pouco documentados, onde o
uso do fato, camisa azul celeste, gravata vermelha, rosa ou laranja, óculos que
lhes dão um ar intelectual, converte arrogantes em poços de humildade,
permitindo que gargantas educadas, com voz de tenor, articulem contradições,
transformando perdedores em favoritos, elegendo perfeitas nulidades e
promovendo bestas-quadradas a génios de linhagem impoluta, mas sem um mínimo de
capacidade, enquanto estadistas.
Nenhum estadista que
se preze, aceitará conselhos de um qualquer aprendiz de feiticeiro, ou dará
ouvidos em pesquisas de opinião, seja em que circunstâncias forem, mesmo que
essas pesquisas de opinião criem um estado de ânimo, condicionado por
incidentes passageiros do imaginário popular. Todos sabemos que, a opinião
popular, de há muito está condicionada à informação debitada pelos meios de
comunicação social, e sabendo nós que a voz do povo não é ditada pela divina
providência, é apenas a voz do povo, poderá não traduzir necessariamente o que
será melhor para o país.
Enquanto os
verdadeiros estadistas pensam no futuro com os olhos postos nas próximas
gerações, os políticos de carreira, profissionais da política, só têm os olhos
e o pensamento na eleição que se aproxima, e no lugar ou cargo à sua disposição.
Num país, à beira do
colapso, como Portugal, precisam-se como do pão para a boca, verdadeiros
estadistas com visão histórica e passado reconhecido, autênticos lideres, em
vez de candidatos forjados e hipotecados com as elites que os promoveram, só
porque têm alguma hipótese de vitória.
Político honesto,
estadista reconhecido, está e estará sempre pronto para o combate frontal e sem
prazo, mesmo que o preço a pagar seja a derrota, porque o que verdadeiramente
está em jogo, é o futuro. Não se trata simplesmente em escolher este ou aquele
nome mais sonante, ou encomendado, mas as nossas escolhas farão a diferença
entre a liberdade e o autoritarismo.
A farsa e a
passerelle eleitoral precisam ser desmascaradas de uma vez por todas, não nos
podemos permitir que a fraude resista ao confronto com a verdade, por isso,
devemos denunciar com dureza os crimes e a desonestidade dos contendores,
deixando de nos comportar como autênticos carneiros ao serviço das elites
dominantes nas máquinas partidárias, bastante percetível nos bastidores,
resultantes de congeminações nos Congressos, que mais tarde ou mais cedo,
acabam por mostrar toda a perversidade usada pelos diversos interlocutores para
ascenderem ao poder.
Ao analisarmos a
nossa classe política, verificamos uma mistura de democratas verdadeiros e falsos
democratas. Os falsos democratas acreditam que a Democracia continua a ser um
meio e não um fim, porque o único projeto de vida em que acreditam continua a
ser o enriquecimento a todo o custo, através da conquista e permanência no
poder.
Em Democracia,
pressupõe-se alternância de poder e transparência na gestão da coisa pública,
garantindo-se assim que as ideias e as atitudes dos seus protagonistas, não se
tornem viciantes, onde os governantes, rodeados por grupos bajuladores, porque
se encontram no poder, dão como resultado, tomadas de decisão suportadas por
equívocos que ficam cada vez mais ocultos e afastados da transparência, onde
tudo começa a ficar longe do conhecimento público, por “debaixo do tapete”.
Quando numa
sociedade, onde a Democracia se faz também no seio das famílias, basta a
simples constatação de que hoje prevalece nos casais o diálogo entre ambos, é
inadmissível aceitarmos a permanência de certos falsos democratas no poder,
quando sabemos o seu passado familiar.
Governo após governo,
verificamos o perpetuar do clientelismo das chamadas figuras de segunda linha,
ministros, secretários de estado, assessores, etc…., com algumas variações, não
são mais do que a manutenção no poder desses profissionais da política,
entrando e saindo desses lugares, sem serem responsabilizados criminalmente
pelos desmandos que praticaram, no desempenho e gestão da coisa pública,
alternando por conveniência nas administrações das empresas com relações
privilegiadas com o poder instalado, como demonstrado ultimamente com os
investimentos de alto risco, ruinosos para o País.
Vamos aguardar, para
ver, qual será a posição do Poder Judicial, no sentido que, de forma
independente e à luz da lei, julgar e colocar estes ladrões do Povo, se forem
considerados culpados, na prisão. Será difícil acreditar, porque de tantos
casos chegados a público, estamos à espera de ver a justiça penalizar e
concretizar efetivamente toda a vilanagem que depauperou, em proveito próprio,
aquilo que deveria ter sido utilizado no desenvolvimento deste País.
Sendo Portugal um
país, onde a Democracia continua a ser o sistema político vigente, existe uma
polarização nas escolhas eleitorais, que em nada têm beneficiado o
desenvolvimento do país, porque temos andado num processo de alternância entre
duas forças políticas, que chegadas ao poder, vazias de ideias e conceções de
futuro, se acusam mutuamente, sem nunca se chegar ao apuramento dos verdadeiros
responsáveis, pela situação calamitosa a que chegaram as finanças e economia,
recaindo apenas sobre o Povo os custos a pagar pela fatura, quando nada
contribuíram para tal desiderato.
Precisamos ter
consciência de que, sendo as escolhas dos governantes, uma opção e poder do
Povo, cabe-nos a nós procurar uma alternativa, tendo cuidado com os falsos
democratas, pois eles estão inseridos por todo lado, ao ponto de alguns já
terem a lata de apregoar que se vivia melhor antes do 25 de Abril. É preciso
fazer ver a estes senhores que, a culpa não está na Democracia em que vivemos,
mas sim na maneira como estes falsos democratas trataram a democracia e o
dinheiro público.
Num Estado que
arrecada impostos de uma maneira assustadora, dizer-se que não existe dinheiro
para investimento na educação e na saúde, num ataque aos serviços públicos,
como não há memória, não se augura nada de bom nos próximos anos, onde o caos
urbano pode rebentar a qualquer momento.
Parafraseando John F.
Kennedy “O Conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento”. Por
essa mesma razão, devemos lembrar-nos, enquanto cidadãos de bem, que as convicções
e os ideais não podem ser apenas um sentimento, mas sim uma atitude.
João Carlos Soares
Barreiro, 29 de
Outubro de 2013