terça-feira, outubro 29, 2013

A Farsa da Passerelle Eleitoral



Vivemos na era do carreirismo político, onde o marketing assume um lugar de excelência e quase obrigatoriedade, na formatação dos estilos e imagem dos políticos, perante uma população de eleitores incautos, mal informados e pouco documentados, onde o uso do fato, camisa azul celeste, gravata vermelha, rosa ou laranja, óculos que lhes dão um ar intelectual, converte arrogantes em poços de humildade, permitindo que gargantas educadas, com voz de tenor, articulem contradições, transformando perdedores em favoritos, elegendo perfeitas nulidades e promovendo bestas-quadradas a génios de linhagem impoluta, mas sem um mínimo de capacidade, enquanto estadistas.

Nenhum estadista que se preze, aceitará conselhos de um qualquer aprendiz de feiticeiro, ou dará ouvidos em pesquisas de opinião, seja em que circunstâncias forem, mesmo que essas pesquisas de opinião criem um estado de ânimo, condicionado por incidentes passageiros do imaginário popular. Todos sabemos que, a opinião popular, de há muito está condicionada à informação debitada pelos meios de comunicação social, e sabendo nós que a voz do povo não é ditada pela divina providência, é apenas a voz do povo, poderá não traduzir necessariamente o que será melhor para o país.

Enquanto os verdadeiros estadistas pensam no futuro com os olhos postos nas próximas gerações, os políticos de carreira, profissionais da política, só têm os olhos e o pensamento na eleição que se aproxima, e no lugar ou cargo à sua disposição.

Num país, à beira do colapso, como Portugal, precisam-se como do pão para a boca, verdadeiros estadistas com visão histórica e passado reconhecido, autênticos lideres, em vez de candidatos forjados e hipotecados com as elites que os promoveram, só porque têm alguma hipótese de vitória.

Político honesto, estadista reconhecido, está e estará sempre pronto para o combate frontal e sem prazo, mesmo que o preço a pagar seja a derrota, porque o que verdadeiramente está em jogo, é o futuro. Não se trata simplesmente em escolher este ou aquele nome mais sonante, ou encomendado, mas as nossas escolhas farão a diferença entre a liberdade e o autoritarismo.

A farsa e a passerelle eleitoral precisam ser desmascaradas de uma vez por todas, não nos podemos permitir que a fraude resista ao confronto com a verdade, por isso, devemos denunciar com dureza os crimes e a desonestidade dos contendores, deixando de nos comportar como autênticos carneiros ao serviço das elites dominantes nas máquinas partidárias, bastante percetível nos bastidores, resultantes de congeminações nos Congressos, que mais tarde ou mais cedo, acabam por mostrar toda a perversidade usada pelos diversos interlocutores para ascenderem ao poder.

Ao analisarmos a nossa classe política, verificamos uma mistura de democratas verdadeiros e falsos democratas. Os falsos democratas acreditam que a Democracia continua a ser um meio e não um fim, porque o único projeto de vida em que acreditam continua a ser o enriquecimento a todo o custo, através da conquista e permanência no poder.

Em Democracia, pressupõe-se alternância de poder e transparência na gestão da coisa pública, garantindo-se assim que as ideias e as atitudes dos seus protagonistas, não se tornem viciantes, onde os governantes, rodeados por grupos bajuladores, porque se encontram no poder, dão como resultado, tomadas de decisão suportadas por equívocos que ficam cada vez mais ocultos e afastados da transparência, onde tudo começa a ficar longe do conhecimento público, por “debaixo do tapete”.

Quando numa sociedade, onde a Democracia se faz também no seio das famílias, basta a simples constatação de que hoje prevalece nos casais o diálogo entre ambos, é inadmissível aceitarmos a permanência de certos falsos democratas no poder, quando sabemos o seu passado familiar.

Governo após governo, verificamos o perpetuar do clientelismo das chamadas figuras de segunda linha, ministros, secretários de estado, assessores, etc…., com algumas variações, não são mais do que a manutenção no poder desses profissionais da política, entrando e saindo desses lugares, sem serem responsabilizados criminalmente pelos desmandos que praticaram, no desempenho e gestão da coisa pública, alternando por conveniência nas administrações das empresas com relações privilegiadas com o poder instalado, como demonstrado ultimamente com os investimentos de alto risco, ruinosos para o País.

Vamos aguardar, para ver, qual será a posição do Poder Judicial, no sentido que, de forma independente e à luz da lei, julgar e colocar estes ladrões do Povo, se forem considerados culpados, na prisão. Será difícil acreditar, porque de tantos casos chegados a público, estamos à espera de ver a justiça penalizar e concretizar efetivamente toda a vilanagem que depauperou, em proveito próprio, aquilo que deveria ter sido utilizado no desenvolvimento deste País.

Sendo Portugal um país, onde a Democracia continua a ser o sistema político vigente, existe uma polarização nas escolhas eleitorais, que em nada têm beneficiado o desenvolvimento do país, porque temos andado num processo de alternância entre duas forças políticas, que chegadas ao poder, vazias de ideias e conceções de futuro, se acusam mutuamente, sem nunca se chegar ao apuramento dos verdadeiros responsáveis, pela situação calamitosa a que chegaram as finanças e economia, recaindo apenas sobre o Povo os custos a pagar pela fatura, quando nada contribuíram para tal desiderato.

Precisamos ter consciência de que, sendo as escolhas dos governantes, uma opção e poder do Povo, cabe-nos a nós procurar uma alternativa, tendo cuidado com os falsos democratas, pois eles estão inseridos por todo lado, ao ponto de alguns já terem a lata de apregoar que se vivia melhor antes do 25 de Abril. É preciso fazer ver a estes senhores que, a culpa não está na Democracia em que vivemos, mas sim na maneira como estes falsos democratas trataram a democracia e o dinheiro público.

Num Estado que arrecada impostos de uma maneira assustadora, dizer-se que não existe dinheiro para investimento na educação e na saúde, num ataque aos serviços públicos, como não há memória, não se augura nada de bom nos próximos anos, onde o caos urbano pode rebentar a qualquer momento.  

Parafraseando John F. Kennedy “O Conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento”. Por essa mesma razão, devemos lembrar-nos, enquanto cidadãos de bem, que as convicções e os ideais não podem ser apenas um sentimento, mas sim uma atitude.

João Carlos Soares
Barreiro, 29 de Outubro de 2013

quarta-feira, outubro 23, 2013

Abril Atraiçoado!

Os ventos que sopram em Portugal, não adivinham nada de bom, no presente e futuro próximos, num Estado que deixou de se preocupar com os seus cidadãos, com cortes sistemáticos e restrições a nível dos serviços básicos como a saúde pública de qualidade, educação pública gratuita, protecção à habitação e aos idosos, cultura, entre outras.
A privatização dos serviços de saúde, já em tempos tentada, também num governo PSD/CDS, por Arlindo de Carvalho, retomada durante os governos de Durão Barroso, e mais tarde, de forma mitigada, nos governos de Guterres e Sócrates, onde a gestão dos hospitais públicos foi entregue a sociedades anónimas, numa tentativa descarada de liberalização do sector da Saúde, tendo no horizonte, a tentação de, numa lógica empresarial, acabar de vez com o Serviço Nacional de Saúde.
A ansiedade demonstrada pelo governo de Passos Coelho na corrida à liberalização da saúde e privatização parcial do SNS, é agora reforçado pela entrega de uma série de hospitais públicos às misericórdias, para mais tarde concluir os seus intentos, entregando o restante aos grupos já hoje com unidades de saúde privada em funcionamento, deixando apenas umas migalhas para justificar o assistencialismo aos mais pobres.
Prova disso, tem sido o assalto feito ao Sistema Nacional de Saúde, desagregando-o, denegrindo e difamando os profissionais de saúde pública afetos, argumentando o excesso de burocracia existente, o desperdício nos hospitais e centros de saúde, a duplicidade de serviços, justificando que o mesmo acontece, em virtude desses profissionais não terem que se preocupar com o seu posto de trabalho, em comparação com o a competitividade e eficiência no privado.
Esta postura, conta com o apoio das seguradoras e indústria farmacêutica, magnatas da banca e grandes grupos económicos, silenciando inclusive os órgãos de comunicação, que são manipulados e controlados pela clientela do costume, preenchendo os horários de maior audiência, com programas, onde os fazedores de opinião mandatados, tentam adormecer os menos esclarecidos, como se o que se está a passar, fosse obra do destino, e um dia teria de acontecer.
O que este governo de Passos Coelho/Portas está a fazer a Portugal, é levar ao suicídio puro de uma nação com séculos de história, sustentado por uma democracia fascista, repleta de políticos aldrabões, que se dão ao desplante de enganar os eleitores, prometendo uma coisa e fazendo exatamente o contrário, destruindo os direitos sociais alcançados, após Abril de 1974.
Se outras razões não houvesse, a traição à pátria deste governo, às ordens do FMI e da Alemanha da Sr.ª Merkel, é já de si mais que suficiente, para que o povo cada vez mais se faça ouvir, nem que para isso tenha que recorrer à desobediência civil, para recuperar o orgulho e a soberania de nação livre que nos pretendem retirar.
Os partidos de esquerda têm que assumir as suas responsabilidades enquanto representantes das liberdades e direitos dos cidadãos, num regime democrático, colocando as diferenças que os têm mantido afastados, de lado, disponibilizando-se para o diálogo de concertação política sem reservas, o que já há muito poderia ter evitado a situação de retrocesso social, por que estamos a passar, restando-lhes pouco tempo para impedir e dizer basta ao retrocesso geracional a que nos pretendem submeter.
Os cortes no orçamento para 2014, não é mais que um série de cortes em setores fundamentais, com o intuito de acabar de vez com o Estado Social, levando as famílias à miséria, matando as conquistas de Abril, pé-ante-pé, ludibriando-nos com promessas e falsas palavras de reconhecimento aos esforços que nos exigem, enquanto mantêm inalteradas as suas mordomias e os seus orçamentos, parecendo que vivem num outro país, que não este, onde aplicam a palavra “contenção”, só para o povo.
As privatizações de empresas e serviços públicos fazem parte da essência da resposta do capital à enorme crise económica em que vivemos, a qual começou a ter algum significado nos finais da década de setenta inícios de oitenta, onde assistimos a um crescendo de políticas neoliberais, algumas mascaradas debaixo da capa do socialismo democrático.
Esta crise, não passa de uma estratégia para minimizar e reduzir a queda das taxas de lucro das empresas, como por exemplo a redução da tributação dos rendimentos do capital, a implementação de políticas para redução do défice, o que levou, para contrabalançar, à redução nas rúbricas do orçamento nas áreas sociais.
Debaixo de uma hipocrisia e cinismo confrangedores, apregoando-se defensores dos trabalhadores deste país, foram reduzindo ou liberalizando o mercado de trabalho e as regras acordadas com os parceiros sociais, sindicatos e organizações representativas dos trabalhadores, aliviando as obrigações patronais e retirando direitos aos trabalhadores, numa liquidação evidente dos direitos laborais e sociais, privatizaram a seu belo prazer, destruindo toda a área produtiva e de transformação e entregando as mais-valias do Estado aos grandes grupos económicos.
Esta maratona de traidores, projetou, ao longo de quatro décadas, o assalto às empresas públicas, privatizando uma atrás de outra, a preços de saldo e garantindo a assunção de possíveis dívidas dessas empresas, a exemplo o BPN, algumas com valores superiores ao valor de venda. As empresas produtoras de bens essenciais, como a EDP, GALP, entre outras, garantem e asseguram a estabilidade da clientela, garantindo a alguns, após saída dos governos, lugares nas administrações dessas mesmas empresas.
Assistimos à madorna de Medina Carreira, à esquizofrenia de Marcelo Rebelo de Sousa, ao beatificado de José Sócrates entre outros, adivinhos e profetas da desgraça, como se nada, nem nunca tivessem tido quaisquer responsabilidades, sobre o que agora está a acontecer.
Para que não bastasse os que cá moram, também tivemos que levar com o descaramento de Durão Barroso, emigrante de luxo numa europa “a uma só voz?.........”, com recados aos que pagam os seus impostos e contribuições, quando, o lugar dele deveria ser num tribunal a contas com a justiça, para justificar os milhões, que ele e Paulo Portas, são responsáveis pela aquisição dos célebres submarinos alemães.
A justiça em Portugal, é de tal forma caricata, quando assistimos à condenação de corruptores na Alemanha, neste negócio dos submarinos, e ninguém é condenado em Portugal pela existência de corrupção neste mesmo negócio! Não dá mesmo para entender, porque prevalecendo a lógica, como tudo na vida, só podem existir corruptores se houver gente passível de ser corrompida.
Pelos vistos o que aconteceu com este negócio, foi um fenómeno, como tantos outros que me escuso aqui de referir, tal a gravidade dos factos, e a forma como nos corredores da justiça esses casos foram arquivados, mesmo aqueles que resultaram no agravamento das condições de viabilidade financeira do País.
A ligação entre as decisões políticas e os interesses empresariais torna-se mais que evidente. Por vezes, ficamos confundidos, ao assistir a determinados actos públicos, não sabendo quem e de que forma, algumas figuras se apresentam ou representam, tal a promiscuidade entre o desempenho de funções públicas no passado e o actual desempenho de funções com interesses privados. Todas, ou quase todas as empresas a quem o Estado entregou ou entrega centenas e centenas de milhões de euros do erário público, em obras, são ou já foram administradas por políticos no activo ou aposentados.
A dura e pura realidade é que toda esta organização mafiosa, tem uma cobertura legal indiscutível, sancionada por decisões dos tribunais, nos quais têm decorrido esses processos, e o beneplácito do Presidente da República, que não pode ficar inocente, nem é inocente em todo este processo de desmantelamento do Estado.
Como reflexão, até porque as considerações já são muitas, deixo a avaliação e o significado das nossas vidas, aos que lerem estas linhas, perante a privatização dos cuidados de saúde e a decorrente decisão sobre as medidas e ações necessárias para evitar que tão grande selvajaria, possa ver concretizados os seus objectivos.
Temos que nos concentrar não tanto em grandes manifestações, não que não devam ter lugar, mas mais importante que as manifestações controladas e cerceadas da liberdade que a Constituição nos confere, será a criação e difusão de iniciativas e núcleos locais, suficientemente organizados, capazes de por em prática e passar á ação, bloqueando a implementação desses obscuros planos de privatização e desmantelamento do Estado Social.
Este é, infelizmente, o triste quadro de um Portugal a braços com os valores da democracia.

Joao Carlos Soares
Barreiro, 22 de Outubro de 2013

terça-feira, outubro 15, 2013

19 de Outubro Participação Consciente dos Cidadãos



A manifestação de contestação, prevista para o dia 19 na Ponte 25 de Abril, parece não estar a ser entendido, pelos governantes desta república das bananas, que ela é isso e só isso mesmo, um acto de rebeldia contra eles, e que sendo um acto de repúdio e contestação, não poderá em tempo algum ser controlada, vigiada, silenciada ou domesticada pelos algozes que estão no poder, muito menos conduzida e confinada à vontade deles.
Esta manifestação gera todo o tipo de análises possíveis, por uns interpretado como mais um protesto de baderna, por outros, sinal dos tempos difíceis em que vivemos, portanto uma vontade genuína do povo, numa reação ao ataque a que estão a ser alvo os seus direitos, e que pretende mostrar na rua o despertar da consciência política de milhares de cidadãos.
Sejam quais forem as motivações, será bom saber que as pessoas ainda se dispõem a sair à rua para protestar, reclamar e exigir respeito, sabendo-se de imediato, que pela localização estratégica da ponte, irá criar dificuldades na travessia entre as duas margens, mas nunca poderá ser utilizado como argumento de risco, uma sombra para a democracia ou desrespeito e ameaça às instituições, ou irracionalidade premeditada, mas sim uma resposta efectiva aos excessos de que os portugueses estão a ser vítimas, daí a necessidade deste movimento contestatário ter o impacto necessário, o que alguns pretendem, a todo o custo, minimizar.
Este tipo de contestação, não pode nem deve ser manipulado ou silenciado pelos governantes, sejam quais forem as justificações apresentadas, porque se trata de um grito de raiva na rua de um povo sufocado, que está a ser levado à miséria, e que estão dispostos a pagar qualquer preço pela liberdade.
Entrámos numa espiral sem retorno, razão pela qual os governantes deverão preparar-se para serem confrontados com este tipo de reacção da população, pois são um sinal inequívoco de que vivemos numa sociedade plural, a qual não se pode construir com medo, mas com respeito à diferença e à contradição.
É necessário, indispensável e inevitável, que a população e os partidos defensores dos valores da democracia, tomem consciência que, à situação de subserviência a que o país chegou, se torna necessário que os cidadãos se organizem, usando de todos os mecanismos ao seu alcance, com persistência na ação, em continuidade, fazendo com que as manifestações de protesto, tenham consequências e se possam configurar como uma verdadeira e consistente ameaça ao sistema corrupto e fascizante, que nos pretendem impor, numa luta que só poderá terminar, uma vez salvaguardados que estejam os direitos do Povo.
As televisões e os agentes do poder, de uma forma quase despercebida, aos olhos dos menos atentos, estrategicamente começaram a colocar nas horas nobres de maior audiência, nos respectivos canais, fazedores de opinião que, passando recados habilmente construídos, fazendo crer uma coisa, têm como objetivo exatamente o contrário.
Se não, vejamos; Todos os iluminados que diariamente nos bombardeiam, com a sua retórica malabarista, todos eles, sem exceção, passaram por cargos de relevo, quer a nível do governo, quer nas administrações de empresas de amigos e conhecidos, com interesses diretos no Estado, alguns usufruindo do que prepararam, enquanto governantes para essas empresas.
Agora, bem instalados na vida, aparecem-nos qual Pôncio Pilatos, lavando as mãos das atrocidades de que foram protagonistas, fazendo crer que discordam com as medidas, atualmente implementadas pelo governo, quando, enquanto altos signatários do país, fizeram exatamente o mesmo que estes, só que os tempos eram de vacas gordas e agora às vacas acabou-se-lhe o pasto e não há leite que chegue para alimentar toda a gente.
Tentam enganar os incautos, com a sua capacidade de comunicação e disfarce, na tentativa de adormecimento da população, deixando parecer que são acérrimos críticos das políticas implementadas, quando afinal de contas, foram e continuam a ser os seus maiores defensores, à espera de “novas oportunidades”, para raparem o fundo ao tacho.
Não é difícil chegar a esta conclusão, basta olharmos para os noticiários que, constatamos, uma faixa significativa de agentes políticos que apoiaram as políticas neoliberais dos governos, a mudarem de campo, mas só na aparência e por conveniência.
Por isso não nos iludamos, este tipo de atitude, é típico de pessoas sem carácter, imagem degradante de grande parte da classe política no arco da governação, e só acontece, porque se estão a aperceber da iminência do naufrágio inevitável a que as políticas deste governo nos vão levar, e, portanto, passaram a denunciar e a renunciar a esta estratégia demolidora, tentando demarcar-se desta linha, para beneficiarem de uma melhor imagem perante os cidadãos, afirmando hoje, aquilo que ontem negavam, e dando oportunidade a que o governo, depois de apresentar medidas coercivas e restritivas, apareça com soluções maquilhadas, mas que só diferem na roupagem. 
Será que dá para acreditar que, certos senhores, defensores do neoliberalismo ao longo de toda a sua vida, representantes dos maiores grupos capitalistas deste país, venham contestar as alterações à TSU, ou aos cortes nas tabelas salariais, à alteração aos horários de trabalho, à mobilidade dos funcionários públicos, às reformas dos pensionistas e reformados, por patriotismo? Só pode ser mesmo a gozar com os cidadãos, tal a falsidade e cinismo destes peões, que façam o que fizerem, não conseguirão disfarçar o seu baixo nível de consciência política, agentes e lacaios do capital, assassinos do Estado Social.
Estamos a passar por uma fase, em que os que estão no poder ou por lá cirandam, já não conseguem disfarçar o mal-estar que a situação provoca, mesmo entre eles, e a população não suporta mais sacrifícios, nem admite que a soberania possa ser posta em causa, caminhando-se a “passos” largos para o funeral do sistema político vigente, se nada acontecer que consiga, entretanto, e de forma tempestiva, repudiando e exigindo uma mudança de rumo, evitar que Portugal se afunde numa bancarrota, instalando-se em definitivo o caos.
Atingidos os objetivos dos agentes deste neoliberalismo desenfreado, poderemos estar perante um novo ciclo, ciclo esse que alguns de nós, ou os nossos antepassados ainda têm bem ciente na memória onde, perfis de ditadores são o que menos falta, podendo entrar-se num beco sem saída, assinando-se dessa forma a capitulação incondicional da Democracia de Abril.
O governo já fez saber da sua intenção em não permitir a manifestação dia 19 na Ponte 25 de Abril. Vamos de certeza ser confrontados com a presença das forças policiais, para impedir a concretização da mesma, o que transformará este dia de luta e contestação, em mais um confronto de valores e afronta à democracia, que estes “delinquentes”, como lhes chamou Mário Soares, estão dispostos a levar às últimas consequências.
Se razões havia, para a realização desta manifestação, acresce agora a tentativa de cercear um dos direitos consignados na Constituição, o direito à manifestação sem condicionalismos de qualquer espécie, razão para que seja considerado por todos aqueles que se sentem espoliados por este bando, como um estímulo acrescido, servindo para acordar a consciência deste país onde todos se devem unir na defesa dos seus direitos, colocando de parte o que os diferencia, e aglutinando o que os identifica.

João Carlos Soares
Barreiro, 14 de Outubro de 2013

terça-feira, outubro 08, 2013

Bando de Ladrões à Solta



Perante a pouca vergonha e descaramento com que os governantes diariamente nos brindam, com todo o tipo de medidas que desrespeitam e violam claramente a nossa Constituição, nunca antes visto, desde o 25 de Abril de 1974, poder-se-á considerar uma provocação e repressão desmedida sobre os mais desfavorecidos, contra os direitos consignados aos trabalhadores, num regime democrático.
De tão absurdo que é, depreende-se que estamos a ser vítimas de um país salazarento, herdado de 500 anos de atraso e desenvolvimento e 50 anos de ditadura, manipulado agora, por um governo de trambiqueiros ao serviço da mesma canalha que controlou a sociedade em ditadura, com a conivência de uma comunicação social comprometida com os seus patrões, na protecção aos mesmos interesses que foram responsáveis pelo seu atraso ancestral.   
Se para aqueles responsáveis políticos e comentadores televisivos as liberdades e os valores democráticos devem submeter-se aos interesses privados e condicionantes económicos de uma globalização selvagem, então, deverá ser a sociedade civil a erguer-se e a exigir o afastamento daqueles que, em privado, atentam contra um dos pilares fundamentais de uma sociedade livre e democrática.
O primeiro-ministro e os seus colaboradores no governo, têm sérias dificuldades em lidar com a verdade, e essa dificuldade está presente nas contradições e sucessivos episódios, em que frequentemente caem, quando tomam qualquer medida, esquecendo tudo o que prometeram nas campanhas eleitorais, enganando os eleitores para chegar ao poder ambicionado.
Está claro para todos nós que, o primeiro-ministro, não pode continuar a recusar-se explicar e tomar medidas em cada um dos sucessivos casos que o envolvem e aos seus colaboradores, ao mais alto nível no governo, por actos que prejudicaram o país, chegados ao conhecimento público e documentados com provas irrefutáveis.
Está também claro que, o Presidente da República, a Assembleia da república e os tribunais não podem continuar a fingir que nada se passa, que a justiça é só para alguns, e que estamos de regresso ao estado podre de antes do 25 de Abril de 1974.
Está pois claro que, num Estado de Direito democrático, não se pode conviver nem permitir que um primeiro-ministro, com a complacência e apoio do Presidente da República, insista em esconder-se à sombra da crise sob a capa protectora de órgãos de soberania que não assumem as suas verdadeiras competências.
Perante o silêncio e a inação generalizada das instituições, confrontamo-nos com um evidente sinal de degradação da vida democrática, colocando em causa o regular funcionamento das instituições e do seu compromisso com os eleitores, aumentando o descrédito numa classe política onde se perfilam os homens de mão, sem qualquer currículo profissional, que não a matreirice dos aparelhos partidários, os quais são colocados em posições chave das empresas geridas pelo Estado e outras que submergem num mundo de negócios obscuros, para facilitar os negócios de acordo com as agendas políticas, no poder.
Confrontados com este triste espectáculo, é com grande perplexidade, que se assiste ao silêncio expresso por um número preocupante e cada vez maior de eleitores, através da abstenção, sinal de alheamento, indignação, desilusão e ao mesmo tempo conformismo, dos cidadãos, que, em boa da verdade, deveria exigir dos mentores e responsáveis partidários uma profunda reflexão.
Em vez de irem afastando, com as suas trafulhices e negociatas, das grandes decisões do país e da vida pública, os cidadãos nas urnas, deveriam começar por pensar na hipótese do julgamento e afastamento compulsivo, daqueles que, no desempenho da coisa pública, pela sua falta de ética e conduta duvidosa, são responsáveis por todo um turbilhão de acontecimentos e casos que, para além de depauperarem a fazenda pública, proporcionam a crispação e confrontação da população.
Fica também claro na mente de todos nós que, qualquer dúvida que permanecesse sobre as verdadeiras motivações do bando que se instalou no poder, governo, Presidente da República e maioria parlamentar, motivações essas que têm como único objectivo, conseguir destruir o pouco que ainda resta de Abril, o Estado Social, o património público, a liberdade de expressão, para continuarem a encher os bolsos dos seus amigos e cúmplices e, num futuro próximo, fazerem regressar os dias cinzentos do fascismo, tal o carácter malicioso deste bando de vigaristas.
João Carlos Soares
Barreiro, 08 de Outubro de 2013