De algum tempo para cá, sem
vontade nem apetite para escrever, sinto uma imensa melancolia, perante a
beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como qualquer cão
amarrado a uma casota e rodeado por todo o lado de raposas e predadores. Cada vez
mais sinto que as pessoas vivem debaixo do medo e raiva correndo-lhe pelas
veias, onde o sufoco do dia que se segue, é sempre pior ao do dia presente.
Deambulamos conduzidos pela
mão da Troika e da escumalha sem sentimentos, instalados nas diferentes administrações
e representações que nos conduzem através de personalidades rançosas que, com
falinhas mansas nos canais televisivos, às horas nobres, nos conduzem ao curral
dos senhores do poder.
Uma grande maioria das
famílias portuguesas, vivem na angústia e revolta perante um Estado que cada
vez mais interfere negativamente nas suas vidas, onde a dignidade humana é cada
vez mais ultrajada.
Protegem-se os mafiosos,
como os Loureiros, os Limas, os Jardins e tantos outros, e fomenta-se uma
mentalidade mafiosa, num Estado sem rumo próprio, onde o submundo da justiça
comunga com a política subterrânea jacobina dos diversos governos, deitando
achas na fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo dos
sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero.
O futuro encontra-se cada
vez mais ensombrado, e sem esperança, depauperado por um miserabilismo e
leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam duma
certa divagação e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma
coisa.
Fomenta-se um pessimismo
amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento,
cultivando-se o extremismo emocional até à exaustão, num sistema político que
serve os interesses individuais e partidários a nível nacional, servindo o
compadrio da avalanche dos arrivistas, criando um clima de medo, desconfiança e
intriga entre os trabalhadores.
Subjugados às sanguessugas,
arrasta-se o Povo para um pessimismo medroso e amedrontador, num ambiente de
tudo contra todos, predadores e subjugados, sem consciência de uma
responsabilidade nacional, onde a contestação social, mais que objectiva, é,
muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do Povo.
O dilema de Portugal, é
encontrar-se nas mãos duma direita ultra conservadora e fascizante, e de uma
esquerda intransigente e que não se entende, deixando os trabalhadores
entregues à gula dos senhores no poder e dos capitalistas sem alma social nem
consciência nacional.
Perante estes factos,
assistimos à pilhagem dos país, com um Estado vendido e depravado de figuras
sinistras, os quais deveriam estar sob observação judicial, assim a justiça
assumisse o dever de fazer valer a verdade, julgando e criminalizando todos
quantos tiveram responsabilidades do estado calamitoso a que o país chegou. Mas
não, por outro lado, constatamos que a honra dos predadores é legitimada com a
desonra da Nação.
Estranho, verdadeiramente
estranho é vermos a cortina de silêncio a que se assiste por parte dos
diferentes órgãos políticos, onde um país é colocado na bancarrota e nós somos
obrigados simplesmente a esquecer que houve gente que roubou, corrompeu,
mentiu, defraudou. Muitos desses protagonistas, continuam a ser os mesmos
protagonistas sentados no parlamento ou nos mais elevados e bem pagos cargos
que, em muitas das vezes, criaram para eles próprios e que continuam
despudoradamente a sugar o País, que é o mesmo que dizer, a nós.
Estranho, verdadeiramente
estranho é ainda pensarmos que somos uma Nação, pois se formos, só se for de
“bardamerdas” e frouxos. As medidas levadas a cabo por este governo, incidem
sempre sobre os que menos capacidades têm para reagir, reformados e
pensionistas que, não podendo usar o direito à greve, como arma para contrariar
a afronta a que são submetidos, sofrem as consequências de imediato, como se de
um abono de família fossem para fazer frente às necessidades orçamentais do
País.
Juntando-se a estes últimos,
os funcionários públicos, são a fatia mais à mão para as intenções do governo concretizar
o empobrecimento a que se propuseram nos compromissos com a Troika. O problema
e a situação em que colocaram o País e os Portugueses é muito grave e, neste
momento, coloca em causa o próprio regime, e só uma mudança de regime poderá
ser a solução para o actual quadro de necessidade em que vivemos, com um novo
ordenamento jurídico reformulado, pois a justiça não funciona e esta cambada de
mafiosos continua a ficar impune.
É revoltante que as famílias
desses bandidos, movimentem milhões de euros em offshores, como se fosse
possível alguém ganhar de forma honesta essas quantias em tão curto espaço de
tempo. Isto, depois de tudo a que temos assistido, como o processo Freeport ou
da Cova da Beira, o processo dos Submarinos, o BPN e o BPP, entre outros, onde
os factos são demais evidentes e as provas, mais que suficientes, para que se
houvesse justiça, os seus autores estariam atrás das grades e as suas fortunas
e das suas famílias, confiscadas.
É revoltante e inadmissível
que um Duarte Lima continue impávido e sereno a voltar as costas a um caso que
evidencia uma possível ligação a um homicídio antecedido de roubo, e continue a
gozar com a cara de todos nós, só porque tem muito dinheiro e o dinheiro numa
sociedade corrupta, como a nossa, iliba os criminosos e dá-lhes protecção.
Como se pode justificar que
o governo de José Sócrates, nacionalize um banco, para tapar as dívidas de
alguns amigos, entre os quais um Loureiro, e mais uma vez ficarem cerca de
2.500 milhões de euros para serem pagos pelo zé-povinho.
Como se pode justificar que
o actual governo, venda depois esse banco por 40 milhões de euros, e assuma as
suas dívidas e compromissos, as quais já se perderam os números, mas de certeza
andam já acima dos 10.000 milhões de euros, para salvar os banqueiros, e ande a
pedir dinheiro emprestado ao FMI e restantes agiotas internacionais, colocando
a dívida pública(????) em valores que jamais seremos capazes de pagar.
É estranho que, estando a
nossa dívida pública, em valores astronómicos, os sábios (???) economistas
deste país continuem a afirmar que as nossas contas estão melhores e que nós
estamos em condições de andar pelo nosso pé, quando este governo, em dois anos
e pouco de governação, tem conseguido alienar todos os recursos e meios capazes
de poderem produzir mais-valias?
Mais estranho ainda, é
quererem que nos esqueçamos de tudo isto e muito mais que, nestas poucas
linhas, seria impossível descrever.
Apelar à contestação e à
revolta contra este governo e classe política com responsabilidades neste país,
começa a ser insuficiente, por isso devemos apelar à responsabilização desta
classe política que nos tem hipotecado o futuro, agora esquecer é que não!
João
Carlos Soares
Barreiro,
01 de Abril de 2014