Sentado frente ao televisor, apercebo-me de um programa que estava a passar sobre a dívida e situação catastrófica da Grécia, o berço da democracia. Atento às descrições e entrevistas que passavam frente aos meus olhos, sinto-me quase como um actor de factos que decorrendo noutro País, se enquadram, e de que maneira, no estado da nação deste rectângulo à beira-mar plantado, PORTUGAL.
Avaliando o que se passou na Grécia, aquando das Olimpíadas, dou por mim a questionar-me que também aqui neste País onde vivo, algo de semelhante se passara, o “EURO 2004”.
Tendo decorrido de 12 de Junho a 4 de Julho, assistimos completamente alienados ao evento, embasbacados atrás de uma bola frente ao televisor, sem darmos conta do desvario económico a que fomos sujeitos, tal o custo que este evento acarretou para as já tão depauperadas finanças públicas, fazendo-nos esquecer que o que assistíamos era nada mais nem menos, a mais um golpe na despesa que ajudaria a precipitar os cofres do Estado para o caos em que agora nos encontramos.
Tudo era alegria e festa, só que uma festa do tipo daquela a que assistíamos, inevitavelmente traria um gosto amargo para as nossas vidas, mas que no meio de tanta euforia até passaria despercebida, não fosse vir a ter as consequências que teve e que são hoje, infelizmente do conhecimento público.
A realização dos jogos por todas as regiões do País levou à necessidade de uma renovação total e à construção de infra-estruturas, acessibilidades e de equipamentos desportivos ao longo do País. Esses estádios e infra-estruturas, segundo publicado e divulgado oportunamente nos meios de comunicação social, hipotecavam o País para as próximas décadas em mais de mil milhões de euros, com derrapagens orçamentais elevadíssimas, as quais chegaram a atingir os 360% e que viriam a hipotecar definitivamente as débeis finanças das autarquias e outras instituições públicas.
Já para não falar nos custos diários que rodaram os 43 milhões de euros e nas consequências a longo prazo para a manutenção e conservação desses equipamentos, pois alguns desses equipamentos ficaram à responsabilidade das respectivas autarquias, tal como os custos das empresas municipais entretanto criadas para a sua gestão, esgotando a capacidade de endividamento das mesmas nos próximos 20 anos, provocando o colapso total das contas públicas.
Se a este e outros actos de gestão danosa das finanças públicas, que vão sendo tornadas públicas, da responsabilidade dos diversos governos que tivemos nos últimos 20 anos, acrescentarmos outras despesas que em nada se justificavam, como a aquisição dos célebres submarinos, as parcerias público privadas e o caso BPN, entre outros, encontramos sem grande esforço os responsáveis pela situação a que chegámos.
Perante estes factos, duas perguntas ficam sem resposta:
Enquanto a Sr.ª Ministra da Justiça anda a gastar as suas energias, a perseguir o pobre do contribuinte, porque estamos a falar de insignificâncias se comparado com os roubos a que fomos sujeitos ao longo destas últimas décadas, porque não são também julgados os algozes responsáveis do sistema, até porque estão identificados e são conhecidos, como acontece nos países civilizados como a Islândia?
Que raio de justiça afinal temos em Portugal?
João Carlos Soares
Barreiro, 21 de Março de 2012
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