sábado, outubro 27, 2007

Os anti-corpos na Democracia



Ninguém deve, nem pode, em democracia, duvidar da real eficácia exercida pela oposição organizada contra a concentração do poder na governança, devendo ter a percepção do seu exercício bem apurada, retirando os necessários dividendos como resultado da fraqueza na dispersão do poder e na diferença entre a ilusão e o efeito prático.
Torna-se necessário julgar o exercício do poder, independentemente de se ter ou não uma opinião totalmente imparcial e independente na sua análise.
O exercício do poder pode trazer sofrimento, indignidade e infelicidade à sociedade, mas a ausência desse exercício, não são garante nem impedimento para que esse sofrimento, indignidade e infelicidade não se façam igualmente sentir.
Acima de tudo, deve existir um sentido razoavelmente sólido sobre a natureza e estrutura do poder, as suas fontes e premissas, instrumentos com os quais é exercido, sobre as várias associações entre as fontes e os instrumentos do poder, sobre a sua mudança no decorrer dos tempos e sobre o seu efeito sobre a comunidade.
Tem que haver um entendimento e conhecimento profundo do exercício do poder nos tempos modernos, o qual apresenta índices de eficácia extremamente elevados, face à forma ostensivamente inocente como permitimos o seu exercício, porque entendemos e acreditamos estar a responder a uma convicção aparentemente normal e a uma virtude aparentemente natural e aceite pela comunidade.
Torna-se necessário reconhecer que também na oposição a consolidação do poder, a difusão e a competição entre muitas organizações opostas, constituem um elemento importante e fundamental, na defesa da verdade, como factor imprescindível e essencial para a consolidação de um estado democrático.
Fundamentalmente, cidadão atento que se preze, terá que ter em atenção de uma forma geral, um sentido crítico, prático e persistente de como e do que está por detrás das nossas referências diárias com o poder e do nosso constante envolvimento com ele.
Os que outrora eram obrigados a aceitar o exercício do poder através da coacção organizam-se agora automaticamente para lhe resistirem, numa prova irrefutável de resistência, reacção que era então vista noutros tempos como subversiva, e que agora numa atitude pela afirmação dos mais altos valores da sociedade, retiram, senão por completo toda ou qualquer imunidade aos que o exercem.
Escusado será dizer que o avanço das intervenções de cidadania, a aposta consciente nas ideias e conceitos inquestionáveis na decisão do interesse público, poderão vir a reduzir consideravelmente a ambição desmesurada, por vezes até criminosa, de apego ao poder, desacreditando as avalanches populistas de políticos enfeudados e coagidos por estruturas complexas e sinistras de contra poder, as quais dissimuladas e encapotadas em algumas estruturas partidárias, fazem capitular os ideais da sua génese.
As ideias que comandam a visão e o expansionismo liberal que começa a dominar o mundo, são o exemplo de como se não deve confundir a eficácia social com a eficácia económica e esta com a rentabilidade financeira do capital, funcionando como denominador comum, que em cadeia, traduzem o domínio do económico atrofiando o pensamento social, condicionando e aniquilando a sustentabilidade social das sociedades progressistas e contribuindo com esse factor para assegurar cada vez mais a implementação e consolidação das tendências capitalistas.
Por outro lado, com a premissividade a que nos vamos adaptando, fruto de uma atitude colectiva desmobilizada e descrente, sujeitamo-nos e aceitamos um sistema o qual designamos de democracia, que, ao fim e ao cabo, não passa de um sistema de funcionamento estatal e governamental, que se constitui por eternos eleitos, acumulando ou alternando funções municipais, regionais, legislativas ou ministeriais, simplesmente agarrados à população pelo essencial da representação dos interesses locais.
Esta situação traduz-se numa roda viva de ministros ou colaboradores de ministros recolocados em empresas públicas ou semi-públicas, homens de negócios ou socialmente bem instalados e apadrinhados, na procura de mandatos eleitorais que lhes venham a proporcionar através dos seus desempenhos públicos, benesses e privilégios, que de outra forma alguma vez teriam hipóteses de vir a concretizar, numa sociedade justa e equilibrada.


João Carlos Soares

domingo, outubro 14, 2007

Personalidade......Liderança.......Poder

Na eminência de se poderem vir a afirmar como líderes no futuro, a tendência actual dos políticos é exagerar o papel da sua personalidade, conjugado com a vaidade no exercício da sua actividade, transformando este binómio como factor fundamental e indispensável para a sua afirmação.
Prova disso, é a forma como acreditam dispor, de maneira excepcional, das qualidades de liderança resultantes da inteligência, encanto ou capacidade retórica confirmada, a qual os motiva a crer e fazer acreditar os outros também.
O que poderemos chamar de efeito bajulador, é outra das razões que contribuem efectivamente para o engrandecimento da personalidade como fonte de poder ambicionado.
Os instrumentos de poder disponibilizados e a que os lideres têm acesso, tal como as influências que passam a ter nos diversos meios e órgãos de decisão, conferidos pela sua condição perante o poder, são em certa medida uma atracção natural para todos aqueles que desejam partilhar e usufruir o poder dessas influências, vivendo à sua sombra.
Nesse contexto, constará para memória futura, que o poder concedido resulta, isso sim, do facto de integrar uma organização, à sua personalidade, às suas qualidades como líder, fazendo na insistência de tal constatação, o acreditar e fazer acreditar, de quem o rodeia, tal presunção.
Faz parte da natureza, naquilo que se convenciona chamar de contexto social, dramatizar também o papel da personalidade. Uma grande parte das relações sociais está relacionada com quem exerce o poder, por outras palavras, com quem está a impor os seus objectivos aos outros. Grande parte do esforço social despendido nas comunidades, consiste em procurar ligações com os que são considerados como poderosos. Este tipo de atitude, é muito apreciado pelos que a recebem e, por isso, políticos, funcionários públicos, jornalistas e outros cultivam e alimentam uma atitude pública que sugere poder ou dá a entendê-lo como omnipresente. Na forma como agem, vestem e no seu próprio comportamento social em geral, mostram um aspecto bem elaborado e estudado de liderança e comando.
As conversas e os temas desenvolvidos, centram-se frequentemente, e muitas vezes de maneira ostensiva, na forma como a vontade do orador se está a impor aos outros, o que, diga-se, resulta frequentemente de forma bastante convincente.
Os rituais utilizados na política, reuniões, plenários, assistências e aplausos, também conduzem a um equívoco sobre a personalidade como fonte de poder, isto porque os oradores falam regularmente para públicos já totalmente condicionados às suas convicções, adaptando por isso o seu pensamento automaticamente, àquilo que sabe ser essa convicção.
A descrição de um líder, tal como vulgarmente a sociedade o concebe, sofre de uma certa ambiguidade e como tal assim deve ser encarada. O líder pode ser brilhante a obter a submissão dos outros ao seu objectivo, mas na referência que lhe é feita no dia-a-dia não passa de um perito em se identificar com a vontade condicionada da comunidade em que se insere e na sua capacidade de identificar para essa mesma comunidade os seus próprios projectos.
O poder de um líder pode-se avaliar pela forma como consegue convencer os seus seguidores a aceitar as suas soluções para os problemas deles e, consequentemente, o seu caminho na concretização dos seus objectivos.
Quando esses objectivos são conseguidos, quando a sua personalidade entra em associação de proximidade com o seu eleitorado, poder-se-á desenvolver uma estrutura, que dotada de organização, se transformará numa verdadeira e eficiente máquina política.

João Carlos Soares