segunda-feira, janeiro 14, 2008

Consentimento ..... ou resignação?





No PS, contrariando afirmações de José Sócrates no Congresso em 2006, estamos hoje, perante um problema de identidade, definição doutrinária e ideológica.

Nas sociedades mais competitivas no processo de globalização europeu, tomando como referência as sociedades escandinavas, quer o forte peso do sector público, quer a existência de fortíssimos sindicatos, vêm desmentir e evidenciar, no mínimo, não existir relação ou incompatibilidades entre essas variáveis.
Por essa razão, leva-nos a concluir que, afinal, existe uma correlação positiva entre a robustez do sindicalismo e o nível de desenvolvimento económico, social e político.
O problema nasce e acontece de uma forma tradicional na Europa, quando se cultiva e defende uma forte ligação e subserviência dos sindicatos aos partidos políticos, contudo, torna-se por vezes incómodo e inoportuno à independência sindical.
Por outro lado, essa ligação, cria e proporciona uma maior representatividade social dos partidos, evitando, dessa forma, uma desacreditação e desmobilização na filiação partidária, consequência do abandono e afastamento dos eleitos às suas bases representativas, dos programas sufragados e do reposicionamento ideológico a que os partidos são sujeitos, sempre que se acercam do poder, ou quando se desencadeiam processos internos de sucessão e liderança.
Prova do que atrás se refere, talvez seja o processo iniciado e ensaiado por Ferro Rodrigues, numa aproximação declarada aos sindicatos, nomeadamente à CGTP, procurando dessa forma reconstruir e fortalecer essas relações.
Quando se refere que José Sócrates, sem esconder as suas intenções bem definidas no seu programa à liderança do PS, se apresentava como o candidato à direita no partido, defendendo uma estratégia política essencialmente neoliberal, começa por se perceber sem qualquer dificuldade a retórica anti-sindical a que o governo, através dos seus ministros e secretários de estado utiliza frequentemente, quando o diálogo, a tolerância e acima de tudo o discernimento nas políticas sociais desaparecem.
Como defendem, e muito bem, militantes de base e alguns parlamentares do partido de José Sócrates, para que se seja de esquerda, num contexto em que são necessários sacrifícios e ajustamentos dolorosos, deve ser a capacidade de negociação destes ajustamentos, nomeadamente com os sindicatos, e a oferta de contrapartidas, essa marca que define e faz a diferença entre a esquerda e a direita.
Ao que assistimos, ilustra infelizmente para todos os que acreditam numa sociedade solidária, ao afastamento gradual das políticas de esquerda do Partido Socialista no governo, num maximalismo dos sindicatos e na ausência de uma estratégia do governo para o relacionamento com eles, evitando-se a todo o custo a hostilização e a apresentação de propostas sem contrapartidas minimamente aceitáveis.
Globalmente, a dualidade de critérios a que assistimos por parte do governo, em matéria dos ajustamentos e sacrifícios que está a pedir aos Portugueses, além de não ser honesto do ponto de vista da igualdade, legitima cada vez mais a revolta daqueles a quem mais ajustamentos e sacrifícios são pedidos.
Uma coisa é o Partido Socialista nunca ter tido uma forte ligação ao mundo do trabalho, outra bem diferente é prosseguir uma estratégia de hostilização dos sindicatos.
Não faltarão, com certeza, vozes discordantes e impacientes no seio do partido, só que, perante o mandato inequívoco que os Portugueses colocaram nas mãos de José Sócrates, e face aos acordos internos com que alguns círculos se encontram comprometidos e às clientelas nas elites instaladas e instituídas, não acredito haver actualmente coragem política no interior do PS, para hostilizar e combater a liderança neoliberal do partido, a que José Sócrates se propõe conduzir.

João Carlos Soares

1 comentário:

Anónimo disse...

sorry the off-topic

http://barreiroxxi.blogspot.com/2008/01/uma-ponte-para-outra-margem.html