segunda-feira, fevereiro 23, 2009

A Arca de Noé - Adaptada




Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em Portugal, e ordenou-lhe: "Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que Portugal seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos, sendo que, e para que tal aconteça, necessite preservar um casal de cada espécie animal.

Por essa razão, vai Noé e constrói uma arca de madeira."
Na devida altura, os trovões deram o aviso e os relâmpagos fizeram-se sentir no céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal da sua casa, quando a voz do Senhor se fez ouvir furiosa, entre as nuvens: "Afinal, onde está a arca, Noé?"
"Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem. Fiz o que pude, mas encontrei uma quantidade infinita de dificuldades e burocracia: Primeiro tentei obter uma licença da Câmara, mas para isto, além das taxas elevadíssimas para obter o alvará, a burocracia e os requisitos técnicos de projecto pareciam não ter fim. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui o empréstimo necessário, mesmo aceitando as taxas de juros que nos ficam pela hora da morte. Os bombeiros exigiram-me um plano de segurança e um sistema de prevenção de incêndios o mais sofisticado, mas consegui contornar essa situação, subornando um funcionário influente para o efeito."
E Noé nos seus lamentos prosseguiu: "Começaram então os problemas com os ambientalistas para a extracção da madeira. Eu ainda fui dizendo que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha um Projecto de Reflorestação para o local e um tal de Plano de Manutenção , Limpeza e Defesa da Floresta contra Incêndios. Entretanto eles descobriram também uns casais de animais que eu já vinha guardando no meu quintal. Além da multa pesada que me aplicaram, o Dr. Juíz ameaçou-me com prisão preventiva ou sujeito a residência fixa e eu para cumprir os Seus desígnios, acabei por subornar um alto signatário bem colocado, sabendo de antemão que a lei para este tipo de crime sempre é mais tolerante e branda."
"Quando fiquei em condições de dar início à obra, apareceu a Ordem dos Engenheiros e a ASAE que me multaram porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção. Depois apareceu uma empresa bem instalada no sistema, exigindo que eu a contratasse garantindo no mínimo emprego para 10 anos e uns cobres por fora. De seguida apareceram-me as Finanças, argumentando que eu apresentava a existência de nítidos sinais exteriores de riqueza, e não foram com meias medidas e multaram-me, aplicando-me coimas atrás de coimas.”
"Finalmente, quando a Secretaria de Estado do Ambiente pediu o Relatório de Impacto Ambiental sobre a zona que iria ser inundada pelo Seu projecto, mostrei-lhes o mapa de Portugal.

Bem, se as coisas até aqui só tinham sido complicação atrás de complicação, agora a coisa agravou-se e de que maneira. Quiseram-me internar num hospital psiquiátrico!- sorte a minha que à data o Júlio de Matos já estava encerrado e os Serviços de Psiquiatria estavam em greve, contra as medidas governamentais do novo código de trabalho.”
Terminando o seu relato ao Senhor, Noé chorando reparou que o céu clareava e perguntou assustado temendo pelas represálias : "Senhor, então não vais mais destruir Portugal? "Não! - respondeu a Voz do Senhor entre as nuvens - pelo que ouvi da tua boca, Noé, cheguei tarde! Alguém aí em baixo já se encarregou de fazer isso por mim!

1 comentário:

Anónimo disse...

"Prisma

Três jovens. Três vidas. Está tudo em aberto para um intrigante enredo no qual a interpretação será a melhor ferramenta do espectador. Até que ponto estas vidas se irão relacionar? Tudo dependerá do (seu) prisma..."

Para o VIII Concurso de Vídeo do Barreiro, 2009