Quando perante um rumo económico inesperado a nível mundial, nos sentimos ameaçados, damos por nós a culpar tudo e todos, como é natural, excepto a nós próprios.
Afinal de contas, não nos esforçámos todos segundo os mais excelsos ideais?
Não trabalharam incansável e persistentemente os nossos melhores cérebros para transformar e fazer deste um mundo melhor?
Não dirigimos todos os nossos esforços e esperanças no sentido de uma maior liberdade, justiça e prosperidade?
Se o resultado é tão diferente do almejado, se, em vez de liberdade e prosperidade, somos confrontados com cada vez maior dependência e miséria, não estará mais que evidente a frustração das nossas intenções?
Que uma mudança de ideias em conjunto com o poder da vontade humana e do querer de alguns, fizeram do mundo o que ele é hoje, todos sabemos e temos consciência, agora o que não estávamos era preparados para as consequências e os resultados que nos aguardavam a médio prazo, e que nenhuma alteração dos factos, mesmo espontânea que fosse, nos obrigaria a adaptar o nosso pensamento à realidade actual.
Ainda pensamos nos ideais que nos norteiam e nos conduziram ao longo de várias gerações, como sendo ideais apenas a cumprir no futuro, e não temos a percepção de quanto, nas últimas duas décadas, em especial, esses ideais foram responsáveis pelas transformações, não só no mundo, mas por tabela, também neste país à beira mar plantado, que é Portugal.
Ainda estamos em crer, por isso acreditamos, que até há bem poucos anos estávamos a ser governados por ideias e conceitos em permanente conflito ideológico, impacientes por tudo fazer para acelerar a mudança no sentido do equilíbrio e sustentabilidade social, com o objectivo de apanharmos o combóio da Europa e, se possível, que não fosse na última carruagem.
O ponto crucial, para o qual as pessoas neste país estão ainda pouco consciencializadas, não é, contudo, apenas a amplitude das mudanças requeridas e que têm vindo a ocorrer ao longo da última geração, mas o facto de elas significarem uma mudança completa na direcção da evolução das nossas ideias e ordem social.
Nas duas décadas passadas, foi claro que nos vínhamos progressivamente a afastar dos ideais fundamentais que orientaram e foram pilares para a fundação de uma sociedade europeia de pleno direito. Que este movimento, ao qual aderimos com tão grandes esperanças e ambições, nos tenha posto face a face com uma globalização implacável, que não se compadece com fraquezas de um país sem estruturas nem riqueza produtiva à altura dos seus parceiros europeus, bem como do choque enorme para esta geração, que ainda se recusa a aceitar e compreender esses factos.
Não pode haver qualquer dúvida de que as promessas em torno de maior liberdade se veio a constatar ser uma das mais eficazes armas de propaganda, partindo-se do princípio que essa ideia seria genuína e sincera. O que se veio a descobrir, foi que o que nos foi prometido como o caminho para uma maior liberdade e igualdade, seria na verdade transformado no caminho para a dependência.
A ganância de uns tantos, a acrescentar a todos estes factores têm conduzido o país a uma rotura com os princípios da honorabilidade e respeito entre iguais, obrigando-nos a abdicar da liberdade de ideais, hipotecando um futuro, onde a falta de objectivos consistentes e realistas às nossas necessidades, conduzem e precipitam as grandes decisões por questões meramente economicistas, como a liberdade das questões económicas, sem a qual a nossa liberdade política e pessoal nunca teriam sido possíveis no passado.
Nenhuma pessoa sensata duvidaria de que as regras impostas nas quais foram expressos os princípios da economia política europeia, eram ainda um começo num processo extenso e doloroso que iria desnudar as débeis economias dos países do sul.
Surpresa foi o desmoronar dos conceitos que suportaram e estiveram na base do carrossel financeiro instituído, onde o Estado se obrigaria a várias tarefas óbvias, tais como a forma de lidar e controlar o sistema monetário, e o impedimento ou controle de monopólios, o qual ao primeiro balanço cedeu, provocando uma crise de credibilidade de todo o sistema financeiro.
A pergunta que se faz agora, não é como vamos enfrentar a crise e responder às necessidades de um país financeiramente em ruínas, a questão é até onde a resistência e a tolerância vão aguentar, sabendo-se que ao país, mais uma vez, vai ser pedido um esforço sobre-humano, mas que como já estamos habituados, para não variar, vão ser sempre os mesmos a pagar.
João Carlos Soares
Afinal de contas, não nos esforçámos todos segundo os mais excelsos ideais?
Não trabalharam incansável e persistentemente os nossos melhores cérebros para transformar e fazer deste um mundo melhor?
Não dirigimos todos os nossos esforços e esperanças no sentido de uma maior liberdade, justiça e prosperidade?
Se o resultado é tão diferente do almejado, se, em vez de liberdade e prosperidade, somos confrontados com cada vez maior dependência e miséria, não estará mais que evidente a frustração das nossas intenções?
Que uma mudança de ideias em conjunto com o poder da vontade humana e do querer de alguns, fizeram do mundo o que ele é hoje, todos sabemos e temos consciência, agora o que não estávamos era preparados para as consequências e os resultados que nos aguardavam a médio prazo, e que nenhuma alteração dos factos, mesmo espontânea que fosse, nos obrigaria a adaptar o nosso pensamento à realidade actual.
Ainda pensamos nos ideais que nos norteiam e nos conduziram ao longo de várias gerações, como sendo ideais apenas a cumprir no futuro, e não temos a percepção de quanto, nas últimas duas décadas, em especial, esses ideais foram responsáveis pelas transformações, não só no mundo, mas por tabela, também neste país à beira mar plantado, que é Portugal.
Ainda estamos em crer, por isso acreditamos, que até há bem poucos anos estávamos a ser governados por ideias e conceitos em permanente conflito ideológico, impacientes por tudo fazer para acelerar a mudança no sentido do equilíbrio e sustentabilidade social, com o objectivo de apanharmos o combóio da Europa e, se possível, que não fosse na última carruagem.
O ponto crucial, para o qual as pessoas neste país estão ainda pouco consciencializadas, não é, contudo, apenas a amplitude das mudanças requeridas e que têm vindo a ocorrer ao longo da última geração, mas o facto de elas significarem uma mudança completa na direcção da evolução das nossas ideias e ordem social.
Nas duas décadas passadas, foi claro que nos vínhamos progressivamente a afastar dos ideais fundamentais que orientaram e foram pilares para a fundação de uma sociedade europeia de pleno direito. Que este movimento, ao qual aderimos com tão grandes esperanças e ambições, nos tenha posto face a face com uma globalização implacável, que não se compadece com fraquezas de um país sem estruturas nem riqueza produtiva à altura dos seus parceiros europeus, bem como do choque enorme para esta geração, que ainda se recusa a aceitar e compreender esses factos.
Não pode haver qualquer dúvida de que as promessas em torno de maior liberdade se veio a constatar ser uma das mais eficazes armas de propaganda, partindo-se do princípio que essa ideia seria genuína e sincera. O que se veio a descobrir, foi que o que nos foi prometido como o caminho para uma maior liberdade e igualdade, seria na verdade transformado no caminho para a dependência.
A ganância de uns tantos, a acrescentar a todos estes factores têm conduzido o país a uma rotura com os princípios da honorabilidade e respeito entre iguais, obrigando-nos a abdicar da liberdade de ideais, hipotecando um futuro, onde a falta de objectivos consistentes e realistas às nossas necessidades, conduzem e precipitam as grandes decisões por questões meramente economicistas, como a liberdade das questões económicas, sem a qual a nossa liberdade política e pessoal nunca teriam sido possíveis no passado.
Nenhuma pessoa sensata duvidaria de que as regras impostas nas quais foram expressos os princípios da economia política europeia, eram ainda um começo num processo extenso e doloroso que iria desnudar as débeis economias dos países do sul.
Surpresa foi o desmoronar dos conceitos que suportaram e estiveram na base do carrossel financeiro instituído, onde o Estado se obrigaria a várias tarefas óbvias, tais como a forma de lidar e controlar o sistema monetário, e o impedimento ou controle de monopólios, o qual ao primeiro balanço cedeu, provocando uma crise de credibilidade de todo o sistema financeiro.
A pergunta que se faz agora, não é como vamos enfrentar a crise e responder às necessidades de um país financeiramente em ruínas, a questão é até onde a resistência e a tolerância vão aguentar, sabendo-se que ao país, mais uma vez, vai ser pedido um esforço sobre-humano, mas que como já estamos habituados, para não variar, vão ser sempre os mesmos a pagar.
João Carlos Soares
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