Para os trabalhadores, o direito à greve ultrapassa as fronteiras da sua identidade, a partir do momento em que a sua atitude colectiva lhe dá o direito de afirmar bem alto e de forma consciente perante o poder político e o capital, que não se conformam nem se sujeitam a trabalhar sobre ameaças e em determinadas condições de opressão, mostrando-se o quanto estão dispostos a confrontarem-se de forma determinada com os detentores do capital, que usando diversas formas de coacção, tentam fazer prevalecer a lei do mais forte.
Os governantes têm alguma dificuldade em aceitar este direito consignado na lei, mas não têm a coragem de dizer que não concordam com ele, pois isso colocá-los-ia numa situação extremamente complicada perante a opinião pública, mostrando a falta de valores democráticos de que padecem.
Sendo assim, tentam através da falácia, convencer as populações do prejuízo que as greves lhes provocam no dia-a-dia, tentando demonstrar o quanto prejudicial significam para o país as greves. É lógico que quando se faz greve, esta tem que ter inevitavelmente um efeito de incomodar ou de paralisar os serviços atingidos. Outra coisa não seria de esperar, porque se as greves não incomodassem ninguém, não teriam o efeito pretendido, nem cumpriria com o pressuposto de ser um instrumento de pressão sobre os governantes e o capital, face ao descontentamento dos trabalhadores.
Para que essa intenção demoníaca de mascarar um direito universal como uma mera intenção casuística de desestabilização social, não se torne e dissemine na sociedade num sentimento de aversão generalizada às lutas dos mais desprotegidos, é preciso que os trabalhadores e centrais sindicais se unam com convicção, cautela e serenidade, promovam e lutem por um novo tempo de desenvolvimento e justiça social, garantindo direitos e fortalecendo conquistas, perante uma postura preconceituosa e anti-social ainda existente em certos segmentos da sociedade.
Não estamos em tempo de cruzar os braços, pelo contrário, é preciso arregaçar as mangas e lutar pela defesa e a ampliação do direito à negociação e organização sindical de todos os trabalhadores, seja no sector público ou privado.
Todos sabemos o quanto a greve é incómoda, mas esse é o seu objectivo como forma de pressão nas relações do mercado de trabalho, que deve pautar-se na base do respeito mútuo e do diálogo. Quando uma das partes se recusa a conversar e apenas pretende impor o seu injusto ponto de vista, aproveitando-se das fraquezas e dependência da outra torna-se necessária e indispensável alguma acção que coloque de novo as coisas no seu devido lugar.
A greve pode ser comparada a uma guerra, guerra por direitos que nos estão a ser negados. Numa guerra vence quem tem as melhores armas, as melhores estratégias e o pleno conhecimento do terreno onde a batalha é travada.
Torna-se necessário entender as diversas configurações do campo de batalha, e não podemos ignorar as armas, a força, o poder e o conhecimento do inimigo se não quisermos por em causa os resultados finais.
João Soares
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