O espectáculo da corrupção torna-se enfadonho e transfigura cada vez mais a actividade política desacreditada perante os que a detestam.
A descrença instalada na população e o seu não envolvimento ou afastamento da política alimenta e facilita o exercício do poder por gente corrupta. De certa forma abstracta e ingénua, disfarçando por vezes a ignorância e a leviandade egoísta dos que não conseguem pensar para além da sua carteira, permitem e fortalecem os podres poderes instalados, que a todo o momento espreitam a oportunidade para dar o golpe à primeira oportunidade que lhes surja.
Quem alimenta a indiferença, o egoísmo ético do interesse individualista dos cidadãos desprevenidos, é também conivente com a ofensiva deste exército de malfeitores, tornando-se seu subsidiário.
Meter todos os políticos no mesmo saco, lavando daí as mãos e apontando em exclusivo à classe política a responsabilidade de todos os males da sociedade, faz aumentar o descrédito das instituições na gestão da coisa pública, levando a um caminho putrefacto de actividades ilícitas salvaguardadas por uma estrutura de sociedade onde a ocasião faz o ladrão, premiando assim os mais espertos, os mais egoístas e mais ambiciosos sem qualquer tipo de pudor.
Os políticos pela simples razão da exposição a que são submetidos na actividade que desempenham e pela proximidade dos centros de decisão, colocam-nos como alvo de todas as dúvidas e suspeições, esquecendo-nos no entanto que só há corrupção e corruptos porque também existem corruptores.
Não podemos ser hipócritas ao ponto de exigirmos ética aos políticos como se esta fosse uma exclusividade restrita ao submundo da política. Quando na sociedade o ladrão rouba e encontra comprador para o seu furto, torna-se tão culpado ou pior do que quem praticou o acto de roubar.
Para bem da verdade, quantos de nós nunca foram tentados? Quantos não cometeram algum deslize? Quem foi tentado e não caiu em tentação? Quantos conseguiram ou não manter a coerência entre o pensamento e a razão no discurso e na pratica do seu dia-a-dia?
No fim todos seremos julgados pelos nossos actos, e através dessa avaliação poderemos comprovar ou não a nossa capacidade em resistir à tentação.
Os indiferentes à política que demonizam a actividade dos políticos, esquecem-se que essa atitude promove e narcotiza o pensamento em comunidade, permitindo espectáculos degradantes propiciados pelos governos que se sucedem, sem contestação nem repulsa, perante a incapacidade para projectarem e garantirem a estabilidade e o futuro das gerações vindouras, como resultado do nosso comodismo.
Por mais alienado que o ser humano seja, existe uma diferença em relação aos restantes animais, pois tem a capacidade de pensar de forma livre e crítica, tornando-o como o único animal capaz de produzir e de fazer a sua própria história, compreendendo e projectando o seu próprio futuro.
Não basta apenas criticar os que cometem erros ou os que caem na tentação, é preciso acima de tudo ter discernimento e ser participativo, ter consciência dos direitos e deveres em sociedade, ser capaz de assumir e lutar pela defesa da justiça social com mestria, superando assim o comodismo da indiferença.
João Soares
Barreiro, 29 de Novembro de 2011
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