sexta-feira, novembro 02, 2007

Violência Política ..... Social



Desde os fatídicos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 e das guerras no Afeganistão e no Iraque, existe a sensação de que o mundo se encontra mergulhado num banho de violência política e dominado, de uma forma assustadora, pelo terrorismo.
As imagens e os testemunhos alucinantes e perturbadores, alimentados por uma fome de protagonismo e liderança mediática, lançando o pavor entre as populações, relatando medonhos e reprováveis atentados e explosões homicidas, espalhando o horror e a insegurança, dando tudo isto a impressão de que o mundo estaria a ser varrido pelo furacão de uma espécie de novo conflito mundial, tendo como protagonistas o terrorismo internacional, de uma forma mais atroz que os anteriores.
Esta impressão não pode de forma alguma ser considerada falsa. Em contra ponto contrariando as aparências, a violência política nunca foi tão débil. As revoltas e insurreições de ordem política, as guerras e os conflitos raramente foram em tão pouco número. Por mais espantoso que isto possa parecer, e a despeito dos media, o mundo social está calmo, tranquilo, podendo até afirmar-se que se encontra em grande medida pacificado.
Para se perceber e reconhecer esta realidade, temos que retroceder vinte ou trinta anos, quando quase todos os grupos de protesto radicais adeptos da luta armada desapareceram, ou se foram extinguindo.
Salvo algumas excepções, onde uma nova forma de confronto social vem ganhando adeptos através da crença islâmica, ocupando agora a parte mais visível da cena mediática. Contudo as suas acções, por mais espectaculares que se apresentem, não conseguem disfarçar o essencial: a luta política perdeu força, e rarefez-se.
Quererá esta situação reflectir a ideia de que não existem neste momento outras formas de violência em acção?
É claro que existem, começando pela violência económica dos agentes poderosos do capital estimulados pela globalização liberal, que exercem sobre os povos dominados.
Esta pressão económica, visando o enriquecimento dos ricos, que se vão tornando cada vez mais ricos, aumentando as desigualdades com uma dimensão nunca antes vista.
Torna-se revoltante e inquietante os níveis atingidos pela pobreza, traduzidos em cerca de metade da humanidade, onde mais de um terço atingiram o limiar da miséria, cerca de 800 milhões sofrem de má nutrição, etc.etc.etc...
Por mais incrível que pareça, todos estes milhões de condenados continuam emudecidos, controlados e politicamente acomodados, tornando-se num paradoxo do nosso tempo, havendo mais pobres do que nunca e, em contrapartida, nunca ter havido ou fazerem-se sentir tão poucos revoltados.
Torna-se pouco provável que esta situação assim possa permanecer por muito mais tempo, afigurando-se a médio prazo, o regresso ao combate dos oprimidos contra os opressores, e em especial, a luta dos pobres contra os ricos, com alguma expressão actualmente, através do aumento da delinquência, da criminalidade, da insegurança, e que, um pouco por toda a parte, venham a adquirir características de uma autêntica guerra social.
Há uns anos atrás, um qualquer cidadão na posse de uma arma, aderia a uma organização de luta armada para mudar o destino da humanidade, defendendo os ideais em que acreditava. Hoje em dia, na posse de uma arma, pensa primeiro na sua própria pessoa e, por se sentir vítima da ruptura da estrutura social dominada pelos agentes económicos, irá romper com os seus compromissos de cidadania, atacando bancos, assaltando ourivesarias e gasolineiras.
Perante esta vaga ascensional de conflitos, originando como tal uma cada vez maior onda de insegurança, faz com que em muitos países a despesa orçamental utilizada nesta guerra social, ultrapasse as verbas destinadas à sua própria defesa nacional, no sentido de proteger os ricos do desespero dos pobres, reprimindo e recalcando os mais desfavorecidos com políticas de contenção nas áreas da saúde, educação e direito ao trabalho.
Não nos podemos permitir e encarar os factos como dados adquiridos. Perante o agravamento das desigualdades, os cidadãos acabam sempre por se revoltar. O actual aumento da criminalidade e delinquência, que muitas vezes não passam de formas primitivas e arcaicas de agitação social, começam por se constituir como um sinal preocupante e indiscutível do desespero dos mais pobres perante a injustiça do mundo. Ainda não se poderá designar este tipo de acção como actos de violência política, mas temos a consciência e o pressentimento que não passa de mais um adiar, que não sabemos até quando e de que forma o vamos conseguir deter.

João Carlos Soares

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