Governar não é fácil e não se pode resumir ou permitir a um mero acto de resolver e atacar os problemas na forma simples do aqui e agora. Sem uma visão abrangente, clara, lúcida e perspicaz do que nos espera num futuro próximo, poderá conduzir, aquilo que à partida significaria uma esperança para muitos, a um fracasso a evitar a todo o custo, transformando-se num enorme obstáculo de solução impossível, em muitas situações de difícil superação.
As crises podem e devem ser obrigatoriamente enfrentadas com uma visão alargada e nunca reduzindo ou limitando essa visão e acção a uma atitude ou processos e medidas redutoras e defensoras de proteccionismos duvidosos, ignorando-se a possibilidade e oportunidade de implementação de reformas e modernização do País.
É verdade que qualquer mudança estrutural provocada pela acção de reformas do estado, encontram naqueles que directamente vão sofrer as suas consequências, os primeiros detractores dessas medidas. Nesse sentido, somente com um intenso trabalho junto da opinião pública, através do debate, se consegue remover esses obstáculos.
A transparência, ideia tão defendida e exigida nos meios políticos, nunca terá sido tão necessária quanto agora, pois toda a capacidade de vencer uma crise ou de abreviar e condicionar a sua duração, dependerá em grande parte do apoio que os governantes receberem de quem os elegeu e neles confiou, porque a esses é que serão exigidos todos os sacrifícios.
Muitas ilações se poderão retirar da crise que nos assola, havendo, por certo, quem simplesmente a impute a deslizes do sistema financeiro ou de mercado perante a globalização, com a sua incapacidade de auto-regulação.
Contudo, perante uma forma mais abrangente e visionista, há quem preveja nesta crise um móbil para o aparecimento de uma nova ordem internacional, renascida dos escombros do capitalismo, quase que por ironia do destino, provocado exactamente por causas a ele congénitas.
A grande dúvida e preocupação, advém precisamente da grande incógnita que essa nova ordem representará num contexto de globalização, como aquele a que estamos a assistir.
O enorme colapso a que a economia internacional tem estado sujeita, ainda não tem um fim à vista, nem existem esperanças de que, num curto espaço de tempo, se encontre uma solução que ponha cobro e resolva os desequilíbrios, face ao renascer de novas preocupações, resultante de avanços e retrocessos na economia das potências reguladoras de mercado europeu, como a França, Alemanha e Inglaterra, para não falar na economia Norte Americana.
A preocupação imediata dos responsáveis, deverá ser orientada no sentido de uma aprendizagem com base nas lições do passado presente, abrindo as portas para o futuro, sem perder de vista que o primeiro e único objectivo, deverá ser o da criação de condições de sustentabilidade para a concretização das potencialidades da sociedade em geral.
A qualidade política dos governantes mede-se com base nas sua capacidade de decisão. Oscilar e refrear uma decisão, pode-se considerar um defeito tão grave quanto escolher o caminho errado. Não abordar os problemas de frente ou adiar a sua resolução, pode conduzir e precipitar o país para um desastre de consequências irremediáveis.
Subestimar esta crise e o seu impacto na nossa economia, por fanfarronice partidária ou angariação de popularidade, podem colocar em causa a verdade no combate à crise, comprometendo irremediavelmente qualquer solução e eficácia.
João Soares
1 comentário:
Certos opinion makers mais ligados à direita conservadora preconizam uma politica do dolce far niente como se tivéssemos a nossa moeda, ou seja, o estado não faz obras publicas, não investe, e vamos esperar que a crise passe, isto seria verdade se tivéssemos a nossa moeda, poderíamos mexer nela para baixo ou para cima conforme a necessidade, só que temos um pequeno/grande problema temos moeda única e cujo valor foi estipulado aquando da entrada em circulação e o BCE não tem poder para nela mexer, esta foi uma quase exigência da Alemanha em 2001 e que muitos economistas Portugueses advertiram dos inconvenientes dessa medida.
Vivemos num mundo global, para o bem e para o mal, onde existem economias mais prosperas e com custos mais baixos para as empresas, menos impostos, menos burocracia, juros bancários mais aliciantes e mão de obra mais barata, é lógico que se deslocalizem empresas para esses "paraísos" é evidente que quem tem um tecido empresarial modesto como o nosso se vem logo ressentir destas deslocalizações, esta falta de "motor económico" aliado a todas as outras adversidades, (moeda única, mercado global), é o nosso calcanhar de Aquiles, só resta, mas só resta mesmo, ao Estado fazer funcionar a economia, como? Fazendo obras publicas.
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