terça-feira, janeiro 24, 2012

Proteste!


Passando os olhos pelas notícias com que diariamente somos prendados, mesmo tentando afastar a crise financeira do nosso pensamento, somos brutalmente acordados de um sono que mais parece um pesadelo, o que torna de todo impossível negarmos a sua existência.
Os últimos dias têm sido profícuos em tristes episódios, que demonstram a leviandade com que os mais altos dirigentes da Nação encaram as dificuldades das populações, sendo o Presidente da República um dos tristes protagonistas dessa atitude miserável e desumana, onde o poder constituído mostra como, de forma musculada, aplica o quer posso e mando, sem escrúpulo e desdém pelo sofrimento dos mais carenciados, gerando um mau estar que começa a preocupar os menos atentos, face à detioração das condições de vida e insustentabilidade das famílias.
O clima é tenso, e o cenário social não deixa adivinhar nada de bom para os tempos que se adivinham de contracção geral na zona euro, onde os países devastados pela dívida acumulada e as populações, se preparam para ser esfolados para honrar os seus compromissos.
No entanto, perante este quadro desolador das economias, constata-se a proliferação e manutenção das exorbitantes compensações e expedientes remuneratórias dos executivos nas mais diversas corporações, na sua maior parte grandes responsáveis pelo actual momento deficitário das finanças públicas, todos eles ligados à máfia predatória das finanças públicas e, simultaneamente, antigos responsáveis de altos cargos na governação do país.
Começam a sentir-se por todo o lado movimentos contestatários, muitos deles usando as plataformas das redes sociais, como o 15 de Outubro, reunindo em seu torno reformados, desempregados, jovens em situação precária, estudantes, sindicalistas e uma juventude desencantada e sem confiança no futuro.
Estes movimentos, de génese pacífica, usam essas plataformas como forma de ampliar a sua mobilização, reflectindo a indignação e a falta de perspectivas latente desta sociedade contemporânea globalizada, onde o vazio de soluções e alternativas políticas, constrangem e asfixiam o berço da democracia, que é a Europa, e que, de um momento para o outro, face a este ataque desenfreado dos mercados, se vai transformando assustadoramente no símbolo de uma inquietante decadência.
O poder corporativo dos mercados esmigalha e oprime por completo a razão das populações afectadas, subjugando-as a uma matilha de ambiciosos, que de forma cruel influenciam e condicionam qualquer projecto de recuperação alternativo, que não seja complacente com os interesses dos agentes especuladores do grande capital, nas reformas de ataque desenfreado e incapacitante na sustentabilidade de qualquer estado social.
Neste triste e resignado cenário, há que ripostar energicamente à petulância do governo, na contingência de o não fazermos, ser tarde demais para reagir, tal o ataque desenfreado e contundente desencadeado, e consentido pelos governantes, sobre as frágeis estruturas dos países em desenvolvimento.
Vivemos um momento de perplexidade e medo, perfilados perante um cadáver de um moribundo, a Europa, onde uma concordata de ilustres sabichões apregoa a inevitabilidade de uma agonia dos povos, marcada por paradigmas civilizacionais, onde hoje tudo se parece ter desmoronado numa senilidade constrangedora, presunçosa e cega, incapaz de se regenerar nos valores fundamentais que lhe deram forma.
Contudo, não nos podemos deixar vencer por este paradigma em que nos pretendem lançar, há que protestar e discutir novos modelos e consciencializar, agora mais que nunca, da necessidade da proximidade dos cidadãos, onde ninguém deverá ignorar o sofrimento, a solidão, a pobreza ou a exclusão do seu concidadão.
João Carlos Soares
Barreiro, 24 de Janeiro de 2012

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