quinta-feira, janeiro 05, 2012

As Escolhas


Tendo Portugal ao longo da sua História, passado ciclicamente por períodos de grandes dificuldades e falta de confiança, nunca como agora, face ao esgotamento do modelo de governação à escala global, essas dificuldades se fizeram sentir com tanta preocupação como agora.

Se não forem tomadas medidas urgentes e capazes de inverter e salvaguardar o equilíbrio das famílias, o futuro das novas gerações estará irremediavelmente hipotecado.

Os responsáveis deste país foram descurando os indicadores que nos foram sendo anunciados de uma recessão que se previa, onde o aumento da dívida dos estados atingiu valores insuportáveis de difícil pagamento, para economias debilitadas como a nossa, sem recursos e com uma produção muito abaixo da média europeia, só poderia ter o desfecho que teve perante a crise europeia que se instalou.

Os governantes aperceberam-se tardiamente, ou fizeram ouvidos de mercador, e quando aconteceu, em poucos meses, a economia desmoronou-se entrando em colapso, face àquilo que muito prometeram, incapazes de resolver os problemas estruturais, com pouco incentivo à produtividade, recorrendo exclusivamente ao recurso à sobrecarga fiscal e contenção de salários, alienando e preparando-se para alienar tudo o que ainda existe como mais-valia para o Estado.

Com um Produto Interno Bruto baixo e a continuidade numa aposta e desacerto completo nos gastos públicos, era de prever que este tipo de actuação só poderia conduzir o país à situação de dependência externa a que chegou.

Era de prever que este colapso ideológico e económico sem precedentes, nos viesse a conduzir a uma estrada sem fim à vista, o que poderá provocar um desastre monumental na Europa, onde ninguém está a salvo, esperando-se a todo o momento a ruptura do sistema financeiro europeu, mesmo que os dirigentes dos países dominantes o neguem constantemente, mas que se percebe não ser consequente para convencer os mercados e os investidores.

Neste cenário, será difícil haver vencedores ou perdedores, haverá sim uns que perdem mais do que os outros e nós, infelizmente, estamos irremediavelmente no grupo dos que mais vão perder com esta crise, pois num sistema em que não se conseguem pagar as dívidas, não há como continuar assim, porque a partir desse momento será a nossa credibilidade e soberania que estarão em causa.

Se o sistema europeu falir, a queda da moeda europeia será inevitável, ou então iremos assistir à estatização dos bancos e a um processo de emissão de moeda nacional pelos governos. Sendo dois caminhos totalmente opostos, serão imprevisíveis as consequências que irão ter e como reagirão nessa altura os mercados.

Estamos numa situação deveras complicada, de difícil solução, como se de um comandante de um navio, no meio de uma grande tempestade tivesse que optar. Ou pedia ajuda e acatava as ordens dos seus salvadores, ou escolheria o risco de procurar o seu rumo para sair pelos seus próprios meios, são e salvo com o seu barco e tripulantes, da tempestade.

Também nós temos que ter neste momento o discernimento na escolha, ponderando se queremos arriscar na ajuda, com as consequências inevitáveis de perda de soberania, ou nos dispomos a encontrar o rumo certo para sair de tão grande calamidade em que nos temos andado a meter, evitando ir ao fundo arrastados pela adversidade do momento.

Torna-se necessário explicar à sociedade, de forma clara e simples, com que linhas se gere e movimenta a economia mundial, mostrando os caminhos que percorremos para aqui chegar, os riscos que a comportam e as mudanças que irão acontecer no futuro na estrutura social, tal como a conhecemos, conhecendo-se efectivamente os riscos das nossas escolhas, sem teses ou desculpas conspirativas, partidarismos exacerbados, individualismos ou gritos de revolta sem qualquer conteúdo e consistência.

É preciso que as pessoas responsáveis e com responsabilidade no destino da nossa democracia, se preocupem mais com o nosso futuro e na herança que vamos deixar para as novas gerações, consciencializando e esclarecendo de forma simples as pessoas para um assunto que para muitos é de difícil compreensão.

O futuro será o resultado das decisões do presente, por isso, quando se fala tanto na necessidade de construirmos um país melhor para os nossos filhos, por vezes esquecemo-nos que as nossas escolhas deverão ser um exemplo de responsabilidade, ética e dignidade nos nossos actos.

Diz o ditado “Colhemos o que plantamos”, por isso as mudanças devem começar dentro de nós, nas nossas casas, nos valores que apregoamos e acima de tudo nas nossas atitudes.

Quem sabe se a construção para o futuro que pretendemos para nós e para as gerações vindouras, não começa neste preciso momento?

João Carlos Soares

Barreiro, 05 de Janeiro de 2012

Sem comentários: