Mutações e deturpação dos princípios de ética sob os quais se regem no seu desempenho as instituições que deveriam ser o garante e suporte nas democracias, tal como o acréscimo de casos de corrupção latentes na administração pública, e, mesmo a nível dos órgãos representativos do Estado, configuram-se como a causa e a razão para o declínio dos níveis de confiança na percepção e avaliação dos cidadãos, face ao desempenho dos partidos políticos na nossa Democracia.
Entendendo-se e analisando-se na óptica do comum dos mortais, este profundo mal-estar, resultante em parte, na forma e nos processos de decisão de quem nos governa, o distanciamento e a falta de renovação dos partidos com os seus militantes e simpatizantes, a forma autista como são encarados os graves problemas dos cidadãos, a miscelânea pouco clara e promíscua em que neste momento se fundem na relação da gestão público/privado, não salvaguardando de forma incondicional o interesse público, precipitam medos e frustrações nos cidadãos de forma mais intensa do que as suas esperanças e optimismo fariam prever.
A corrupção é uma prática ou comportamento, onde, aos valores de ética, se sobrepõem os interesses privados, valores esquecidos ou subalternizados no exercício das suas funções, para os titulares de cargos, sejam eles públicos ou privados.
Como tal, este tipo de comportamento viola e ultrapassa a fronteira do aceitável, defraudando as expectativas dos cidadãos, transformando-se numa conveniência, onde ninguém parece querer admitir, assumir, ou tomar decisões contra o seu próprio interesse.
Todo este naufrágio, resultado do vazio provocado no seio dos partidos pela ausência de ideologia, conceitos e ideias, estratégias auto sustentadas, incapacidade política, onde a capitulação dos líderes se sucedem em catadupa, a menos que se vislumbre estabilidade e capacidade dirigente confiável.
Por um lado não podemos esquecer, porque seria má fé, iniciativas levadas a cabo por algumas figuras de relevo nacional, como João Cravinho e outros, partidários do combate à corrupção, assumindo-a como uma prioridade política inequívoca à luta anti-corrupção, não só liderando um movimento com peso crítico substanciado, mas apresentando igualmente planos e iniciativas legislativas, visando a prevenção e combate a esse flagelo. Pena, que a maioria dos partidos, e os seus dirigentes, que a todos nós deveriam representar e proteger, se desinteressassem de tal missão, mostrando inequivocamente falta de coragem e pouco à vontade que sentem, em discutir e regular sobre esta matéria.
Enquanto os partidos não definirem as suas próprias linhas de orientação estratégica internas, para a forma, atitude e transparência como pretendem cultivar na formação dos seus quadros políticos os valores de ética dirigente, sem as quais não conseguirão uma cumplicidade e participação activa da sociedade civil, factor primordial e indispensável de transparência e de responsabilidade social.
A satisfação dos portugueses em relação às estruturas e instituições representativas, está cada vez mais hipotecada, sendo a mesma confiança proporcional ao desempenho da classe política em dar ou não resposta à forma de solucionar as necessidades dos mais desfavorecidos e, à capacidade em ultrapassar as deficiências do nosso sistema político.
A ausência de participação, cada vez maior, dos portugueses na actividade política, é um sinal preocupante de debilidade na sociedade civil, diminuindo e dificultando o enriquecimento dos partidos e instituições políticas, com a massa crítica indispensável e necessária ao fortalecimento da nossa Democracia.
A ausência de pressão da sociedade civil organizada, faz com que a classe política e as instituições que representam, se exponham e sejam cada vez mais vulneráveis aos interesses corporativos, criando as condições ideais e propícias à corrupção.
João Carlos Soares
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