Ao folhearmos as páginas de um jornal, ao fazer zapping com o comando da televisão, confrontamo-nos com um espectáculo nojento protagonizado por uma corja de malfeitores, os quais sempre atentos a uma oportunidade, espreitando os cofres públicos, aprontam os seus golpes, sem que a justiça leve até ao fim a sua função, e os meios à sua disposição possam ter consequências visíveis, fazendo com que a tentação não faça o tentado.
Todos aqueles que quando abordados politicamente respondem prontamente que não querem nada com a política, não percebem, ou não sabem que a sua indiferença ajuda a contribuir para a manutenção desses ladrões e oportunistas, fortalecendo os argumentos com a sua indiferença e o não envolvimento na vida política os podres putrefactos instalados.
A simples afirmação do cidadão comum, não quero nada com a política, abre espaço e alimenta a reprodução desta corja indesejável num estado de direito, porque o cultivar da indiferença pelo que se passa no país, o egoísmo ético e o interesse de cada um em particular, fazem desse mesmo cidadão conivente com as políticas e decisões tomadas por quem os governa.
Não é justo nivelar ou tratar todos os políticos como corruptos e lançar todas as culpas apenas a estes, pois os políticos pela própria actividade que desempenham, ficam muito mais expostos, mas de uma coisa não nos podemos esquecer, não existe corrupção sem corruptores e corrompidos.
Quando numa sociedade se começa a instalar a ideia de que honestidade passa a ser sinónimo de burrice e até correr o risco de ser apelidado de parvo, quando essa sociedade pela sua competitividade e ganância premeia os mais espertos, ambiciosos e egoístas em detrimento dos mais capazes e competentes, por quanto tempo conseguirá fazer prevalecer e manter a coerência entre o pensamento e acção, discurso e prática de quem exerce o poder.
Por vezes somos tentados a abstrairmo-nos da coisa pública e tentação da política, mas tomando essa opção estamos de certeza a contribuir para um crescimento e ignorância do que nos rodeia, sucumbindo às rotinas do dia-a-dia consumindo-nos o pensamento e tornando-nos anestesiados e incapazes, criando e dando uma ilusão de felicidade.
Só os tolos não reflectem sobre o que os rodeia, por mais alienado que o ser humano seja, tem todas as condições de pensar de forma crítica, compreendendo e projectando o que pretende.
Vivemos numa sociedade onde a esperança de dias melhores começa a ser confrontada com o medo de assumir política e intelectualmente posições claras e desprendidas de facciosismo bacoco, sempre que necessário, não nos resignando e não cedendo a qualquer tipo de pressões, tenham elas as origens que tiverem.
É indispensável evoluir-se deste estado de perplexidade com que somos confrontados todos os dias, para uma crítica aberta e o confronto directo com formas autistas e imorais de gestão da coisa pública, exigindo a punição dos detractores com mão pesada pela justiça.
A crítica publica não pode nem deve ser considerada suspeita, nem o direito de usar a sua consciência poderá condicionar quem quer que seja de poder usar o direito de intervir. Não podemos fechar os olhos, só porque algo ou alguém melhor posicionado hierarquicamente numa estrutura partidária assim entende, nem deixar que influências de interesses pouco ou nada condizentes com a vontade e o desejo das populações assim o exige. Os políticos têm o dever de dar o melhor de si no desempenho das suas funções de estado, mesmo que para isso tenham que assumir posições não concordantes com a sua própria estrutura partidária.
O desespero das populações conduzem a sociedade para a descrença, a desilusão e perplexidade de todos quantos acreditaram numa militância dedicada à defesa de conceitos e formas de desenvolvimento coerentes com a realidade e necessidades correntes das famílias.
Se a ruptura com os partidos de alguns desiludidos se pode imputar a aspectos conjunturais, equivocam-se duplamente, porque a política dá muitas e diversas voltas e o que é hoje criticado, é amanhã reconhecido pelos que nos passam um cheque de confiança nos processos eleitorais face aos resultados obtidos.
A concretização e a prática de boas políticas reforçam a tomada de posição daqueles que perante o contraditório político partidário optam pela sua consciência, numa prova de esclarecimento, ética e moral, porque mais vale a decisão de procurar outros rumos e viver a vida, do que persistir num papel passivo de conspirador.
Vale mais ser lembrado pelo que fizeste, do que pelo que pretenderam que deixasses de fazer.
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