domingo, abril 29, 2007

Da preplexidade às Ilusões Perdidas (...cont)


II Parte


Continuando a discernir sobre a relatividade de conceitos, poderemos talvez caír no pecado a que os chamados desiludidos caem frequentemente, tentando cobrar do Governo e da governação de José Sócrates, uma postura política que tem vindo a ser negada na própria trajectória do Partido Socialista principalmente nas campanhas eleitorais nos últimos anos.
Esta particularidade vem provocando alguma curiosidade entre os intelectuais, que se escusam de forma deliberada sacrificar a linha de governação do actual governo, sobre pena de ter que vir a arrepiar caminho nas suas estrapolações, tal a surpresa com que são confrontados, cada vez que o governo interfere, provocando quase sempre, reacções as mais contraditórias, mas sempre muito mal suportadas.
De estranhar estas posições e falta de esclarecimento dos “opinion maker´s”, os quais deveriam estar mais preparados, pelo menos teoricamente, para analisarem os fenómenos sociais e a não tomarem somente o efeito pela causa.
Correndo o risco de alguma redundância, é preciso reafirmar cada vez mais veementemente, que a desilusão criada em alguns, é própria de quem ainda vive de ilusões. Quem considerou o PS de José Sócrates pelo que de há muito deixou de ser; quem considerou ou interpretou do discurso de José Sócrates pelo que ele nunca disse nem quis dizer; quem julgou ou imaginou que perante um estado de desgraça governativa do PSD à frente dos destinos do País, passaria pela única alternativa baseada na esperança de mudança, ou o medo na continuidade, pela trajectória irresponsável do PSD; estes alimentando ilusões e, portanto, como não seria dificil de antever, desiludiram-se.
Se a ruptura provocada no seio dos desiludidos foi provocada ou motivada por aspectos conjunturais, então teremos que considerar que estão duplamente equivocados. Afinal, a política dá voltas e voltas, o que é hoje amanhã deixa de o ser, portanto o que é hoje criticado pode ser esquecido pelos bons resultados amanhã conquistados. Os timings são fundamentais na poltica e para os seus executores a objectivação na sua concretização é fundamental.
Para os que se desiludem, devem em primeiro tomar como conceito adquirido, que a política pauta-se principalmente pela ética da responsabilidade, em suma, pelos resultados alcançados.
A crítica interna ou saída do PS, ainda que justificável diante da crítica, nunca poderá nem deverá ser considerada de tardia. No entanto, como dizem as pessoas simples, mais vale tarde do que nunca. Por outras palavras, mais vale tomar a decisão de procurar outros rumos e viver a vida, do que persistir agarrado ao papel de carpideiras.
Para se perceber o que atràs é referido, basta observar que as pessoas simples que compôem a sociedade portuguesa, o Povo, mantêm a esperança e, ainda que definitivamente se vão decepcionando, continuam a ter uma capacidade imensurável em renová-la sempre que necessário.
Talvez isto se possa explicar pela própria condição e concepção de vida que o povo leva, pois não têm tempo para análises políticas e filosóficas. As suas necessidades imediatas traduzem-se e são mais fortes e permanentes dos que os governos e os profetas da desgraça de cada época e que tendem a gerar o desespero.
Para sobreviver a toda a esta carga explosiva e desgastante, resta-lhes a sua capacidade de agarrar o único antídoto que se lhes conhece, a enorme capacidade infindável de renovação de uma esperança a que nunca renunciam.



Joao Carlos Soares
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