segunda-feira, dezembro 31, 2012

Até amanhã!



A Nação soberana e orgulhosa, que foi Portugal, transformou-se num autêntico colonato europeu enfraquecido, envergonhado e maltratado, parecendo-se mais a uma galeria de subterrâneos, da maioria das instituições deste país, entrecortada de buracos gigantescos, onde as víboras do sistema, se vão acoitando sedentas da próxima vítima.
Protegidos e imunes à justiça dos tribunais, submissa aos interesses instalados ao mais alto nível da governação, enriquecem e pavoneiam-se de forma perniciosa e com toda a desenvoltura e descaramento, em astutas negociatas, envolvidos com grupos constituídos por empresários de conduta duvidosa, como se pode constatar na trafulhice escondida, que era a privatização da TAP, sem quaisquer princípios morais, desvirtuando a suposta democracia.
Perante este cenário, onde alguns sectores dos media funcionam como correias de transmissão do Estado, ou de mercenários ao serviço do Estado, fazem acreditar os menos informados e esclarecidos, e por vezes, também, uma grande parte da população menos atenta, que não existem alternativas, e que o problema não está em quem dirige os destinos do país, mas só pelos erros do passado e do difícil e complexo contexto económico em toda a Europa.
Infelizmente para todos nós, a realidade dos factos é outra, bastante diferente daquela que nos pretendem fazer acreditar, mas sim neste sistema político repleto de ladrões, e subvertido a políticos carreiristas sob o poder sorrateiro do capitalismo internacional, que disfrutam ganhos ilícitos, surripiando e esvaziando os cofres públicos, assaltando e apossando-se de toda e qualquer estrutura rentável do Estado.
Agem seguindo uma conduta que contrasta com a transparência e decência, vindo diariamente à tona nos noticiários e jornais, um sem número de irregularidades institucionais, desrespeitando a Constituição Portuguesa, sobre a qual juraram servir com honra e dignidade na defesa dos interesses e direitos das populações, numa verdadeira investida de delapidação do património público, criando um ambiente de devaneio democrático, corrupção e rapinagem.
Neste devaneio de democracia em que vivemos, os verdadeiros predadores do sistema, faustosamente instalados no cimo da pirâmide social, constituindo-se como um poder obscuro, vão fazendo a festa, gozando das mordomias, da fuga aos impostos resultante de ganhos financeiros resultantes das suas tramóias, dos desvios de dinheiros públicos e de bens patrimoniais não declarados ao fisco, com toda a felicidade do mundo, enquanto impedem os outros de a usufruir.
Quando, por qualquer razão que lhes fuja ao controle, são acusados e apanhados com a mão na massa, escapam-se através do expediente de recursos jurídicos atrás de recursos, minando assim ainda alguma justiça que se pretenda fazer.
Por todas estas razões, qualquer cidadão que se mova por princípios humanitários e consciência revolucionária, terá muita dificuldade em conviver impávido perante este contexto social, onde nos pretendem encurralar, lesados, ameaçados e inconformados, permitindo a continuidade de autênticos escândalos por este país fora.   
Se nada for feito no sentido de acabar com este sistema, onde impera uma democracia farsante e perturbada, a corrupção e o carreirismo político oportunista tenderá a expandir-se.
O projecto iniciado em 1974 com base numa verdadeira sociedade democrática fracassou e desmoronou-se, aumentando de forma considerável o desequilíbrio da nossa sociedade, ficando totalmente à mercê das artimanhas golpistas desta corja de corruptos e da sua irrefreável ganância, numa degradação a olhos vistos da condição humana, do desenvolvimento sustentável, competitivo e solidário.
Como poderão os cidadãos desejar um Bom Ano Novo, se os sentimentos que corroem as suas entranhas, os deixam cada vez mais preocupados e descrentes?
João Carlos Soares
Barreiro, 31 de Dezembro de 2012  

sábado, dezembro 22, 2012

A guerra social está na ordem do dia



O governo desencadeou uma guerra social contra os trabalhadores deste País, hipotecando o futuro das novas gerações e a sobrevivência das classes sociais da população mais desprotegidas. Impondo um retrocesso de que não há memória, impondo de forma cega, vingativas medidas de uma virulência pandemónica, utilizando instrumentos políticos e económicos de cunho imperialista, colocando-se ao serviço dos bancos e dos grandes grupos económicos europeus.

Esta crise política imposta pelo imperialismo alemão e francês, aos países periféricos como Portugal, Espanha, Grécia, Itália, entre outros, têm como objectivo o despejar e diluir de responsabilidades e consequências do peso da crise por eles iniciada em 2007, com o único objectivo de salvaguardar e impedir que os seus próprios interesses fossem atingidos em cheio por essa crise, empurrando a economia mundial para o abismo, deitando por terra toda a estratégia de domínio orquestrado para uma unificação política da europa, numa formato de capitalismo desenvolvido sem um mínimo de condescendência e solidariedade pelos mais pobres, como resposta que só poderá ter paralelo com a Grande Depressão, cujo epicentro se situa exactamente na Europa.  

Desta forma, a política da União europeia, chefiada e comandada por lacaios da Srª Merkel, Durão Barroso e afins, não é mais do que um instrumento para consolidar a hegemonia burguesa da Alemanha sobre a Europa. Essa estratégia, numa primeira fase conseguida através dos diversos planos de saque sobre os Gregos, foram o alerta que a poucos incomodou de um drama, que alguns preconizaram mas não tiveram aliados, que se adivinhava e que viria a cair por toda a Europa periférica.

A única resposta séria e combate a essa estratégia, somente teve como protagonistas os trabalhadores e os sectores socialmente mais desprotegidos, aos cortes e reformas que começaram a ser impostas, que ganharam forma e algum destaque através das greves e manifestações que encheram os espaços públicos, divulgados através dos órgãos de comunicação social, em Portugal, Espanha e Itália.

Com a conivência do governo de Paços Coelho e do seu aliado Paulo Portas, ficaram escancaradas as portas para uma marcha organizada para atingir e varrer as conquistas alcançadas pela classe trabalhadora, alinhando com as técnicas imperialistas emergentes, na quota-parte do saque da riqueza nacional, num processo de ampliação, submissão e recolonização por parte, antes de mais, do capitalismo alemão.

Não sendo na sua génese, desde a sua criação, objectivo dos membros que o constituíram, o euro passou a ser um instrumento que se constata ter sido a arma fundamental para conseguir a hegemonia alemã sobre o resto da Europa, servindo ao mesmo tempo para afirmar a supremacia, em primeiro lugar, da indústria alemã, que multiplicou a exportação dos seus produtos para aos países, como Portugal, Espanha e Grécia, promovendo paralelamente a desindustrialização desses países, cujos prejuízos orçamentais foram sendo financiados com os excedentes de capital dos bancos alemães e franceses, que não tiveram dúvidas e alimentaram estes processos degenerativos da economia, como a especulação criada em torno da bolha imobiliária.

Ao mesmo tempo que este processo ganhava expressão, estes países afundavam-se num mar de dúvidas e dívidas, os bancos apresentavam produtos e soluções de crédito, com lucros consideráveis e afirmando-se cada vez mais junto dos sectores como a construção e energia, áreas sem qualquer importância e sem qualquer risco para o domínio exportador alemão. De países beneméritos aos olhos dos incautos são, nada mais nem menos do que autênticos agentes burgueses parasitas dos países esmagados e submetidos ao peso e consistência da máquina alemã, através da dependência e do financiamento da banca e das suas finanças.

Quando a partir da implantação do euro em 2000, e mais concretamente desde 2008, o endividamento das economias europeias, começaram a ter consequências dramáticas e reflectir a crise na superprodução capitalista, os Estados começaram a salvar os banqueiros e os grandes capitalistas e deram aqui o primeiro sinal de que tinha chegado o momento para se iniciar a maior guerra social contra a classe trabalhadora e sectores da população mais desprotegida.
Transformaram e aceitaram o endividamento dos bancos, que até então tinham embolsado grandes fortunas para os seus accionistas, em dívida pública, transformando aquilo que até então eram financiamentos e divida privada dos bancos, em endividamento público do Estado. 

Essa crise da então autodenominada dívida pública, converteu-se assim na grande justificação para que fossem abertas as hostilidades para uma guerra social sem precedentes, e instrumento privilegiado do capital financeiro para se apropriar da riqueza à custa do empobrecimento massivo das populações, e utilizado com o beneplácito dos governos e governantes desses países, incluindo Portugal, como arma para nos submeterem às vontades do sistema capitalista, e em particular da Alemanha, através de medidas restritivas e que colocam em causa a soberania do nosso País.

O autêntico atentado e medidas criminosas impostas com os cortes nos orçamentos públicos, os quais implicam o completo desmantelamento e privatização dos serviços públicos básicos de saúde, pensões, aumentando de forma vertiginosa a pobreza com o aumento de famílias inteiras no desemprego, as tentativas descaradas de ataque ao serviço público na área da educação, em conjunto com as tentativas e planos de privatização de todo o património nacional que ainda se mantem e permanece público, ajudam a liquidar em definitivo uma das maiores conquistas de Abril, a negociação colectiva, entregando os trabalhadores à arbitrariedade patronal, com todas as facilidades para despedir com custos ridículos,e meios para aplicar uma redução drástica e geral dos salários.

João Carlos Soares
Barreiro, 22 de Dezembro de 2012

domingo, dezembro 16, 2012

A luta não deve ser contra os políticos, mas sim contra os privilegiados do sistema



Falarmos em mobilização social, não pode ter somente como objectivo, o exercer de um direito à contestação ou manifestação pública, com o maior ou menor ajuntamento de pessoas, em espaços públicos, mas sim a capacidade que uma sociedade tem, de opinar e intervir, na busca de resultados com objectivos bem definidos e que seja desejado por todos.
O objectivo de convocar e mobilizar vontades, na procura de um projecto comum, deve e tem que ser compartilhado num processo de mobilização social participativo e de total liberdade.
A decisão de participar em movimentos cívicos, sendo uma opção a que cada um diz respeito, depende essencialmente da vontade das pessoas, ou da capacidade que sentem, para provocar e construir essas mudanças.
Para se atingir um objectivo e propósito comum em sociedade, pressupõe a existência de uma convicção colectiva da importância do seu contributo e sentido público, do que é relevante e convém à maioria.
Perante uma crescente onda de corrupção nos meios políticos, começa a existir um certo movimento contestatário e repulsivo do desempenho dos partidos e dos seus representantes, nesta democracia representativa em que vivemos. Nesse contexto, torna-se imperativo salvaguardar, de uma forma clara e inequívoca, que evidentemente nem todos são iguais e que também existe gente honesta na sua forma de estar e gerir a coisa pública, caso contrário, não se auguraria nada de bom e daria uma imagem desgraçada, doentia e falida do sistema democrático.
Afinal de contas, desconfiar dos políticos, de alguma forma é uma expressão de saúde democrática, porque todos quantos se manifestam, o fazem contra o que de mal vai acontecendo, e não contra o que de bom se retira dos seus actos e procedimentos.
Por isso mesmo, não pode ser visto nenhum mal no direito à manifestação levadas a cabo na rua, porque a demonstração de repúdio e contestação às terríveis medidas de austeridade impostas, representam e significam o resgate que a sociedade exige pelos seus direitos, cansados que estão de uma sociedade de privilégios só para alguns.
Essa demonstração cívica e utilidade numa sociedade em convulsão, terá que estar direccionada na construção de um projecto de futuro, e não como um único propósito de transitoriedade, convertendo-se em nada mais do que uma acção desgarrada de campanha e sim num processo de mobilização, de dedicação contínua e com consistência para que produza resultados no quotidiano de cada um de nós.
O sentimento compartilhado numa mobilização social, como um acto de comunicação de defesa de interesses comuns, não pode nem deve ser confundido como uma mera acção propagandística ou de divulgação de arbitrariedades, mas terá que ter um sentido mais amplo e visionário de estabilidade e mobilização, na acção, decisão e propósitos.
Toda a sequência e trato, na vida das populações, têm que ser construídos com muita dedicação e sacrifício, não como um facto natural, porque natural é a nossa tendência a viver em sociedade, na certeza de que só assim a mudança será possível.
Os sistemas democráticos foram construídos a partir do momento em que se descobriu que a ordem social não era obra do divino, mas construído pelos homens, que souberam conjecturar a possibilidade de se construir uma sociedade, cujo destino teria que ser definido por todos sem excepção quantos nela participavam.
Essa realidade só será possível e concretizável, a partir do momento em que as pessoas acreditem que a construção de uma sociedade democrática justa, dependerá unicamente da sua própria vontade e escolhas.
A participação cívica ou não, de cada um, será o factor principal para a formação e consolidação de uma nova ordem democrática. Torna-se necessário assumirmos o nosso destino, avocando com responsabilidade e sem fatalismos ou subserviência, a formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se capacite a si própria que poderá criar uma nova ordem social, capaz de compreender e erradicar os males de que actualmente sofremos, como a hipocrisia, a corrupção e a falta de solidariedade.
O conflito e confronto de ideias são essenciais e saudáveis, na convivência democrática, onde não devem existir inimigos, mas opositores, que pensando de forma diferente procuram soluções e objectivos com formatos diferentes, com interesses distintos, mas com os quais se poderá e deverá discutir e consensualizar, no objectivo de se atingirem metas comuns, colocando-se acima dos interesses próprios o interesse da Pátria, numa sociedade capaz de criar e aceitar regras para a diminuição dos conflitos e desigualdades.
Essa convivência democrática é fundamental para uma sociedade equilibrada. A democracia não é um Partido Político, mas deverá ser, acima de tudo, uma decisão de toda a população, fundamentando o seu comportamento na aceitação do outro como igual em direitos e oportunidades, numa constante aprendizagem de costumes, maior equidade social, económica, política e cultural.

João Carlos Soares
15 de Dezembro de 2012

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Corrupção, um facto sem solução à vista



Num país em dificuldades económicas, onde as injustiças sociais colocam uma grande parte da população em precárias condições de sobrevivência, deve merecer da classe política uma verdadeira reflexão, perante as enormes contradições, incoerência entre o sentido do dever e de justiça e o apelo premente dos mais desfavorecidos, na dignidade com que o assunto deve ser tratado, por quem tem responsabilidades no aparelho do Estado.
O sofrimento dos outros deveria ser uma preocupação de todos nós, sentimento de responsabilidade e de consciência moral, na promoção do bem-estar e de justiça na nossa sociedade.
Um país que assente em conceitos de direito e igualdade de oportunidades, deve garantir a todos os cidadãos, sem exceção, que as leis e a sua Constituição, efetivamente proporcionem o mesmo tipo de privilégios, quer sejam ricos ou pobres, sem qualquer tipo de descriminação, sem distorções sociais de comportamento ou insensibilidade social. 
Estas questões devem preocupar e configuram-se de uma enorme perplexidade na vida em sociedade, e devem ser a expressão e resposta objetiva no comportamento e atitude das novas gerações.
Às questões de moralidade em sociedade, deve ser dada resposta objetiva nos comportamentos e atitudes, em relação à ética, sensibilidades, maneiras de pensar, viver e agir em grupo, na dicotomia entre a moral e a economia. 
Prioridade das prioridades deverá ser, a preocupação de todos os agentes políticos, através de ações conjuntas na busca de uma solução equilibrada e objetiva, contra as políticas discricionárias e classistas, que nos pretendem impor.
Não há qualquer dúvida quanto à preocupação crescente nos diversos fóruns, onde não nos cansamos de questionar sobre a moralidade e legitimidade sobre a justiça e a ética, na base da responsabilidade social, no desenvolvimento sustentável, empresarial e de cidadania.
No entanto, ao tentarmos analisar e aprofundar a relação moral e a utopia política, que conduziu gerações e gerações, apercebemo-nos que a moral que tanto valorizamos, só por si, sem respeito efetivo pelo próximo, transformar-se-á numa virtude, sendo usada como trunfo e fazendo jeito a alguns, resvalando quase sempre para a hipocrisia.
O Mundo enfrentará enormes privações e expor-se-á a grandes tragédias, se os líderes e os próprios cidadãos, não alterarem as suas atitudes, hábitos e valores.
Facto comum nas democracias modernas, a corrupção, forma de apropriação de vantagens ou do dinheiro público, é vista como uma falta de caráter, sinal de desonestidade e imoralidade, transformando-se num problema moral e ético para a sociedade.
Sendo um problema inerente à condição humana, a moralidade é apenas uma pequena parte do problema, e que muitas das vezes é tomado pelo todo, mas a corrupção é mais profunda, envolvendo uma infinidade de aspetos, além da moral.
Portanto, condenarmos a corrupção, só por aspetos morais, é uma ilusão, transformando-se num grande engano e que pouco poderá contribuir para o combate a esse flagelo das democracias atuais, pois é esta qualidade humana que faz com que os corruptos continuem a dormir tranquilos e a fazer mais falcatruas, justificando-se em consciência que, toda a gente tem um preço e se não for ele a faze-las outro haverá que estará disponível para tal, como diz o ditado “A ocasião faz o ladrão”. 
A corrupção é algo que faz parte do padrão humano, mas a racionalidade poderá criar soluções hábeis, de forma a prevenir e acautelar essa forma de conduta, a partir do momento que temos conhecimento dessas práticas, e que a corrupção não se enquadra nas matrizes nem pode ser considerado só um problema moral, e que se manifesta como uma espécie de efeito colateral das democracias, mas que pode e deve ser combatido.
Para prevenir e acautelar a corrupção em relação às contas públicas, torna-se necessário e urgente criar mecanismos eficientes e muito rigorosos para combater a corrupção no poder público, tomando como indicador que todo o ser humano pode ser corrompido, ainda que tenhamos a sorte de eleger eventualmente indivíduos honestos.
Os escândalos com que somos brindados diariamente, considerados verdadeiros roubos ao erário público, sucedem-se uns atrás dos outros, e a todos os níveis da administração pública, numa sangria desatada que parece não ter fim.
Perante este cenário de assalto às finanças públicas, esperaríamos que as polícias e os tribunais sem qualquer benevolência, resolvessem os problemas, criminalizando com pesadas sentenças para exemplo de outros, todos quantos se envolvem de forma descarada neste tipo de irregularidades, metendo a mão no dinheiro que é do povo.
Enquanto não conseguirmos dotar o sistema de um controlo e fiscalização independente, sem que o poder instalado possa influenciar ou controlar esses processos de inquérito, enquanto não construirmos e dotarmos as contas públicas de total transparência, não haverá ministério público ou polícias que possam dar conta do recado.
Sendo do conhecimento público que os escândalos se sucedem, pergunta-se porque não se combate de forma preventiva estes atos? A resposta está no facto de que as leis, que poderiam condicionar essas irregularidades, são também elas elaboradas pelos beneficiários desses escândalos e de quem os julga, como recentemente foi afirmado publicamente pelo Bastonário Marinho Pinto, tornando-se assim a corrupção num problema sem solução à vista.
Para além da facilidade com que se desvia dinheiro do erário público, existe o duplo benefício do enriquecimento pessoal e financiamento encapotado de campanhas, juntando-se a fome com a vontade de comer.



João Carlos Soares
Barreiro, 12 de Dezembro de 2012

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Cuidado com a banha da cobra!



O ano de 2012 está a chegar ao fim, aproximando-se mais um processo eleitoral autárquico, abrindo-se nova temporada da caça ao voto, e montando-se novamente o circo eleitoral.

Depois de uma autêntica revolução no quadro organizativo em torno das freguesias, vai a população ser chamada a escolher os seus representantes mais próximos, esforçando-se as máquinas partidárias por passar a melhor mensagem dos seus candidatos, antes que os mesmos se engalfinhem em autênticas lutas campais, onde algumas trocas de partido e coligações, com a única intenção e objetivo de qual a aliança que mais votos poderá render a essas forças coligadas, numa manipulação descarada das intenções de voto, tomando por base sondagens encomendadas, no cumprimento de uma tradição, já vista noutras temporadas.

Neste contexto, cada um e quase todos em geral, ensaiam os seus truques e malabarismos para obterem a confiança e o voto das populações, apregoando honestidade, ética e que por isso devem ser merecedores de uma oportunidade.

Num contexto de constrangimento orçamental, resultado da grave crise que o País atravessa, não sabemos como poderão os conteúdos programáticos dessas candidaturas, assumir compromissos irrealizáveis, como é prática comum em processos eleitorais anteriores, prometendo mundos e fundos, com sorrisos, apertos de mão e beijos às criancinhas.

Será este o cenário com que nos vão brindar nestas eleições, perante o atual descontentamento popular, num autêntico show de hipocrisia e cinismo, escondendo o verdadeiro conteúdo das suas ações no futuro, com frases e slogans de ocasião, escondendo hoje para continuar explorando e enganando quando estiverem alcançados os seus propósitos?

Qual a diferença que se pode descortinar entre os candidatos e as suas promessas? É preciso estarmos atentos e desconfiar, quando a fartura é muita e quando as opções apresentadas não são mais do que uma farsa populista, traduzido numa falta de princípios e valores, pois haverá sempre alguém que na falta de argumentos, afirme ser diferente dos outros, quando afinal de contas, usando os mesmos argumentos, são na sua génese, mais do mesmo e farinha do mesmo saco.

Neste cenário, o que se vai ganhar com estas eleições, se os candidatos depois de eleitos se esquecerem e fizerem letra morta no desempenho dos seus cargos, muito diferente das propostas sufragadas e demonstrado na vontade e voto das massas que os elegeram? 

A questão de fundo é que, por vezes, a democracia é usada e se transforma na forma mais eficaz de algum aburguesamento dos políticos, exercendo o seu domínio e poder, de uma forma dissimulada, mostrando a falta de carácter, escondida e mascarada atrás das instituições partidárias que representam.

Como poderão os candidatos, propostos pelas duas forças políticas atualmente na governação do País, enfrentar a ira das populações, enganadas e desiludidas com as decisões ultimamente tomadas, retirando ao poder local, a representatividade que o povo lhes outorgou, manipulando e contrariando nas suas costas de forma obstinada a sua própria vontade?

De que servem as eleições e os programas a que se submetem os partidos, quando legitimados pelo voto das populações, na base das propostas contidas nos seus programas se, no concreto, esses conteúdos são no mínimo irrealistas, muito menos replicados nem respeitados na prática?

Cada vez mais, sentimos a disposição do povo para a luta, num crescendo que faz renascer o espírito revolucionário de Abril, onde as massas se levantam, lutam e resistem, organizando-se na defesa da vontade e nos direitos da população.

Não podemos continuar a permitir que transformem estes processos eleitorais em meras farsas sem sentido, móbil para um crescendo de descrédito do povo na classe política, resultando num valor abstencionista elevadíssimo que, pelo cada vez menor número de votantes nas urnas, coloca em causa a verdadeira representatividade dos eleitos nesses processos eleitorais.  

A solução congeminada pelo PSD e CDS para os gravíssimos problemas em que, as políticas dos diversos governos, desde o 25 de Abril de 1974, colocaram o País, passa pela destruição do Estado, numa alternância de governantes que, expectantes, aguardam nas fileiras partidárias o seu momento, empenhados na destruição sistemática dos pilares da democracia.

Os que hoje no poder, ontem na oposição, justificam a culpabilidade dos outros, pela calamidade herdada, como forma de legitimar todo o processo de desmantelamento do Estado Social em curso ignoram e rejeitam a sua própria responsabilidade e participação nos devaneios, em que sistematicamente, governo após governo, lançaram a vida das populações neste cabo das tormentas.

Torna-se imprescindível uma congregação de esforços em unir as forças populares para impedir a ascensão de uma nova ordem castradora das liberdades alcançadas, na defesa da democracia e dos caminhos que decidimos trilhar com a Revolução de Abril, que se opõe à farsa daqueles que tencionam continuar a explorar as classes mais desprotegidas e oprimidas no nosso País.

A desilusão das populações, face a um estado podre e corrupto sem castigo, onde a justiça não desempenhe a sua função, alimentam um boicote aos processos eleitorais, retirando-lhe toda a sua representatividade institucional, e tornando os eleitos reféns do repúdio popular.

Muitos dirão que o caminho será longo e difícil, exigindo de todos nós um grande esforço e persistência, mas só com essa tenacidade poderemos libertar o nosso País da tirania de uma elite burguesa, recuperar a soberania perdida, não acreditando nas ilusões vendidas pelas classes dominantes e corrompidas pelo poder, neste Estado apodrecido em que transformaram Portugal.

João Carlos Soares

Barreiro, 10 de Dezembro de 2012