A Nação soberana e orgulhosa, que foi Portugal, transformou-se num
autêntico colonato europeu enfraquecido, envergonhado e maltratado, parecendo-se
mais a uma galeria de subterrâneos, da maioria das instituições deste país, entrecortada
de buracos gigantescos, onde as víboras do sistema, se vão acoitando sedentas da
próxima vítima.
Protegidos e imunes à justiça dos tribunais, submissa aos
interesses instalados ao mais alto nível da governação, enriquecem e pavoneiam-se
de forma perniciosa e com toda a desenvoltura e descaramento, em astutas negociatas,
envolvidos com grupos constituídos por empresários de conduta duvidosa, como se
pode constatar na trafulhice escondida, que era a privatização da TAP, sem quaisquer
princípios morais, desvirtuando a suposta democracia.
Perante este cenário, onde alguns sectores dos media funcionam
como correias de transmissão do Estado, ou de mercenários ao serviço do Estado,
fazem acreditar os menos informados e esclarecidos, e por vezes, também, uma
grande parte da população menos atenta, que não existem alternativas, e que o
problema não está em quem dirige os destinos do país, mas só pelos erros do
passado e do difícil e complexo contexto económico em toda a Europa.
Infelizmente para todos nós, a realidade dos factos é outra,
bastante diferente daquela que nos pretendem fazer acreditar, mas sim neste
sistema político repleto de ladrões, e subvertido a políticos carreiristas sob
o poder sorrateiro do capitalismo internacional, que disfrutam ganhos ilícitos,
surripiando e esvaziando os cofres públicos, assaltando e apossando-se de toda e
qualquer estrutura rentável do Estado.
Agem seguindo uma conduta que contrasta com a transparência e
decência, vindo diariamente à tona nos noticiários e jornais, um sem número de
irregularidades institucionais, desrespeitando a Constituição Portuguesa, sobre
a qual juraram servir com honra e dignidade na defesa dos interesses e direitos
das populações, numa verdadeira investida de delapidação do património público,
criando um ambiente de devaneio democrático, corrupção e rapinagem.
Neste devaneio de democracia em que vivemos, os verdadeiros
predadores do sistema, faustosamente instalados no cimo da pirâmide social, constituindo-se
como um poder obscuro, vão fazendo a festa, gozando das mordomias, da fuga aos
impostos resultante de ganhos financeiros resultantes das suas tramóias, dos
desvios de dinheiros públicos e de bens patrimoniais não declarados ao fisco,
com toda a felicidade do mundo, enquanto impedem os outros de a usufruir.
Quando, por qualquer razão que lhes fuja ao controle, são acusados
e apanhados com a mão na massa, escapam-se através do expediente de recursos
jurídicos atrás de recursos, minando assim ainda alguma justiça que se pretenda
fazer.
Por todas estas razões, qualquer cidadão que se mova por
princípios humanitários e consciência revolucionária, terá muita dificuldade em
conviver impávido perante este contexto social, onde nos pretendem encurralar,
lesados, ameaçados e inconformados, permitindo a continuidade de autênticos
escândalos por este país fora.
Se nada for feito no sentido de acabar com este sistema, onde
impera uma democracia farsante e perturbada, a corrupção e o carreirismo político
oportunista tenderá a expandir-se.
O projecto iniciado em 1974 com base numa verdadeira sociedade
democrática fracassou e desmoronou-se, aumentando de forma considerável o desequilíbrio
da nossa sociedade, ficando totalmente à mercê das artimanhas golpistas desta
corja de corruptos e da sua irrefreável ganância, numa degradação a olhos
vistos da condição humana, do desenvolvimento sustentável, competitivo e
solidário.
Como poderão os cidadãos desejar um Bom Ano Novo, se os
sentimentos que corroem as suas entranhas, os deixam cada vez mais preocupados
e descrentes?
João Carlos Soares
Barreiro, 31 de Dezembro de 2012