O estado de ânimo e impotência, que começa a
fazer parte do dia-a-dia do normal cidadão, contaminado por esta conjuntura
económica e política, imposta e regulada pela TROIKA, cria e vai alimentando um
sentimento de raiva e revolta na população, desgastada pelos constantes cortes
e imposições, de um Governo ao serviço do capital, prostituindo e corrompendo
as bases de um verdadeiro estado democrático, transformando-nos em lacaios ao
serviço dos interesses das classes dominantes, e de políticos populistas e demagógicos,
cuja única preocupação, é defender as poderosas famílias que os suportam e dos
seus próprios interesses.
O mal-estar, a raiva, revolta e impaciência que
começa a instalar-se, de norte a sul do país, são os sentimentos e os estados
de ânimo que se alternam e elevam contra a conjuntura económica e política, nos
tempos que correm, claramente demonstrado pelas diversas manifestações de
repúdio a tais políticas, perante a sensação de desgaste e impotência que nos
vai colhendo a todos.
Afastado da memória, de certa classe política no
poder e responsáveis deste país, da razão de ter existido em Portugal um 25 de
Abril de 1974, faz-nos crer que, afinal de contas, vivemos num regime
supostamente democrático, onde os cidadãos são constantemente iludidos, quando
chamados a intervir directamente no jogo político, através do seu voto, ou
através da militância nos partidos políticos, sufragados à sombra de falsos
programas, que não passam de uma completa falácia, transformando um acto, que
deveria ser de verdadeira cidadania, numa fantochada populista e demagógica,
onde a liberdade é falsa, a participação eficaz não existe, e o regime começa a
apresentar uma esquizofrenia própria das ditaduras do antigamente, e está
doente.
Vivemos actualmente num regime supostamente
democrático, onde se iludem os cidadãos à sombra da possibilidade de poder
intervir directamente num jogo político, onde o voto seria a arma do povo, mas
que serve simplesmente para validar uma falácia eleitoral, que termina
imediatamente após a colocação do voto na urna, sem que os programas e ideias
apresentadas, sejam cumpridas e implementadas, nem tenham qualquer valor ou
significado no desempenho dos eleitos, para uma verdadeira justiça social, na
governação deste País, caindo e deixando de ter qualquer significado, logo que
conhecidos os resultados eleitorais.
Não há dúvida que elegemos os nossos políticos
democraticamente, usando a prorrogativa do voto nas urnas, de forma livre e
unipessoal, no entanto, começam a crescer cada vez mais na mente de cada um, a
dúvida que, quando exercemos o nosso direito de escolha nas urnas, não
garantimos que os seus executantes, não se prostituam de imediato ao serviço
das classes dominantes e do capital, e esqueçam os programas e as promessas
neles contidas, sem que se tenham de explicar de imediato, e com as respectivas
consequências, perante aqueles que neles confiaram, alternando as castas no
poder, acto eleitoral após acto eleitoral.
Tomam-se medidas sem olhar às necessidades reais
do cidadão comum, sejam elas económicas, culturais, de formação, de saúde, de
trabalho ou equidade social, não se investindo num futuro mais justo, mais
igual e mais humanizado, mas pelo contrário, espoliando-se o pouco que a
maioria dos cidadãos tem no presente, desprezando e hipotecando os recursos
para as gerações futuras, a troco do enriquecimento de uma elite privilegiada.
As necessidades reais do cidadão são
escandalosamente esquecidas, negando-se de forma constrangedora investimentos para
a construção de um futuro mais justo, mais igual e mais humanizado para as
famílias, numa autêntica investida de depredação dos recursos para as gerações
futuras, numa extorsão confrangedora de direitos à maioria dos cidadãos no
presente, privilegiando-se o enriquecimento de uns quantos distintos que
alimentam o sistema.
Perante este quadro pintado a preto e branco,
sentimos que nos estão a querer retirar o controlo soberano que deveríamos ter
numa democracia representativa, sufocando e retirando a clarividência nas
consciências feridas dos cidadãos, angustiados por tanta tirania, que os poderá
conduzir a actos irreflectidos sem retorno, e alibi para medidas repressivas e castradoras
das liberdades conquistadas a 25 de Abril de 1974.
Discernimento, conhecimento, força, liderança
política e capacidade de decidir, perfilam-se como formas de acção para agir diante
das dificuldades actuais, recuperando a autoridade e controle soberano do povo,
nesta democracia que se defende e exige representativa, cumprindo os programas sufragados,
pondo termo à pouca vergonha e indecência de alguns pretensos representantes do
povo, que se deixam corromper pelos agiotas financeiros da União Europeia, e
que à sombra das nossas dificuldades económicas, nos atolam com novos
compromissos e obrigações, que eles se recusam a carregar.
Torna-se necessário e imprescindível recuperar o
mando nas nossas mãos, promover a mudança radical, dar início a um novo começo,
renascida das consciências feridas dos cidadãos acossados, para finalmente se
poder instaurar uma verdadeira democracia política para todos os cidadãos.
João Carlos Soares
Barreiro, 31 de Outubro de 2012