terça-feira, novembro 16, 2010

Com saudade e nostalgia


Começo por rabiscar estas palavras para alguém que já não me pode ouvir nem aconselhar.
Consciente das dificuldades que enfrentamos na política para exercer na prática a função para a qual os cidadãos nos escolhem, assumindo as minhas responsabilidades, levando em conta as incertezas e angústias com que convivemos diariamente perante os factos que observo, por mais difíceis que sejam os tempos e as vontades.
As dificuldades impostas pela conjuntura mundial e os seus governantes, pelos burocratas e porque não pela própria comunidade, que na ânsia de ver os seus problemas resolvidos de imediato, exigem mais do que por vezes se torna suportável. A incompreensão entre os nossos pares, torna-se por vezes num ambiente de competição desenfreada com a qual somos obrigados a conviver diariamente. Contudo, estes obstáculos devem ser enfrentados com coragem e determinação numa caminhada de trabalho edificante exercida com ética e postura.
Recordo com saudade e alegria na minha memória imagens de uma época que retenho e que se mescla de ensinamentos de quem me iniciou e aguçou o apetite pela gestão da coisa pública, alimentando dia após dia a minha curiosidade pelos mistérios da ciência política, fazendo-me compreender que o importante e fundamental é termos uma atitude crítica, coerente e construtiva, sem receio de ter que tomar decisões para ultrapassar as dificuldades.
Não esqueço quem me induziu e estimulou o gosto em assumir com uma atitude crítica os assuntos que consideramos chatos, porque ao fim e ao cabo, na verdade, a nossa intervenção diz respeito às decisões que podem vir a frustar os sonhos e mudar em definitivo as condições de vida de uma geração.
Compartilhei as mesmas ideias políticas, defendi os mesmos argumentos que nos deixavam a pensar, o que por vezes nos deixavam de certa maneira enfurecidos. Não me esqueço que quase sempre era um dos mais exaltados. Passados alguns anos, avaliando todo o percurso que trilhei, apercebo-me que tudo não passava de uma estratégia inteligente e ousada que contribuiu para aumentar o meu interesse pelas questões e estimular a minha análise e discussão política.
Ao escrever este texto, pretendo recordar e homenagear aquele que não me pode ver nem ouvir, mas quer esteja onde estiver, saiba o quanto lhe estou reconhecido e grato por ter tido a coragem de compartilhar comigo as suas experiências e conhecimento, orientando-me e ensinando-me a gatinhar politicamente na construção, defesa e consolidação das fundações do edifício da minha vida na política.
Sem ele nunca teria tido a oportunidade de escrever estas palavras.

João Carlos Soares

segunda-feira, março 01, 2010

Onde pára a Justiça?


Quando assisto, sentado frente a um qualquer canal de televisão, vendo um qualquer programa em emissão, ou escutando e visualizando imagens degradantes de comportamentos cretinos de determinados actores com responsabilidade na nossa sociedade em completa desfiguração, dou por mim a delirar em vociferações de desespero, por não querer acreditar nem aceitar tanta cretinice.
Pois é, começo a pensar e ao mesmo tempo a ficar cada vez mais confuso, ou por outras palavras com a leve impressão de que a levar a peito tudo o que vejo e ouço, deixando de pensar, me poderá conduzir simplesmente a perguntas sem resposta, ou então a um quase estado doentio sem recuo, situação a que não me permito enquanto cidadão de direito.
É que não consigo deixar de pensar nas coisas, à procura de alguma escapatória possível nesta sociedade louca que, quer queiram ou não ajudámos a construir, numa busca desesperada de soluções, onde o empenho, o conhecimento e o esclarecimento de todos se torna cada vez mais necessário e indispensável.
No cerne de todas as minhas dúvidas e questões, as palavras formação e valores, são como que sinónimos no contraditório da responsabilidade nas causas do sofrimento desta sociedade constrangedora de penúria e lamentos que padece. Para entender toda a imbecilidade que nos rodeia, sou quase obrigado a admitir que está em curso uma qualquer mutação genética no ser humano, provocado por uma falta de vergonha insaciável de altos responsáveis, que não se coíbem de continuar a arremessar serradura para os nossos olhos, mentindo com quantos dentes têm na boca, vergonhosamente protegidos por uma justiça onde se incluem todos os sectores do poder judiciário sem excepção, onde todas as injustiças começam por se fazer sentir.
A Justiça simplesmente não faz o trabalho que lhe compete, no cumprimento das leis deste país. Deveria obrigar à apresentação de provas concretas e justificação das afirmações proferidas nos meios de comunicação social. Pelo invés, usa de uma panóplia de sigilos, continuando a proteger os interesses de uma certa elite de privilegiados, ofuscando a verdade e o conhecimento dos factos à população, os quais, fazem recair sobre os órgãos de soberania um ambiente de desconfiança e descredibilização e sobre o povo uma sensação de revolta perante tanta pouca vergonha.
Continuam a deixar em liberdade sem qualquer tipo de punição, políticos e administradores de empresas com participações do Estado, que não cumprem a lei, são useiros e vezeiros em comportamentos repreensíveis perante os órgãos que representam e a sociedade, utilizando a fuga aos impostos e servindo-se de negócios nada ou pouco lícitos perante a lei, desviando o dinheiro que deveria ser investido pelo Estado na educação do povo e na construção de condições de vida para todos, numa sociedade onde os valores sociais da igualdade de oportunidades prevalecessem.
Para que se faça cumprir a justiça num país, não basta dizer que num regime democrático todos somos iguais, quando sabemos à partida que, essa mesma justiça que protege lobbies descaradamente, considera uns mais iguais que outros, bastando para isso ser rico e bem relacionado, pois nessa condição, pelo que temos assistido infelizmente nos últimos tempos, tendo essas condições pode-se fazer tudo o que se quiser, se calhar até matar, porque não, pois a prisão parece não ter sido feita para eles.
Será caso para dizer: Se não fores rico, se não fores bem relacionado, se não tiveres amigos no poder, vais preso sem direito a qualquer perdão e prepara-te para sofrer toda uma série de injustiças.
Diz-se que este país está doente. Não será uma das suas maiores doenças a falta de equidade com que somos julgados por uma Justiça que nos faz desacreditar nos valores e na consistência de igualdade de tratamentos num Estado Democrático e na transparência e imparcialidade das suas decisões?
No entanto, independentemente das causas e da justiça que seja feita, esta é a sociedade que ajudámos a construir, à qual devemos exigir acima de tudo e em primeiro lugar, a segurança e o bem estar a proporcionar aos seus cidadãos.

Só que até a própria injustiça tem limites, limites esses que começam a ultrapassar o admissível, permitindo-se a constituição em pequenas máfias infiltradas em quase, se não todos os segmentos da sociedade, e quando menos esperarmos, rectificar os erros cometidos será tarde demais.

Vivemos tempos difíceis, atravessando um período delicado onde os valores éticos e morais são constantemente postos em causa, onde a sociedade de consumo dirigida e manipulada por uma grande indústria de magnatas e banqueiros, cuja preocupação é fabricar ilusões inebriando mentes fragilizadas de pessoas que hoje vivem como marionetas, ao sabor dos chamados especialistas de opinião, fazendo com que o mundo perca as suas referências positivas comportamentais, esquecendo-se que todos somos iguais e, que um dia vamos morrer e da Terra nada levaremos.


João Carlos Soares



sábado, fevereiro 13, 2010

DE MÃO NA CONSCIÊNCIA


Entrámos em 2010, debaixo do espectro de uma recessão que devido à sua extensão e causas, deixaram Portugal e os restantes países com fraco poder de produção na comunidade, condicionados e subjugados às regras do mercado internacional e interesses da banca.

Deu para perceber que os dirigentes partidários tentam focalizar e usar a atenção dos Portugueses como isca, num jogo de intriga e desconfiança, apoiados por uma imprensa com laivos e tendências burguesas, escondendo o que realmente preocupa as famílias, onde a falta de escrúpulos dos governantes, acaba por preencher os tablóides nacionais, quando o desemprego e os desequilíbrios sociais são na realidade o que deveria preocupar e ocupar o interesse para as grandes decisões deste país.

Sub-repticiamente vai-se preparando o terreno para um processo eleitoral que se avizinha, a Presidência da República, preparando o caminho aos interesses de grupos económicos privilegiados, num processo de despolitização de massas, onde as peças são estrategicamente colocadas num tabuleiro de interesses instalados, numa prática política maléfica de meros chavões desprovidos de qualquer conteúdo, não passando de uma farsa bem montada, quando deveria ser, acima de tudo, uma consciente e livre escolha popular.

No meio de tudo isto, é de lamentar a predisposição como a auto-denominada militância partidária, em exércitos de mercenários de opinião, apoiada por franjas controladas da comunicação social, nos tentam enfiar pela goela abaixo os seus candidatos, de uma forma preocupante, sem escrúpulos, denotando um total desprezo e desinteresse pela verdadeira função de informar, esclarecendo e explicando o que é ser bom ou o que será ter uma prática política reprovável, abordando as questões fulcrais que levam e conduzem aos desvios, de forma criminosa, para o cada vez maior agravamento da dívida pública.

Sempre que a situação de forma cíclica se descontrola nas finanças do Estado e caem a níveis perigosos, as lideranças políticas começam a ser contestadas, sem qualquer alternativa credível à vista e, aos poucos, numa falsa envolvência emocional patriótica, eis que se lançam numa propaganda eleitoral, que acabará influenciando as escolhas do povo, por este ou aquele candidato, na maior das vezes sem jamais entenderem o porquê dessa escolha, que ao fim e ao cabo esses exércitos propagandistas lhes conseguiram impingir, mas que nada ou pouco contribuirão para uma mudança nas estruturas políticas, que se exige, e se tornam cada vez mais necessárias, esgotado que está o modelo actualmente vigente, esquecendo todas as promessas entretanto formuladas, mas que antecipadamente sabiam muito bem não terem intenção de cumprir.

Na base da constituição de qualquer governo, deverá estar prioritariamente o seu projecto de política económica. Esse projecto deverá estar vocacionado e provido de soluções capazes de responder às verdadeiras necessidades vitais de quem os elege, o povo, direccionando os seus objectivos na resolução dos estrangulamentos que impedem o verdadeiro desenvolvimento social e económico do país. Esta deveria ser a informação e o esclarecimento que esses exércitos militantes deveriam transmitir, reportando esse conhecimento e fazendo entender às grandes massas, que nada entendem de economia. Contrariamente, continuar a esconder essa realidade, mantendo na ignorância se possível as populações e, criando-lhes por isso mesmo um sentimento de inferioridade.

É altura mais que propícia para que os políticos se assumam e reflictam de forma consciente, abdicando de algumas mordomias e privilégios, dedicando um pouco do seu tempo fora dos corredores do poder, proporcionando aos seus eleitores e dando-lhes a oportunidade de se educarem politicamente, fornecendo toda a informação necessária e indispensável para o esclarecimento e conhecimento dos seus eleitores com a realidade que é o labirinto da economia e a relação que a mesma terá com a vida a proporcionar às populações.

João Carlos Soares


domingo, janeiro 24, 2010

É PRECISO MUDAR


A corrupção dos políticos é de entre outras, o tipo de corrupção mais próxima do conhecimento público. Contudo, a corrupção dos políticos, não se inicia, nem termina na sua denúncia e “afastamento”, retirando-lhe oficialmente o acesso directo às comissões públicas, ao poder para tirar vantagens próprias, para enriquecimento pessoal, ou de favorecimentos de determinados grupos ou elites, transformando-se e dando origem a uma doença com níveis preocupantes.

Existe um outro tipo de corrupção instalado na política, com ramificações e tentáculos muito mais difíceis de detectar e sanar, do qual ninguém fala, a qual se propaga e instala no sistema político.

Não estamos a falar de privar ao bem público os seus direitos, mas diante de influências questionáveis tomarem-se decisões em proveito de grupos instalados e não com vista ao que deveria ser do interesse para a resolução dos problemas que o País enferma. Trata-se pois, de um sistema corrompido por influências para favorecer determinadas facções elitistas da sociedade, em vez de nos representar para criar melhores condições de vida a todos nós.

Não estamos a falar só de procedimentos ilegais, agora nas primeiras páginas do tablóide nacional e que daí não passa, mas também de dar provimento a decisões, algumas até certo ponto sem lógica aparente, por vezes com algum grau de estupidez e mesmo contraproducentes numa democracia participativa que se exige.

É pelo contrário a destruição e adulteração de um sonho que não deixaram evoluir, que já não nos representa e que está a ser construído para não funcionar.

O estado calamitoso incrementado pelas franjas da governança instituída que teimamos em permitir, consentido com o nosso voto o acesso aos órgãos de poder de gente sem um mínimo de clarividência de ideias nem experiência de vida, os quais se desconhece ou nunca deram algum contributo cívico para o merecerem, fazem com que esta doença epidémica atinja foros de pandemia, da qual não se vislumbra fim à vista.

Não é possível atribuir um qualquer certificado de qualidade aos políticos, para os diferenciar, apresentando uns como mais ou menos qualificados que outros para a função. No entanto, para se aceder a patamares de decisão, que vão influenciar e ditar num futuro o desenvolvimento de um país, alimentar a esperança ou não de geração em geração, devemos exigir dos líderes partidários, independentemente dos partidos no poder, uma escolha efectiva de gente que tenha capacidade para governar, decidindo, respeitando e garantindo os direitos dos seus eleitores, não os usando para moeda de troca para negócios de poder, quando deveriam preocupar-se em dedicar algum tempo a arrumar soluções contra a corrupção do sistema político, de que são responsáveis.

Esse compromisso deveria ser assumido pelos líderes deste país, numa postura efectiva de apoio a uma série de medidas que contribuíssem para aumentar eficazmente a transparência nas decisões de estado.

O Estado tem que de uma vez por todas fazer um esforço no sentido de diminuir a influência dos patrocinadores económicos partidários nas decisões fundamentais e estruturais do país, fazendo com que os políticos e as políticas defendam, como grupo de representantes da sociedade, a discussão de ideias para uma solução da crise em que vivemos, melhorando a condição de vida das famílias, e não um bando de vendedores profanos ideológicos, cuja intenção se resume a pensar em votos e a agradar os seus financiadores.

Quer queiram entender, ou não, as alterações a este sistema corrompido têm que ter alguma solução e rápida para a mudança, porque o cinismo como a questão é assumida por alguns e a relação nas possibilidades de mudança, só parecem interessar a quem gosta e lhe interessa continuar a chafurdar na lama em que vive.

O sistema político, além da corrupção que diariamente chega ao conhecimento público, começa a ser de uma ineficácia por vezes surreal, baseado num modelo ultrapassado e nada actual com a realidade e novas necessidades das gerações futuras.

Está na hora de sermos muito mais ambiciosos connosco próprios, começando para já a pensar na necessidade urgente de refundar um sistema político, consertando os problemas que o afligem, onde os políticos malandros não tenham lugar nem hipótese de manter o seu tráfico de influências.

João Carlos Soares