Um país não
se constrói, nem pode ser conduzido por aventureiros, os quais, cometendo erros
atrás de erros, sem qualquer tipo de escrúpulos, levados por impulsos
irracionais sustentados por uma arrogância atroz, impõem com as suas decisões,
angústia, descrença e sofrimento às populações.
Pelo
contrário, os alicerces de uma nação têm que se consolidar, na base da
esperança e na convicção em que cada cidadão deve e pode acreditar, nas suas
capacidades e inclusão para a construção de um mundo melhor.
Decorrido um
ano após as últimas eleições, face ao resultado encontrado, constatamos que o
País deu mais um passo para o perpetuar de um sistema eleitoral, focalizado
numa bipolarização partidária, dominante e consolidada, entre duas forças
políticas, PS e PPD/PSD, os quais, ora um, ora outro, à frente da governação, com
um pequeno apoio de ombro do CDS/PP, monopolizam o rol das políticas-partidárias
e os projetos e estratégias nacionais.
Aos olhos da
crítica especializada, insiste-se na catalogação destas duas forças dominantes,
o PS na sua génese de esquerda, e o PPD/PSD de centro-direita, mas que na
prática, face às orientações e programas apresentados nos sucessivos governos, resultam
em mais do mesmo, com conteúdos e princípios programáticos muito semelhantes,
os quais, na prática, se perfilam e reconhecem, nas filosofias e tendências neoliberais.
Esta alternância tem, ao longo dos quase 40 anos de Democracia, consolidado o
pragmatismo de gerações na política do País.
Todos os
restantes partidos, se vêm arredados e marginalizados, reduzindo a sua
participação e representatividade à disputa de lugares com assento parlamentar,
num debate de ideias de surdos-mudos, tornando-se forças marginais, sem
qualquer peso ou interferência nas linhas de orientação para o País, razão pela
qual, se tem assistido a um cada vez maior afastamento e alheamento de pessoas da
vida pública e partidária.
Nunca, como
agora, as máquinas partidárias e o marketing político foram tão importantes,
para se ganhar eleições. Os quadros profissionais de carreira, nas máquinas
partidárias, figuras proeminentes no cenário político, dão-nos o sinal e
indicam as tendências para o futuro, as quais, através de máquinas
publicitárias, discursos e posturas de candidatos decididos, embebedam e
abordam os eleitores, com promessas que sabem de antemão não poder cumprir.
Por essa
razão, é com grande expectativa e receio que se antevêem os próximos anos,
prevendo-se uma cada vez menor militância partidária na definição das decisões
e disputas eleitorais, o afastamento cada vez maior dos cidadãos à política, o
que deixa e abre caminho aos carreiristas para dominarem o aparelho de Estado,
gerindo o destino de todos nós a seu belo prazer.
Se esta
tendência se vier a fortalecer no futuro, as campanhas serão cada vez mais
mornas, as abordagens orientadas para nichos específicos de eleitores, e
assistiremos à institucionalização de “partidos-empresa”, manipulados por
empresários políticos, pondo fim a um sonho chamado Abril.
João Carlos Soares
Barreiro, 29 de Junho de 2012