terça-feira, novembro 29, 2011

O Custo da Indiferença


O espectáculo da corrupção torna-se enfadonho e transfigura cada vez mais a actividade política desacreditada perante os que a detestam.

A descrença instalada na população e o seu não envolvimento ou afastamento da política alimenta e facilita o exercício do poder por gente corrupta. De certa forma abstracta e ingénua, disfarçando por vezes a ignorância e a leviandade egoísta dos que não conseguem pensar para além da sua carteira, permitem e fortalecem os podres poderes instalados, que a todo o momento espreitam a oportunidade para dar o golpe à primeira oportunidade que lhes surja.

Quem alimenta a indiferença, o egoísmo ético do interesse individualista dos cidadãos desprevenidos, é também conivente com a ofensiva deste exército de malfeitores, tornando-se seu subsidiário.

Meter todos os políticos no mesmo saco, lavando daí as mãos e apontando em exclusivo à classe política a responsabilidade de todos os males da sociedade, faz aumentar o descrédito das instituições na gestão da coisa pública, levando a um caminho putrefacto de actividades ilícitas salvaguardadas por uma estrutura de sociedade onde a ocasião faz o ladrão, premiando assim os mais espertos, os mais egoístas e mais ambiciosos sem qualquer tipo de pudor.

Os políticos pela simples razão da exposição a que são submetidos na actividade que desempenham e pela proximidade dos centros de decisão, colocam-nos como alvo de todas as dúvidas e suspeições, esquecendo-nos no entanto que só há corrupção e corruptos porque também existem corruptores.

Não podemos ser hipócritas ao ponto de exigirmos ética aos políticos como se esta fosse uma exclusividade restrita ao submundo da política. Quando na sociedade o ladrão rouba e encontra comprador para o seu furto, torna-se tão culpado ou pior do que quem praticou o acto de roubar.

Para bem da verdade, quantos de nós nunca foram tentados? Quantos não cometeram algum deslize? Quem foi tentado e não caiu em tentação? Quantos conseguiram ou não manter a coerência entre o pensamento e a razão no discurso e na pratica do seu dia-a-dia?

No fim todos seremos julgados pelos nossos actos, e através dessa avaliação poderemos comprovar ou não a nossa capacidade em resistir à tentação.

Os indiferentes à política que demonizam a actividade dos políticos, esquecem-se que essa atitude promove e narcotiza o pensamento em comunidade, permitindo espectáculos degradantes propiciados pelos governos que se sucedem, sem contestação nem repulsa, perante a incapacidade para projectarem e garantirem a estabilidade e o futuro das gerações vindouras, como resultado do nosso comodismo.

Por mais alienado que o ser humano seja, existe uma diferença em relação aos restantes animais, pois tem a capacidade de pensar de forma livre e crítica, tornando-o como o único animal capaz de produzir e de fazer a sua própria história, compreendendo e projectando o seu próprio futuro.

Não basta apenas criticar os que cometem erros ou os que caem na tentação, é preciso acima de tudo ter discernimento e ser participativo, ter consciência dos direitos e deveres em sociedade, ser capaz de assumir e lutar pela defesa da justiça social com mestria, superando assim o comodismo da indiferença.

João Soares

Barreiro, 29 de Novembro de 2011

sexta-feira, novembro 25, 2011

Dia 24 a União Fará a Força


Para os trabalhadores, o direito à greve ultrapassa as fronteiras da sua identidade, a partir do momento em que a sua atitude colectiva lhe dá o direito de afirmar bem alto e de forma consciente perante o poder político e o capital, que não se conformam nem se sujeitam a trabalhar sobre ameaças e em determinadas condições de opressão, mostrando-se o quanto estão dispostos a confrontarem-se de forma determinada com os detentores do capital, que usando diversas formas de coacção, tentam fazer prevalecer a lei do mais forte.

Os governantes têm alguma dificuldade em aceitar este direito consignado na lei, mas não têm a coragem de dizer que não concordam com ele, pois isso colocá-los-ia numa situação extremamente complicada perante a opinião pública, mostrando a falta de valores democráticos de que padecem.

Sendo assim, tentam através da falácia, convencer as populações do prejuízo que as greves lhes provocam no dia-a-dia, tentando demonstrar o quanto prejudicial significam para o país as greves. É lógico que quando se faz greve, esta tem que ter inevitavelmente um efeito de incomodar ou de paralisar os serviços atingidos. Outra coisa não seria de esperar, porque se as greves não incomodassem ninguém, não teriam o efeito pretendido, nem cumpriria com o pressuposto de ser um instrumento de pressão sobre os governantes e o capital, face ao descontentamento dos trabalhadores.

Para que essa intenção demoníaca de mascarar um direito universal como uma mera intenção casuística de desestabilização social, não se torne e dissemine na sociedade num sentimento de aversão generalizada às lutas dos mais desprotegidos, é preciso que os trabalhadores e centrais sindicais se unam com convicção, cautela e serenidade, promovam e lutem por um novo tempo de desenvolvimento e justiça social, garantindo direitos e fortalecendo conquistas, perante uma postura preconceituosa e anti-social ainda existente em certos segmentos da sociedade.

Não estamos em tempo de cruzar os braços, pelo contrário, é preciso arregaçar as mangas e lutar pela defesa e a ampliação do direito à negociação e organização sindical de todos os trabalhadores, seja no sector público ou privado.

Todos sabemos o quanto a greve é incómoda, mas esse é o seu objectivo como forma de pressão nas relações do mercado de trabalho, que deve pautar-se na base do respeito mútuo e do diálogo. Quando uma das partes se recusa a conversar e apenas pretende impor o seu injusto ponto de vista, aproveitando-se das fraquezas e dependência da outra torna-se necessária e indispensável alguma acção que coloque de novo as coisas no seu devido lugar.

A greve pode ser comparada a uma guerra, guerra por direitos que nos estão a ser negados. Numa guerra vence quem tem as melhores armas, as melhores estratégias e o pleno conhecimento do terreno onde a batalha é travada.

Torna-se necessário entender as diversas configurações do campo de batalha, e não podemos ignorar as armas, a força, o poder e o conhecimento do inimigo se não quisermos por em causa os resultados finais.

João Soares