sábado, julho 28, 2007

Pensar ..... Sentir ...... Acreditar.


O Populismo e a tendência para o autoritarismo, para além de se considerar como um défice político numa democracia participativa, estão directamente ligados ao comportamento da sociedade perante a incapacidade de gerir e apresentar soluções para os problemas sociais, resultantes do desequilíbrio, falta de confiança e da fragilidade da estrutura no próprio sistema.
A tendência para a procura incessante de culpados e factos que conduzem qualquer sistema para o autoritarismo, desvia e conduz o pensamento dos cidadãos, para análises e atitudes que em nada contribuem para as correcções necessárias e indispensáveis, no modo e na forma como a população na defesa dos interesses e direitos consignados pela constituição, possam de forma coerente e consistente, exigir aos seus representantes a concretização de decisões e opções políticas sociais, no interesse e defesa dos mais desprotegidos.
A descapitalização participativa dos cidadãos nas grandes decisões de estratégia, eleições, referendos, etc..., favorecem e abrem caminho a dinâmicas fundamentalistas, umas de esquerda outras de direita, as quais conduzem inevitávelmente qualquer sociedade para momentos de crise política, o que não significa necessáriamente crise sócio-económica. O certo, é que uma conduz à outra, até como forma de justificar muitas vezes, aquilo que a própria razão não consegue explicar, servindo como um excelente alibi, para qualquer governo justificar intervenções que inevitavelmente conduzem ao aumento de impostos, cortes a nível da sustentabilidade social, como sejam o exemplo da saúde, educação, etc..etc..., para não falar no condicionamento ao acesso ao emprego e estrangulamento à pluralidade e liberdade de expressão.
Todos estes factores, bem como os discursos de ocasião, pouco credíveis dos nossos representantes, reflectem o défice social e político sentido pela população relativamente aos problemas da globalização e à dinâmica económica que a sustenta, desprezando as lógicas sociais dissociando-as dos processos políticos, e não considerando os critérios que induzem essas decisões, desprezando o nível de vida, a pobreza, a esperança de vida de cada um.
O fio que une toda uma débil estrutura social, fica por vezes deveras esticado para a tensão a que se encontra sujeito, e o inevitável acontece, rompe. Esse facto, mesmo considerado por alguns como inevitável numa sociedade competitiva, produz de imediato efeitos, a que alguns acharão necessários, mas que de certa maneira contribuem para um cada vez maior desequilibrio, desconforto, falta de confiança e insegurança.
Contudo, não poderá nem deverá servir como razão para todo o tipo de procedimentos numa sociedade onde se pretende, acima de tudo, preservar e consolidar os valores da solidariedade, evitando o declínio a dispersão e a capacidade de decisão a ela associada. Porém a crise nas instituições torna-se evidente quando a sua capacidade de decisão é posta em causa, pelo que se torna necessário e imprescindível que com a frontalidade, a verdade, a transparência, e a seriedade dos elementos intervenientes, se faça de uma forma positiva, construtiva e participativa, sem cinismo, demagogia nem qualquer outro tipo de hipocrisia.
Sei que se torna por vezes difícil aceitar regras, acatar decisões, quando essas decisões resultam, na grande maioria das vezes, na concretização de procedimentos e acções, as quais condicionadas por interpostos interesses, nem sempre vão de encontro ao interesse daqueles a quem essas decisões se destinam.
Exige-se por isso, bom senso e intelgência aos actores, condição fundamental para qualquer decisão que implique transformações na comunidade e possa conduzir a situações desconfortáveis, evitando-se atitudes irreflectidas, egocêntricas e precipitadas, criando-se e capitalizando-se cenários virtuais, onde predominam como factores o desconhecimento e ignorância das permissas e dos factos, os quais irão contribuir para a conflituosidade, falta de confiança e o descrédito naquilo em que acreditamos.
Uma visão de democracia representativa, assente e fundamentada apenas em factores ideológicos, seria , por isso mesmo, irremediavelmente uma forma catastrofista e impotente para nos levar a aceitar a sua autoridade.
Por vezes, em nome do saber e da suposta exclusiva competência, apresentam-se como pretensos representantes do povo, encarregando-se de estimular com o seu discurso e as controvérsias do seu conteúdo, a radicalização das suas posições.
João Carlos Soares

segunda-feira, julho 09, 2007

Opinião Pública - Contornos democráticos


Como refiro e realço no post anterior, não se pode imputar às dificuldades estruturais ou conjunturais dos sistemas políticos, a única e exclusiva razão para a actual crise de representação política instalada na nossa sociedade.
Essa crise resulta também da vida social, institucional e cultural, bem como de lógicas externas, algumas transnacionais ou até supranacionais. Significa isto na prática, a dependência dos povos que se sujeitam e são confrontados constantemente pelos condicionalismos dos acordos resultantes da globalização.
A crise da representação é, antes de tudo, fruto de uma crise da própria sociedade, ligada e identificada por processos de desestruturação dos laços sociais, os quais resultam na exclusão e precariedade cada vez maior de extractos inteiros da população mais desfavorecida e carenciada.
Quando se fala no défice do actor político, antes de mais, fala-se e referimo-nos ao défice social, o prolongamento ou o eco da falta dos direitos sociais e das injustiças que recaem com maior incidência sobre as camadas populares.
O fim dos regimes autoritários e a passagem para sistemas abertos e democráticos, não impedem a violência, o tráfico de influências ou o surgimento de grupos organizados, que vêm substituir-se às relações sociais.
O crescimento das taxas de criminalidade aumentam e os governos são incapazes de enfrentar as redes de crime organizado, resultando daí o delapidar do sistema democrático através da existência cada vez maior de carências do sistema político e da sua equidade, as quais se encontram associadas à decomposição da vida social, e também à ruptura que surge como resultado das frustrações sociais, por um lado, e da oferta política, por outro. Essa crise social é bem patente nas diferentes classes sociais descaracterizadas que vivem nos nossos centros urbanos.
Esta crise é quase sempre acompanhada pela miséria dos mais desprotegidos, pela ausência de vida pública transparente e pela perda das formas tradicionais de solidariedade.
Em democracia, a crise política é alimentada por uma eventual crise social, mesmo quando existem um elevado nível de direitos cívicos e de cidadania consignados na constituição. E é assim porque aquilo a que os cidadãos são particularmente sensíveis é à precariedade das condições de vida de alguns deles. Os direitos cívicos, por mais importantes que sejam, não acabam contudo com a pobreza e a miséria, o desemprego, a exclusão social, a marginalidade e o abandono.
Termos como “para que quero eu a democracia, se a miséria e a fome continuam...” fundamentam-se efectivamente na insegurança criada pelo desequilíbrio e precariedade sociais, bem como na falta de credibilidade e sustentabilidade do sistema político, representando por isso mesmo num risco considerável para a democracia, verificando-se ou dando a entender, que ela não resolve as suas principais dificuldades, criando um sentimento de repulsa para com o sistema democrático, constituindo-se até como um obstáculo à conquista de soluções práticas e justas.
Assim, algumas pessoas procuram satisfazer os seus sentimentos de insegurança na privatização da política e fecham-se em guetos destinados a ricos ou a classes médias superiores. Em simultâneo, este tipo de posições pode levar a opinião pública a tornar-se permeável à ideia de um governo autoritário como forma de garantir e assegurar o desenvolvimento económico à custa das liberdades entretanto conquistadas, e face à incapacidade da justiça e polícia, os que se sentem desprezados, abandonados ou maltratados podem vir a mostrar tendência para se encarregarem eles próprios daquilo que os poderes públicos já não conseguem fazer, a justiça popular.
Desta forma, a insegurança social, as dificuldades que acompanham a flexibilidade de trabalho, o emprego clandestino ou ilegal utilizando a mão de obra vinda dos países de leste, a economia sem regras, a queda dos salários reais e a pobreza constituem por isso mesmo, os maiores desafios que a política democrática terá que enfrentar no futuro.


João Carlos Soares