segunda-feira, setembro 12, 2011

Um Futuro a Termo


Com o passar dos anos, ao longo das nossas vidas, apercebemo-nos dos enganos que vamos cometendo, arrependendo-nos por vezes de muitas coisas que fizemos, como se fosse possível voltar atrás, ou passar uma borracha, como se nada tivesse acontecido. Por vezes, essa sensação acontece precisamente na altura em que sentimos as consequências dos erros cometidos e, provavelmente, questionamo-nos se não daríamos tudo o que temos, para poder regressar no tempo corrigindo os erros, e assim fazer da forma que deveria ter sido feito.

Não sendo isso possível, poderemos no entanto interferir no futuro que ambicionamos, através das nossas atitudes e postura presentes, transformando o presente como sendo uma nova oportunidade que nos é permitida no futuro para voltarmos ao passado e assim fazermos e darmos o nosso melhor.

Não nos podemos esquecer que a nossa vida é feita de escolhas, pelo que em cada acto da nossa vida, antes de qualquer decisão, deveremos fazer um exame de consciência de forma a avaliarmos as consequências, escolhendo o melhor caminho a seguir, sem comprometer o futuro, da mesma forma que as nossas emoções devem ser pautadas pela serenidade e ponderação, reduzindo a hipótese de arrependimento no futuro.

Viver em liberdade não significa fazer o que se quer, mas sim fazer-se o que deve ser feito. Cada um é livre para decidir e pensar, no entanto, a verdadeira liberdade baseia-se e circunscreve-se num abstracto de obediência às Leis Naturais que regem as sociedades, tornando-nos prisioneiros das nossas próprias decisões no futuro.

Para atingir e concretizar objectivos, torna-se necessário uma atitude mental sã, positiva, e motivação permanente perante as dificuldades, numa oportunidade constante de aprendizagem e crescimento, mantendo e focalizando a nossa mente nos objectivos que se desejam atingir, de uma forma inovadora e criativa.

Nos tempos que correm, a criatividade dos Governos de cada nação, tornou-se uma das qualidades mais importantes e necessárias, face à globalização desenfreada imposta pelos grandes centros de decisão nos fóruns europeus, onde a competitividade dos sistemas financeiros se sobrepõe aos direitos e obrigações dos estados membros, atingindo as populações mais carenciadas e desprotegidas.

Pede-se aos governantes, para driblar as dificuldades, mesmo que isso signifique a penhora do futuro dos cidadãos que deveriam proteger, ou até mesmo a tomada de medidas que deixam em causa a nossa identidade enquanto país, de forma a satisfazer a gula desenfreada neo-liberal do capital que está por trás da maioria dos governos na Europa.

Se recuarmos um pouco no tempo, lembrar-nos-emos sem muito esforço, ao que nos obrigaram para entrar na CEE, impondo-nos o desmantelamento da maioria das nossas fontes de produção, transformando o país numa coutada para um clube de elites, desbaratando as reservas de ouro existentes, garante da nossa robustez financeira perante os mercados, mascarando em forma de investimentos duvidosos as verbas auferidas através dos subsídios em troca das medidas de desmantelamento entretanto levadas a efeito, LISNAVE, SETENAVE, CUF, SIDERURGIA, FROTA PESQUEIRA, MARINHA MERCANTE, AGRICULTURA, etc.etc.etc.

Deixámos de ser um país com futuro para sermos um país a termo certo.

Chegado o dia em que os governos deram por esgotadas todas as fórmulas mágicas, a falta de iniciativa, criatividade e acima de tudo ética, factores fundamentais para tomar decisões complexas e conduzir equipes rumo a resultados, implementando ideias sem ultrapassar os limites aceitáveis e de estabilidade no mundo real, lançaram-nos os lobos esfomeados dos representantes do capital, BCE, FMI e outros, disfarçados de TROIKA, colocando a nossa própria independência, enquanto nação, em causa.

Há que dizer basta, mostrando que Portugal é um país com história, que não pode de um momento para o outro passar de um exemplo de país reconhecido e com raízes profundas no Mundo, para um país dependente e anexado.

Que se chame à barra dos tribunais todos aqueles que de alguma forma contribuíram e foram protagonistas dos mais hediondos actos de corrupção alguma vez perpetrados e publicamente conhecidos, alguns dos quais à sombra dos grandes paraísos fiscais, onde refundiram as fortunas que possuem, construídas à custa do desvio de dinheiros públicos e vergonhosa gestão da coisa pública.

Se chega ao conhecimento públicos desvarios financeiros dos nossos governantes, porque permitimos que, no seio e escudados pelas estruturas partidárias, esses mesmos protagonistas se perfilem constantemente em patamares públicos privilegiados, à espera que lhes seja dada oportunidade para voltarem a desferir novas golpadas, assim que o partido onde se escondem lho permitir?

É preciso ter coragem e oportunidade para mudar de ares e protagonistas, como forma de protesto e indignação, favorecendo assim com novas ideias um futuro com novos desafios que pretendemos e desejamos diferente para as gerações vindouras.

Não nos podemos permitir deitar governos abaixo, substituindo-os por outros que falaciosamente nos continuam a enganar, sem que se julguem os responsáveis, tal como nós, nas nossas famílias e perante a sociedade, se não respeitarmos os valores da liberdade que o 25 de Abril nos deu.

João Soares

Barreiro, 12 de Setembro de 2011

segunda-feira, setembro 05, 2011

O estado da pouca vergonha e mentira


Passados quase cem dias de governação nesta nova legislatura, atitudes desenfreadas de ataque da máquina fiscal ao aparelho produtivo de trabalho deste país, os trabalhadores, faz-se sentir alguma reacção e preocupação de sectores intelectuais mais sensatos e sindicatos, face à pressão do mercado internacional, empobrecendo as famílias com medidas insustentáveis, exigindo sacrifícios em nome da credibilidade perante a Europa, contrariando, afinal de contas, tudo o que foi prometido e apresentado ao país durante a última campanha eleitoral e criticado ao anterior Governo de José Sócrates.
Neste jogo de necessidades e medidas indispensáveis apresentadas quase diariamente pelo Governo de Pedro Passos Coelho, começa a ser inquietante, sobretudo se levarmos em conta alguma opinião e sinais contraditórios de sectores diversos apoiantes da governação e dos partidos que o apoiam, perante a falácia das chamadas vantagens da privatização de sectores lucrativos, actualmente na esfera do Estado, como a EDP e a GALP, e medidas fiscais que como único alvo, apenas atingem as classes mais desfavorecidas e economicamente mais expostas.
Perante este tenebroso cenário, qualquer pessoa informada e de bom senso sabe que qualquer uma destas empresas, desde que geridas pela competência dos seus gestores, e não pelos interesses partidários e de comprometimento com os grandes grupos económicos instalados, possibilitaria a redução de custos nos serviços prestados, lucros para as empresas, e subsequentemente mais desenvolvimento tecnológico e económico e postos de trabalho para o País.
Notícias conhecidas nos últimos dias, indiciam a pouca transparência e a conivência com os interesses dos grandes grupos económicos como o grupo Amorim e outros, na escolha e alvo preferencial de mercado escolhidos para privatização, denotando uma falta de rigor que nos leva a duvidar da sua consistência e completo alheamento da sua importância fundamental nas receitas do Estado, face aos investimentos anteriormente aí aplicados, pelo que daí se depreende das intenções deste Governo em provocar um rude golpe palaciano nas finanças do Estado contra a democracia.
O que está em questão é o papel do governo no incentivo ao investimento, à inovação e na flexibilidade na prestação de apoios, e não a descaracterização, mais uma vez, do sistema de economia em que nos inserimos, onde os concorrentes, clientes e cadeias de fornecimento operam fora das fronteiras nacionais, onde os interessados nessa transformação e que influenciam essas transformações são actores estrangeiros.
Argumentam alguns que a urgência de soluções imediatas impostas pela Troika, reclama a privatização das empresas a qualquer custo. Perguntamos nós, e então depois, depois de tudo alienado vivemos e vamos buscar sustentabilidade financeira onde? Mais impostos?
Só se tiverem intenção de inventar algum imposto que recaia sobre a miséria, porque mais nada restará para taxar.
João Soares
Barreiro, 5 de Setembro de 2011