quinta-feira, novembro 22, 2007

Agitação ou Metamorfose?


Para que a vida se não venha a transformar numa coisa sem sentido, até mesmo absurda, as corporações em consonância com os interesses privados, terão que se colocar ao serviço de uma vida com qualidade para os cidadãos, e não exclusivamente ao serviço das suas necessidades de acumulação de riqueza, ainda sugerindo que nos devemos sentir gratos e reconhecidos pelos empregos que nos proporcionam.
Contudo, não podemos simplesmente levar a mal, ou julgar negativamente, todos aqueles que procuram a maximização dos seus capitais, rentabilizando as competências técnicas e desprezando ou descurando por completo a inteligência da vida. A nossa acção tem que se centralizar, enquanto membros de uma sociedade, na organização e racionalização de conceitos e valores, assumindo as rédeas do processo, de forma a construirmos um futuro menos comprometido e hipotecado, num universo menos violento, menos ignorante e mais humanizado.
Os idosos na nossa sociedade, membros da chamada terceira idade ou seniores, para outros, os quais muitas vezes se confinam isolados nos seus lares, começam a despertar para uma actividade organizada em grupos e associações, passando a utilizar e tirar proveito de décadas de vida útil que têm pela frente, ajudando a revitalizar a comunidade a que pertencem, animando espaços de lazer e de cultura, a exemplo da UTIB (Universidade da Terceira Idade do Barreiro), organizando o enraizamento comunitário, contribuindo com o seu imenso conhecimento humano, que é o que mais falta, em conjunto com o seu inestimável e formidável capital de tempo disponível.
Tudo isto e muito mais se poderá começar a elencar, num universo que pouco a pouco se vai descortinando, a partir do momento em que as pessoas descobrem e se apercebem de que são pessoas, de que são cidadãos e não apenas clientes de uma sociedade de consumo, como tal, são parte da sociedade e têm direitos.
Quem tiver interesse e vontade, poderá associar-se a iniciativas que existem e vão aparecendo por toda parte. O comum cidadão, já não se pode considerar necessariamente impotente, podendo utilizar o voto como factor de decisão nas suas opções de liderança, com as suas poupanças nos actos de uma qualquer aplicação financeira, com o seu trabalho voluntário no serviço e apoio a organizações da sociedade civil, as quais começam a despertar para uma realidade incontestável. É incontornável e impressionante o número de pessoas que pretendem constituir-se como agentes cívicos socialmente úteis, em contra ponto com aqueles que preferem passar a vida ostentando um sucesso individual fora de contexto, descaracterizado e vazio.
Esta análise e este mal estar que por vezes sentimos, não poderá de forma alguma ser necessariamente imputada à esquerda ou à direita, não será necessariamente apanágio do rico ou do pobre, fazer-se sentir em países desenvolvidos ou não. Este mal estar deve ser considerado mais como um mal estar resultante dos males da nossa civilização, ou cultura no sentido mais amplo deste termo.
A imaginação humana sem limites conhecidos, a sua inteligência ao serviço da inovação, através das tecnologias entretanto desenvolvidas e disponibilizadas, os imensos avanços científicos na descoberta das nossas origens, são e tornam-se insignificantes, quando comparados com as suas necessidades humanas triviais.
Sendo uma tarefa simples mas imensamente complexa, o maior desafio com que nos confrontamos actualmente, prende-se com a nossa capacidade de conseguirmos, ou não, adaptar as tecnologias e o potencial económico, ao serviço das necessidades humanas.
Torna-se necessário reencontrar algum equilíbrio, porque os sistemas, ao longo dos tempos, conseguiram gerar uma realidade desconforme, através de segmentações doentias de classes.
Perante a globalização e o universo por si gerado, dominado pela vertente mercantil vocacionada exclusivamente para o lucro, torna-se e exige-se, dos nossos dirigentes, alguma contenção na teoria exclusiva da vertente económica, de forma a ser encontrado um eixo condutor de primazia nas políticas sociais, impedindo a utilização, instrumentalização e manipulação obscena e injustificada de interesses absurdos, para voltar a colocá-la ao serviço da humanidade.
Os tempos do espectro levantado pela especulação e manipulação dos seus suportes políticos, torna-se numa rejeição cultural, transformando-se num imenso saco cheio de uma sociedade que pretende outra coisa, a qual começa já a arregaçar as mangas.
Enquanto não construirmos pela base uma sociedade que se articule entre todas as camadas sociais e assuma as rédeas do seu desenvolvimento, não poderemos esperar, nem fazer depender do surgimento ou da chegada ao poder de uma qualquer personagem redentora, para o cumprimento desta tarefa, exigindo de todos nós mais iniciativa e organização, consciência e inteligência social.


João Carlos Soares

sexta-feira, novembro 02, 2007

Violência Política ..... Social



Desde os fatídicos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 e das guerras no Afeganistão e no Iraque, existe a sensação de que o mundo se encontra mergulhado num banho de violência política e dominado, de uma forma assustadora, pelo terrorismo.
As imagens e os testemunhos alucinantes e perturbadores, alimentados por uma fome de protagonismo e liderança mediática, lançando o pavor entre as populações, relatando medonhos e reprováveis atentados e explosões homicidas, espalhando o horror e a insegurança, dando tudo isto a impressão de que o mundo estaria a ser varrido pelo furacão de uma espécie de novo conflito mundial, tendo como protagonistas o terrorismo internacional, de uma forma mais atroz que os anteriores.
Esta impressão não pode de forma alguma ser considerada falsa. Em contra ponto contrariando as aparências, a violência política nunca foi tão débil. As revoltas e insurreições de ordem política, as guerras e os conflitos raramente foram em tão pouco número. Por mais espantoso que isto possa parecer, e a despeito dos media, o mundo social está calmo, tranquilo, podendo até afirmar-se que se encontra em grande medida pacificado.
Para se perceber e reconhecer esta realidade, temos que retroceder vinte ou trinta anos, quando quase todos os grupos de protesto radicais adeptos da luta armada desapareceram, ou se foram extinguindo.
Salvo algumas excepções, onde uma nova forma de confronto social vem ganhando adeptos através da crença islâmica, ocupando agora a parte mais visível da cena mediática. Contudo as suas acções, por mais espectaculares que se apresentem, não conseguem disfarçar o essencial: a luta política perdeu força, e rarefez-se.
Quererá esta situação reflectir a ideia de que não existem neste momento outras formas de violência em acção?
É claro que existem, começando pela violência económica dos agentes poderosos do capital estimulados pela globalização liberal, que exercem sobre os povos dominados.
Esta pressão económica, visando o enriquecimento dos ricos, que se vão tornando cada vez mais ricos, aumentando as desigualdades com uma dimensão nunca antes vista.
Torna-se revoltante e inquietante os níveis atingidos pela pobreza, traduzidos em cerca de metade da humanidade, onde mais de um terço atingiram o limiar da miséria, cerca de 800 milhões sofrem de má nutrição, etc.etc.etc...
Por mais incrível que pareça, todos estes milhões de condenados continuam emudecidos, controlados e politicamente acomodados, tornando-se num paradoxo do nosso tempo, havendo mais pobres do que nunca e, em contrapartida, nunca ter havido ou fazerem-se sentir tão poucos revoltados.
Torna-se pouco provável que esta situação assim possa permanecer por muito mais tempo, afigurando-se a médio prazo, o regresso ao combate dos oprimidos contra os opressores, e em especial, a luta dos pobres contra os ricos, com alguma expressão actualmente, através do aumento da delinquência, da criminalidade, da insegurança, e que, um pouco por toda a parte, venham a adquirir características de uma autêntica guerra social.
Há uns anos atrás, um qualquer cidadão na posse de uma arma, aderia a uma organização de luta armada para mudar o destino da humanidade, defendendo os ideais em que acreditava. Hoje em dia, na posse de uma arma, pensa primeiro na sua própria pessoa e, por se sentir vítima da ruptura da estrutura social dominada pelos agentes económicos, irá romper com os seus compromissos de cidadania, atacando bancos, assaltando ourivesarias e gasolineiras.
Perante esta vaga ascensional de conflitos, originando como tal uma cada vez maior onda de insegurança, faz com que em muitos países a despesa orçamental utilizada nesta guerra social, ultrapasse as verbas destinadas à sua própria defesa nacional, no sentido de proteger os ricos do desespero dos pobres, reprimindo e recalcando os mais desfavorecidos com políticas de contenção nas áreas da saúde, educação e direito ao trabalho.
Não nos podemos permitir e encarar os factos como dados adquiridos. Perante o agravamento das desigualdades, os cidadãos acabam sempre por se revoltar. O actual aumento da criminalidade e delinquência, que muitas vezes não passam de formas primitivas e arcaicas de agitação social, começam por se constituir como um sinal preocupante e indiscutível do desespero dos mais pobres perante a injustiça do mundo. Ainda não se poderá designar este tipo de acção como actos de violência política, mas temos a consciência e o pressentimento que não passa de mais um adiar, que não sabemos até quando e de que forma o vamos conseguir deter.

João Carlos Soares

sábado, outubro 27, 2007

Os anti-corpos na Democracia



Ninguém deve, nem pode, em democracia, duvidar da real eficácia exercida pela oposição organizada contra a concentração do poder na governança, devendo ter a percepção do seu exercício bem apurada, retirando os necessários dividendos como resultado da fraqueza na dispersão do poder e na diferença entre a ilusão e o efeito prático.
Torna-se necessário julgar o exercício do poder, independentemente de se ter ou não uma opinião totalmente imparcial e independente na sua análise.
O exercício do poder pode trazer sofrimento, indignidade e infelicidade à sociedade, mas a ausência desse exercício, não são garante nem impedimento para que esse sofrimento, indignidade e infelicidade não se façam igualmente sentir.
Acima de tudo, deve existir um sentido razoavelmente sólido sobre a natureza e estrutura do poder, as suas fontes e premissas, instrumentos com os quais é exercido, sobre as várias associações entre as fontes e os instrumentos do poder, sobre a sua mudança no decorrer dos tempos e sobre o seu efeito sobre a comunidade.
Tem que haver um entendimento e conhecimento profundo do exercício do poder nos tempos modernos, o qual apresenta índices de eficácia extremamente elevados, face à forma ostensivamente inocente como permitimos o seu exercício, porque entendemos e acreditamos estar a responder a uma convicção aparentemente normal e a uma virtude aparentemente natural e aceite pela comunidade.
Torna-se necessário reconhecer que também na oposição a consolidação do poder, a difusão e a competição entre muitas organizações opostas, constituem um elemento importante e fundamental, na defesa da verdade, como factor imprescindível e essencial para a consolidação de um estado democrático.
Fundamentalmente, cidadão atento que se preze, terá que ter em atenção de uma forma geral, um sentido crítico, prático e persistente de como e do que está por detrás das nossas referências diárias com o poder e do nosso constante envolvimento com ele.
Os que outrora eram obrigados a aceitar o exercício do poder através da coacção organizam-se agora automaticamente para lhe resistirem, numa prova irrefutável de resistência, reacção que era então vista noutros tempos como subversiva, e que agora numa atitude pela afirmação dos mais altos valores da sociedade, retiram, senão por completo toda ou qualquer imunidade aos que o exercem.
Escusado será dizer que o avanço das intervenções de cidadania, a aposta consciente nas ideias e conceitos inquestionáveis na decisão do interesse público, poderão vir a reduzir consideravelmente a ambição desmesurada, por vezes até criminosa, de apego ao poder, desacreditando as avalanches populistas de políticos enfeudados e coagidos por estruturas complexas e sinistras de contra poder, as quais dissimuladas e encapotadas em algumas estruturas partidárias, fazem capitular os ideais da sua génese.
As ideias que comandam a visão e o expansionismo liberal que começa a dominar o mundo, são o exemplo de como se não deve confundir a eficácia social com a eficácia económica e esta com a rentabilidade financeira do capital, funcionando como denominador comum, que em cadeia, traduzem o domínio do económico atrofiando o pensamento social, condicionando e aniquilando a sustentabilidade social das sociedades progressistas e contribuindo com esse factor para assegurar cada vez mais a implementação e consolidação das tendências capitalistas.
Por outro lado, com a premissividade a que nos vamos adaptando, fruto de uma atitude colectiva desmobilizada e descrente, sujeitamo-nos e aceitamos um sistema o qual designamos de democracia, que, ao fim e ao cabo, não passa de um sistema de funcionamento estatal e governamental, que se constitui por eternos eleitos, acumulando ou alternando funções municipais, regionais, legislativas ou ministeriais, simplesmente agarrados à população pelo essencial da representação dos interesses locais.
Esta situação traduz-se numa roda viva de ministros ou colaboradores de ministros recolocados em empresas públicas ou semi-públicas, homens de negócios ou socialmente bem instalados e apadrinhados, na procura de mandatos eleitorais que lhes venham a proporcionar através dos seus desempenhos públicos, benesses e privilégios, que de outra forma alguma vez teriam hipóteses de vir a concretizar, numa sociedade justa e equilibrada.


João Carlos Soares

domingo, outubro 14, 2007

Personalidade......Liderança.......Poder

Na eminência de se poderem vir a afirmar como líderes no futuro, a tendência actual dos políticos é exagerar o papel da sua personalidade, conjugado com a vaidade no exercício da sua actividade, transformando este binómio como factor fundamental e indispensável para a sua afirmação.
Prova disso, é a forma como acreditam dispor, de maneira excepcional, das qualidades de liderança resultantes da inteligência, encanto ou capacidade retórica confirmada, a qual os motiva a crer e fazer acreditar os outros também.
O que poderemos chamar de efeito bajulador, é outra das razões que contribuem efectivamente para o engrandecimento da personalidade como fonte de poder ambicionado.
Os instrumentos de poder disponibilizados e a que os lideres têm acesso, tal como as influências que passam a ter nos diversos meios e órgãos de decisão, conferidos pela sua condição perante o poder, são em certa medida uma atracção natural para todos aqueles que desejam partilhar e usufruir o poder dessas influências, vivendo à sua sombra.
Nesse contexto, constará para memória futura, que o poder concedido resulta, isso sim, do facto de integrar uma organização, à sua personalidade, às suas qualidades como líder, fazendo na insistência de tal constatação, o acreditar e fazer acreditar, de quem o rodeia, tal presunção.
Faz parte da natureza, naquilo que se convenciona chamar de contexto social, dramatizar também o papel da personalidade. Uma grande parte das relações sociais está relacionada com quem exerce o poder, por outras palavras, com quem está a impor os seus objectivos aos outros. Grande parte do esforço social despendido nas comunidades, consiste em procurar ligações com os que são considerados como poderosos. Este tipo de atitude, é muito apreciado pelos que a recebem e, por isso, políticos, funcionários públicos, jornalistas e outros cultivam e alimentam uma atitude pública que sugere poder ou dá a entendê-lo como omnipresente. Na forma como agem, vestem e no seu próprio comportamento social em geral, mostram um aspecto bem elaborado e estudado de liderança e comando.
As conversas e os temas desenvolvidos, centram-se frequentemente, e muitas vezes de maneira ostensiva, na forma como a vontade do orador se está a impor aos outros, o que, diga-se, resulta frequentemente de forma bastante convincente.
Os rituais utilizados na política, reuniões, plenários, assistências e aplausos, também conduzem a um equívoco sobre a personalidade como fonte de poder, isto porque os oradores falam regularmente para públicos já totalmente condicionados às suas convicções, adaptando por isso o seu pensamento automaticamente, àquilo que sabe ser essa convicção.
A descrição de um líder, tal como vulgarmente a sociedade o concebe, sofre de uma certa ambiguidade e como tal assim deve ser encarada. O líder pode ser brilhante a obter a submissão dos outros ao seu objectivo, mas na referência que lhe é feita no dia-a-dia não passa de um perito em se identificar com a vontade condicionada da comunidade em que se insere e na sua capacidade de identificar para essa mesma comunidade os seus próprios projectos.
O poder de um líder pode-se avaliar pela forma como consegue convencer os seus seguidores a aceitar as suas soluções para os problemas deles e, consequentemente, o seu caminho na concretização dos seus objectivos.
Quando esses objectivos são conseguidos, quando a sua personalidade entra em associação de proximidade com o seu eleitorado, poder-se-á desenvolver uma estrutura, que dotada de organização, se transformará numa verdadeira e eficiente máquina política.

João Carlos Soares

sábado, setembro 22, 2007

Consciência Pública.



Com o decorrer dos anos, tem-se vindo a convencer as pessoas da existência de factores que estão por detrás das habituais referências na corrida ao poder, quer sejam no campo económico, político, militar e religioso, os quais incluem igualmente o poder atribuído aos mídia e à opinião pública.
Estas referências do quotidiano, em virtude de não deixarem indícios das constantes subjacentes, escondem geralmente tanto ou pouco mais do que revelam ou podem deixar transparecer.
Devemos a todo o custo identificar e tornar visíveis as fontes de poder dissimuladas, quer na personalidade dos seus agentes, quer na organização do modelo de sociedade imposta, tal como tentar a todo o custo expor os instrumentos com que o poder instalado se exerce, coage e é coagido.
Antes de mais, é preciso tentar entender-se o que faz correr as pessoas atrás do poder, quais as intenções que as levam a procurá-lo, bem como da forma e estado de espírito como o assunto deverá ser abordado.
Tal como com o que diz respeito ao poder em geral, a finalidade pela qual é procurado, são de certa forma amplamente entendidas mas muitas das vezes, senão sempre, muito rara e explicitamente expressas. Indivíduos e grupos abeiram-se e cativam o poder para desenvolverem os seus próprios interesses, incluindo, nomeada e exclusivamente, os seus próprios interesses pecuniários, valores pessoais e sociais, descurando a defesa e valorização do bem público.
O político procura o apoio dos seus eleitores formulando e reformulando promessas encima de promessas, muitas vezes como forma de submissão dos seus eleitores às suas necessidades, por vezes sem qualquer tipo de intenção no seu cumprimento, mas simplesmente como forma de se manterem no poder.
Se estiver estreitamente confinado aos interesses de um indivíduo, diz-se que o poder é procurado com fins egoístas; no entanto se o reflexo e percepção desse interesse for extensivo a um número muito mais vasto de pessoas, os envolvidos são considerados como alguém politicamente inspirada, lideres, mesmo que se fiquem por uma mascarada forma de defesa dos interesses colectivos.
Todos sabemos e reconhecemos, infelizmente, que as intenções que levam por vezes à procura do poder são muitas vezes falsas, intencional e habilidosamente escondidas pelos seus actores.
A falência de estratégias e objectivos sociais nas políticas partidárias, têm conduzido os partidos na procura de apoios influentes nas áreas económicas, os quais mais tarde apresentam à sociedade como benfeitores públicos, apontando-os hipocritamente como agentes diligentes na sociedade e amigos dos pobres.
Em todas as sociedades o exercício do poder continua a ser considerado profundamente apreciado e apetecível, pois os rituais que o mesmo proporciona aos seus agentes, faustos e pretensiosos jantares e banquetes, lugar privilegiado nos desfiles, multidões de admiradores e discursos aplaudidos, são como que uma celebração principesca de posse do poder.
Tanto no contexto como no exercício do poder, resulta numa vaidade como sensação de valor auto accionado, aspecto debilitante da existência humana que a fragiliza e faz correr actualmente tanto perigo, não só pelos serviços que presta aos interesses pessoais, valores ou percepções sociais, mas também para benefício próprio, pelas recompensas materiais e emocionais inerentes à sua posse e exercício.
Porém, enquanto que a procura do poder pelo poder não é admissível, a realidade, como sempre, deverá fazer parte da consciência pública.

João Carlos Soares

terça-feira, setembro 04, 2007

Participar........, pensando Global


Para uma participação política mais evidente, torna-se necessário, ou existe como que uma urgência, um jogo de sobrevivência e vida, de esperanças e de grandes desgostos.
Resulta daí uma tendência naqueles que desejam restituir algum sentido e algum vigor a uma política da qual muitas pessoas fogem, para utilizarem abordagens esquivas, elaboradas e mais localizadas. Contudo, é grande o risco de que, face à monotonia da vida democrática, apareçam cada vez mais atitudes anti-políticas, populistas, nacionalistas, racistas e autoritárias.
Falar-se em termos gerais de défice político da sociedade, é um erro; devemos, isso sim, reflectir sobre a mutação contemporânea a que o agente político se encontra sujeito, o qual se nos apresenta e surge numa primeira instância com o aspecto de uma crise, a começar pela crise da sua própria identidade e representatividade.
Não falando dos bloqueios e das disfunções que começam a afectar alguns sistemas políticos, uns mais do que outros, resultado do processo de globalização em curso, ou devido à sua estrutura ou por razões mais conjunturais, submete-se esse mesmo sistema político sacudindo-o e obrigado-o a transformar-se e adaptar-se por evoluções que provêm e resultam, umas das alterações no interior da nossa sociedade, outras provenientes e externas a essa mesma sociedade.
Do ponto de vista interno, o sistema deve aprender por si, ou reaprender a enfrentar as questões sociais, os dramas provocados pela crescente pobreza dos povos, da exclusão, dos filhos sem pais, da falta de segurança, das injustiças e das desigualdades crescentes.
Tudo isto exige que sejam tomadas medidas voluntariosas, por forma a garantir, num futuro próximo, o tratamento dos imensos desafios culturais que dizem respeito à vida e à morte, aborto/eutanásia, à procriação, à família, às relações entre sexos e responder de forma construtiva e formativa, ao surgimento de entidades colectivas étnicas, com as suas memórias colectivas, as suas expectativas de reconhecimento, direitos e obrigações.
Do ponto de vista externo, é necessário encarar e saber resistir com estoicismo e bravura às pressões que são exercidas cada vez com mais intensidade a partir do exterior, o que obriga os sistemas políticos a adaptarem-se às lógicas brutais do capitalismo financeiro e do comércio sem fronteiras, ou ao fluxo migratório, que provoca, sem qualquer dúvida nos países de acolhimento desses fluxos, tendências para a etnicização da vida colectiva da sociedade receptora, aumento das tensões sociais, a exacerbação do racismo, da xenofobia e, muitas vezes, o aumento da violência, o extremismo e consequentemente o aproveitamento político-partidário transformado em atitudes de puro e mediático populismo.
Os actores políticos, neste quadro de globalização, devem aprender e pensar igualmente de uma forma global, inventando e criando raciocínios que os conduzam a propostas que lhes permitam, de certa maneira, ultrapassando as fronteiras a que geograficamente e culturalmente continuam sujeitos, projectando-se e divulgando o seu país no mundo inteiro, sem deixarem nem delegarem essa responsabilidade apenas aos supostos especialistas das relações internacionais.
Mas se se torna possível falar de mutação, e não apenas de crise, porque razão existe um forte sentimento de défice político nos seus actores?
A resposta a esta interrogação, bem como a clarificação desses mesmos actores, só com grande dificuldade a conseguimos discernir, face à componente esquerda direita, que resiste como factor diferenciado no status-quo de uma sociedade predominantemente redutora como a nossa.
O défice político, só deixa de ser um problema das sociedades que, nunca tenham conhecido uma organização onde a ideologia e os princípios se regem por projectos, princípios de igualdade e de articulação das exigências sociais com o Estado, e esse de certeza que não será um problema para a direita mas sim para esquerda, que tem que fazer um esforço constante para evoluir, mantendo-se fiel na defesa e resolução dos desafios da nossa época, abdicando até, se assim for necessário do estado-providência, hipotecando perante os seus apaniguados os princípios e os conceitos que têm suportado ao longo dos tempos a sua postura perante os mais carenciados.
A revitalização ou a recriação em larga escala da social-democracia, esgotada e condenada em certos momentos da nossa história, torna-se imprescindível e necessária, a fim de que possam ser propostas novas formas realistas de solidariedade, renovando-se as instituições e abrindo-se novas expectativas, sociais e culturais, diferentes ou pelo menos oxigenadas, daquelas que polulam na contemporaniedade dos nossos tempos, num mundo de trabalho industrial protegido e da função pública, ou similar, mundo sobre o qual ela ainda hoje se apoia com demasiada e excessiva força.


João Carlos Soares

quinta-feira, agosto 09, 2007

Ser-se politicamente correcto, ou a razão prática das coisas


Olhar e não querer ver, para além de ser uma atitude pouco recomendável, principalmente por parte de pessoas que não tendo responsabilidades directas na gestão de um município, aspiram a essa honrosa distinção, mas que e com as suas posições politicamente correctas, se esquecem da realidade dos factos e escondem a verdade dos acontecimentos.
Torna-se irresponsável esse protagonismo, ainda mais quando, sem olhar a meios, colocam em causa e contestam sem qualquer tipo de fundamentação credível, decisões levadas a cabo após demoradas, preocupadas e descomprometidas medidas, no sentido de se encontrarem soluções que repusessem os interesses dos cidadãos e do concelho acima de qualquer outro interesse, evitando a todo o custo alimentar e sustentar posições oportunistas, fazendo da política um domínio de opções contraditórias, remetendo não somente para opiniões e contributos, mas também para realidades e mundos opostos.
Exactamente pelo que referi, se torna cada vez mais latente aos olhos do cidadão comum, o desequilibro conflictual que cada vez mais se faz sentir na sociedade que temos construído, onde não existe senão uma única realidade que não nos permite outra escolha ou opinião, dependendo do lado em que nos encontramos, ou do partido ou tendência política que representamos.
Na verdade, as opções e consequentemente as decisões assumidas, são sempre criticáveis, contudo as mesmas são susceptíveis de avaliação e critérios a que tenham sido sujeitas, sendo as respostas adaptadas à realidade incontornável de uma gestão corrente, dependente fundamentalmente da realidade do mundo em que vivemos.
Na base da limitação e condicionalismos de qualquer decisão, é quase impossível, em contrapartida, calcular e discernir o equilíbrio certo entre o possível e o impossível, não devendo por isso usar-se como argumento de arremesso político numa tarefa simples de adaptação à dura realidade da vida.
A autoridade da decisão, encontra-se ainda que legitimada, por um lado, pela virtude da escolha dos cidadãos, por outro pela sua capacidade de optar pelas melhores soluções, perante os problemas colocados por esses mesmos cidadãos.
O reconhecimento dessas soluções derivam do conhecimento do estado objectivo das coisas, que é e deve ser assunto do saber especializado e não de escolhas ou decisões populistas.
A progressão de atitudes alicerçadas em movimentos populistas, aumentam os índices de instabilidade cívica que persistem em mobilizar-se, dando provas de uma crescente prova de mediocridade política, quando não da sua corrupção, em contra ponto à paixão democrática que tanto incomoda o capricho daqueles que pretendem transformar a função dos eleitos, simplesmente pelo desejo de que a política nada mais signifique do que uma simples escolha entre eleitos substituíveis..
O populismo, designação cómoda sob a qual se dissimula a contradição exacerbada entre legitimidade popular e legitimidade sábia, dificultam cada vez mais uma governação com realismo, que não se acomoda nem verga a supostas manifestações de democracia.

João Carlos Soares

sábado, julho 28, 2007

Pensar ..... Sentir ...... Acreditar.


O Populismo e a tendência para o autoritarismo, para além de se considerar como um défice político numa democracia participativa, estão directamente ligados ao comportamento da sociedade perante a incapacidade de gerir e apresentar soluções para os problemas sociais, resultantes do desequilíbrio, falta de confiança e da fragilidade da estrutura no próprio sistema.
A tendência para a procura incessante de culpados e factos que conduzem qualquer sistema para o autoritarismo, desvia e conduz o pensamento dos cidadãos, para análises e atitudes que em nada contribuem para as correcções necessárias e indispensáveis, no modo e na forma como a população na defesa dos interesses e direitos consignados pela constituição, possam de forma coerente e consistente, exigir aos seus representantes a concretização de decisões e opções políticas sociais, no interesse e defesa dos mais desprotegidos.
A descapitalização participativa dos cidadãos nas grandes decisões de estratégia, eleições, referendos, etc..., favorecem e abrem caminho a dinâmicas fundamentalistas, umas de esquerda outras de direita, as quais conduzem inevitávelmente qualquer sociedade para momentos de crise política, o que não significa necessáriamente crise sócio-económica. O certo, é que uma conduz à outra, até como forma de justificar muitas vezes, aquilo que a própria razão não consegue explicar, servindo como um excelente alibi, para qualquer governo justificar intervenções que inevitavelmente conduzem ao aumento de impostos, cortes a nível da sustentabilidade social, como sejam o exemplo da saúde, educação, etc..etc..., para não falar no condicionamento ao acesso ao emprego e estrangulamento à pluralidade e liberdade de expressão.
Todos estes factores, bem como os discursos de ocasião, pouco credíveis dos nossos representantes, reflectem o défice social e político sentido pela população relativamente aos problemas da globalização e à dinâmica económica que a sustenta, desprezando as lógicas sociais dissociando-as dos processos políticos, e não considerando os critérios que induzem essas decisões, desprezando o nível de vida, a pobreza, a esperança de vida de cada um.
O fio que une toda uma débil estrutura social, fica por vezes deveras esticado para a tensão a que se encontra sujeito, e o inevitável acontece, rompe. Esse facto, mesmo considerado por alguns como inevitável numa sociedade competitiva, produz de imediato efeitos, a que alguns acharão necessários, mas que de certa maneira contribuem para um cada vez maior desequilibrio, desconforto, falta de confiança e insegurança.
Contudo, não poderá nem deverá servir como razão para todo o tipo de procedimentos numa sociedade onde se pretende, acima de tudo, preservar e consolidar os valores da solidariedade, evitando o declínio a dispersão e a capacidade de decisão a ela associada. Porém a crise nas instituições torna-se evidente quando a sua capacidade de decisão é posta em causa, pelo que se torna necessário e imprescindível que com a frontalidade, a verdade, a transparência, e a seriedade dos elementos intervenientes, se faça de uma forma positiva, construtiva e participativa, sem cinismo, demagogia nem qualquer outro tipo de hipocrisia.
Sei que se torna por vezes difícil aceitar regras, acatar decisões, quando essas decisões resultam, na grande maioria das vezes, na concretização de procedimentos e acções, as quais condicionadas por interpostos interesses, nem sempre vão de encontro ao interesse daqueles a quem essas decisões se destinam.
Exige-se por isso, bom senso e intelgência aos actores, condição fundamental para qualquer decisão que implique transformações na comunidade e possa conduzir a situações desconfortáveis, evitando-se atitudes irreflectidas, egocêntricas e precipitadas, criando-se e capitalizando-se cenários virtuais, onde predominam como factores o desconhecimento e ignorância das permissas e dos factos, os quais irão contribuir para a conflituosidade, falta de confiança e o descrédito naquilo em que acreditamos.
Uma visão de democracia representativa, assente e fundamentada apenas em factores ideológicos, seria , por isso mesmo, irremediavelmente uma forma catastrofista e impotente para nos levar a aceitar a sua autoridade.
Por vezes, em nome do saber e da suposta exclusiva competência, apresentam-se como pretensos representantes do povo, encarregando-se de estimular com o seu discurso e as controvérsias do seu conteúdo, a radicalização das suas posições.
João Carlos Soares

segunda-feira, julho 09, 2007

Opinião Pública - Contornos democráticos


Como refiro e realço no post anterior, não se pode imputar às dificuldades estruturais ou conjunturais dos sistemas políticos, a única e exclusiva razão para a actual crise de representação política instalada na nossa sociedade.
Essa crise resulta também da vida social, institucional e cultural, bem como de lógicas externas, algumas transnacionais ou até supranacionais. Significa isto na prática, a dependência dos povos que se sujeitam e são confrontados constantemente pelos condicionalismos dos acordos resultantes da globalização.
A crise da representação é, antes de tudo, fruto de uma crise da própria sociedade, ligada e identificada por processos de desestruturação dos laços sociais, os quais resultam na exclusão e precariedade cada vez maior de extractos inteiros da população mais desfavorecida e carenciada.
Quando se fala no défice do actor político, antes de mais, fala-se e referimo-nos ao défice social, o prolongamento ou o eco da falta dos direitos sociais e das injustiças que recaem com maior incidência sobre as camadas populares.
O fim dos regimes autoritários e a passagem para sistemas abertos e democráticos, não impedem a violência, o tráfico de influências ou o surgimento de grupos organizados, que vêm substituir-se às relações sociais.
O crescimento das taxas de criminalidade aumentam e os governos são incapazes de enfrentar as redes de crime organizado, resultando daí o delapidar do sistema democrático através da existência cada vez maior de carências do sistema político e da sua equidade, as quais se encontram associadas à decomposição da vida social, e também à ruptura que surge como resultado das frustrações sociais, por um lado, e da oferta política, por outro. Essa crise social é bem patente nas diferentes classes sociais descaracterizadas que vivem nos nossos centros urbanos.
Esta crise é quase sempre acompanhada pela miséria dos mais desprotegidos, pela ausência de vida pública transparente e pela perda das formas tradicionais de solidariedade.
Em democracia, a crise política é alimentada por uma eventual crise social, mesmo quando existem um elevado nível de direitos cívicos e de cidadania consignados na constituição. E é assim porque aquilo a que os cidadãos são particularmente sensíveis é à precariedade das condições de vida de alguns deles. Os direitos cívicos, por mais importantes que sejam, não acabam contudo com a pobreza e a miséria, o desemprego, a exclusão social, a marginalidade e o abandono.
Termos como “para que quero eu a democracia, se a miséria e a fome continuam...” fundamentam-se efectivamente na insegurança criada pelo desequilíbrio e precariedade sociais, bem como na falta de credibilidade e sustentabilidade do sistema político, representando por isso mesmo num risco considerável para a democracia, verificando-se ou dando a entender, que ela não resolve as suas principais dificuldades, criando um sentimento de repulsa para com o sistema democrático, constituindo-se até como um obstáculo à conquista de soluções práticas e justas.
Assim, algumas pessoas procuram satisfazer os seus sentimentos de insegurança na privatização da política e fecham-se em guetos destinados a ricos ou a classes médias superiores. Em simultâneo, este tipo de posições pode levar a opinião pública a tornar-se permeável à ideia de um governo autoritário como forma de garantir e assegurar o desenvolvimento económico à custa das liberdades entretanto conquistadas, e face à incapacidade da justiça e polícia, os que se sentem desprezados, abandonados ou maltratados podem vir a mostrar tendência para se encarregarem eles próprios daquilo que os poderes públicos já não conseguem fazer, a justiça popular.
Desta forma, a insegurança social, as dificuldades que acompanham a flexibilidade de trabalho, o emprego clandestino ou ilegal utilizando a mão de obra vinda dos países de leste, a economia sem regras, a queda dos salários reais e a pobreza constituem por isso mesmo, os maiores desafios que a política democrática terá que enfrentar no futuro.


João Carlos Soares

sábado, junho 16, 2007

Opinião Pública - Obrigado Dr. Mário Soares


Das lógicas à prática...........;

Existem enormes diferenças ou barreiras as quais podemos considerar como paradoxos referenciados, que separam uma simples democracia de eleitores de uma democracia de cidadãos, que mantêm e consideram o voto como elemento fundamental, inquestionável e aglutinador de vontades, defendendo e exigindo que esse direito continue a marcar e a fazer a diferença nos regimes democráticos.
Havendo por isso um progresso democrático considerável nas sociedades ocidentais, o respeito pelo direito universal do direito ao voto, a correcção por todos realçada e aceite na concretização dos processos eleitorais, transmite uma confiança nos processos e conceitos de direito e igualdade, proporcionando o acesso alargado ao emprego, e acima de tudo, respeitando e fazendo respeitar os mais elementares valores de cidadania.
Os partidos políticos passam por uma fase de crise, exactamente pela falha de representatividade no momento em que, não somente a democracia trilhando o seu caminho e avançando se consolida, mas ainda o jogo político se transforma tendo como referência a acção de movimentos cívicos, mostrando que existe, a um tempo, perda de confiança nos partidos ou até bloqueamentos institucionais, e a outro tempo uma maior abertura desse mesmo jogo político a toda a sociedade.
Este é, sem sombra de dúvida, o resultado de que de facto o nível dos direitos políticos cresce e alarga-se, ao mesmo tempo que os partidos políticos se mostram cada vez mais impotentes para resolver e apresentar orientações programáticas para solucionar a questões sociais, de emprego, qualidade de vida, desigualdades, etc, .
É necessário que os dirigentes políticos se aproximem das bases, auscultem as classes desfavorecidas, voltando a ouvir o povo, por forma a articularem nos seus programas e na sua actuação enquanto poder, medidas eficazes para um equilíbrio cada vez mais desejável e necessário, para uma estabilidade no sucesso económico, progresso social e democratização do estado .
A crise da representação política não tem, nem poderá ter, como única origem e desculpa, as dificuldades estruturais ou conjunturais do sistema político. Esta crise resulta igualmente da vida social, institucional e cultural do próprio estado.
Se não tiverem capacidade para se aproximar do povo, para se identificarem com as suas necessidades e dificuldades, transformar-se-ão inevitavelmente numa ilha com um sistema democrático instituído, mas rodeada por um oceano de autoritarismo, onde os direitos dos cidadãos e a imprensa se consideram livres, mas pouco mais!.

Como tive pena de não ter podido estar ontem em Setúbal, para aplaudir de pé aquele Senhor que ainda consegue transmitir e fazer escutar a vontade do povo, que um dia o recebeu em lágrimas de alegria.
Começava a duvidar das minhas opções e conceitos para uma sociedade justa e equilibrada.
Fiquei mais descansado, afinal não sou eu que me estou a afastar dos conceitos que nos devem orientar nos caminhos da igualdade e justiça social, ao encontro de uma população cada vez mais desencantada com a intervenção dos seus representantes.

Obrigado Dr. Mário Soares
João Carlos Soares

sábado, junho 09, 2007

Opinião Pública - Continuação






(.......Continuação)


Em concreto, o que acontece na sociedade na relação entre representantes e representados, afastando o poder político da sociedade que o sustenta, é a distância e até mesmo a oposição entre os eleitos e o povo que os considera como corrompidos, pautando-se os comportamentos por uma ausência e insensibilidade às suas expectativas, não podendo esse comportamento ser necessariamente ou simplesmente explicado pelas origens sociais ou culturais dos eleitores e eleitos.
È uma fácil mas incorrecta e descontextualizada explicação, atribuir ou afirmar que a corrupção é uma exclusividade ou monopólio apenas dos políticos educados, pertencentes a meios e ambientes mais ou menos abastados.
A corrupção encontra-se infelizmente disseminada na política, abrangendo políticos originários de todas as esferas sociais sem excepção.
Como não poderia deixar de ser, a opinião pública utiliza expressões particularmente violentas para criticar os políticos, sempre que se apliquem a líderes de nomeada.
Estas elites, quase sempre identificadas com movimentos e organizações de reconhecido peso na sociedade, afrontam a credibilidade das instituições que representam, e concorrem para alimentar a repulsa contra a classe política, aos olhos de quem os elege.
Começa, assim, a definir-se um primeiro aspecto desta reflexão. Se, como se percebe, existe défice do político é porque, antes de outro tipo de considerações que se possam fazer, a distância entre eleitos e população continua a crescer, levando-nos a acreditar que essa barreira conduz inevitavelmente a um mal estar para com os eleitos, e caso nada venha a ser feito para inverter esta situação, poderemos a breve trecho vir a ser confrontados com uma rotura precipitada que colocará em causa a própria democracia.
O populismo, o extremismo, a aceitação do nepotismo, a procura de um líder que possa colocar um travão nesta avalanche, de forma a mudar e alterar o rumo da situação, a intolerância, o confronto ideológico entre os cidadãos e o seu afastamento das elites políticas, não constituem e poderá até por esse facto começar a ser considerado como um facto normal e necessário, deixando de ser considerado como uma novidade inesperada e intolerável na actualidade.
Esta crise de representação não poderá, nem deverá, significar o declínio de todo o espaço político, construído e defendido por várias gerações.
Os debates sobre alguns desafios políticos são ricos e densos, fazendo com que a sua complexidade e incidência saiam por vezes minimizados e secundarizados, em detrimento de algumas propostas populistas, onde a emoção da decisão e da sua influência, mesmo eivados de inconvenientes naturais, ofuscam e são elemento depauperativo da verdadeira representação política.
O reconhecimento da existência de défice democrático no político, são a prova de que os próprios sistemas políticos se desadaptaram das realidades, não acompanharam a evolução do pensamento humano, envelhecendo de forma sistemática e sem regras.
Cada vez mais a velha militância partidária se esfuma numa militância de interesses, oportunista e pontual, reduzindo-se o seu manacial de quadros efectivos, o que leva a uma quebra cada vez maior na capacidade de constituição de grandes forças populares, ameaçando consequentemente por isso mesmo o funcionamento das instâncias democráticas.
As campanhas eleitorais qualquer dia não passarão mais do que de slogans publicitários produzidos e difundidos pelos media, onde a vertente internet, passará a ter provavelmente a curto prazo, um papel importante, senão indispensável, prejudicando e afastando ainda mais o contacto directo de militantes e cidadãos, representantes e representados, sobrepondo-se por essa ordem de ideias, a comunicação política ao conteúdo da mensagem, aumentando o custo das campanhas e abrindo as portas a um negócio em expansão.
O financiamento para os partidos está garantido pelos fundos públicos, contribuição involuntária dos cidadãos através dos impostos que pagam ao estado, muito pouco pela quotização dos seus militantes, e depreende-se que o resto será suportado por pessoas e grupos que contribuirão voluntariamente.
Destes factos resulta uma tendência, especialmente naqueles que apostam em restituir algum sentido e algum vigor a uma política da qual muitas pessoas fogem, para utilizar abordagens mais localizadas.
No entanto, começa a ser de grande risco de que, senão dramático face à monotonia da vivência democrática, comecem a aparecer atitudes anti-políticas/populistas, nacionalistas, racistas e autoritárias.

Lutar contra a corrupção, é uma prova de liderança, acima de suspeitas, de críticas e de acusações.


João Carlos Soares

quinta-feira, junho 07, 2007

Opinião Pública - Verdade e Consequência



Será possível alguma vez, ou nos próximos tempos, reconciliar as pessoas com os seus actores políticos?



A sociedade, tem sofrido nos últimos tempos, uma acelerada transformação, muita das vezes menos bem conseguida, ao ponto de levar os cidadãos a distanciarem-se da política, intervindo cada vez menos na vida pública e consequentemente nas grandes decisões locais e para o país.
O desencanto provocado na população, resultante de um desempenho pouco inteligente e incompetente dos seus representantes, fazem com que algumas decisões transformem a confiança dessa mesma população, em dúvidas e incapazes de se fazerem entender e compreender pelo povo que os elege.
Neste contexto, apresenta-se no futuro como grande desafio para os políticos, aproximarem-se dos cidadãos que lhes dão razão de existir, adaptando-se em simultâneo, às novas obrigações e ensejos colocados pela globalização.
O problema surge numa primeira instância, na degradação de relações entre os representantes eleitos e os seus eleitores, prova disso é a abstracção dos primeiros perante os segundos, ou a falta de interesse, com o que pensam deles os que os elegem.
Neste caso, este afastamento cria uma crise de identidade, de quem representa, e de quem é representado.
A classe política, granjeou um estatuto social nesta sociedade, esquecendo-se que esse status lhes é devido por aqueles que os elegeram e em quem debitaram as suas esperanças, mesmo que esse afastamento não se possa considerar premeditado, provoca de imediato uma diminuição de consideração e estima, acalentando de imediato revolta e desconfiança, pois sentem-se traídos.
A hostilidade e o desprezo com que a população reage em relação aos actores políticos, variando esta atitude com os meios sociais e culturais em que se inserem, traduzem-se infelizmente na abstenção e votos nulos nos diversos processos eleitorais, aos quais são chamados a pronunciar-se.
A atitude crítica dos portugueses tem vindo nos últimos anos a crescer consideravelmente, tendo em conta e não esquecendo que essa mesma atitude é resultante de um nível de educação que vem crescendo em simultâneo, tornando-os muito mais exigentes, sem alterarem no entanto a sua participação na vida política.
Face à volumetria de casos que nos últimos tempos têm preenchido infelizmente os noticiários nos media, começa a espalhar-se a ideia, criando a convicção nos menos informados, de que os políticos, sem excepção, actuam simplesmente em função dos seus próprios interesses, descurando tudo o que à sua volta acontece, tomando única e exclusivamente atenção aos problemas que os afectem.
Por outro lado, há quem manifeste a sua revolta, na forma como os políticos, utilizando uma linguagem de certa maneira opaca, obtusa e rendilhada, falando muito e dizendo pouco, transformam a sua forma de comunicar, que deveria ser simples e concisa, numa plataforma de adjectivos complicados e incompreensíveis.
Na maior parte do tempo, o empenhamento da classe política, traduz-se e resulta de conflitos internos no seio dos partidos e da classe a que pertencem, ou então no desejo de enriquecerem, de obter benesses pessoais, relegando para segundo plano os objectivos de interesse geral, a qual deveria ser a sua única prioridade.
Essa começa a ser a razão pela qual se torna cada vez mais difícil, senão inconciliável, os partidos conseguirem mobilizar pessoas que tenham projectos e ideias válidas.

Deixaram de compreender as necessidades do povo, que é no fim de contas o valor acrescentado da sua visibilidade e existência, e deitam por terra as esperanças que em si são depositadas para a resolução dos problemas da qual a sociedade se encontra enferma.



Esperemos que quando acordarem, não seja tarde demais.





João Carlos Soares

sábado, junho 02, 2007

A " contenção salarial " - Que se apregôa



Como entendo não entender certas coisas, aqui vos deixo, para aqueles a quem este artigo tenha passado despercebido.


Ao mesmo tempo que, segundo números da Comissão Europeia, o poder de compra dos trabalhadores portugueses registou, em 2006, a maior descida dos últimos 22 anos, a CMVM anunciou que, entre 2000 e 2005, os vencimentos dos administradores das empresas cotadas em bolsa duplicaram (e nas empresas do PSI 20 mais que triplicaram!).

Isto é, enquanto pagam aos seus trabalhadores dos mais baixos salários da Europa a 25 (e todos os dias reclamam, sob a batuta do governador do Banco de Portugal, por "contenção salarial" e "flexibilidade"), esses administradores duplicam, ou mais que triplicam, os próprios vencimentos, vampirizando os accionistas e metendo ao bolso qualquer coisa como 23,9% (!) dos lucros das empresas.

Recorde-se que o Estado é accionista maioritário ou de referência em muitas dessas empresas, como a GALP, a EDP, a AdP, a REN ou a PT, cujas administrações albergam "boys" e "girls" vindos directamente da política partidária (cada um atribuindo-se a si mesmo, em média, 3,5 milhões de euros por ano!).

Se isto não é um ultraje, talvez os governos que elegemos (e o actual é, presumivelmente, socialista) nos possam explicar o que é um ultraje.

O mais certo, porém, é que se calem e continuem a pedir "sacrifícios" aos portugueses.

A que portugueses?


(Manuel Pina , Jornal de Notícias, 10 Maio 2007.)

sábado, maio 26, 2007

Basta de Hipocrisia - O Barreiro merece melhor



Reconhecer nas memórias a credibilidade e confiança no futuro, para dar e garantir a dignidade que o Barreiro e os barreirenses merecem.






Passamos a citar:

“...O ministério de António Mexia continua sem esclarecer o que se passa com os catamarãs, nem quais as medidas preventivas em novos dias de Tejo revolto.


Entretanto, sem justificação ou estudos, anunciou uma solução absurda e uma opção errada que penalizam gravemente o Barreiro. Em vez de retomar os trabalhos sobre a terceira travessia do Tejo ferro-rodoviária no corredor Barreiro-Chelas, anunciou a passagem do TGV pela ponte 25 de Abril e um túnel rodoviário entre Algés e a Trafaria.


O túnel Algés.Trafaria, velho sonho de Isaltino Morais, é um erro de estratégia de transportes e de ordenamento do território, criando uma rua para trazer os lisboetas à praia, densificando a zona já mais sobrecarregada da Península de Setúbal, sem libertar tráfego no eixo central e promovendo ainda mais a utilização de transporte individual. Esperemos que Mexia não mexa neste assunto durante muito mais tempo para que os erros não sejam tão irreversíveis como os de Ferreira do Amaral ”

(declarações de Eduardo Cabrita em 02 de Novembro de 2004)


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"O Distrito de Setúbal é um distrito com particular relevância no cômputo nacional, mas assume particular importância na Área Metropolitana de Lisboa é, aliás, um pólo de centralidade no desenvolvimento integrado e sustentável desta área geográfica.

Pelas suas características económicas e sociais, pelo desenvolvimento que assumiu nos últimos anos, não pode agora ser esquecido, como o foi durante anos de reinado cavaquista. O PSD, igual a si próprio, tem agora uma atitude irresponsável face a esta região do país (esta ideia foi assumida, também, pelo próprio líder distrital do PSD de Setúbal), fazendo crer que a sul do Tejo nada importa!

Concentremo-nos apenas num exemplo do que tem sido a política do PSD nestes dez meses de Governação, um exemplo de enorme importância para o distrito de Setúbal: a terceira travessia do Tejo Barreiro-Chelas. Perguntar-me-ão, os leitores, qual a importância deste projecto quando o desemprego sobe mais que a média nacional no Distrito de Setúbal, nos últimos dez meses. Mas a verdade é que a não realização deste projecto é o reflexo do abandono a que a nossa região ficou vetada com este Governo.

O Partido Socialista assumiu, sempre, a necessidade de construir uma terceira travessia do Tejo, que ligasse Barreiro e Chelas. Fundamental, tanto no plano do escoamento de tráfego da Ponte 25 de Abril, como no plano económico, porquanto a ligação à margem norte do Tejo, por esta via, potenciará não só o desenvolvimento dos concelhos do Barreiro e da Moita, mas atrairá para o Distrito de Setúbal um maior investimento. Isto é, criará as condições adequadas a uma maior fixação do sector económico nesta região e, por consequência, mais emprego e maior permanência das pessoas nas suas terras não tendo que se deslocar para trabalhar em Lisboa.

É, assim, com grande espanto, que assistimos ao Governo do PSD retirar do PIDDAC a verba inscrita para os estudos de viabilidade desta nova travessia do Tejo e extinguir o Grupo de Missão, criado pelo Partido Socialista, para proceder aos respectivos estudos, afirmando o Ministro Valente de Oliveira, que esta obra não é uma prioridade para o Governo do PSD.

Mas, pasme-se!!! Fomos surpreendidos pelas declarações do Professor Nunes da Silva, consultor e responsável, no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Península de Setúbal, para a área das acessibilidades, afirmando que não reconhece, hoje, a importância desta ligação Barreiro-Chelas! À boa maneira cavaquista de outros tempos, reconhece que esta travessia existirá, mas não sabe quando, afinal o Professor Nunes da Silva não era, há uns meses, um dos grandes impulsionadores desta grande obra? Não considerava que seria um investimento imprescindível para o Distrito de Setúbal, na lógica de ser um distrito com enormes potencialidades na Área Metropolitana de Lisboa? O que o fez mudar de opinião e juntar-se ao imobilismo do Governo do PSD?

A não construção desta terceira travessia do Tejo Barreiro-Chelas trará consequências nefastas para o Distrito de Setúbal, abandonando uma estratégia integrada de desenvolvimento para a Área Metropolitana de Lisboa e amputando a sua maior proximidade com a margem norte do Tejo e consequentes recuperações ribeirinhas, tão necessárias, nestas zonas.

A actividade política não pode ser um jogo ao sabor dos ventos, mas tem que ser exercida com responsabilidade, verdade e coerência. O Partido Socialista assume as suas responsabilidades e os compromissos que firmou com os eleitores, assim, continuaremos a lutar para que a Terceira Travessia do Tejo Barreiro-Chelas seja uma realidade e que se reconheça ao Distrito de Setúbal a importância devida no todo nacional.

A política do imobilismo do Governo do PSD merece o nosso total repúdio!"

(declarações de Ana Catarina Mendes em 24 de Fevereiro de 2003)

__________________________ & _________________________

Meus senhores, por favor entendam-se. As vossas declarações e decisões enquanto poder instituído, têm que ter alguma coerência. Não acham?
Mudam-se os tempos e infelizmente também se mudam as vontades.
Assim sendo, cada vez mais a atenção dos cidadãos e movimentos cívicos, em particular, deverá incidir e ter uma prioridade;

  • Exigir o cumprimento na concretização dos interesses das regiões e das populações, contrariando assim um crescente clientelismo bem como a forma leviana como nos partidos, após conquistado e instalados no poder, abdicando das promessas e ilusões usadas com sofisma, nas bem urdidas e dispendiosas campanhas eleitorais, mudam de opinião e critérios, na mais descarada e promiscua impunidade institucional.

  • A resposta deverá e terá que ser dada com veemência, mostrando aos actores representativos da vontade dos eleitores, que não os defraudem, e pelo contrário, abdicando das suas conveniências e comodidades partidárias, assumam e não reneguem aos seus compromissos, respeitando a memória das suas próprias convicções.

João Carlos Soares



domingo, maio 06, 2007

Viver ou não Viver da Política






Existem só duas maneiras de se estar na política para que uma verdadeira independência pública seja o garante no cumprimento de tão nobre função de cidadania.
Viver dela e para ela.
Deixando de lado os oportunistas e bajuladores bem como todos aqueles que para garantir o poder, até são capazes de vender a alma ao diabo, mesmo aqueles que vivem por ideais, os que defendem uma ideologia, transformando a defesa dessa ideologia política como a essência e razão do seu viver, mesmo esses estão constantemente expostos ao reino das necessidades, tornando-se necessário e indispensável fundir os interesses particulares aos interesses comuns e vice-versa.
Por mais disponíveis e solidários que sejam, ou pareçam ser, seria de todo absurdo exigir-lhes que vivam como eremitas ou franciscanos.
Tal como na origem de outro tipo de ordens sociais, as quais nascem de gestos de abnegação dos seus fundadores e, ao evoluírem, vêm-se perante a acumulação simultânea de capital económico e simbólico, vindo mais tarde ou mais cedo a negar o seu status original.
Cria-se um mito que o vincula ao passado, mantendo-se a retórica, perdendo-se os escrúpulos, por outras palavras, usando um discurso pretensamente fiel aos objectivos que deram origem e motivaram a sua constituição, encobrindo dessa forma, no fim de contas, uma prática conservadora.
Todo o militante político abnegado, aquele que serve e abraça a causa em que acredita, também vive dela. Viver dela e para a causa, é uma diferença muito imperceptível, já que uma se funde à outra.
Como poderemos ou deveremos duvidar da forma sincera ou não, dos que dedicam a sua vida por uma ideologia ?
Será correcto criticar ou condenar a sua nova condição social e económica ?
Será que ao conquistar um cargo, vindo a usufruir privilégios e recursos financeiros proibitivos à maioria dos seus colegas, não será por isso mesmo uma consequência natural da sua militância e ou competência ?
Não foram por acaso esses seus colegas e companheiros que o indigitaram e reconheceram para o desempenho desse cargo ?
Quanto maior a independência económica de um político, maior será a possibilidade de que este viva para a política; quanto menos independente, maior a tendência para se fazer da política um meio de vida, por outras palavras, para se viver dela.
Não é que se coloque em causa ou duvidemos da sinceridade dos idealistas e pragmáticos que vivem para a causa pública, apenas queremos realçar de que em concreto as suas necessidades impelem-nos e condicionam-nos a viverem da política. Esta passa a ser a forma de ascensão económica e social, possibilidade de emprego e ao mesmo tempo conciliar o exercício do poder.
É verdade que determinadas conjunturas sociais produzem uma geração disposta a viver de e para a política. O crescendo das lutas sociais, a demanda pelas liberdades democráticas e um certo idealismo romântico, empolgaram a velha e as novas gerações canalizando os seus sonhos e energias em torno das instituições partidárias, na esperança de uma oportunidade. No entanto, com o passar dos anos, a militância política torna-se, cada vez mais numa actividade restrita a uma clientela minoritária incrustada nos aparelhos institucionais dos partidos e do Estado.
É verdade que os partidos não se ressentiram com esta nova realidade, pelo contrário, os partidos profissionalizam-se aperfeiçoando o marketing e concentrando a sua acção mobilizadora ao aproximar dos processos eleitorais.
A velha militância que colava cartazes, pintava paredes, fazia as campanhas eleitorais e usufruía da vida e alma partidária nos períodos entre processos eleitorais, sente-se atraiçoada e esquecida em detrimento dos favores e clientelas de grupos e facções.
A conjuntura actual apresenta-se desfavorável para estes críticos, os quais apercebendo-se do expurgo a que os partidos e seus dirigentes os sujeitaram, dão origem a uma dissidência surda, levando-os ao encapsulamento político e partidário, optando por um caminho quantas vezes penoso e solitário.

Joao Carlos Soares

Da Preplexidade às Ilusões Perdidas (...cont)


III Parte

Essa esperança, leva-nos por vezes, nos tempos que correm ao ódio, ao confronto de ideias traduzido fundamentalmente em manifestações de rua, incentivadas pela insegurança, descrédito e insustentabilidade social.
Falar de ódio em democracia, pode até parecer um paradoxo, mas ele acontece na maioria das vezes, alimentado por gente que não reconhece outra fonte de poder que não seja a vontade dos cidadãos livremente expressa nas urnas, que defende as instituições em que se materializa o estado de direito e, no entanto, se insurge quase de imediato, contra aquilo a que chama de igualitarismo e o surto sem freio de reivindicações, quer de bens de consumo, quer de direitos individuais ou de grupo, que a democracia alegadamente originou.
O seu alvo aparente não será tanto a estrutura do poder democrático, mas a sociedade que de forma sonolenta, mas contudo ousada, vai crescendo à sombra dessa mesma estrutura, uma sociedade partidária egocêntrica, onde os cidadãos desinteressados da política, parecem não querer senão aumentar indefinidamente os privilégios, levando o individualismo a extremos que ameaçam a própria existência de uma coisa pública, algo em nome do qual tenderá a tocar nos direitos de cada um, mais tarde ou mais cedo, caso nada em contrário venha a ser feito.
Mas, será realmente o individualismo e a conversão das multidões, a razão do ódio democrático ostentado frequentemente por certas elites em análises sociológicas, ou esse será mais um argumento para justificar uma metamorfose sócio-política, de que a própria democracia não se encontra a salvo.
À primeira vista, dir-se-á que a democracia pouco ou nada tem a ver, na sua acepção, com os estados e as sociedades a que, vulgarmente, e de acordo com os mais apurados critérios de análise política, são chamados de democráticos. Se atentarmos com a devida atenção nos tempos que correm, o poder encontra-se ameaçado, quando não liderado por diversos tipos de elites que se conseguem impor à elite política, distribuindo a sua influência por dois ou três partidos alinhados ao centro e remetendo para a periferia do sistema político, os grupos com propostas mais radicais.
A influência dos agentes económicos na organização política e social de um estado, acessório indispensável perante a complexidade dos assuntos sobre que incidem as decisões, encarrega-se de seleccionar e limitar as propostas aceitáveis.
Em nome do saber e da competência, os representantes do povo encarregam-se de desfazer, com o seu discurso e as suas controvérsias, qualquer ameaça que se perfile ao sistema, ou qualquer princípio do que se considera o verdadeiro político.
Uma tal pressão e exclusão acarreta enormes custos ao sistema democrático, pois cada vez que alguma coisa se decide, afastado dos centros nevrálgicos, ou amalgamado em folgados consensos em que os conflitos inerentes a qualquer multidão se entorpecem, o povo anónimo e sem título ameaça voltar costas àquilo que se julgaria ser de interesse comum, enfraquecendo, pela abstenção, a legitimidade dos governos eleitos e entregando-se, na qualidade de puro consumidor, ao seu interesse privado e egoísta.
Julgar-se-ia, porventura, que tudo se encaminharia para o melhor dos mundos, com a massa inteligente do planeta a governar e o amontoado de anónimos pacificamente entregues às delícias do consumismo, reduzidas que foram as divergências a um espectáculo que a economia encena e comercializa, utilizando-se para isso de um lobby a comunicação social, de que igualmente em devido tempo se apropriou.
Por sua vez, a política, expulsa pelos mecanismos de privatização do que é público, ameaça em permanência regressar pelas frestas deste, através dos elementos que não cabem na amálgama do consenso, nem à mesa da sociedade de consumo, sejam eles desempregados, imigrantes, grupos étnicos e religiosos, ou simplesmente insatisfeitos a quem o sistema não permite alcançarem as regalias e proveitos a que têm ou se julgam com direito. Todos estes grupos incarnam hoje o antigo desafio que desde sempre pôs em causa a ordem vigente e foi, por isso, considerado um excesso. É esse excesso, que as elites imputam à sociedade democrática e, recriminam, tanto mais quanto exprimem a sua impotência para levá-los a aceitar a autoridade do Estado.
De certa forma, poder-se-ia dizer que este tipo de visão das chamadas democracias representativas seria catastrófica e assente em fundamentos apenas ideológicos. A democracia, com efeito, assume-se de há muito unicamente como o menos mau de todos os regimes que se conhecem, o que mistura, desde logo, na sua defesa algum realismo. Contudo, aquilo que se pode depreender desse realismo, é a demonstração pura de que no interior de qualquer sociedade democrática, se desenvolvem constantemente confrontos entre os grupos de poder e os valores de igualdade representados e defendidos por essas mesmas sociedades.
A democracia não se confunde com o conjunto de instituições que estruturam as sociedades que se dizem democráticas, uma vez que estas consubstanciam sempre um risco de cristalização dos status e hierarquias, ou seja, de apropriação privada daquilo que é comum.
A democracia não se confunde tão-pouco com um tipo específico de sociedade, seja a sociedade pretensamente igualitária, onde a conflitualidade e o ódio são apenas recalcados, ou a sociedade de consumo, onde o indivíduo se transforma em mero cliente e abandona a sua condição de cidadão participativo.
A democracia confunde-se com a política e existe em cada um dos actos que alargam a dimensão do político, ou seja, dos actos que resistem à monopolização do poder de decisão sobre o que é comum.
Distante, portanto, de representar uma forma de estado ou um modelo de sociedade, ela define-se prioritariamente como uma dinâmica que vai contra todo o tipo de assalto ao poder por um indivíduo, um grupo, uma casta, uma classe, uma religião, uma minoria ou uma maioria, opondo a todas essas formas de possível usurpação um princípio regulador que é o poder de qualquer um, o poder de todo o mundo e ninguém em particular.

Joao Carlos Soares

domingo, abril 29, 2007

Da preplexidade às Ilusões Perdidas (...cont)


II Parte


Continuando a discernir sobre a relatividade de conceitos, poderemos talvez caír no pecado a que os chamados desiludidos caem frequentemente, tentando cobrar do Governo e da governação de José Sócrates, uma postura política que tem vindo a ser negada na própria trajectória do Partido Socialista principalmente nas campanhas eleitorais nos últimos anos.
Esta particularidade vem provocando alguma curiosidade entre os intelectuais, que se escusam de forma deliberada sacrificar a linha de governação do actual governo, sobre pena de ter que vir a arrepiar caminho nas suas estrapolações, tal a surpresa com que são confrontados, cada vez que o governo interfere, provocando quase sempre, reacções as mais contraditórias, mas sempre muito mal suportadas.
De estranhar estas posições e falta de esclarecimento dos “opinion maker´s”, os quais deveriam estar mais preparados, pelo menos teoricamente, para analisarem os fenómenos sociais e a não tomarem somente o efeito pela causa.
Correndo o risco de alguma redundância, é preciso reafirmar cada vez mais veementemente, que a desilusão criada em alguns, é própria de quem ainda vive de ilusões. Quem considerou o PS de José Sócrates pelo que de há muito deixou de ser; quem considerou ou interpretou do discurso de José Sócrates pelo que ele nunca disse nem quis dizer; quem julgou ou imaginou que perante um estado de desgraça governativa do PSD à frente dos destinos do País, passaria pela única alternativa baseada na esperança de mudança, ou o medo na continuidade, pela trajectória irresponsável do PSD; estes alimentando ilusões e, portanto, como não seria dificil de antever, desiludiram-se.
Se a ruptura provocada no seio dos desiludidos foi provocada ou motivada por aspectos conjunturais, então teremos que considerar que estão duplamente equivocados. Afinal, a política dá voltas e voltas, o que é hoje amanhã deixa de o ser, portanto o que é hoje criticado pode ser esquecido pelos bons resultados amanhã conquistados. Os timings são fundamentais na poltica e para os seus executores a objectivação na sua concretização é fundamental.
Para os que se desiludem, devem em primeiro tomar como conceito adquirido, que a política pauta-se principalmente pela ética da responsabilidade, em suma, pelos resultados alcançados.
A crítica interna ou saída do PS, ainda que justificável diante da crítica, nunca poderá nem deverá ser considerada de tardia. No entanto, como dizem as pessoas simples, mais vale tarde do que nunca. Por outras palavras, mais vale tomar a decisão de procurar outros rumos e viver a vida, do que persistir agarrado ao papel de carpideiras.
Para se perceber o que atràs é referido, basta observar que as pessoas simples que compôem a sociedade portuguesa, o Povo, mantêm a esperança e, ainda que definitivamente se vão decepcionando, continuam a ter uma capacidade imensurável em renová-la sempre que necessário.
Talvez isto se possa explicar pela própria condição e concepção de vida que o povo leva, pois não têm tempo para análises políticas e filosóficas. As suas necessidades imediatas traduzem-se e são mais fortes e permanentes dos que os governos e os profetas da desgraça de cada época e que tendem a gerar o desespero.
Para sobreviver a toda a esta carga explosiva e desgastante, resta-lhes a sua capacidade de agarrar o único antídoto que se lhes conhece, a enorme capacidade infindável de renovação de uma esperança a que nunca renunciam.



Joao Carlos Soares
(cont......)

sábado, março 10, 2007

Da preplexidade às Ilusões Perdidas


I Parte



Na época em que vivemos, políticos e intelectuais continuam a insistir na retórica pela retórica, quando a esperança se confronta diariamente com o medo, dando aso ao crescimento do cepticismo, a resignação ou até a preplexidade dos actores, que somos todos nós.
Talvez porque estejam demasiadamente obcecados com os mistérios da governação, postados numa primeira fila da plateia da vida, numa peça da qual são protagonistas, e que por isso mesmo sejam os primeiros a ficarem espantados com o péssimo espectáculo dessa mesma política.
Sócrates é observado pela direita, que contra os mais obstinados, vai conseguindo levar por diante algumas reformas, suportado pela garantia e segurança de uma governabilidade maioritária, mesmo que para isso tenha de entrar em conflito com espaços da sociedade, que numa primeira instância, até lhe serviu como almofada eleitoral, a média burguesia.
A própria esquerda começou a deitar as unhas de fora e, com alguma preplexidade, à medida que o tempo vai passando, argumenta no seu modo tão peculiar de arregimentação de massas, tentando demonstrar que as promessas eleitorais vão caíndo no vazio da rotina e do discurso populista e governamental.

Municiando os seus ataques através dos órgão representativos dos trabalhadores, os sindicatos e respectivas centrais sindicais, acusando o governo de usar práticas e conduta neoliberal, apelidando e denunciando este tipo de políticas, como uma continuidade das politicas aplicadas nos anteriores governos do PSD, as quais visam unica e exclusivamente afrontar e por em causa os direitos dos trabalhadores.
A preplexidade desta forma de governar, tem levado os próprios seguidores e apoiantes de Sócrates, a assumirem posições antagónicas a algumas dessas decisões, como tem acontecido nas áreas da saúde e educação, da qual os Presidentes de Câmara Socialistas bem têm deixado claro, passando do período de boas graças para a crítica aberta e o confronto directo com o governo e a maioria da direcção partidária.
Os resultados têm sido visíveis e são conhecidos através da denúncia de falta de diálogo e prepotência da maioria governamental e seus ministros, provocando e tendendo a provocar a divisão da base social de apoio partidário, o qual se fez reflectir passados poucos meses, olhando-se para os resultados nas eleições autárquicas, onde essa franja de apoio mostrou o deu desencanto e admoestou a maiora de forma inequívoca, proporcionando uma derrota ao PS nas urnas com consequências que se fizeram sentir por todo o País.
Esta atitude governativa de Sócrates, é utilizada pelos mais cépticos como força retro-motriz, que em vez de se alimentar da receptividade e energias emanadas da governação socialista na relação com a sociedade civil, enfraquece e deixa cair as bandeiras de mudança e compromissos, provocando desconfiança e perda de identidade.
Diante disto, a tarefa de uma esquerda interna que vinha a disputar posições políticas no Partido, enquanto este actua despudoradamente como correia de transmissão do governo, poder-se-á considerar quase como uma tarefa inacessível e hercúlea.
A falta de esperança leva à desilusão, no entanto, não deixa de ser notável que tanto os perplexos quanto os que perderam suas ilusões confundam as críticas pertinentes com cobranças equivocadas. Há os saudosistas que criticam o PS por ter negado as origens do socialismo.
Imaginam que o partido renunciou ao espírito revolucionário de esquerda, reafirmando apelos a um socialismo sem definição, sintetizado em soluções políticas mais próximas da social-democracia, expressando uma retórica e apelando para o consenso interno, adaptando-se ao momento nas emanações que vierem do governo, não permitindo sublevações esquerdistas, esquartejando e reduzindo as tendências internas.
Para muitos, a eleição de Sócrates representava expectativa e esperança, mas começam agora a perguntar se terá valido a pena os anos dedicados à militância. É compreensível. Afinal, são vidas que se consumiram em reuniões e atividades partidárias na defesa intransigente de causas e projectos.
O crescimento do aparato partidário e a sua estatização, a acomodação interna de conveniências aos jogos eleitorais, transformam o partido numa máquina trituradora, anulando qualquer voz dissonante e abafando todo ou qualquer discurso crítico, absorvendo-o e minimizando o seu impacto pela desvalorização do seu conteúdo, reduzindo essa intervenção à participação controlada e encenada dos congressos e convenções.
Os críticos, como parte da máquina partidária estatizada, acabam por moderar ou anular os seus discursos ou divergências, perante necessidades internas concretas, impostas pelas disputas internas de processos eleitorais mais ou menos negociados.
Numa primeira análise, o erro não está em Sócrates nem no seu Governo, o erro está esse sim, na avaliação da sua postura política interna, negada na sua própria trajectória partidária.


(cont....)


Joao Carlos Soares

quinta-feira, março 08, 2007

08 de Março - Dia Internacional da Mulher

A todas as mulheres


Que amanhã continue a ser sempre o teu dia

Corrupção e Sistema (...cont)

Parte V


A corrupção é um péssimo espectáculo que enoja o cidadão comum.
Quando esse espectáculo tem como protagonistas os políticos, ainda mais desacreditada sairá a actividade política, fazendo com que os analfabetos políticos, aqueles que primam pela indiferença e detestam a política, se regozijem e fortaleçam nos argumentos pela indiferença, o não envolvimento na política, e a abstracção nas decisões em comunidade.
A ingenuidade e a moralidade abstracta, oculta e dissimula infelizmente algum egoísmo dos que não conseguem pensar nem querem ver para fora do seu casulo.
Essa indiferença contribui para a manutenção e reprodução dessa corja de ladrões que, espreitando os cofres públicos, estão sempre disponíveis e prontos para dar o golpe de asa à primeira oportunidade que tenham. Tal como Pilatos não impediu a morte de Cristo ao lavar as mãos, também aqueles que se recusam a fazer parte da decisão na sociedade a que pertencem, estão de forma inconsciente mas consequente a alimentar a corrupção.
Aqueles que vêm alimentando ou cultivando a indiferença perante a sociedade ou defendendo e promovendo o egoísmo ético de particulares, torna-os a eles próprios coniventes. Num estado democrático de direito, a gestão da coisa pública é responsabilidade de todos nós.
De uma coisa podemos estar cientes, quando os políticos deixarem de ser responsáveis e responsabilizados pelos negócios do Estado, então podemos ter a certeza que o sector público pode estar sem rumo e completamente perdido.
Meter todos os políticos no mesmo saco, nivelá-los pela mesma bitola e atribuir-lhes a podridão da corrupção em exclusividade, é um erro que não pode nem deverá ser cometido, sendo com certeza um equívoco de avaliação a evitar. É verdade que são os políticos aqueles que mais expostos estão, no entanto chamo a atenção para factores que são de extrema importância contemplar. Não há corrupção sem corruptores e corrompidos, como diz o ditado “ A ocasião faz o ladrão, a necessidade também o faz”.
Não podemos nem permitiremos que a hipocrisia nos ofusque o raciocínio e a razão. Exigimos ética e compromisso aos políticos como se esta fosse uma exclusividade restrita ao submundo da política e dos políticos. Mas e então o resto da sociedade? Quando um ladrão se apodera do alheio e o transacciona junto de receptores, estes tornam-se tão culpados quanto os autores.
Nós não procedemos assim. Só os outros é que o fazem!. Afirmam uns, desculpam-se outros.
Então como se justifica e compreende que desde que se processam alterações no xadrez político, o conhecimento, a sabedoria, a eficácia, a experiência, enfim a competência passem de um momento para o outro a fazer parte de características próprias em exclusividade dos acólitos dessa mesma força política?.
Quem de nós não subornou ou foi tentado a subornar?, mesmo que o significado do acto, pouco ou nada signifique num contexto generalizado de uma sociedade comparativa de grandezas?.
Ou não vivemos numa sociedade onde a honestidade é sinónimo de burrice, de ser trouxa, ou corremos o risco de ser bobos, quando a sociedade competitiva parece premiar os mais espertos, os egoístas, os mais ambiciosos?.
A bem da verdade, o ladrão aproveita a ocasião. Quem de nós nunca foi tentado? Quem de nós não cometeu algum deslize perante a ocasião? Quem foi tentado e não caiu em tentação? Quem conseguiu manter a coerência entre pensar e agir, discurso e prática?
Os homens têm que ser julgados pelo seu trabalho e apenas através dele é que podemos comprovar a sua capacidade de resistir à tentação.
Aos que denomino de analfabetos políticos da chamada tentação da política, o seu único prémio é a ignorância, e que muitas vezes, enojados e cansados perante o espectáculo proporcionado pelos sucessivos governos, nos seduzem a segui-los sucumbindo à rotina do quotidiano, consumindo e desgastando valores e causas.
Só as bestas não reflectem sobre a situação do Mundo e da sociedade em particular. Por mais distraído que seja, o ser humano tem capacidade e condições de criticar, compreender e projectar o seu próprio futuro. Isto é que nos diferencia dos demais animais e nos torna no único animal capaz de produzir cultura contribuindo para a sua própria história.
Não chega criticar os que prevaricam, é indispensável e aconselhável superar o comodismo a que os analfabetos políticos se submetem constantemente. Não se pode nem se deve exigir ética na política ou formar uma nova geração de cidadãos politicamente activos, consciente dos seus deveres e direitos, dotada de capacidade de poder vir a assumir a defesa da justiça social, se os nossos exemplos se pautarem pelo contrário.

Afinal de contas, até os ladrões têm a sua ética.



João Carlos Soares

sexta-feira, março 02, 2007

Bento deixou-nos



A dignidade de um homem entre os seus pares.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Corrupção e Sistema (...cont)


Parte IV


Se alguma coisa os textos que apresento não pretendem de todo, é macerar aqueles que perdem tempo em lê-los, nem utilizar rectóricas anarquistas, muito menos utilizar argumentos heterodoxos, tentando transmitir de forma descomprometida, aquilo que me vai na alma, quase como obrigação, compartilhando os meus temores com quem tal esforço faça.
O compartilhar reflexões sobre política de esquerda, serão desde sempre os objectivos que me motivam.
Confesso, que sempre usei do meu direito, enquanto cidadão, de contribuir com o voto nas urnas para a consolidação do sistema eleitoral vigente, respeitando contudo aqueles que assumem posição contrária, não usando desse direito, mas servindo-se dessa posição igualmente como opção legítima.
Não quero fazer julgamentos morais a quem usa desse direito, tal como não é minha intenção concordar ou discordar de quem se serve desse direito, como forma de mostrar o seu desagrado e insatisfação.
Por outro lado, é com respeito e admiração que encaro todos aqueles, que aceitaram a opção da política nas suas vidas, perfilhando conceitos e valores através da institucionalização partidária. Só dessa forma se entende que um número cada vez maior estará em consonância na crítica social e política na defesa dos princípios em que ainda acreditamos.
Tem que ser com respeito e admiração, a forma como devemos encarar todos aqueles que nas bases partidárias, se expôem e entregam de corpo e alma, a um projecto político no qual acreditam e apostam, investindo todas as suas energias na militância partidária como única motivação.
Já o mesmo não defendo nem posso aceitar, quando uma estirpe de intelectuais, conselheiros e comissários políticos, instalados e encastelados abastadamente nas torres das instituições públicas, através de nomeações e pactos de regime partidário, mas que não têm nem desempenham qualquer papel ou compromisso nas áreas sociais e políticas, nas comunidades que os sustentam.
Contudo, estou convencido que na actual conjuntura, a abstenção nunca poderá ser a alternativa para consagrar um descontentamento crescente, o qual venha a questionar através do voto a falta de legitimação do sistema político e eleitoral, consciente que o caminho deverá passar e vir a concretizar-se num acto consciente pela anulação do voto nas urnas.
O peso do voto nulo em processos eleitorais, pode contribuir num futuro próximo, de forma inquestionável na transformação indispensável das instituições representativas, bem como no garante da defesa da própria democracia, através do choque que provocará na política convencionalmente aceite.
Institucionalmente, a política foi quase sempre uma actividade muito restrita a uma minoria da sociedade. Após o 25 de Abril com a instauração da democracia participativa, todo o panorama sofreu roturas com o passado e a liberdade participativa das populações tomou conta do palco político.
Passados mais de 30 anos de democracia, sentimos algum retrocesso ao conceito de representatividade, a qual começa a ser questionada e posta em causa inclusivé no interior das instituições representativas, que são os partidos.
Entre os conceitos de democracia, existe a ilusão de que o exercício da política é uma actividade de massas. Nada mais despropositado, pois o voto em cada acto eleitoral não pode ser considerado como sinónimo de participação activa na política, mas simplesmente o exercício de um direito e um dever de cada cidadão em democracia.
Estudos e consultas junto do eleitorado e actos eleitorais recentes, vêem mostrando cada vez mais o abstencionismo dos cidadãos, bem como num acréscimo de absentismo dos cidadãos em actos de cidadania.
O descrédito na relação da comunidade com os políticos e com a política, é uma reacção que é facilmente compreendida. No quotidiano do cidadão comum, a necessidade de conveniência impele cada indivíduo a viver absorvido e imerso nos seus problemas, desejando acima de tudo, para que na melhor das hipóteses, não vejam as suas vidas atrapalhadas com medidas e acções dos políticos.
Vão acompanhando o que se vai passando através dos jornais, televisão, etc..., absorvendo no máximo aquilo que lhe poderá vir a afectar directamente a sua vida, descorando e não levando em conta os noticiários políticos, como se estes em nada lhes dissesse respeito.
Esta reacção é sintomática da abstracção a que este mundo da política é votado pela maioria da população, que acha que a política e as coisas da política, se restringe apenas a uma determinada classe social. Parece-lhes que os políticos vivem numa esfera diferente das suas. Quer a classe operária, quer os empresários que não estão envolvidos nas suas instituições de classe, apenas esperam que os deixem viver sem grandes sobressaltos e traumas. Para este tipo de pessoas, os políticos e a política são simplesmente um estorvo, aceitando-os no mínimo como um mal necessário à sociedade a que pertencem.

Serão estes personagens da sociedade, num futuro/presente uma espécie de analfabetos políticos?


(cont....)
João Carlos Soares