quinta-feira, dezembro 24, 2009

A Verdade da Crise


Governar não é fácil e não se pode resumir ou permitir a um mero acto de resolver e atacar os problemas na forma simples do aqui e agora. Sem uma visão abrangente, clara, lúcida e perspicaz do que nos espera num futuro próximo, poderá conduzir, aquilo que à partida significaria uma esperança para muitos, a um fracasso a evitar a todo o custo, transformando-se num enorme obstáculo de solução impossível, em muitas situações de difícil superação.

As crises podem e devem ser obrigatoriamente enfrentadas com uma visão alargada e nunca reduzindo ou limitando essa visão e acção a uma atitude ou processos e medidas redutoras e defensoras de proteccionismos duvidosos, ignorando-se a possibilidade e oportunidade de implementação de reformas e modernização do País.

É verdade que qualquer mudança estrutural provocada pela acção de reformas do estado, encontram naqueles que directamente vão sofrer as suas consequências, os primeiros detractores dessas medidas. Nesse sentido, somente com um intenso trabalho junto da opinião pública, através do debate, se consegue remover esses obstáculos.

A transparência, ideia tão defendida e exigida nos meios políticos, nunca terá sido tão necessária quanto agora, pois toda a capacidade de vencer uma crise ou de abreviar e condicionar a sua duração, dependerá em grande parte do apoio que os governantes receberem de quem os elegeu e neles confiou, porque a esses é que serão exigidos todos os sacrifícios.

Muitas ilações se poderão retirar da crise que nos assola, havendo, por certo, quem simplesmente a impute a deslizes do sistema financeiro ou de mercado perante a globalização, com a sua incapacidade de auto-regulação.

Contudo, perante uma forma mais abrangente e visionista, há quem preveja nesta crise um móbil para o aparecimento de uma nova ordem internacional, renascida dos escombros do capitalismo, quase que por ironia do destino, provocado exactamente por causas a ele congénitas.

A grande dúvida e preocupação, advém precisamente da grande incógnita que essa nova ordem representará num contexto de globalização, como aquele a que estamos a assistir.

O enorme colapso a que a economia internacional tem estado sujeita, ainda não tem um fim à vista, nem existem esperanças de que, num curto espaço de tempo, se encontre uma solução que ponha cobro e resolva os desequilíbrios, face ao renascer de novas preocupações, resultante de avanços e retrocessos na economia das potências reguladoras de mercado europeu, como a França, Alemanha e Inglaterra, para não falar na economia Norte Americana.

A preocupação imediata dos responsáveis, deverá ser orientada no sentido de uma aprendizagem com base nas lições do passado presente, abrindo as portas para o futuro, sem perder de vista que o primeiro e único objectivo, deverá ser o da criação de condições de sustentabilidade para a concretização das potencialidades da sociedade em geral.

A qualidade política dos governantes mede-se com base nas sua capacidade de decisão. Oscilar e refrear uma decisão, pode-se considerar um defeito tão grave quanto escolher o caminho errado. Não abordar os problemas de frente ou adiar a sua resolução, pode conduzir e precipitar o país para um desastre de consequências irremediáveis.

Subestimar esta crise e o seu impacto na nossa economia, por fanfarronice partidária ou angariação de popularidade, podem colocar em causa a verdade no combate à crise, comprometendo irremediavelmente qualquer solução e eficácia.


João Soares

domingo, dezembro 06, 2009

Preocupações


Perante os factos de corrupção chegados ao conhecimento público, como poderemos fazer prevalecer a vontade popular, para que efectivamente possamos fiscalizar a administração pública, pondo termo de uma forma efectiva aos flagrantes casos que são denunciados e chegam ao nosso conhecimento?
A necessidade que os partidos têm para fazer frente e custear toda uma máquina de propaganda eleitoral demasiado pesada, aquando dos processos eleitorais, abrem espaço e criam a oportunidade a gestores e administradores corruptos e incompetentes sem qualquer pudor nem escrúpulos, que se deixam aliciar por poderosos grupos económicos, através de contrapartidas em suportes financeiros volumosos, viciando-se assim o resultado sufragado pelas populações, através de um processo eleitoral próprio de qualquer democracia participativa.
Neste processo corrosivo e perigoso, as instituições que deveriam pugnar para expurgar estas santas alianças, elas próprias se vêm condicionadas e agrilhoadas por uma panóplia de segredos de justiça, com os expedientes só possíveis num sistema onde, a hierarquia de clãs com base político partidária, quase sempre conotadas a esses grupos económicos, procuram perpetuar nos diversos níveis de poder e decisão, uma elite de privilegiados, em proveito próprio.
Sendo os partidos políticos os agentes de um poder democraticamente constituído, disputando a sua manutenção e liderança, tornam-se, nessas disputas, os alvos privilegiados dessas elites, sedentas por manter no poder ligações a executivos que lhes facultem e concedam acessos às grandes negociatas do regime, mesmo que para o efeito tenham que abrir de mão a quantias volumosas e outros favores.
A forma descarada como os lugares de administração desses grupos são preenchidas, quer por quadros de forças partidárias, quer por ex-membros do Governo ou Instituições públicas, levam a que a promiscuidade do tratamento entre o público e o privado, que deveria ser da maior transparência, enverede por caminhos nebulosos e lamacentos, como aqueles a que nos últimos anos temos vindo a assistir.
Perante este cenário de total falta de controle e fraude na máquina administrativa do Estado, as dificuldades com que o acompanhamento da sua gestão é feito, ou lhe é permitido nos diversos órgãos de soberania, será possível alguma vez podermos responsabilizar e fazer pagar a todos esses senhores os prejuízos que causaram à Nação?
A reforma política do Estado exige rapidamente mudanças na forma de gestão da coisa pública, através da necessidade de uma maior avaliação de desempenho dos governos, quer central quer local, na implementação dos orçamentos participativos e movimentos de cidadania, em função das promessas que os partidos fazem quando em campanha eleitoral, em função e defesa do interesse público.
Independentemente dos partidos que estiverem no poder, a opção recai sempre no planeamento e controle centralizado nas tomadas de decisão, em contraponto e oposição às verdadeiras políticas de descentralização e autonomia, quase sempre com a justificação que os conflitos de interesses e de valores podem e devem ser resolvidos pela via da decisão técnica e jurídica.
As dúvidas quanto ao futuro e desenvolvimento sustentável, só poderão deixar de existir na mente de todos nós, quando as organizações, as instituições públicas e os políticos, estiverem comprometidos na defesa da igualdade de valores na sociedade, no cumprimento das suas responsabilidades perante o respeito dos cidadãos, defendendo e apresentando alternativas para as questões que afectam a segurança e bem-estar de todos e em particular dos mais carentes, contribuindo de forma solidária na construção de uma sociedade justa.
João Carlos Soares

terça-feira, dezembro 01, 2009

Só não vê quem usa cangalhas


A obstinação de alguns, perante a vontade inequívoca de outros, em proporcionar e disponibilizar capacidades e vontades, faz com que o futuro seja constantemente adiado, influenciando e reinterpretando as escolhas de ontem e de hoje na realidade política actual, esquecendo-se que nem só do passado se faz e constrói o presente, muito menos o futuro.

Torna-se inevitável, de facto, o resgatar da memória e da experiência acumulada de valores que enriquecem o tempo presente, contribuindo para um entendimento, análise e compreensão do passado, na pretérita justificação das escolhas e posturas políticas e pessoais, na realidade actual.

Nesta perspectiva, os actores que contribuem e fundamentam a história, entre eles os políticos como agentes representantes da vontade dos povos, têm como obrigação e dever, compreender o passado sempre presente das organizações e movimentos sociais, aos quais temos as nossas vidas ligadas, fazendo com que as suas opções políticas não fiquem reféns e vinculadas única e exclusivamente à dimensão partidária.

Essa memória expressa a dimensão da vida, mas que tem como actores homens e mulheres de carne e osso, pessoas que também sofrem como qualquer um, sofrem dos mesmos medos e receios, e, tal como ser humanos que são, também têm os seus momentos de alegria e tristeza, sobretudo quando têm consciência e medem a responsabilidade de estar ao serviço de quem neles confia, reflectida numa enorme esperança e, porque não, também utopia.

São essas escolhas que fazem a diferença e explicam nos nossos actos o que somos, ainda que, por vezes, não sejamos reconhecidos no meio de uma amálgama complexa e atribulada, construída por decisões que tomamos e rumos que escolhemos, por vezes influenciados pelas atitudes inconscientes de outros.

Caminhar com memória, sem esconder o passado, compartilhar lembranças e informações sobre a vida, sem receio de olhares e críticas sem fundamento, ajuda-nos a compreender os caminhos a seguir, cujo objectivo tem que ter como único epílogo e prazer, compartilhar experiências pessoais e colectivas, à medida que formos confrontados com novas realidades, algumas das quais, pela sua natureza, seriam absolutamente imprevisíveis.

Acima das memórias do passado, não nos devemos retrair, muito menos acobardar, perante opções e escolhas, aos princípios que nos guiam e proporcionam uma reflexão crítica sobre os caminhos percorridos e a percorrer.

Perante alguns comentários, quanto ao sentido da ética na política, a única resposta que tenho, resume-se ao lamentar dos tempos sombrios que vivemos, onde o descrédito e o desencanto das populações cresce perante a descrença nos partidos políticos e na própria democracia participativa, como protesto de todos aqueles que não se podem conformar com as desigualdades e injustiças, a concentração de riqueza, onde os negócios suspeitos que envolvem milhões e milhões são cada vez mais o pão nosso de cada dia.

A esperança transformada em utopia passados 30 anos, na qual eu confiava, configurava um Estado capaz de repor e manter o equilíbrio numa luta entre classes sociais, receptivo a reformas e garantindo a ordem, a segurança e o bem estar de todos

Nunca é tarde para percebermos que afinal de contas o Estado, face a uma convenção perversa com as elites tradicionais e modernas do sistema, sustentadas e supostamente legitimadas por poderes ocultos, iniciou um processo de opressão aos mais desfavorecidos da sociedade.

Isto, com toda a certeza, eu sei que não é ética nem moralmente recomendável para todos quantos se preocupam com o seu semelhante.

Acredito que algo de novo emerge, onde a participação da maioria dos actores sociais serão indispensáveis para uma transição, onde será possível transformar este cenário actual com dinâmicas sociais, conscientes dos seus direitos e obrigações, conjuntamente com uma capacidade de agirmos colectivamente. O caminho irá ser longo, cheio de obstáculos e contratempos, mas não há nada mais gratificante na vida do que sabermos e termos a consciência plena de onde vimos e para onde queremos ir.

João Carlos Soares

domingo, novembro 15, 2009

E assim se passaram 50 anos




Sem a noção do passar dos anos, e quando ainda há pouco tempo, menino e moço vivia a Revolução de Abril com tudo o que ela representava no coração dos jovens da época, que como eu sentiram este momento inesquecível, apercebo-me que cheguei aos 50 anos.
Como quem não quer a coisa, meio século de vivências se passou com alguma turbulência inevitável, outras não tanto assim, mas consciente e cada vez menos optimista quanto ao futuro, sabendo contudo que a partir de agora passarei a descontar os dias, faltando-me o tempo para concretizar projectos de uma vida, mas com uma certeza: Já não tenho pachorra nem tempo para lidar com mediocridade e ignorância gratuita travestida com opções pomposas de gente, como diria alguém a quem politicamente muito devo e que seria bom muito boa gente não esquecer, Aires de Carvalho, os apelidava de “aprendizes de feiticeiro”.
Fico inquieto quando vejo egos extravasando sadismo intelectual polido de verniz a estalar por todos os poros, de invejosos cuja única prioridade que têm na vida é tentar destruir a imagem de todos aqueles que fazem por merecer o nosso respeito e admiração.
Quando somos jovens, sonhamos utopicamente que será possível mudarmos radicalmente o mundo, acordando diariamente de sonhos revolucionários mensageiros de profecias anunciadoras do fim da miséria e das desigualdades.
Agora que a meninice passou a fazer parte de um sonho passado do faz-de-conta, não quero acreditar nem continuar a sonhar que será impossível acabar com uma sociedade com falsidades e ressentimentos, só porque as pessoas estão mais preocupadas em usar os rótulos do que a debater e defender os conteúdos, dando ouvidos a cantos de sereia autoritários, que para nossa infelicidade começam a fazer escola nos corredores da política.
Embora já não acredite em profecias e revoluções, quero e tenho o dever de, continuar a sustentar a esperança de uma sociedade que opte por um caminho de sustentabilidade apoiada na aprendizagem, ao lado de gente que pauta a sua conduta do dia-a-dia com a sabedoria prática da razoabilidade, conhecimento e racionalidade, reconhecendo e auto criticando os seus erros, não se deslumbrando com os triunfos fáceis, defendendo com humildade a vida neste mundo cada vez mais complexo e confuso.
Pertenço a uma esquerda que se pauta pela liberdade de expressão e pela defesa da democracia participativa, mas não me enquadro nem defendo atitudes de autêntica histeria e cegueira ética partidária, que facilmente perde o autocontrole.
Renuncio a qualquer tipo de convívio político com pessoas onde a razoabilidade não impere e a falta de consistência e conteúdos transforma o debate em ressentimentos recalcados dos seus fracassos, esgotando a nossa paciência e comprometendo obviamente as relações pessoais.
Passados que foram precisamente 53 anos, vou-me esforçar e tudo farei para tentar preservar na minha conduta aquilo que considero como virtudes, retocar e tornar os meus defeitos mais leves, polidos e coerentes, por forma a sentir-me melhor de bem com a vida.

João Soares

quinta-feira, novembro 12, 2009

ILUSÃO E PERPLEXIDADE




Ao folhearmos as páginas de um jornal, ao fazer zapping com o comando da televisão, confrontamo-nos com um espectáculo nojento protagonizado por uma corja de malfeitores, os quais sempre atentos a uma oportunidade, espreitando os cofres públicos, aprontam os seus golpes, sem que a justiça leve até ao fim a sua função, e os meios à sua disposição possam ter consequências visíveis, fazendo com que a tentação não faça o tentado.


Todos aqueles que quando abordados politicamente respondem prontamente que não querem nada com a política, não percebem, ou não sabem que a sua indiferença ajuda a contribuir para a manutenção desses ladrões e oportunistas, fortalecendo os argumentos com a sua indiferença e o não envolvimento na vida política os podres putrefactos instalados.


A simples afirmação do cidadão comum, não quero nada com a política, abre espaço e alimenta a reprodução desta corja indesejável num estado de direito, porque o cultivar da indiferença pelo que se passa no país, o egoísmo ético e o interesse de cada um em particular, fazem desse mesmo cidadão conivente com as políticas e decisões tomadas por quem os governa.


Não é justo nivelar ou tratar todos os políticos como corruptos e lançar todas as culpas apenas a estes, pois os políticos pela própria actividade que desempenham, ficam muito mais expostos, mas de uma coisa não nos podemos esquecer, não existe corrupção sem corruptores e corrompidos.


Quando numa sociedade se começa a instalar a ideia de que honestidade passa a ser sinónimo de burrice e até correr o risco de ser apelidado de parvo, quando essa sociedade pela sua competitividade e ganância premeia os mais espertos, ambiciosos e egoístas em detrimento dos mais capazes e competentes, por quanto tempo conseguirá fazer prevalecer e manter a coerência entre o pensamento e acção, discurso e prática de quem exerce o poder.


Por vezes somos tentados a abstrairmo-nos da coisa pública e tentação da política, mas tomando essa opção estamos de certeza a contribuir para um crescimento e ignorância do que nos rodeia, sucumbindo às rotinas do dia-a-dia consumindo-nos o pensamento e tornando-nos anestesiados e incapazes, criando e dando uma ilusão de felicidade.


Só os tolos não reflectem sobre o que os rodeia, por mais alienado que o ser humano seja, tem todas as condições de pensar de forma crítica, compreendendo e projectando o que pretende.


Vivemos numa sociedade onde a esperança de dias melhores começa a ser confrontada com o medo de assumir política e intelectualmente posições claras e desprendidas de facciosismo bacoco, sempre que necessário, não nos resignando e não cedendo a qualquer tipo de pressões, tenham elas as origens que tiverem.


É indispensável evoluir-se deste estado de perplexidade com que somos confrontados todos os dias, para uma crítica aberta e o confronto directo com formas autistas e imorais de gestão da coisa pública, exigindo a punição dos detractores com mão pesada pela justiça.


A crítica publica não pode nem deve ser considerada suspeita, nem o direito de usar a sua consciência poderá condicionar quem quer que seja de poder usar o direito de intervir. Não podemos fechar os olhos, só porque algo ou alguém melhor posicionado hierarquicamente numa estrutura partidária assim entende, nem deixar que influências de interesses pouco ou nada condizentes com a vontade e o desejo das populações assim o exige. Os políticos têm o dever de dar o melhor de si no desempenho das suas funções de estado, mesmo que para isso tenham que assumir posições não concordantes com a sua própria estrutura partidária.


O desespero das populações conduzem a sociedade para a descrença, a desilusão e perplexidade de todos quantos acreditaram numa militância dedicada à defesa de conceitos e formas de desenvolvimento coerentes com a realidade e necessidades correntes das famílias.


Se a ruptura com os partidos de alguns desiludidos se pode imputar a aspectos conjunturais, equivocam-se duplamente, porque a política dá muitas e diversas voltas e o que é hoje criticado, é amanhã reconhecido pelos que nos passam um cheque de confiança nos processos eleitorais face aos resultados obtidos.


A concretização e a prática de boas políticas reforçam a tomada de posição daqueles que perante o contraditório político partidário optam pela sua consciência, numa prova de esclarecimento, ética e moral, porque mais vale a decisão de procurar outros rumos e viver a vida, do que persistir num papel passivo de conspirador.


Vale mais ser lembrado pelo que fizeste, do que pelo que pretenderam que deixasses de fazer.

João Soares

terça-feira, novembro 10, 2009

Artigo de Clara Ferreira Alves - Expresso

Pela pertinência do artigo e actualidade apeteceu-me publicá-lo no blog, para aqueles que não tenham tido a oportunidade de ler.

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.


Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica -
aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.

Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que,nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas,pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a
Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar
alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia
espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecidas antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos,alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de
crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

Incerteza, Desnorte e Falsas Promessas

A incerteza no dia-a-dia e a insegurança no nosso quotidiano aumentam a angústia das populações, que se sentem desprotegidas por um sistema social desequilibrado.

O desnorte de algumas famílias e a perplexidade perante as informações e interpretações contraditórias da instabilidade económica do país levam os cidadãos a interrogar-se, desesperadamente, sobre o rumo da sociedade e das suas vidas.

Esta situação conduz, cada vez mais, as famílias encurraladas e sujeitas a uma violência quotidiana do meio social onde se enquadram, vivendo permanentemente um pesadelo carregado de absurdos em cujo sentido não encontram razão ou análise racional.

As falsas promessas de desenvolvimento, sempre presente nos discursos mentirosos de alguns lideres governamentais, dos políticos corruptos, cuja ganância insaciável e voraz, controlada por elites instaladas no sistema, conduzem cada vez mais as famílias a uma autodestruição e revolta violenta numa estrutura social já de si frágil.

Para combater essa tendência destrutiva e conduzir para caminhos que possam resgatar os valores que dão sentido à vida, individual e colectiva, pode e deve ser invertida essa tendência, exigindo-se moral e ética a quem tem o dever e a obrigação de o fazer, que são os políticos que nos governam.

O desempenho com apego e convicção nas lides do poder, deve e tem que ter, dos seus protagonistas uma face visível e nunca uma máscara onde a pouca vergonha, o vale tudo da ganância insansiável de gente sem escrúpulos se sobrepôem ao dever de servir e gerir a causa pública. O poder pelo poder não pode servir nem deve ser usado pelos seus detentores, mas sim para ser exercido com honestidade, verdade e acima de tudo com muita coerência e sensatez.

Para que a ética e a moral prevaleçam na sociedade, torna-se necessário que exista e se cumpra um código de conduta baseado em valores, consentido e praticado pela classe política, baseado em manifestações concretas de cooperação e solidariedade, inserido numa organização social pluralista e de democracia participativa, transcendente a todos os outros sistemas de crenças e valores, como súmula da consciência humana no direito dos cidadãos à sua liberdade e felicidade.

Para uma sociedade de cidadãos activos, participantes e confiantes no futuro, fonte da liberdade que transformou a história, essa democracia participativa não pode nem deve ser vista como ficção ou sonho, mas sim como uma visão de futuro na construção de um discurso em que não se tenha medo do confronto de valores nem do seu impacto real e mais que provável na existência humana à luz de experiências políticas e práticas acumuladas ao longo dos tempos.

Deve-se exigir ética e moral como dever dos nossos governantes, numa visão da humanidade inspirada numa aprendizagem de gerações, em conformidade com os actores sociais, de uma forma racional, que se pode e deve vir a manifestar no futuro, onde a razão comande e oriente as paixões para um grau de confiança das pessoas na possibilidade de uma concreta realização do verdadeiro potencial da sociedade .

João Soares

quinta-feira, outubro 01, 2009

Violência Política ou a Teoria da Conspiração


O recente acto eleitoral para as legislativas, veio mais uma vez mostrar que existem muitas e boas razões para acreditarmos que as opções que nos parecem ser as piores escolhas no actual sistema não são acidentais, mas sim um fenómeno que, de tempos a tempos, nos tentam conduzir garantidamente a regimes totalitaristas.
Exactamente por essa ordem de razão, nas sociedades dominadas ou predominantemente com ascendente totalitarista, são provavelmente quase sempre os pouco escrupulosos e mais descarados os mais bem sucedidos. Está na cara e só não vê quem não quer ou não percebe o que realmente separa o totalitarismo de um regime dito liberal.
Um dos objectivos da política de esquerda e dos seus intervenientes, terá de ser o alerta constante nas opções e escolhas contra a privação dos direitos dos cidadãos em geral, eliminando as causas e prevenindo consequentemente os efeitos por forma a não permitir o sucesso de qualquer tentativa de sonegar as liberdades conquistadas.
Para que tal não aconteça, há que impedir a todo o custo a moda actualmente em voga entre a classe de intelectuais que usando o argumento da falta de segurança, apoiam e defendem a contenção e suspensão de liberdades essenciais no sistema democrático português.
Para todos aqueles que defendem e alimentam de forma convicta a inevitável ascensão de um regime totalitarista, minando a sociedade e envenenando os menos esclarecidos, torna-se cada vez mais necessário uma atenção redobrada para todo o tipo de propaganda populista que caracteriza esses farsantes, mostrando-lhes a nossa repulsa, intervindo com maturidade, coerência e convicção dos valores que nos norteiam.
Não nos devemos iludir ao ponto de pretender que todas as pessoas se identifiquem totalmente com a nossa forma de participação na vida pública, nem que todas elas professem dos mesmos valores e convicções e que por isso os julguemos menos competentes só porque muitos deles preferem confiar em governantes conscientes e sensatos, quando esses governantes fazem parte de um sistema estabelecido por homens bons.
A interacção entre a moral das instituições que nos governam, pode e deve funcionar como catalisador do equilíbrio na ética resultante das noções morais da sociedade e nunca como obstáculo à concretização das nobres razões que conduziram Portugal à conquista da Liberdade em Abril de 1974.
Resultado da falta de seriedade e escrúpulos de alguns protagonistas na cena política, afastam cada vez mais gente decente com princípios e convicções, proporcionando a ascensão da canalhice aos palcos públicos da governança.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Liberdade ou Dependência


Quando perante um rumo económico inesperado a nível mundial, nos sentimos ameaçados, damos por nós a culpar tudo e todos, como é natural, excepto a nós próprios.
Afinal de contas, não nos esforçámos todos segundo os mais excelsos ideais?
Não trabalharam incansável e persistentemente os nossos melhores cérebros para transformar e fazer deste um mundo melhor?
Não dirigimos todos os nossos esforços e esperanças no sentido de uma maior liberdade, justiça e prosperidade?
Se o resultado é tão diferente do almejado, se, em vez de liberdade e prosperidade, somos confrontados com cada vez maior dependência e miséria, não estará mais que evidente a frustração das nossas intenções?
Que uma mudança de ideias em conjunto com o poder da vontade humana e do querer de alguns, fizeram do mundo o que ele é hoje, todos sabemos e temos consciência, agora o que não estávamos era preparados para as consequências e os resultados que nos aguardavam a médio prazo, e que nenhuma alteração dos factos, mesmo espontânea que fosse, nos obrigaria a adaptar o nosso pensamento à realidade actual.
Ainda pensamos nos ideais que nos norteiam e nos conduziram ao longo de várias gerações, como sendo ideais apenas a cumprir no futuro, e não temos a percepção de quanto, nas últimas duas décadas, em especial, esses ideais foram responsáveis pelas transformações, não só no mundo, mas por tabela, também neste país à beira mar plantado, que é Portugal.
Ainda estamos em crer, por isso acreditamos, que até há bem poucos anos estávamos a ser governados por ideias e conceitos em permanente conflito ideológico, impacientes por tudo fazer para acelerar a mudança no sentido do equilíbrio e sustentabilidade social, com o objectivo de apanharmos o combóio da Europa e, se possível, que não fosse na última carruagem.
O ponto crucial, para o qual as pessoas neste país estão ainda pouco consciencializadas, não é, contudo, apenas a amplitude das mudanças requeridas e que têm vindo a ocorrer ao longo da última geração, mas o facto de elas significarem uma mudança completa na direcção da evolução das nossas ideias e ordem social.
Nas duas décadas passadas, foi claro que nos vínhamos progressivamente a afastar dos ideais fundamentais que orientaram e foram pilares para a fundação de uma sociedade europeia de pleno direito. Que este movimento, ao qual aderimos com tão grandes esperanças e ambições, nos tenha posto face a face com uma globalização implacável, que não se compadece com fraquezas de um país sem estruturas nem riqueza produtiva à altura dos seus parceiros europeus, bem como do choque enorme para esta geração, que ainda se recusa a aceitar e compreender esses factos.
Não pode haver qualquer dúvida de que as promessas em torno de maior liberdade se veio a constatar ser uma das mais eficazes armas de propaganda, partindo-se do princípio que essa ideia seria genuína e sincera. O que se veio a descobrir, foi que o que nos foi prometido como o caminho para uma maior liberdade e igualdade, seria na verdade transformado no caminho para a dependência.
A ganância de uns tantos, a acrescentar a todos estes factores têm conduzido o país a uma rotura com os princípios da honorabilidade e respeito entre iguais, obrigando-nos a abdicar da liberdade de ideais, hipotecando um futuro, onde a falta de objectivos consistentes e realistas às nossas necessidades, conduzem e precipitam as grandes decisões por questões meramente economicistas, como a liberdade das questões económicas, sem a qual a nossa liberdade política e pessoal nunca teriam sido possíveis no passado.
Nenhuma pessoa sensata duvidaria de que as regras impostas nas quais foram expressos os princípios da economia política europeia, eram ainda um começo num processo extenso e doloroso que iria desnudar as débeis economias dos países do sul.
Surpresa foi o desmoronar dos conceitos que suportaram e estiveram na base do carrossel financeiro instituído, onde o Estado se obrigaria a várias tarefas óbvias, tais como a forma de lidar e controlar o sistema monetário, e o impedimento ou controle de monopólios, o qual ao primeiro balanço cedeu, provocando uma crise de credibilidade de todo o sistema financeiro.
A pergunta que se faz agora, não é como vamos enfrentar a crise e responder às necessidades de um país financeiramente em ruínas, a questão é até onde a resistência e a tolerância vão aguentar, sabendo-se que ao país, mais uma vez, vai ser pedido um esforço sobre-humano, mas que como já estamos habituados, para não variar, vão ser sempre os mesmos a pagar.

João Carlos Soares

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

A Arca de Noé - Adaptada




Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em Portugal, e ordenou-lhe: "Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que Portugal seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos, sendo que, e para que tal aconteça, necessite preservar um casal de cada espécie animal.

Por essa razão, vai Noé e constrói uma arca de madeira."
Na devida altura, os trovões deram o aviso e os relâmpagos fizeram-se sentir no céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal da sua casa, quando a voz do Senhor se fez ouvir furiosa, entre as nuvens: "Afinal, onde está a arca, Noé?"
"Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem. Fiz o que pude, mas encontrei uma quantidade infinita de dificuldades e burocracia: Primeiro tentei obter uma licença da Câmara, mas para isto, além das taxas elevadíssimas para obter o alvará, a burocracia e os requisitos técnicos de projecto pareciam não ter fim. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui o empréstimo necessário, mesmo aceitando as taxas de juros que nos ficam pela hora da morte. Os bombeiros exigiram-me um plano de segurança e um sistema de prevenção de incêndios o mais sofisticado, mas consegui contornar essa situação, subornando um funcionário influente para o efeito."
E Noé nos seus lamentos prosseguiu: "Começaram então os problemas com os ambientalistas para a extracção da madeira. Eu ainda fui dizendo que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha um Projecto de Reflorestação para o local e um tal de Plano de Manutenção , Limpeza e Defesa da Floresta contra Incêndios. Entretanto eles descobriram também uns casais de animais que eu já vinha guardando no meu quintal. Além da multa pesada que me aplicaram, o Dr. Juíz ameaçou-me com prisão preventiva ou sujeito a residência fixa e eu para cumprir os Seus desígnios, acabei por subornar um alto signatário bem colocado, sabendo de antemão que a lei para este tipo de crime sempre é mais tolerante e branda."
"Quando fiquei em condições de dar início à obra, apareceu a Ordem dos Engenheiros e a ASAE que me multaram porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção. Depois apareceu uma empresa bem instalada no sistema, exigindo que eu a contratasse garantindo no mínimo emprego para 10 anos e uns cobres por fora. De seguida apareceram-me as Finanças, argumentando que eu apresentava a existência de nítidos sinais exteriores de riqueza, e não foram com meias medidas e multaram-me, aplicando-me coimas atrás de coimas.”
"Finalmente, quando a Secretaria de Estado do Ambiente pediu o Relatório de Impacto Ambiental sobre a zona que iria ser inundada pelo Seu projecto, mostrei-lhes o mapa de Portugal.

Bem, se as coisas até aqui só tinham sido complicação atrás de complicação, agora a coisa agravou-se e de que maneira. Quiseram-me internar num hospital psiquiátrico!- sorte a minha que à data o Júlio de Matos já estava encerrado e os Serviços de Psiquiatria estavam em greve, contra as medidas governamentais do novo código de trabalho.”
Terminando o seu relato ao Senhor, Noé chorando reparou que o céu clareava e perguntou assustado temendo pelas represálias : "Senhor, então não vais mais destruir Portugal? "Não! - respondeu a Voz do Senhor entre as nuvens - pelo que ouvi da tua boca, Noé, cheguei tarde! Alguém aí em baixo já se encarregou de fazer isso por mim!

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Os Poderes Ocultos


Democracia sem a participação efectiva de cidadãos na vida do país, não é democracia. Na nossa democracia, optou-se e definiu-se que essa participação fosse exercida através dos partidos políticos. O que não se avaliou, foi se teriam igualmente sido definidas regras estritas sobre o conceito democrático interno nos partidos, por forma a garantir a livre participação no combate de ideias concretas, onde os interesses e o bem estar dos cidadãos estejam sempre em primeiro lugar.
Não podemos, nem devemos sustentar a promoção pessoal de quem quer que seja, nem deixar passar tentativas de branqueamento da História.
Os partidos políticos, têm-se vindo a transformar em autênticos aparelhos burocráticos fechados que contribuem para o esvaziamento da participação dos cidadãos, permitindo a ascensão das elites e o endeusamento de figuras cujo desempenho e transparência deixam muito a desejar, mas que não são mais que funcionários políticos às ordens de forças ocultas que dividem entre si a liderança do poder político.
Prova disso, a ascensão de António Guterres a Secretário Geral do PS, que identificando-se como discípulo de Zenha, teve que abandonar as suas teses moralistas, convertendo-se à doutrina Soarista, definindo de forma incontornável no futuro do PS a opção de lideranças, onde a consciência moral deram lugar à proeminência da sucessão absolutista, que temos vindo a assistir nas últimas décadas.
O poder dos tribunais, nunca por nunca perdoará e estará atento ao passado do políticos, tal como o fez em tempos idos, se nos recordarmos o que se passou com o caso do “fax de Macau”, e como os ciclos se repetem, estamos neste momento no ponto exacto de viragem, onde estes não hesitarão um minuto para colocarem em causa a figura e credibilidade da classe política, impondo-se como um Estado dentro doutro Estado, onde as dúvidas e a instabilidade constitucional será implantada e posta em causa.
A Europa transformou-se numa amálgama de culturas e conflitos, numa visão ocidental da sociedade, onde nunca conseguiu apresentar e consolidar um modelo perfeito de democracia, a qual garantisse igualdade, educação, saúde, trabalho e justiça aos seus cidadãos, com base numa consistente e considerável evolução do conceito de respeito pelos direitos humanos e ambientais.
Para o comum dos mortais, torna-se cada vez mais difícil discernir quem fala verdade, e quem pretende dividir para reinar. Chega ao conhecimento público a mais diversa informação, oriunda das mais diversas fontes, permitindo que a confusão e descrença se instalem no raciocínio de cada um.
Aparecem os jornais, e cá vai uma série de denúncias, desconfianças e afirmações a colocar em causa o comportamento moral dos nossos governantes. Os nossos governantes recorrem-se desses mesmos meios de comunicação e cá vai mais um arremesso de esclarecimentos que em vez de clarificarem, põem a nu e cru a fragilidade do nosso sistema, onde a promiscuidade leviana das elites instaladas é mais por demais denunciadora que andam a jogar com a vida e o futuro dos cidadãos a troco de influências e lucros pessoais, no maior desrespeito e desconsideração por quem não passa de simples joguetes nas suas mãos.
Quem tinha o direito de superiormente se opor e colocar na defesa dos nossos direitos, a Procuradoria Geral da República, remete contradições atrás de contradições, conforme vais sendo confrontada com provas públicas, que desacreditam anteriores afirmações da PGR.
Então no final de contas em que ficamos?
Se não podemos acreditar na justiça deste País, se não podemos acreditar nos nossos governantes, senão podemos acreditar nos meios de comunicação social, senão podemos acreditar naquilo que os nossos olhos vêm, então perguntamos;
Em quem deveremos acreditar?
Seria bom que nos lembrássemos o exemplo da nossa Revolução de Abril, a qual recolheu praticamente de todas as forças democráticas internacionais os mais elevados elogios, não permitindo que esta geração venha a ser recordada no futuro, exactamente pelos motivos contrários que nos projectaram e fomos invejados nessa década dourada, onde fomos exemplo na defesa e consolidação de valores e sentimentos de grandeza ética e moral inquestionáveis.


João Carlos Soares

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Sustentabilidade moral em democracia


A sustentabilidade moral nos regimes democráticos, assenta nos partidos como garante do sistema, contudo, deverão facilitar e disponibilizar o acesso à informação completa e rigorosa por parte dos cidadãos na actividade política, fundamentada por regras claras e precisas, onde as competências e a transparência dos actos deverão representar e espelhar, objectivamente, os desígnios das instituições na comunidade sem qualquer tipo de dúvidas ou suspeitas.
A hipocrisia e o tráfico de influências, que parecem caracterizar a actividade política nos tempos que correm, não nos apanha desprevenidos nem nos surpreende, tal a forma desiludida e de descrédito como, cada vez mais, os eleitores olham para a actividade político-partidária.
A falta de transparência, as negociatas encapotadas de interesses instalados e a forma como alguns parasitas passam a vida a apregoar aos quatro ventos que estão na política à custa de sacrifícios pessoais, revelam quão subtis são os meios utilizados, permitindo o compadrio e o tráfico de influências no dia a dia da política e dos políticos por nós eleitos, com quem nos identificámos, e em quem acreditámos e depositámos confiança.
Em Portugal, também pela negativa, a forma indigente e enevoada pela opacidade do próprio sistema político-partidário, adaptado ao longo de três décadas, na base de alternância dos dois partidos mais representativos, somente agora e de forma envergonhada, começa a estar disponível para se discutir o tráfico de influências e a transparência nas instituições. Desta forma se tenta evitar o perigo da corrosão na credibilidade sentida das instituições e seus representantes, que se evidencia de forma galopante e sintomática pela descrença popular que se começa a instalar, pautando-se em certa medida, pela ausência nos processos eleitorais.
As notícias com que somos confrontados diariamente pelos OCS, onde a consciência moral dos protagonistas os coloca em permanente risco e sobressalto, mostram a precariedade como foi forjado aquela que viria a ser a espinha dorsal do nosso regime democrático.
Como diz o ditado, ”vamos esperar para ver”, mas pela forma como estamos a assistir ao desenrolar de mais um episódio da nossa democracia, temo que uma vez mais a consciência moral do Estado seja congelada, o que poderá ser um mau sinal para a nossa democracia, à qual muito dificilmente se poderá prever um futuro promissor se o passado não ficar completamente esclarecido e liberto de bodes expiatórios, onde o triunfo de alguns se continuará a fazer à custa e sacrifício dos mais desfavorecidos, o Povo.



Clip TVI - sobre acusações no caso Freeport



João Carlos Soares

terça-feira, janeiro 27, 2009

Eficácia e defeitos da ética na política


Haverá compatibilidade entre a ética e a política?

Será que fazendo a ética parte integrante da política, esta manterá a eficácia na defesa dos interesses colectivos?

Será devaneio puro reivindicar que a política contemple os valores éticos, como condição indispensável para a sua credibilidade?

Pergunto-me e arrisco-me a não ter resposta fácil para este binómio, ética e política, tal a complexidade de conceitos que me proponho analisar, sabendo-se que muita gente os considera como o azeite e a água, pois não se misturam. Contudo, assumir e professar essa atitude, é o mesmo que admitir a incompatibilidade da moral aos políticos, reconhecendo, sem reservas, que tudo vale a pena para se atingirem os fins pretendidos.

Para algumas pessoas, esta será uma falsa questão, contudo, a realidade política actual, tem vindo a confirmar uma avaliação moral negativa à classe política, comprometendo-os com todo o tipo de actos de consciência reprováveis que só os desconsideram e penalizam, não podendo simplesmente tornar-se público e ficar circunscrito a um “mea culpa” na consciência dos prevaricadores.

Sendo a moral um dos predicados e uma exigência na sociedade, inevitavelmente aos políticos se exigirá, na base do seu desempenho, comportamento e entendimento compatíveis com valores de consciência essenciais para o aumento de legitimidade no desempenho das suas funções.

A vida social privada dos políticos, confronta-os e coloca-os na atenção dos seus eleitores, aprisionando-os de certa maneira de forma ameaçadora e subjectiva, perante a sua eficácia e defeitos, enfatizando a esperança de mutação e contribuição para a moralização dos indivíduos na transformação social da sociedade.

Não podemos considerar a política e a moral como uma relação unívoca. Embora com características diferentes, torna-se necessária uma relação recíproca que não anule as características particulares de cada uma. Portanto, nem a renúncia à política em nome da moral; nem a rejeição absoluta, pura e simples da política.

Considerando-se a ética uma questão prática que ultrapassa a política, torna-se interessante como se exige ética na política, quando, muitas vezes, na vida privada procedemos de forma contraditória. Aliás, alguns casos considerados políticos, onde se exige ética, afinal de contas não passam de casos de polícia, devendo exigir-se a intervenção da autoridade policial, porque na realidade do que se trata são de casos de corrupção e não de falta de ética.

Esta relação directa de conceitos, na realidade está a contribuir para confundir e fazer passar uma pela outra, pois não podemos confundir a existência de moral nos partidos, quando o que na realidade existe, são códigos de ética e nada mais.

Não podemos confundir costumes com modos de ser. Enquanto a maneira de ser é a forma de comportamento moral dos homens em sociedade, os costumes referem-se e estão directamente relacionados com um conjunto de normas aceites pelo homem de forma livre e consciente, que disciplinam o seu comportamento individual.

A moral e a ética concorrem em patamares diferentes, mas materializam em concreto a regulamentação das relações entre os indivíduos e a comunidade, contribuindo assim para a estabilidade na ordem social.

A moral resulta da acção do homem enquanto ser social e prudente nos diversos patamares da evolução da humanidade, enquanto a ética acompanhando esse mesmo desenvolvimento, tem as suas origens em factos concretos, tendo, como particularidade, a existência de moral.Logo, se de um lado se exige ética enquanto componente da política onde a moralização se torna essencial e imprescindível, por outro, a consciência e o comportamento relacionado do indivíduo, choca e gera conflitos entre interesses de grupos opostos, potencializando ainda mais o choque com os imperativos morais do indivíduo, mostrando o quanto os interesses colectivos se sobrepõem à defesa do bem comum.


João Carlos Soares

terça-feira, janeiro 06, 2009

Reflexões sobre a Corrupção


Mutações e deturpação dos princípios de ética sob os quais se regem no seu desempenho as instituições que deveriam ser o garante e suporte nas democracias, tal como o acréscimo de casos de corrupção latentes na administração pública, e, mesmo a nível dos órgãos representativos do Estado, configuram-se como a causa e a razão para o declínio dos níveis de confiança na percepção e avaliação dos cidadãos, face ao desempenho dos partidos políticos na nossa Democracia.

Entendendo-se e analisando-se na óptica do comum dos mortais, este profundo mal-estar, resultante em parte, na forma e nos processos de decisão de quem nos governa, o distanciamento e a falta de renovação dos partidos com os seus militantes e simpatizantes, a forma autista como são encarados os graves problemas dos cidadãos, a miscelânea pouco clara e promíscua em que neste momento se fundem na relação da gestão público/privado, não salvaguardando de forma incondicional o interesse público, precipitam medos e frustrações nos cidadãos de forma mais intensa do que as suas esperanças e optimismo fariam prever.

A corrupção é uma prática ou comportamento, onde, aos valores de ética, se sobrepõem os interesses privados, valores esquecidos ou subalternizados no exercício das suas funções, para os titulares de cargos, sejam eles públicos ou privados.

Como tal, este tipo de comportamento viola e ultrapassa a fronteira do aceitável, defraudando as expectativas dos cidadãos, transformando-se numa conveniência, onde ninguém parece querer admitir, assumir, ou tomar decisões contra o seu próprio interesse.

Todo este naufrágio, resultado do vazio provocado no seio dos partidos pela ausência de ideologia, conceitos e ideias, estratégias auto sustentadas, incapacidade política, onde a capitulação dos líderes se sucedem em catadupa, a menos que se vislumbre estabilidade e capacidade dirigente confiável.

Por um lado não podemos esquecer, porque seria má fé, iniciativas levadas a cabo por algumas figuras de relevo nacional, como João Cravinho e outros, partidários do combate à corrupção, assumindo-a como uma prioridade política inequívoca à luta anti-corrupção, não só liderando um movimento com peso crítico substanciado, mas apresentando igualmente planos e iniciativas legislativas, visando a prevenção e combate a esse flagelo. Pena, que a maioria dos partidos, e os seus dirigentes, que a todos nós deveriam representar e proteger, se desinteressassem de tal missão, mostrando inequivocamente falta de coragem e pouco à vontade que sentem, em discutir e regular sobre esta matéria.

Enquanto os partidos não definirem as suas próprias linhas de orientação estratégica internas, para a forma, atitude e transparência como pretendem cultivar na formação dos seus quadros políticos os valores de ética dirigente, sem as quais não conseguirão uma cumplicidade e participação activa da sociedade civil, factor primordial e indispensável de transparência e de responsabilidade social.

A satisfação dos portugueses em relação às estruturas e instituições representativas, está cada vez mais hipotecada, sendo a mesma confiança proporcional ao desempenho da classe política em dar ou não resposta à forma de solucionar as necessidades dos mais desfavorecidos e, à capacidade em ultrapassar as deficiências do nosso sistema político.

A ausência de participação, cada vez maior, dos portugueses na actividade política, é um sinal preocupante de debilidade na sociedade civil, diminuindo e dificultando o enriquecimento dos partidos e instituições políticas, com a massa crítica indispensável e necessária ao fortalecimento da nossa Democracia.

A ausência de pressão da sociedade civil organizada, faz com que a classe política e as instituições que representam, se exponham e sejam cada vez mais vulneráveis aos interesses corporativos, criando as condições ideais e propícias à corrupção.


João Carlos Soares

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Castelos de cartas

Conhecidos como um povo de brandos costumes, começamos a padecer dos mesmos problemas.

O Homem tem desde o início da sua existência, uma máxima que diz: “ podem enganar muitos durante algum tempo, mas não todos durante toda a vida”.

Isto vem ao caso do desastre resultante do cair da máscara de um sem número de teorias económicas que têm contribuído única e exclusivamente para benefício dos poderosos, e posto a descoberto intenções pouco éticas e de uma injustiça moral e social, de que não temos memória.
Os cidadãos um pouco mais atentos, não têm quaisquer dúvidas, se alguma vez as tiveram, sobre as injustiças sociais, que, embora tenhamos conhecimento hoje, da existência de algumas ténues tentativas de as fazer sair do segredo dos deuses, de uma forma descarada, tiveram a sua origem e foram provocadas exactamente pela falta ou ausência no combate à corrupção.

Na política e nos partidos, a contradição é cada vez maior no que concerne aos objectivos, às intenções e razão da sua existência. A ambição torna-se fundamental e fixa-se única e exclusivamente na ascensão e padrões do poder, no intuito de poderem mandar e tornarem-se poderosos a nível material, em detrimento de conceitos e ideias, tornando-se cada vez menos credíveis e criando a desilusão e descontentamento nas populações.

Os embustes em que caíram aqueles que acreditaram nesse tipo de propaganda, alienados por modelos de consumo desenfreado e rentabilidade incomensurável, tornam mais evidentes os paradigmas de realidades tidas como verdades até um passado recente, tornando os pobres ainda mais pobres e os ricos aumentando o seu pecúlio, prosperando à custa da especulação, da corrupção desenfreada e permitida, e do tráfico de influências que manipulam a seu belo prazer.

Nos últimos dias não param as notícias sobre escândalos, parecendo que se avizinha um colapso institucional, tal é a forma e a intensidade como se vão desmascarando os disfarces em que os seus autores se têm escudado, figuras de proa identificados com as mais diversas instituições.
Este País vai sendo destroçado por mafiosos, e em cada dia que passa, mais um caso de corrupção chega ao conhecimento público, mas os seus autores já estão bem arrumadinhos com as contas e bens a salvo.

O PSD pela voz de Manuela Ferreira Leite, vem dizer que a crise é grave, e que deveria haver contenção nos valores do aumento salarial a atribuir aos trabalhadores com ordenado mínimo, 24 euros, provando a palhaçada em que se encontra neste momento o maior partido da oposição, quando evita pronunciar-se sobre a corrupção e muito em especial a corrupção da Banca. Porque será?

Quantos altos ex-dirigentes de diversos partidos, os quais tiveram responsabilidades governamentais, aparecem ou estiveram no BPN e no BPP?

Será que tudo isto vai ficar impune?

Até a estratégia institucional do actual Presidente da República e José Sócrates caminha para o colapso, não disfarçando o mal estar nas relações entre os dois mais distintos altos cargos da Nação.

Este ciclo tenebroso, teve o seu prelúdio com a queda abrupta das bolsas e a subida descontrolada e inflaccionada dos combustíveis, não sabendo como vai ser o final previsto para este filme tenebroso em que nos meteram, não querem assumir, nem pretendem responsabilizar, tal a conivência com os culpados envolvidos e que tenho sérias dúvidas venham a ser julgados.

De uma coisa podemos tirar as nossas conclusões, não restam dúvidas sobre a não existência de intrigas, maledicência perpetrada na calada da noite com fins obscuros de destruir pessoas bem colocadas.

Contudo, subsistindo ainda tantas dúvidas e desconfianças quanto ao futuro, acredito que os Portugueses têm a fibra e a coragem para trilhar um caminho sinuoso e traiçoeiro, para que, finalmente, à luz da justiça possa prevalecer a verdade.


Joao Carlos Soares