domingo, abril 28, 2013

EUROPA - Um sonho confiscado - Parte II


Sabemos que existem à nossa volta, muitas famílias que já passam por enormes dificuldades, convivendo com a carência de recursos materiais, com desequilíbrios e com a incapacidade de superar os problema do dia-a-dia, contudo, há aqueles que ainda não conseguem perceber, ou nada fazem para tentar perceber, as verdadeiras causas da miséria e da riqueza.

Ao longo dos tempos, pelas conquistas do homem, fica claro que a natureza colocou à sua disposição recursos ilimitados de desenvolvimento, prosperidade e fartura. Cabe no entanto, a cada um de nós, desenvolvermos habilidades que nos conduzam a podermos usufruir desses mesmos recursos.

Para conseguirmos ter uma vida equilibrada e sustentável, torna-se obrigatório trabalhar na harmonização do nosso modo de olhar e acreditar no futuro. Ser-se optimista é viver dentro das nossas possibilidades e oportunidades, é saber acima de tudo saber usar esses atributos com inteligência, numa reflexão profunda como encaramos esse futuro, observando tudo que nos rodeia com a confiança e a atenção necessárias, perante as situações que se coloquem.

Nesse sentido, a crise actual, faz-se sentir como um choque, utilizando-se a ideia do desastre económico, para permitir que os valores defendidos pelo neoliberalismo sejam implementados, através de mecanismos que vigiam e mantêm sob controlo as democracias nacionais. Esses mecanismos têm sido aplicados, nos países como Portugal, Espanha, Grécia e ultimamente o Chipre, e que teve na Irlanda a primeira vítima, com a aplicação de ferozes programas de ajuste, supervisionados por uma nova autoridade, composta pelo Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, a que dão o nome de Troika, instituições não democráticas, cujos membros não são eleitos pelo Povo, portanto instituições à margem dos interesses e representatividade dos cidadãos.

Estas instituições, com o apoio dos meios de comunicação de massas, que obedecem aos interesses de grupos de pressão económicos, financeiros e industriais, encarregam-se de criar as ferramentas de controlo que reduzem as democracias a um simples palco de representação, onde os actores não são mais que sombras e aparências, num enredo consentido pelos partidos no governo, onde se constata que as políticas levadas a cabo nesses países intervencionados, pouca ou nenhuma diferença fazem, curvando-se servilmente perante os especuladores financeiros e obedecendo de forma cega às regras impostas, liquidando por completo a soberania nacional desses países.

Sentimos que não existe qualquer reacção, no sentido de se colocar um freio à irracionalidade dessas medidas, impostas pela Chanceler Angela Merkel e ao ataque dos especuladores internacionais, optando por sacrificar as populações, como se o tormento infligido a essas comunidades, pudesse acalmar a ganância dos mercados.

Perante este quadro diabólico, terão os cidadãos capacidade e a possibilidade de reconstruir a política e regenerar essas democracias? Penso que sim, se o protesto social se fizer sentir, cada vez com maior acutilância, através de um crescendo de movimentos sociais reivindicativos, e não se deixando levar por mensagens arquitectadas no sentido de que a situação, por que estamos a passar, se devem à crise e que esta crise é um acidente, mas que com as medidas que propõem, as coisas voltarão rapidamente a ser como eram antes.

Não nos podemos deixar levar, por esse tipo de explicações, porque a ideia que pretendem passar, não passa de uma miragem. Temos que ter a consciência de que, se nada fizermos em contrário, nada será como nos pretendem fazer crer, porque esses ajuste e sacrifícios pedidos, não são por causa da crise, mas estruturais, pelo que a continuarmos neste caminho, o protesto social irá crescer, e poderá alcançar níveis relevantes e de confronto.

Perante este caos, a que conduziram o sistema político, chegou a hora de se exigir rapidamente a construção de um novo sistema político, que permita um novo modelo de vida e uma nova e verdadeira democracia do Povo.

Em cada país, o povo deve lutar e combater os seus ditadores, canalhas nazis que sob a capa da União Europeia, com políticas de extrema-direita impostas aos governos nos seus países, impõem a sua vontade, através de medidas restritivas, apoiadas pela calada por partidos com responsabilidades sociais, precisamente pela falta de informação, de cultura e de envolvimento e participação das pessoas.

Desde a Segunda Guerra Mundial, que os trabalhadores e as famílias, em geral, não passavam por tão grandes necessidades, em termos de rendimentos do trabalho e de direitos sociais, sofrendo cortes tremendos nos salários e pensões, onde o flagelo do desemprego, sem precedentes, assume valores descomunais e uma carga fiscal desproporcional aos rendimentos, numa Europa dominada pelos interesses convergentes dos grandes centros de negócio, dos especuladores financeiros e das políticas neoliberais dos governos nacionais, perante uma crise neoliberal que é uma guerra contra a classe trabalhadora e que aposta na destruição total dos serviços públicos.

Neste momento, face ao drama que percorre praticamente todos os Países da Europa do Sul, torna-se mais que óbvio a necessidade de se construir uma Nova Europa, uma Europa que se liberte dos seus esbirros, e se organize nesta guerra sem fronteiras, de resistência internacional, contra a barbárie anti-social dominada pelo capital ou por qualquer outra forma de imperialismo.

É preciso encontrar um modelo alternativo assente no reforço e restabelecimento dos valores e princípios democráticos e na necessidade de construir uma nova ordem social, que reponha os direitos sociais e laborais através de toda a Europa.

Verifica-se de uma forma descarada, a tentativa daqueles que são os principais responsáveis por esta crise, os sectores dos grandes negócios, os especuladores e os governos neoliberais, em transferir a factura dos seus desmandos para os que por ela não são responsáveis, trabalhadores, pensionistas, jovens e desempregados.

Devemos mobilizar os Portugueses para elevar a luta pela defesa do emprego, salários e pensões, e acabar de vez com a especulação financeira, exigir que seja exercida justiça sobre aqueles que se envolveram e estão envolvidos nas grandes negociatas, que criaram a dívida pública e provocaram a degradação dos nossos recursos naturais, meios de produção e transformação, e transformaram este país num autêntico casino.

João Carlos Soares

Barreiro, 28 de Abril de 2013

sexta-feira, abril 26, 2013

Lutar por Abril



Ao consumarem-se 39 anos da libertação do jugo fascista, sempre o 25 de Abril, uns anos mais, outros menos, saiu o povo à rua para comemorar “A LIBERDADE”, dando largas e recordando os homens que naquela madrugada fizeram deste Portugal uma terra de solidariedade.
Sempre o 25 de Abril foi visto como um dia de festa, o dia em que os Portugueses conheceram a liberdade, acreditando que essa liberdade seria nossa para sempre. Passados estes anos, constatamos uma triste realidade, bem diferente daquela que nesse dia vaticinámos, para nós e para os nossos filhos, uma triste e dura realidade que põe em risco a nossa soberania, que a troco e vendida por alguns milhares de milhão, para serem distribuídos por alguns, e alguns a sentenciar muitos milhões de cidadãos a viver na miséria, como se tivesse sido instaurada uma nova ditadura nas fraldas da democracia, num país que mais parece uma casa de alterne, sem esperança e de alternativas desacreditadas.
Cada dia que passa, se torna mais doloroso ver este povo que saía à rua a cantar e dar vivas a festejar este dia de liberdade, a ser amigo, solidário, a mostrar que o futuro era auspicioso e nada tinha a ver com a situação que hoje vivemos. Custa olhar para as multidões, onde a tristeza, o conformismo e o desalento tomaram conta de cada um de nós, dobrados ao peso da tirania dos governantes e de uma imprensa manipulada e controlada pelo poder.
Revolta-me sentir Abril desfalecer, como se o sangue que nos corre nas veias mudasse de cor, cor essa que já nem os cravos que simbolizaram a revolução, conseguem disfarçar, razão pela qual deixei de estar em festa, e passei a estar de luto e em luta, contra um futuro que não aceito e que me querem impor, em luta contra a mentira, em luta contra um país que alguns pretendem ver uma vez mais adiado.
Estou em luta, porque acredito que ainda existe em cada um de nós, uma réstia desse dia em que o povo saiu à rua, chorou, cantou e acreditou naqueles que há 39 anos acreditaram ser possível viver num país justo e solidário.
Estou e estarei em luta até que haja um novo rumo para os desmandos de que estamos a ser vítimas, e onde o protesto seja qualquer coisa mais do que um simples gemido de revolta inconsequente, porque se queremos que nos respeitem, se queremos deixar de ser usados como bonecos de palha, não podemos, de forma alguma permitir que nos roubem a nossa soberania, enredados nas malhas perniciosas da especulação institucional monetária da União Europeia.
É inevitável, imperioso e incontornável, uma alternativa credível à catástrofe crescente, ao estado de precariedade social, em que se encontram milhares e milhares de famílias, para não nos sentirmos culpados, no futuro, pelo verdadeiro suicídio nacional, porque esse não é nem podemos deixar que seja o nosso destino.
João Carlos Soares
Barreiro, 26 de Abril de 2013

domingo, abril 14, 2013

EUROPA - Um sonho confiscado



Quando ligamos a televisão e desfolhamos as páginas dos jornais, sentimos que os media tentam distrair os cidadãos com doses maciças de embrutecimento colectivo, com o objectivo de nos fazer esquecer a vaga de cortes e direitos consignados pela Constituição, em que os efeitos dolorosos sobre a maioria da população se transformaram em calamidade nacional, e que só não criam um estado de amnésia nessas mesmas populações, porque começam a surgir diversos movimentos contestatários, mantendo o necessário e indispensável estado de alerta social.
É também verdade que existe a necessidade de quebrar com o pessimismo excessivo que começa a granjear entre a população, desiludida com a forma promíscua como se faz política em Portugal. Torna-se imprescindível deixar alguma passividade sentida na sociedade, como que entregue à sua triste sina e destino, para nos convertermos em agentes da mudança, de forma activa, assumindo o controlo das nossas próprias vidas, neste grave momento de grandes incertezas, onde os cidadãos não entendem quem nos comanda, conduzindo a uma crescente perda de confiança nos políticos e nas instituições partidárias.
A pressão e medo instalados, através de discursos sobre a dramática situação económica, em que políticas pouco saudáveis, colocaram o país em quatro décadas, pretendem condicionar os cidadãos, para assim os poderem melhor controlar, reduzindo os seus direitos, e limitando as liberdades de todos nós. Vivemos talvez o momento mais perigoso das nossas vidas, porque as consequências de tamanho desmando e comportamento, afectam directamente o nosso futuro e o futuro das gerações vindouras.
Impingem-nos a teoria de que só com salários baixos, se podem garantir os postos de trabalho, num crescendo de precaridade e segurança, quando os senhores do capital, apenas seis famílias à sua conta possuem cerca de 28% do Produto Interno Bruto (PIB), à volta de 28 mil milhões de euros, transformando este país numa coutada, onde poucos, são cada vez mais ricos, quando a maioria vive no limiar da miséria. Este medo promovido e alimentado para a necessidade de conservação dos postos de trabalho, são uma forma inequívoca de controlo social extremamente poderosa e perigosa.
Quando o cidadão deixa de reconhecer a legalidade representativa de quem está à frente dos destinos do país, desiludidos por programas propostos e sufragados que não são cumpridos nem respeitados, produz-se uma dicotomia entre o poder e a política. Em democracia, os candidatos que, pela via política conquistam a confiança dos eleitores atribuindo-lhes o poder executivo, estão esses eleitores à espera que sejam eles os únicos a exercê-lo ou delega-lo com toda a legitimidade, o que não está a acontecer actualmente nos países da União Europeia, subjugados às regras do FMI e BCE, este último nas mãos dos grandes grupos económicos desde o Tratado de Maastricht.
Actualmente, com as regras impostas de Bruxelas, os governos locais deixaram de representar a vontade expressa pelos eleitores, porque acima desses governos democraticamente eleitos, se sobrepõe para além da Alemanha através da Chanceler Angela Merkel, poderes não eleitos, que de forma suprema impõem a sua agenda e ditam a sua conduta, a tecnocracia europeia e os mercados financeiros.
Os defensores do europeísmo, subjugado aos mercados e obedientes de forma cega, aos tratados e mecanismos europeus, transportam na sua génese as bases do neoliberalismo, punindo qualquer desvio ou indisciplina que contrarie a ortodoxia neoliberal, de tal forma que, os governos de cada país, aprisionados, avançam nos corredores da política obrigatoriamente numa única direcção, sem espaços de manobra e sem qualquer tipo de poder.
Neste pressuposto, as instituições políticas tornam-se cada vez menos credíveis, aos olhos do eleitorado, porque não desempenham nem têm qualquer papel na solução dos problemas com que os cidadãos, nos seus países, de um momento para o outro, se viram confrontados. É a democracia que está em causa, porque se sente um abismo cada vez maior, entre o que as pessoas escolheram para as suas vidas, e as ordens e regras impostas pelos mercados de casino, que engolem os direitos sociais das comunidades, retirando-lhes ou obrigando à cedência nos seus direitos fundamentais.
Estamos a assistir, talvez, à maior batalha alguma vez pensada, entre o interesse dos estados, enquanto nação, e o mercado financeiro e económico globalizado, enfeudado por uma ambição totalitária, que tudo pretende controlar, desde a economia, a política, a cultura, a sociedade e cada um de nós. Numa associação perversa aos meios de comunicação de massas, também eles controlados, transformando-os no seu aparelho ideológico, pretendem fazer implodir os avanços sociais conquistados com enorme sacrifício de várias gerações, transformando e obrigando estados soberanos a uma intolerável dependência e obediência.
Estando em causa a democracia, também o estão a igualdade de oportunidades. É doloroso vermos uma conquista, como a educação, de forma silenciosa, ser depauperada com cortes, como o são o despedimento anunciado de milhares de professores, os quais terão como consequência, uma educação de baixo nível, com condições estruturais deficitárias e difíceis, não só para os professores, mas também para os alunos. Como resultado, o ensino público terá grandes dificuldades em estimular o aparecimento de jovens das classes mais desfavorecidas. Por outro lado, as famílias mais abonadas, farão crescer seguramente a educação privada, criando-se de novo categorias sociais privilegiadas, que alcançarão a postos de comando, enquanto os outros só poderão acalentar a esperança de ter acesso aos postos de obediência.
João Carlos Soares
Barreiro, 14 de Abril de 2013