sábado, setembro 22, 2007

Consciência Pública.



Com o decorrer dos anos, tem-se vindo a convencer as pessoas da existência de factores que estão por detrás das habituais referências na corrida ao poder, quer sejam no campo económico, político, militar e religioso, os quais incluem igualmente o poder atribuído aos mídia e à opinião pública.
Estas referências do quotidiano, em virtude de não deixarem indícios das constantes subjacentes, escondem geralmente tanto ou pouco mais do que revelam ou podem deixar transparecer.
Devemos a todo o custo identificar e tornar visíveis as fontes de poder dissimuladas, quer na personalidade dos seus agentes, quer na organização do modelo de sociedade imposta, tal como tentar a todo o custo expor os instrumentos com que o poder instalado se exerce, coage e é coagido.
Antes de mais, é preciso tentar entender-se o que faz correr as pessoas atrás do poder, quais as intenções que as levam a procurá-lo, bem como da forma e estado de espírito como o assunto deverá ser abordado.
Tal como com o que diz respeito ao poder em geral, a finalidade pela qual é procurado, são de certa forma amplamente entendidas mas muitas das vezes, senão sempre, muito rara e explicitamente expressas. Indivíduos e grupos abeiram-se e cativam o poder para desenvolverem os seus próprios interesses, incluindo, nomeada e exclusivamente, os seus próprios interesses pecuniários, valores pessoais e sociais, descurando a defesa e valorização do bem público.
O político procura o apoio dos seus eleitores formulando e reformulando promessas encima de promessas, muitas vezes como forma de submissão dos seus eleitores às suas necessidades, por vezes sem qualquer tipo de intenção no seu cumprimento, mas simplesmente como forma de se manterem no poder.
Se estiver estreitamente confinado aos interesses de um indivíduo, diz-se que o poder é procurado com fins egoístas; no entanto se o reflexo e percepção desse interesse for extensivo a um número muito mais vasto de pessoas, os envolvidos são considerados como alguém politicamente inspirada, lideres, mesmo que se fiquem por uma mascarada forma de defesa dos interesses colectivos.
Todos sabemos e reconhecemos, infelizmente, que as intenções que levam por vezes à procura do poder são muitas vezes falsas, intencional e habilidosamente escondidas pelos seus actores.
A falência de estratégias e objectivos sociais nas políticas partidárias, têm conduzido os partidos na procura de apoios influentes nas áreas económicas, os quais mais tarde apresentam à sociedade como benfeitores públicos, apontando-os hipocritamente como agentes diligentes na sociedade e amigos dos pobres.
Em todas as sociedades o exercício do poder continua a ser considerado profundamente apreciado e apetecível, pois os rituais que o mesmo proporciona aos seus agentes, faustos e pretensiosos jantares e banquetes, lugar privilegiado nos desfiles, multidões de admiradores e discursos aplaudidos, são como que uma celebração principesca de posse do poder.
Tanto no contexto como no exercício do poder, resulta numa vaidade como sensação de valor auto accionado, aspecto debilitante da existência humana que a fragiliza e faz correr actualmente tanto perigo, não só pelos serviços que presta aos interesses pessoais, valores ou percepções sociais, mas também para benefício próprio, pelas recompensas materiais e emocionais inerentes à sua posse e exercício.
Porém, enquanto que a procura do poder pelo poder não é admissível, a realidade, como sempre, deverá fazer parte da consciência pública.

João Carlos Soares

terça-feira, setembro 04, 2007

Participar........, pensando Global


Para uma participação política mais evidente, torna-se necessário, ou existe como que uma urgência, um jogo de sobrevivência e vida, de esperanças e de grandes desgostos.
Resulta daí uma tendência naqueles que desejam restituir algum sentido e algum vigor a uma política da qual muitas pessoas fogem, para utilizarem abordagens esquivas, elaboradas e mais localizadas. Contudo, é grande o risco de que, face à monotonia da vida democrática, apareçam cada vez mais atitudes anti-políticas, populistas, nacionalistas, racistas e autoritárias.
Falar-se em termos gerais de défice político da sociedade, é um erro; devemos, isso sim, reflectir sobre a mutação contemporânea a que o agente político se encontra sujeito, o qual se nos apresenta e surge numa primeira instância com o aspecto de uma crise, a começar pela crise da sua própria identidade e representatividade.
Não falando dos bloqueios e das disfunções que começam a afectar alguns sistemas políticos, uns mais do que outros, resultado do processo de globalização em curso, ou devido à sua estrutura ou por razões mais conjunturais, submete-se esse mesmo sistema político sacudindo-o e obrigado-o a transformar-se e adaptar-se por evoluções que provêm e resultam, umas das alterações no interior da nossa sociedade, outras provenientes e externas a essa mesma sociedade.
Do ponto de vista interno, o sistema deve aprender por si, ou reaprender a enfrentar as questões sociais, os dramas provocados pela crescente pobreza dos povos, da exclusão, dos filhos sem pais, da falta de segurança, das injustiças e das desigualdades crescentes.
Tudo isto exige que sejam tomadas medidas voluntariosas, por forma a garantir, num futuro próximo, o tratamento dos imensos desafios culturais que dizem respeito à vida e à morte, aborto/eutanásia, à procriação, à família, às relações entre sexos e responder de forma construtiva e formativa, ao surgimento de entidades colectivas étnicas, com as suas memórias colectivas, as suas expectativas de reconhecimento, direitos e obrigações.
Do ponto de vista externo, é necessário encarar e saber resistir com estoicismo e bravura às pressões que são exercidas cada vez com mais intensidade a partir do exterior, o que obriga os sistemas políticos a adaptarem-se às lógicas brutais do capitalismo financeiro e do comércio sem fronteiras, ou ao fluxo migratório, que provoca, sem qualquer dúvida nos países de acolhimento desses fluxos, tendências para a etnicização da vida colectiva da sociedade receptora, aumento das tensões sociais, a exacerbação do racismo, da xenofobia e, muitas vezes, o aumento da violência, o extremismo e consequentemente o aproveitamento político-partidário transformado em atitudes de puro e mediático populismo.
Os actores políticos, neste quadro de globalização, devem aprender e pensar igualmente de uma forma global, inventando e criando raciocínios que os conduzam a propostas que lhes permitam, de certa maneira, ultrapassando as fronteiras a que geograficamente e culturalmente continuam sujeitos, projectando-se e divulgando o seu país no mundo inteiro, sem deixarem nem delegarem essa responsabilidade apenas aos supostos especialistas das relações internacionais.
Mas se se torna possível falar de mutação, e não apenas de crise, porque razão existe um forte sentimento de défice político nos seus actores?
A resposta a esta interrogação, bem como a clarificação desses mesmos actores, só com grande dificuldade a conseguimos discernir, face à componente esquerda direita, que resiste como factor diferenciado no status-quo de uma sociedade predominantemente redutora como a nossa.
O défice político, só deixa de ser um problema das sociedades que, nunca tenham conhecido uma organização onde a ideologia e os princípios se regem por projectos, princípios de igualdade e de articulação das exigências sociais com o Estado, e esse de certeza que não será um problema para a direita mas sim para esquerda, que tem que fazer um esforço constante para evoluir, mantendo-se fiel na defesa e resolução dos desafios da nossa época, abdicando até, se assim for necessário do estado-providência, hipotecando perante os seus apaniguados os princípios e os conceitos que têm suportado ao longo dos tempos a sua postura perante os mais carenciados.
A revitalização ou a recriação em larga escala da social-democracia, esgotada e condenada em certos momentos da nossa história, torna-se imprescindível e necessária, a fim de que possam ser propostas novas formas realistas de solidariedade, renovando-se as instituições e abrindo-se novas expectativas, sociais e culturais, diferentes ou pelo menos oxigenadas, daquelas que polulam na contemporaniedade dos nossos tempos, num mundo de trabalho industrial protegido e da função pública, ou similar, mundo sobre o qual ela ainda hoje se apoia com demasiada e excessiva força.


João Carlos Soares