Torna-se pertinente e urgente reclamar à classe
política, uma necessária reflexão e autocrítica social racional, para que,
conscientemente nos possamos questionar que tipo de sociedade pretendemos e
ambicionamos para o futuro.
Quer se goste ou não, na sua essência a classe
política, não é nada mais nem menos do que a amostra da sociedade em que
vivemos, pela simples razão que são uma opção de escolha dessa mesma sociedade.
Quando temos alguém contaminado, e retirarmos uma
amostra do seu sangue, constatamos que essa amostra também tem que apresentar
os valores de contaminação do indivíduo, por isso, não podemos esperar muito de
uma classe política, quando ela é uma pequena amostra de uma sociedade que está
enferma, corrompida, individualista, egoísta e mal formada.
Uma sociedade que constantemente critica os
corruptos, mas que tenta escapar constantemente às suas obrigações, enquanto
cidadão, reclama dos políticos mas também ela não cumpre as suas obrigações.
É de todo, senão imprescindível, consciencializar
a sociedade portuguesa que, se nada fizer em contrário, caminhamos a passos
largos para um pântano de areias movediças, que por elas apanhados, muito
dificilmente, senão impossível, delas nos iremos libertar.
A Alma Lusitana é enorme, a História o reconhece,
mas não podemos continuar a alimentar uma sociedade cínica e medíocre, sem
projecto de nação, sem caminho e por ordem de ideias, sem futuro, à sombra de
um passado que nos granjeou admiração perante um Mundo que aprendeu a
respeitar-nos.
Nunca será demais alertar para a obrigação de não
permitir nem deixar escapar a oportunidade de fazer valer os nossos direitos,
pelos sacrifícios a que fomos expostos e que vivemos, para chegar onde
chegámos, para que todo o sofrimento e carências, ao longo dos tempos, não tenham
sido feitos em vão.
Há que discernir e procurar homens e mulheres na
política, que se comprometam com a responsabilidade que lhes cabe em construir
um país equilibrado, com um projecto claro de nação, em que as leis não sirvam
só para mascarar todo o tipo de trafulhices de quem está no poder, onde as
pessoas se respeitem mais, onde os compromissos sejam para ser cumpridos, onde
todos tenham consciência dos seus direitos e obrigações, mesmo aqueles que os
desconhecem.
Poder-se-á pensar que tudo isto é utopia, mas os
projectos elaborados de forma séria e aplicados com coerência, respeito e
dignidade, actuarão politicamente de forma muito mais eficiente na submissão do
poder económico, definindo-se poderes sociais coerentes com a dignidade de
todos, se o povo for o fiel depositário da cidadania e consciente que num
regime democrático será ele o titular do poder.
Para que exista um poder que não ofenda os
sagrados direitos numa sociedade democrática, é preciso haver regras para
estabelecer e delimitar o seu uso, como garantia dos limites estabelecidos no
anfiteatro da luta política.
Os discursos inflamados dos políticos da nossa
praça, tornam-se incómodos quando expostos à realidade, porque a política só
fará sentido se tiver algum efeito na vida das pessoas, se conseguir
influenciar o que começa a constatar-se como inevitável, uma mudança sistémica
necessária neste sistema político-partidário putrefacto, que só não cai porque
está intrinsecamente ligado ao poder, sobrevivendo e perpetuando-se no tempo, na
dependência e existência do outro mas infestado por políticos incompetentes,
abrigados sob a capa da impunidade parlamentar instituída, contaminando tudo à
sua volta e servindo de exemplo e modelo para um sem número de corruptos à
espera que chegue a sua oportunidade.
Não chega exigir-se uma reforma política, pois
mesmo que a essa reforma se venha a concretizar, acabando com toda a
roubalheira e podridão a que assistimos no dia-a-dia, esta só se poderá vir
concretizar, se existir coragem para levar por diante a reforma tributária e
jurídica do Estado.
Essa reforma, contrariamente ao que o governo
está a fazer, tem que incidir e assentar na redução dos impostos sobre o
consumo, com efeito imediato nos preços ao consumidor, o que aumentará o
consumo e a rotatividade dos mercados, salvando e viabilizando, a médio e longo
prazo, as pequenas e médias empresas praticamente falidas resultado da quebra
no poder de compra dos consumidores.
Não chega mudar os protagonistas, mantendo os
mesmos privilégios para certas elites, pois acreditar que essa simples mudança,
melhoraria política e socialmente o nível de vida e estabilidade económica do
País, mais facilmente se poderia acreditar na existência do Pai Natal.
Se alguma dúvida ainda existisse, após 38 anos de
democracia em Portugal, as promessas e compromissos assumidos pelos diferentes
governos democraticamente sufragados, facilmente nos apercebemos que uma coisa
são os programas eleitorais que nos impingem, para comprar o voto de cada
cidadão, outra coisa é a realidade na sua concretização.
Torna-se necessário e imprescindível acordar as
pessoas para a constatação deste facto, alertando-as para a necessidade de uma
reforma nos princípios ideológicos e na mentalidade do País, correndo o risco
de sermos cúmplices de negligência nas reformas necessárias, permitindo que
todo o sector público seja alienado.
Admitirmos que não temos respostas para todos os
desafios, e se não formos prudentes e conscientes nas escolhas, estaremos
expostos e impotentes a uma avalanche neoliberal, através de medidas que terão
a sua principal incidência no acréscimo da carga fiscal sobre os contribuintes,
sem contrapartidas para o Estado, diminuição dos salários, educação,
transportes, reformas e assistência médica, tornando a população cada vez mais
pobre e espoliada dos seus direitos, por gente que agarrados ao poder não são
mais nem menos do que autênticos bandos de salteadores.
João Carlos Soares
Barreiro, 29 de Janeiro de 2013