terça-feira, dezembro 06, 2011

Resignação e Desencanto


Passados seis meses da prometida salvação da Pátria anunciada pelo programa de governo do PSD em campanha, onde para atingir os seus objectivos valeu de tudo, nem que para isso tivessem que mentir aos Portugueses, enganando mais uma vez os incrédulos cidadãos deste Portugal vilipendiado com promessas que sabiam perfeitamente não conseguir cumprir, assistimos de forma serena e impávida, ao anúncio de uma época de sacrifícios, só para alguns, os quais num contexto internacional sem alternativas, em que nos encontramos mergulhados como um facto e sem opção, tristes e dramáticas consequência vão trazer uma vez mais à população.


Em abono da verdade, e apesar de se ouvirem críticas a quase todas as alas políticas, relativamente ao estado da Nação, também não é mentira nenhuma, ou então estarei desatento ou a sofrer algum lapso de memória momentâneo, porque propostas sérias e concretas para alterarem este aluvião de desgraças, apontando caminhos possíveis e viáveis para agitar a sociedade ou até mesmo para mexer com aquilo que poderá activar a força contestatária deste país, são quase residuais ou inexistentes.

A resignação está a apoderar-se de todos nós, dando como facto consumado tudo o que se propagandeia, aparecendo poucos sinais de vitalidade contestatária nos movimentos de indignação que entretanto se vão fazendo ouvir, um pouco de forma envergonhada, sentindo-se algum birra e divórcio entre estes movimentos e as organizações defensoras dos direitos dos trabalhadores, as centrais sindicais, como se pôde constatar no dia da greve geral.

A situação vai afectar todos sem excepção, não poupando mesmo aqueles que agora se sentem protegidos nos seus empregos ou a coberto das suas reformas, ou que pensam que irão ter sempre os seus direitos salvaguardados. Torna-se necessário unir forças, evitando qualquer tipo de clivagem entre uns e outros, pois a demanda por mais justiça social deverá ser a única motivação para alimentar e envolver todos quantos estão a ser afectados pelas políticas neoliberais em curso.

Estas políticas de resgate iniciadas pelo anterior governo e implementadas pelo actual, vão dilacerar e desventrar o que resta da residual capacidade produtiva deste país, alienando tudo o que ainda rende para a fazenda pública, colocando inclusive em causa a nossa independência enquanto Nação soberana.

As organizações representativas numa democracia de valores ético-morais, onde os valores como o mérito, autoridade, ordem, segurança, pátria e família deveriam ser preservados, têm agora a obrigação de capitanear todo este exército de gente atraiçoada que é o povo, por ter confiado em oportunistas corruptos que nos sugaram, construindo fortunas pessoais ao longo de todos estes anos, porque é indispensável cerrar fileiras contra o desaforo de quem dirige os destinos de todos nós.

Não menos importante e a defender são as questões relacionadas com a solidariedade, responsabilidade, universalidade e serviço público do Estado perante os cidadãos, chamando à coacção todos quantos transformaram o exercício da política num caso de polícia e justiça.

Não será por acaso que assistimos à pertinência do debate a partir da constatação dos factos, onde os roubos e os escândalos vão chegando em catadupa à praça pública.

Faz parte do comportamento humano uma certa pacatez, passividade e tolerância perante as inevitabilidades e adversidades pessoais e as causadas por terceiros, especialmente os políticos, que repetem constantemente de eleição para eleição a mesma ladainha do nada sabemos, não conseguimos, o problema é dos outros.

Este tipo de resignação dos eleitores, com uma grande abstracção ao que se passa no interior dos partidos e nas suas escolhas, que suporta tudo sem se revoltar e sem esboçar qualquer reacção punitiva, contaminam os próprios partidos políticos, que abdicando de uma análise efectiva e crítica perante as situações, permitem-se continuar a apresentar candidatos com perfis pessoais discutíveis e duvidosos, engrossando um exército de malfeitores sem ética nem moral, onde a hipocrisia, o cinismo, os negócios e os interesses de cada um, prevalecem em relação aos verdadeiros valores na gestão da coisa pública.

João Carlos Soares

Barreiro, 06 de Dezembro de 2011

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