domingo, fevereiro 04, 2007

Corrupção e Sistema (...cont)

Parte II


Existem pessoas, tal como eu, que nos encontramos no limiar ou mesmo até à beira de um abismo, onde pouco ou nada falta para que uma enorme descrença na democracia provocada pelo desgaste e falência nos partidos, precipite a nossa confiança, em acreditar na possibilidade de se construir um país com mais dignidade, onde a ética e a justiça se perfilem numa grande marcha contra o autoritarismo, o individualismo de alguns ou o populismo e demagogia das elites instaladas.
Começamos a sentir e a sofrer as consequências da fraude e desrespeito pela lei, onde o salve-se quem puder prevalece, e hipoteca a credibilidade dos partidos, através do descontentamento e expectativas defraudadas dos seus militantes e simpatizantes, manifestadas quase sempre num compulsivo afastamento e contestação aos seus dirigentes.
Com todos estes desequilíbrios que um sistema democrático proporciona, começam a gerar-se algumas preocupações em determinados meios de influência, receando-se até que o descrédito da população nos políticos e subsequentemente arrastando esse descrédito em relação ao próprio sistema, possa mais tarde ou mais cedo vir a criar condições a ideias autoritaristas, como desculpa e argumento para a refundação de um novo ou qualquer sistema político eleitoral, pela reconstrução dos ideais republicanos, num esforço pela salvação da pátria.
O crescendo da abstenção, votos nulos e brancos de processo em processo eleitoral, devem inquietar e preocupar todos aqueles que defendem um sistema democrático, pautado pela defesa dos valores e direitos dos cidadãos, sustentado numa estrutura representativa, justa, séria e credível entre os seus pares.
Nos últimos anos, temos assistido a uma passividade consentida dos governos, evitando tocar sectores da sociedade, como forma expedita de manter apoio eleitoral, alterações essas, que de uma forma ou outra, venham a proporcionar e restabelecer uma maior equidade social, como exemplo, o que se passou nalgumas classes sociais privilegiadas, Juízes, Médicos, Professores, Políticos, etc......
Não é o que se passa neste momento com o actual governo, pois de todos os que nos últimos anos têm tido a oportunidade de o fazer, foi o único, que até ao momento, tem tomado algumas iniciativas reformistas, as quais sendo no meu entender de alguma forma exíguas, são com certeza, um sinal de vontade e predisposição para alterar os acontecimentos, e pela primeira vez criar reacções rompendo com tabus e privilégios.
Se o Governo alguma coisa tem vindo a fazer no desempenho do seu programa, apresentando algumas reformas, que têm para todos os efeitos criado mexidas na inércia constatada nos últimos anos, também é verdade que algo mais deveria ter sido feito a nível da corrupção, tendo com a posição assumida pelo grupo parlamentar que suporta o Governo, rejeitando o plano recentemente apresentado pelo Eng. João Cravinho, levantado mais uma vez dúvidas e desconfiança na razão das suas intenções e, de certa maneira, perdendo, julgo, na altura certa, esta oportunidade única.


(cont.....)

João Carlos Soares

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