O Valor do Nosso Exemplo
Será que a
classe política e o povo deste país conseguirão, face ao riso hipócrita das
hienas que infelizmente proliferam na nossa fauna política, dar uma resposta
imediata e convincente, para resgatar eticamente os princípios subvertidos da
democracia?
A reação dos cidadãos, face ao desmando ético e
político da vida pública, traduz-se na desconfiança como os cidadãos encaram as
instituições. A indiferença e a ineficácia de algumas instituições,
prejudicadas pela corrupção, fraude e desrespeito pelos elementares direitos
assegurados pela lei, geram cada vez mais a suspeição e o descrédito,
escancarando e abrindo espaço à injustiça, descompromisso social e aumento da
criminalidade, abrindo cada vez mais espaço para os oportunistas de última
hora.
No meio de
tanta perplexidade, começa a submergir um sentimento fétido e perigoso amparado
numa retórica saudosista auto elogiosa, apontando a culpa sempre para os
outros, não se admitindo e reprimindo as críticas, tomando de assalto a
consciência dos que vivem o presente, num mundo que pretendem fazer gravitar em
torno de fantasmas do passado.
Falar de
crise neste momento, vinculados a um sistema político cada vez mais estranho,
distante e alheio à realidade social, num mundo onde os nobres deputados, as
vossas excelências, parecem não viver a realidade do povo, como se nada
tivessem que ver com o caos que ajudaram a construir, é matéria suficiente para
repensarmos os valores sobre os quais assenta a atividade política e os perigos
inerentes ao descrédito diante da política e do que denominamos por democracia,
a qual tendo as limitações que se lhe reconhece, não pode nem deve ser
simplesmente desfigurada.
Tudo isto,
potencializado por uma cada vez mais que evidente selvajaria representativa no sistema
partidário, receio estarmos a contribuir para uma enorme descrença na
democracia e a hipotecar em definitivo a possibilidade de se construir um país
onde prevaleçam a dignidade, ética e justiça.
A História
diz-nos que estes momentos de fraqueza das sociedades, proporcionam e facilitam
a ascensão do autoritarismo, o populismo e o individualismo, onde o que prevalece
é o, salve-se quem puder.
Todo este
triste espetáculo proporcionado por agentes políticos com poucos escrúpulos,
transformam, e desacreditam, cada vez mais, a própria atividade política,
fazendo com que a indiferença de uns e o negativismo de outros fortaleçam os
argumentos preocupantes dos que em abstrato se apresentam com indiferença
perante todo ou qualquer envolvimento na política.
A abstração
ingénua e moralista, que eclipsa e dissimula uma certa ignorância e leviandade
egoísta de uns quantos, que não conseguem pensar para além da sua própria vida,
ajuda e alimenta um triste espetáculo de oportunismo e corrupção,
desacreditando cada vez mais a própria atividade e desempenho político dos seus
atores, abrindo espaço a uma cada vez maior corja de ladrões que, desde sempre,
espreitaram os cofres públicos, prontos para a golpada à primeira oportunidade
que se lhes depare.
O acentuar
de uma certa indiferença ao que se passa no dia-a-dia, o egoísmo ético e o
interesse exclusivo de cada um, faz de cada cidadão cúmplice ativo do assalto a
que o Estado está sujeito, ou então, é ele próprio também seu beneficiário,
neste triste espetáculo de corrupção que enoja e torna a atividade dos
políticos cada vez mais desacreditada perante os seus eleitores.
O Poder
desde que corrompido, engrossa cada vez mais as fileiras daqueles que, pela sua
indiferença, desconfiança e, porque não, algum egoísmo, inconscientemente
contribuem para a manutenção ou renovação no poder, desta corja de ladrões à
frente dos destinos deste país espoliado.
A falta de
participação ativa dos cidadãos, a sua indiferença perante os acontecimentos do
dia-a-dia, contrariamente ao que julgam, com esta atitude, proporciona cada vez
mais, o avolumar da corrupção, tornando-se corresponsáveis e alimentando a
corrupção.
Não tomar
partido, não ter participação ativa nas escolhas que a Constituição no concede,
através dos diversos atos eleitorais, contrariamente ao que pensam, estão a
contribuir com a sua indiferença para a manutenção desta corja de ladrões que,
à primeira oportunidade, sempre na mira dos cofres públicos, estão prontos e
disponíveis para dar a golpada.
O que caracteriza
um Estado como o nosso é, a forma como os seus cidadãos participam e decidem da
coisa pública, onde a responsabilidade de todos, eleitos e eleitores, sem
exceção, são o garante e vinculam cada cidadão aos destinos do seu país.
Pensar o
contrário, nivelando todos os políticos pela mesma bitola e
responsabilizando-os por tudo o que de negativo acontece na vida do País, estão
a enganar-se a si próprios, pois estando os políticos no desempenho de uma
atividade onde estão mais expostos, nada podem fazer se outros fatores externos
não existirem, por outras palavras, se eles forem corruptos, terão
inevitavelmente que existir agentes corruptores, e de igual modo não poderemos
considerar que todos os políticos são corruptíveis.
Para
combatermos esta turba de agentes políticos sem escrúpulos, é claramente
insuficiente, ficarmo-nos pela crítica ou pela indiferença, pois é fundamental
e pedagógico o nosso próprio exemplo de vida, caso contrário ninguém nos
outorgará ou manifestará credibilidade suficiente, para exigirmos direitos e
deveres aos outros, na defesa da justiça social, se os nossos exemplos se
afirmarem exatamente pelo oposto.
João Carlos Soares
Barreiro, 20
de Junho de 2012
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