quinta-feira, junho 21, 2012


O Valor do Nosso Exemplo
Será que a classe política e o povo deste país conseguirão, face ao riso hipócrita das hienas que infelizmente proliferam na nossa fauna política, dar uma resposta imediata e convincente, para resgatar eticamente os princípios subvertidos da democracia?
A reação dos cidadãos, face ao desmando ético e político da vida pública, traduz-se na desconfiança como os cidadãos encaram as instituições. A indiferença e a ineficácia de algumas instituições, prejudicadas pela corrupção, fraude e desrespeito pelos elementares direitos assegurados pela lei, geram cada vez mais a suspeição e o descrédito, escancarando e abrindo espaço à injustiça, descompromisso social e aumento da criminalidade, abrindo cada vez mais espaço para os oportunistas de última hora.
No meio de tanta perplexidade, começa a submergir um sentimento fétido e perigoso amparado numa retórica saudosista auto elogiosa, apontando a culpa sempre para os outros, não se admitindo e reprimindo as críticas, tomando de assalto a consciência dos que vivem o presente, num mundo que pretendem fazer gravitar em torno de fantasmas do passado.
Falar de crise neste momento, vinculados a um sistema político cada vez mais estranho, distante e alheio à realidade social, num mundo onde os nobres deputados, as vossas excelências, parecem não viver a realidade do povo, como se nada tivessem que ver com o caos que ajudaram a construir, é matéria suficiente para repensarmos os valores sobre os quais assenta a atividade política e os perigos inerentes ao descrédito diante da política e do que denominamos por democracia, a qual tendo as limitações que se lhe reconhece, não pode nem deve ser simplesmente desfigurada.
Tudo isto, potencializado por uma cada vez mais que evidente selvajaria representativa no sistema partidário, receio estarmos a contribuir para uma enorme descrença na democracia e a hipotecar em definitivo a possibilidade de se construir um país onde prevaleçam a dignidade, ética e justiça.
A História diz-nos que estes momentos de fraqueza das sociedades, proporcionam e facilitam a ascensão do autoritarismo, o populismo e o individualismo, onde o que prevalece é o, salve-se quem puder.
Todo este triste espetáculo proporcionado por agentes políticos com poucos escrúpulos, transformam, e desacreditam, cada vez mais, a própria atividade política, fazendo com que a indiferença de uns e o negativismo de outros fortaleçam os argumentos preocupantes dos que em abstrato se apresentam com indiferença perante todo ou qualquer envolvimento na política.
A abstração ingénua e moralista, que eclipsa e dissimula uma certa ignorância e leviandade egoísta de uns quantos, que não conseguem pensar para além da sua própria vida, ajuda e alimenta um triste espetáculo de oportunismo e corrupção, desacreditando cada vez mais a própria atividade e desempenho político dos seus atores, abrindo espaço a uma cada vez maior corja de ladrões que, desde sempre, espreitaram os cofres públicos, prontos para a golpada à primeira oportunidade que se lhes depare.
O acentuar de uma certa indiferença ao que se passa no dia-a-dia, o egoísmo ético e o interesse exclusivo de cada um, faz de cada cidadão cúmplice ativo do assalto a que o Estado está sujeito, ou então, é ele próprio também seu beneficiário, neste triste espetáculo de corrupção que enoja e torna a atividade dos políticos cada vez mais desacreditada perante os seus eleitores.
O Poder desde que corrompido, engrossa cada vez mais as fileiras daqueles que, pela sua indiferença, desconfiança e, porque não, algum egoísmo, inconscientemente contribuem para a manutenção ou renovação no poder, desta corja de ladrões à frente dos destinos deste país espoliado.
A falta de participação ativa dos cidadãos, a sua indiferença perante os acontecimentos do dia-a-dia, contrariamente ao que julgam, com esta atitude, proporciona cada vez mais, o avolumar da corrupção, tornando-se corresponsáveis e alimentando a corrupção.
Não tomar partido, não ter participação ativa nas escolhas que a Constituição no concede, através dos diversos atos eleitorais, contrariamente ao que pensam, estão a contribuir com a sua indiferença para a manutenção desta corja de ladrões que, à primeira oportunidade, sempre na mira dos cofres públicos, estão prontos e disponíveis para dar a golpada.

O que caracteriza um Estado como o nosso é, a forma como os seus cidadãos participam e decidem da coisa pública, onde a responsabilidade de todos, eleitos e eleitores, sem exceção, são o garante e vinculam cada cidadão aos destinos do seu país.
Pensar o contrário, nivelando todos os políticos pela mesma bitola e responsabilizando-os por tudo o que de negativo acontece na vida do País, estão a enganar-se a si próprios, pois estando os políticos no desempenho de uma atividade onde estão mais expostos, nada podem fazer se outros fatores externos não existirem, por outras palavras, se eles forem corruptos, terão inevitavelmente que existir agentes corruptores, e de igual modo não poderemos considerar que todos os políticos são corruptíveis.
Para combatermos esta turba de agentes políticos sem escrúpulos, é claramente insuficiente, ficarmo-nos pela crítica ou pela indiferença, pois é fundamental e pedagógico o nosso próprio exemplo de vida, caso contrário ninguém nos outorgará ou manifestará credibilidade suficiente, para exigirmos direitos e deveres aos outros, na defesa da justiça social, se os nossos exemplos se afirmarem exatamente pelo oposto.

João Carlos Soares
Barreiro, 20 de Junho de 2012

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