O país está em guerra, uma guerra
injusta e penalizadora dos mais desprotegidos da sociedade, uma guerra surda e
perigosa que, se a maioria dos Portugueses teimarem em manter o seu
desinteresse pelos assuntos públicos, precipitará e conduzirá ao individualismo
egoísta, à submissão às leis do mercado e consumo, perdendo-se o sentido do que
deve ser comunitário, perdendo-se por completo a participação dos cidadãos na
vida colectiva.
Se não assumirmos, neste contexto, que
o desinteresse na participação activa e defesa do bem público, pode colocar em
causa a sustentabilidade de toda a sociedade, aparecerão os oportunistas do
costume, grupos que se movem por obscuras ambições e paixões particulares, que
apropriando-se e saqueando a seu belo prazer, o que é de todos, traçam a negro os
destinos de um povo.
Para além dos que não participam, por
desconhecerem o seu papel no processo político, existem também os que,
indiferentes conscientes, compreendem a situação, mas não tomam partido e
encaram a vida política com cepticismo e desconfiança.
Esta apatia, por parte dos cidadãos, é
quase sempre propiciadora a que surjam políticas autoritárias, e salvadores da
pátria, falta de transparência, arrogância e falta de vergonha de alguns políticos,
que têm o desplante de afirmar que, em campanha eleitoral não se pode falar
verdade aos cidadãos, e que depois, são estes mesmos protagonistas, chamados a
ocupar altos cargos governamentais.
Com estes actores políticos,
assistimos ao crescendo da corrupção e desmandos, onde a ausência de controlo e
de penalização, dos seus actos ocorrem, em grande parte, porque muitos
renunciam aos seus deveres, enquanto cidadãos, tornam-se apáticos e assim
impedem qualquer hipótese de se criarem diferentes alternativas de intervenção
política.
Quando confrontados com a triste
realidade social do país, os indiferentes, aqueles que se recusam a participar
nas escolhas, esquivam-se das responsabilidades, porque não participaram de
forma activa, com o seu voto, nessas mesmas escolhas, esquecendo-se que a
ausência e a omissão também são formas de participação e que por isso, também
são coniventes e estão implicados.
A vida deve ser feita de participação,
através da tomada de partido de cada cidadão sobre as questões que a todos diz
respeito, porque quem verdadeiramente vive, não pode deixar de ser cidadão e
partidário. Por outro lado, a indiferença é a negação a um direito, tal como o
parasitismo e a cobardia, não são formas nem a melhor opção de vivermos com
responsabilidade e coerência.
A indiferença dos cidadãos, tem marcado
a história e deixado tenebrosos testemunhos, com consequências devastadoras,
engolindo nos seus abismos de lama os seus opositores e manipulando de acordo
com visões limitadas e fins imediatos, a ambição desmedida e paixões pessoais
de privilegiados grupos na sociedade.
Sentimos a revolta do Povo, perante as
consequências, ouvimos os queixumes e os insultos, mas não ouvimos vozes a
questionar-se, porque não cumpriram com o seu dever, quando deveriam ter
procurado fazer valer a sua vontade.
O tempo é de unir convicções, ideais e
militância cidadã, o tempo é de confronto, numa sociedade que não desejámos, submersa
de lama até ao pescoço na perversidade, na corrupção, e como apregoam os
governantes, à sombra de uma crise que irá servir para aperfeiçoar a nossa
democracia.
Ataca-se o sector laboral, público e
privado, através de leis selvagens que cada vez mais precarizam as condições de
trabalho dos portugueses, enquanto os escândalos da alta finança, ficam impunes
e são recompensados, enquanto os trabalhadores, presas fáceis, se deixam seduzir
pelos apelos publicitários das campanhas políticas milionárias, financiadas com
o desvio das nossas contribuições.
Para inverter toda esta amálgama de
contradições, urge que os cidadãos se esclareçam, se identifiquem com os seus
candidatos, avaliando o seu passado e o seu compromisso de vida com a sociedade,
e que fundamentalmente se revejam, na prática, com a defesa do bem comum.
Entrámos em 2014, ano de eleições
Europeias, iremos por isso, assistir a um período de promessas e palavras de
esperança, através de slogans elaborados por máquinas publicitárias contratadas
para travestir os candidatos, com as melhores roupagens e discursos inflamados.
Gostaríamos que os seus nomes não fossem esquecidos nem ignorados,
independentemente das suas bandeiras, pois a cidadania exige a participação de
cada um de nós e não poderá continuar a merecer mais a nossa indiferença.
João Carlos Soares
Barreiro, 02 de Janeiro de 2014
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