sábado, junho 09, 2007

Opinião Pública - Continuação






(.......Continuação)


Em concreto, o que acontece na sociedade na relação entre representantes e representados, afastando o poder político da sociedade que o sustenta, é a distância e até mesmo a oposição entre os eleitos e o povo que os considera como corrompidos, pautando-se os comportamentos por uma ausência e insensibilidade às suas expectativas, não podendo esse comportamento ser necessariamente ou simplesmente explicado pelas origens sociais ou culturais dos eleitores e eleitos.
È uma fácil mas incorrecta e descontextualizada explicação, atribuir ou afirmar que a corrupção é uma exclusividade ou monopólio apenas dos políticos educados, pertencentes a meios e ambientes mais ou menos abastados.
A corrupção encontra-se infelizmente disseminada na política, abrangendo políticos originários de todas as esferas sociais sem excepção.
Como não poderia deixar de ser, a opinião pública utiliza expressões particularmente violentas para criticar os políticos, sempre que se apliquem a líderes de nomeada.
Estas elites, quase sempre identificadas com movimentos e organizações de reconhecido peso na sociedade, afrontam a credibilidade das instituições que representam, e concorrem para alimentar a repulsa contra a classe política, aos olhos de quem os elege.
Começa, assim, a definir-se um primeiro aspecto desta reflexão. Se, como se percebe, existe défice do político é porque, antes de outro tipo de considerações que se possam fazer, a distância entre eleitos e população continua a crescer, levando-nos a acreditar que essa barreira conduz inevitavelmente a um mal estar para com os eleitos, e caso nada venha a ser feito para inverter esta situação, poderemos a breve trecho vir a ser confrontados com uma rotura precipitada que colocará em causa a própria democracia.
O populismo, o extremismo, a aceitação do nepotismo, a procura de um líder que possa colocar um travão nesta avalanche, de forma a mudar e alterar o rumo da situação, a intolerância, o confronto ideológico entre os cidadãos e o seu afastamento das elites políticas, não constituem e poderá até por esse facto começar a ser considerado como um facto normal e necessário, deixando de ser considerado como uma novidade inesperada e intolerável na actualidade.
Esta crise de representação não poderá, nem deverá, significar o declínio de todo o espaço político, construído e defendido por várias gerações.
Os debates sobre alguns desafios políticos são ricos e densos, fazendo com que a sua complexidade e incidência saiam por vezes minimizados e secundarizados, em detrimento de algumas propostas populistas, onde a emoção da decisão e da sua influência, mesmo eivados de inconvenientes naturais, ofuscam e são elemento depauperativo da verdadeira representação política.
O reconhecimento da existência de défice democrático no político, são a prova de que os próprios sistemas políticos se desadaptaram das realidades, não acompanharam a evolução do pensamento humano, envelhecendo de forma sistemática e sem regras.
Cada vez mais a velha militância partidária se esfuma numa militância de interesses, oportunista e pontual, reduzindo-se o seu manacial de quadros efectivos, o que leva a uma quebra cada vez maior na capacidade de constituição de grandes forças populares, ameaçando consequentemente por isso mesmo o funcionamento das instâncias democráticas.
As campanhas eleitorais qualquer dia não passarão mais do que de slogans publicitários produzidos e difundidos pelos media, onde a vertente internet, passará a ter provavelmente a curto prazo, um papel importante, senão indispensável, prejudicando e afastando ainda mais o contacto directo de militantes e cidadãos, representantes e representados, sobrepondo-se por essa ordem de ideias, a comunicação política ao conteúdo da mensagem, aumentando o custo das campanhas e abrindo as portas a um negócio em expansão.
O financiamento para os partidos está garantido pelos fundos públicos, contribuição involuntária dos cidadãos através dos impostos que pagam ao estado, muito pouco pela quotização dos seus militantes, e depreende-se que o resto será suportado por pessoas e grupos que contribuirão voluntariamente.
Destes factos resulta uma tendência, especialmente naqueles que apostam em restituir algum sentido e algum vigor a uma política da qual muitas pessoas fogem, para utilizar abordagens mais localizadas.
No entanto, começa a ser de grande risco de que, senão dramático face à monotonia da vivência democrática, comecem a aparecer atitudes anti-políticas/populistas, nacionalistas, racistas e autoritárias.

Lutar contra a corrupção, é uma prova de liderança, acima de suspeitas, de críticas e de acusações.


João Carlos Soares

1 comentário:

Anónimo disse...

O fenómeno "corrupção" é como a violência doméstica: é um grave problema social e não ocorre somente com pessoas de baixo nível educacional. Existe, de igual modo, no seio de pessoas ricas, cultas e respeitáveis e o silêncio das vítimas é o maior obstáculo ao combate deste tipo de criminalidade.
Depois também há a relação entre os políticos e os jornalistas.
Esqueceu-se de referir este factor no seu texto. Existe uma promiscuidade e uma fronteira perigosa entre política e jornalismo porque, por vezes, a política disfarça-se de jornalismo. Muitos jornalistas passam a fronteira que devem ter em relação à classe política.
Tem-se assistido ao emergir de uma nova classe política no seio dos jornalistas, através de uma subjectividade orientada dos media portugueses, que culmina num permanente e irresolúvel conflito de interesses, uma vez que se verifica a troca do papel de observador distante, pelo de actor político. Os editoriais são a prova de isso mesmo e não raro vemos alguns jornalistas com pretensões a serem os Dalai Lama da política.
Neste contexto, os dados estão viciados à partida porque a notícia é a forma mais mediática de fazer política.
Não existem jornalistas independentes nem amorfos. Estão todos ao serviço de uma ideologia e há que contar sempre com eles no teatro político. Eles podem fazer com que se passe de bestial a besta, num abrir e fechar de olhos.