Existem questões
no quotidiano de cada cidadão, como a ignorância, a pobreza, a violência, a
corrupção, o desemprego, a miséria e em oposição a opulência de alguns
extractos sociais, que flagelam a sociedade em que vivemos, numa manifestação
inequívoca do livre arbítrio e disparidades que caracterizam o
subdesenvolvimento e mostram a vulnerabilidade da nossa democracia.
Esta
vulnerabilidade, a que estamos expostos, caracteriza-se pelas relações
promíscuas e circulares de causa efeito, que, cumulativamente, se vão agravando
no tempo, com os governos de costas viradas para a realidade, sem que os
responsáveis pelo destino deste país se preocupem, ou considerem inevitável uma
intervenção urgente, necessária e imprescindível ao nível do investimento,
garantindo o desenvolvimento económico do país, capaz de, garantir aos mais
socialmente desprotegidos, uma existência no mínimo condizente com os valores da
condição humana, na consolidação de uma sociedade mais justa e menos desigual.
A importância
que o governo atribui à concentração do poder económico, apoiada e defendida
pelas minorias que dela beneficiam, suportado por políticas económicas,
culturais e ideologicamente recessivas, afrontam a dignidade da maioria dos
portugueses, ao defenderem e aplicarem exclusivamente medidas que só penalizam
os que menos têm, como solução para o regabofe a que o país chegou, resultado
da onda de corrupção em sucessivos governos e a displicência e falta de atitude
e transparência dos órgãos reguladores, no desempenho das suas obrigações.
A continuidade
destas disparidades sociais encontra, na falta de capacidade e mobilização das
populações, um fiel aliado para perpetuar no tempo essa concentração de poder,
agravando e vilipendiando as condições de vida das populações, através da
difusão de visões especulativas da sociedade, responsabilizando-a pela situação
de miséria a que chegou, promovendo o culto do individualismo e a violência
psicológica, enquanto privilegiam e se assiste, à evasão descontrolada e obscena
dos impostos, praticada pelas elites económicas.
Enquanto uma
grande parte da população, vive abaixo da linha de pobreza, em péssimas
condições de sobrevivência, as minorias privilegiadas do sistema, os antigos e
os emergentes, vivem faustosamente instalados num mundo à parte, escondendo a
realidade das condições desumanas de vida da restante população, sacrificada às
imposições restritivas de direitos do FMI, BCE
e Comissão Europeia.
Cada vez mais as
desigualdades se vão perpetuando, ao permitir-se, à sombra das bandeiras
partidárias, candidatos a lugares do aparelho legislativo ou vinculadas de
alguma forma ao aparelho do Estado, que estão conotados com processos fonte de
enriquecimento ilícito, como acontece com o tão famigerado caso dos submarinos,
que já deu direito a penas noutros países, como na Alemanha e na Grécia e que
se relacionam de igual modo com políticos da nossa praça, mas que continuam a
ter a protecção de uma imunidade parlamentar, eleitoralmente conseguida.
Para além deste
caso, está bem vivo o resultado do processo Portucália, o qual depois de quase
uma década, trazendo inevitavelmente custos ao aparelho judicial do Estado, deu
o resultado que deu, saindo ilibados todos os implicados, e o caso Freeport,
que se arrasta vagarosamente nos tribunais, mais parecendo um folhetim ou
telenovela, que no fim, para não variar, irá culminar com um final feliz para
os seus protagonistas.
Estranhamente,
ou não, é com alguma estupefacção que lemos em grandes paragonas nos meios de
comunicação social, declarações de pessoas com enorme responsabilidade no
Estado, como a Dr.ª Maria José Morgado e, segundo as suas palavras, que são
públicas, refere que, “o enriquecimento ilícito deveria ser legislado”, pois, e
ainda usando palavras suas, “existem políticos que eram pobres quando iniciaram
as suas funções, e ao fim de alguns anos estão milionários”. No mesmo sentido,
afirma o “Correio da Manhã” na sua primeira página, de que, os juízes vão
processar José Sócrates. Perante estes factos, fica no ar uma questão;
Por onde andaram
estes senhores este tempo todo?
São realidades
terríveis e monstruosas para um país a saldo, só possível pela passividade do
eleitorado na hora das decisões, onde a influência do poder económico, através
de campanhas financiadas por grandes empresas nos processos eleitorais, têm um
peso decisivo, permitindo mais tarde a reciprocidade e retorno desses
investimentos, em pessoas sem escrúpulos, que lhes irão assegurar os
privilégios, legais e fiscais, de que gozam e que garantem o seu enriquecimento
pessoal e das entidades a que pertencem.
Este tipo de
comportamento da classe política, onde a vontade política do povo e interesse público
se vê subvertido, é um crime que pode ser considerado mais grave do que a
própria corrupção económica, pois inflige no país de forma dramática, o golpe
de misericórdia a que nenhuma sociedade verdadeiramente democrática consegue
resistir, ou seja, o falsear e a descredibilização dos valores e princípios da
própria democracia.
João Carlos
Soares
Barreiro, 18 de
Abril de 2012
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