quarta-feira, abril 18, 2012

Coisas do Quotidiano

                                                            


Existem questões no quotidiano de cada cidadão, como a ignorância, a pobreza, a violência, a corrupção, o desemprego, a miséria e em oposição a opulência de alguns extractos sociais, que flagelam a sociedade em que vivemos, numa manifestação inequívoca do livre arbítrio e disparidades que caracterizam o subdesenvolvimento e mostram a vulnerabilidade da nossa democracia.

Esta vulnerabilidade, a que estamos expostos, caracteriza-se pelas relações promíscuas e circulares de causa efeito, que, cumulativamente, se vão agravando no tempo, com os governos de costas viradas para a realidade, sem que os responsáveis pelo destino deste país se preocupem, ou considerem inevitável uma intervenção urgente, necessária e imprescindível ao nível do investimento, garantindo o desenvolvimento económico do país, capaz de, garantir aos mais socialmente desprotegidos, uma existência no mínimo condizente com os valores da condição humana, na consolidação de uma sociedade mais justa e menos desigual.

A importância que o governo atribui à concentração do poder económico, apoiada e defendida pelas minorias que dela beneficiam, suportado por políticas económicas, culturais e ideologicamente recessivas, afrontam a dignidade da maioria dos portugueses, ao defenderem e aplicarem exclusivamente medidas que só penalizam os que menos têm, como solução para o regabofe a que o país chegou, resultado da onda de corrupção em sucessivos governos e a displicência e falta de atitude e transparência dos órgãos reguladores, no desempenho das suas obrigações.

A continuidade destas disparidades sociais encontra, na falta de capacidade e mobilização das populações, um fiel aliado para perpetuar no tempo essa concentração de poder, agravando e vilipendiando as condições de vida das populações, através da difusão de visões especulativas da sociedade, responsabilizando-a pela situação de miséria a que chegou, promovendo o culto do individualismo e a violência psicológica, enquanto privilegiam e se assiste, à evasão descontrolada e obscena dos impostos, praticada pelas elites económicas.  

Enquanto uma grande parte da população, vive abaixo da linha de pobreza, em péssimas condições de sobrevivência, as minorias privilegiadas do sistema, os antigos e os emergentes, vivem faustosamente instalados num mundo à parte, escondendo a realidade das condições desumanas de vida da restante população, sacrificada às imposições restritivas de direitos do FMI, BCE  e Comissão Europeia.

Cada vez mais as desigualdades se vão perpetuando, ao permitir-se, à sombra das bandeiras partidárias, candidatos a lugares do aparelho legislativo ou vinculadas de alguma forma ao aparelho do Estado, que estão conotados com processos fonte de enriquecimento ilícito, como acontece com o tão famigerado caso dos submarinos, que já deu direito a penas noutros países, como na Alemanha e na Grécia e que se relacionam de igual modo com políticos da nossa praça, mas que continuam a ter a protecção de uma imunidade parlamentar, eleitoralmente conseguida.

Para além deste caso, está bem vivo o resultado do processo Portucália, o qual depois de quase uma década, trazendo inevitavelmente custos ao aparelho judicial do Estado, deu o resultado que deu, saindo ilibados todos os implicados, e o caso Freeport, que se arrasta vagarosamente nos tribunais, mais parecendo um folhetim ou telenovela, que no fim, para não variar, irá culminar com um final feliz para os seus protagonistas.

Estranhamente, ou não, é com alguma estupefacção que lemos em grandes paragonas nos meios de comunicação social, declarações de pessoas com enorme responsabilidade no Estado, como a Dr.ª Maria José Morgado e, segundo as suas palavras, que são públicas, refere que, “o enriquecimento ilícito deveria ser legislado”, pois, e ainda usando palavras suas, “existem políticos que eram pobres quando iniciaram as suas funções, e ao fim de alguns anos estão milionários”. No mesmo sentido, afirma o “Correio da Manhã” na sua primeira página, de que, os juízes vão processar José Sócrates. Perante estes factos, fica no ar uma questão;

Por onde andaram estes senhores este tempo todo?

São realidades terríveis e monstruosas para um país a saldo, só possível pela passividade do eleitorado na hora das decisões, onde a influência do poder económico, através de campanhas financiadas por grandes empresas nos processos eleitorais, têm um peso decisivo, permitindo mais tarde a reciprocidade e retorno desses investimentos, em pessoas sem escrúpulos, que lhes irão assegurar os privilégios, legais e fiscais, de que gozam e que garantem o seu enriquecimento pessoal e das entidades a que pertencem.

Este tipo de comportamento da classe política, onde a vontade política do povo e interesse público se vê subvertido, é um crime que pode ser considerado mais grave do que a própria corrupção económica, pois inflige no país de forma dramática, o golpe de misericórdia a que nenhuma sociedade verdadeiramente democrática consegue resistir, ou seja, o falsear e a descredibilização dos valores e princípios da própria democracia.

João Carlos Soares

Barreiro, 18 de Abril de 2012

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