A crueldade dos homens,
porque não dizer a hipocrisia dos homens, é cada vez mais um facto latente na
sociedade contemporânea, provocando o desencanto, a mágoa, e uma raiva que
rapidamente se transforma numa repulsa e contestação incontroláveis.
No entanto, há momentos
em que a hipocrisia de tão mesquinha que é, me faz pensar e acreditar que a
nossa postura revela quem somos, e que a sociedade sofre de uma doença
incurável, onde os sentimentos estão impregnados de egoísmo, que nos choca,
enoja e entristece, à espera do dia do juízo final.
Perante esta
constatação, tão evidente, achei que me deveria conter e calar, aguardando
momento mais oportuno para expressar a minha opinião de maneira mais serena,
sem os vícios da reacção imediata que se interpõem na nossa alma, nos momentos
em que nos sentimos feridos e enxovalhados.
Portugal está ferido e
a ser enxovalhado, mas não se pode nem deve considerar um país do Terceiro
Mundo, mas é sem sombra de dúvida um país subdesenvolvido, que pela força das
circunstâncias, da sua localização e posicionamento na Europa, a juntar às
razões históricas desfavoráveis, que nos têm empurrado para uma subserviência
política e económica dependente dos países economicamente mais fortes, nos têm
colocado à margem de todo o processo evolutivo da economia mundial.
A ausência de
desenvolvimento sustentado e a condução desregulada dos mercados, com uma
concentração de riqueza a todos os tipos censurável, pelos países mais
poderosos da União Europeia, num processo infame e descarado de uma nova forma
de neocolonialismo capitalista, são os principais factores que determinaram o
subdesenvolvimento da maioria dos países em queda abrupta na Europa, como a
Grécia, a Irlanda, Portugal, Itália, a Espanha e agora também alargado à
Hungria, onde através da imposição de uma governação imposta pela Troika, caso
não obedeçam e cumpram as directivas, terão inevitavelmente o seu futuro
definido, à espera da decisão de exclusão no momento mais apropriado assim que
acharem ter chegado o momento.
A má utilização dos
recursos naturais e humanos, propositadamente executada por forma a impedir a
expansão económica e os equilíbrios sociais num processo de integração dos
grupos desfavorecidos num sistema económico integrado, impediram a
concretização de uma estratégia global de desenvolvimento, que fosse capaz de
mobilizar os factores de produção de cada um dos países, na defesa dos
interesses da sociedade.
Só com uma estratégia
adaptada aos condicionalismos e comum aos interesses de todos os países da
Comunidade Europeia, e não só a alguns, poderíamos atingir o desenvolvimento
indispensável que recolocaria os países menos preparados e apetrechados
economicamente, na senda do desenvolvimento, desde que fossem acauteladas as
evidentes diferenças entre eles.
Infelizmente cometeu-se
o erro de considerar o processo de desenvolvimento, como se todos se
encontrassem ao mesmo nível de crescimento e possuíssem por igual os mesmos
meios e recursos que só estavam ao alcance dos mais ricos. Um egocentrismo
levado às últimas consequências, orientou as decisões dos teóricos para a metodologia
a estabelecer nas suas ideias e pensamento, na criação e implementação de um
sistema económico, ignorando totalmente a realidade socioeconómica de cada
região, deixando nas mãos dos dirigentes locais, a habilidade e o confronto
ideológico acompanhado do folclore eleitoralista, na sua capacidade persuasiva
das populações, para mascarar as suas reais intenções
Essa terrível desigualdade nos tecidos sociais de cada
país, estrema os índices da economia na Europa e no Mundo, onde se faz sentir o
poder dos ricos sobre os pobres, ou seja, onde cada vez mais se faz notar a
diferença entre países desenvolvidos e com uma indústria forte e dominante, em
contraponto com os países com um tecido social precário, onde predomina o
trabalho assalariado numa indústria sem apoios, caduca e a saldo.
Os dois grupos, resultantes do fosso económico criado
entre eles, que não se entendem, deixam cerca de dois terços da humanidade à
beira do colapso, fazendo com que a fome e miséria tomem conta da razoabilidade
e do bom senso comum.
As desigualdades sociais estão a tomar conta das
populações completamente desprotegidas, aumentando a intranquilidade e intensificando
as discrepâncias sociais, gerando e alimentando conflitos políticos e
ideológicos.
Quando assistimos à opulência em que uma minoria vive,
em oposição a dois terços da população mundial mergulhada na miséria, deixa de
ser por si só uma situação perigosa, como passa a ser considerado um crime
sobre a humanidade, porque a tensão social com que somos confrontados no
dia-a-dia, na maior parte das situações que se conhecem, são nada mais nem
menos do que o produto desta reconhecida injustiça social, quando as populações
subjugadas ao jugo do poder dos mais ricos, começam a tomar consciência da
verdadeira e crítica realidade socioeconómica em que vivem.
Sempre me disseram que pior que errar é não reconhecer
os erros. Para que não tombemos num fosso sem retorno, torna-se urgente
restabelecer o equilíbrio económico das nações, sem o qual muito dificilmente poderão
aspirar a uma verdadeira paz e tranquilidade entre os homens.
Cada vez mais se questiona se o desenvolvimento terá
obrigatoriamente que passar pela desumanização frenética na procura da riqueza,
priorizando o lucro fácil e imediato, em vez de, capitalizar as energias que
enriquecem a vida da humanidade em geral, e lhes poder trazer muito mais estabilidade
no caminho para a felicidade.
João Carlos Soares
Barreiro, 15 de Abril de 2012
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