Ao longo dos anos, pensamos em mudar e ser
diferentes, mas não conseguimos parar um minuto para pensar nisso. Só quando
chega o período de festas de final do ano, nos apercebemos que talvez seja esse
o momento, de forma mais inconsciente para uns que para outros, reflectir um
pouco, procurando nesses curtos momentos tudo fazer para que, quando o ano novo
chegar, tudo de mau que tivemos se possa alterar.
Por acaso, para mim, esse período começa quase
sempre, num período antes da data do meu aniversário, em Abril, altura em que dou
comigo meditando e a rever tudo o que aconteceu na minha vida ao longo do ano
que passou, o que me torna às vezes excessivamente melancólico, tentando
projectar o que poderá vir a acontecer no ciclo que a partir daí se reiniciará.
Até hoje posso afirmar que, umas vezes mais, outras
não tanto, mas no geral coincidentes com os factos, tenho acertado mais do que
errado, constatando daí que a vida me tem oferecido, a partir das minhas
experiências pessoais e profissionais, uma força enorme e alento para o meu crescimento
pessoal e, porque não dizê-lo, para a manutenção da minha saúde mental.
Apercebo-me disso em muitos aspectos da vida, com
os consequentes altos e baixos, num constante processo de acerto e ponderação,
nas preferências pessoais, na forma de me relacionar com os outros, na saúde,
na carreira profissional, ao fim e ao cabo contribuindo com a minha quota-parte
na evolução da sociedade em que me insiro e acolhe.
Todos os anos sinto este processo, como se fosse
a primeira vez, sabendo que na verdade este processo é cíclico, mas só me
apercebo de tal, quando me lembro de que na realidade já estou dentro de um
novo ciclo.
Como na vida de cada cidadão, os ciclos
repetem-se nas mais diversas áreas e actividades, afectando de uma forma
directa, umas vezes mais, outras vezes menos, as pessoas, o que faz com que os
ciclos da vida se assemelhem aos quartos de lua, umas vezes em crescendo outras
numa curva descendente, como aquela que actualmente estamos a viver, só que com
consequências nunca sentidas pelas actuais gerações. Por essa razão, achei que deveria alargar esse
momento introspectivo da minha vida, de forma a poder fazer uma análise do
próximo ciclo eleitoral que se aproxima, as eleições para as autarquias locais.
Neste momento em Portugal e praticamente no mundo
inteiro, iniciámos uma daquelas fases decrescente da lua, a qual não sabemos se
será prolongada ou não, o que num sistema democrático, como o nosso, estimulam
a uma competição acirradíssima pelo poder, numa autêntica altercação política
entre os putativos candidatos, cada um socorrendo-se dos melhores meios
publicitários e de comunicação possíveis para alcançarem a tão almejada
vitória, campanhas essas repletas de muita oratória de promessas e imagem, que na
maior parte das situações pouco ou nada têm a ver com a realidade.
Isto acontece e é bem visível, porque quer
queiramos ou não, esta democracia em que vivemos não é realmente uma democracia,
se atentarmos no jogo de ilusão que os candidatos provocam nos seus eleitores, através
de um sofisticado trabalho elaborado por profissionais de imagem que trabalham
e aperfeiçoam estrategicamente a melhor imagem a ser passada do candidato, seu
cliente, retirando aos eleitores praticamente o direito de raciocinarem e
avaliarem os candidatos que poderiam vir a ser a melhor opção e escolha para
orientar as suas vidas.
Esta forma de autêntica subversão daquilo que
deveria ser um processo com toda a lisura e transparência, transforma-se num
acto onde o que conta é a imagem conseguida do candidato, transformado a longo
e curto prazo numa sistémica fantasia política doentia, anunciando a cada ciclo
eleitoral a morte adivinhada do processo democrático, pela criação e
instituição de uma imagem folclórica.
Esta mensagem sublimada de boa figura que nos é
transmitida do candidato, é uma fantasia criada no nosso consciente que
acompanhará a avaliação e juízo de capacidades e eficiência que vislumbramos
daquele que será o decisor do nosso futuro e das nossas vidas, podendo eleger
um candidato medíocre mas que com um bom profissional de marketing, se
conseguiu impor a outro onde a imagem não conseguiu ter o efeito do seu
antagonista, sobre a maioria do eleitorado.
A propaganda usada nas campanhas eleitorais,
sendo um mecanismo legítimo de uma democracia, usada de forma profana,
transforma-se num meio de sufocar lentamente a utópica democracia em que
vivemos, quando com responsabilidade nos apercebemos perplexos, ao compararmos passado
algum tempo as promessas concretizadas com a real missão exercido ao longo do
seu mandato pelo candidato por nós escolhido.
Daqui depreender-se que devemos pautar as nossas
escolhas, com uma análise esclarecida e eficiente das propostas dos candidatos,
tentando, no possível, alhearmo-nos um pouco daquilo que nos pretendem impingir,
não embarcando em tudo, tentando descobrir mais-valias em cada candidato.
Torna-se indispensável ao cidadão, discernir as frequentes
mentiras das propostas credíveis e possíveis, em que vale a pena acreditar, analisando
melhor as propostas por cada um apresentadas, sem querer generalizar ou afirmar
que tudo é mentira, sabendo que essa é uma árdua tarefa que temos, face ao enorme
tabuleiro político montado pelos partidos em período eleitoral, não permitindo
que nos façam passar por fantoches no palco da vida, numa perpetrada encenação
que mexe com a vida de cada um e da sociedade em geral.
João Carlos Soares
Barreiro, 11 de Fevereiro de 2013
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