quarta-feira, janeiro 30, 2013

Que Projecto, que Futuro?



Torna-se pertinente e urgente reclamar à classe política, uma necessária reflexão e autocrítica social racional, para que, conscientemente nos possamos questionar que tipo de sociedade pretendemos e ambicionamos para o futuro.
Quer se goste ou não, na sua essência a classe política, não é nada mais nem menos do que a amostra da sociedade em que vivemos, pela simples razão que são uma opção de escolha dessa mesma sociedade.
Quando temos alguém contaminado, e retirarmos uma amostra do seu sangue, constatamos que essa amostra também tem que apresentar os valores de contaminação do indivíduo, por isso, não podemos esperar muito de uma classe política, quando ela é uma pequena amostra de uma sociedade que está enferma, corrompida, individualista, egoísta e mal formada.
Uma sociedade que constantemente critica os corruptos, mas que tenta escapar constantemente às suas obrigações, enquanto cidadão, reclama dos políticos mas também ela não cumpre as suas obrigações.
É de todo, senão imprescindível, consciencializar a sociedade portuguesa que, se nada fizer em contrário, caminhamos a passos largos para um pântano de areias movediças, que por elas apanhados, muito dificilmente, senão impossível, delas nos iremos libertar.
A Alma Lusitana é enorme, a História o reconhece, mas não podemos continuar a alimentar uma sociedade cínica e medíocre, sem projecto de nação, sem caminho e por ordem de ideias, sem futuro, à sombra de um passado que nos granjeou admiração perante um Mundo que aprendeu a respeitar-nos.
Nunca será demais alertar para a obrigação de não permitir nem deixar escapar a oportunidade de fazer valer os nossos direitos, pelos sacrifícios a que fomos expostos e que vivemos, para chegar onde chegámos, para que todo o sofrimento e carências, ao longo dos tempos, não tenham sido feitos em vão.
Há que discernir e procurar homens e mulheres na política, que se comprometam com a responsabilidade que lhes cabe em construir um país equilibrado, com um projecto claro de nação, em que as leis não sirvam só para mascarar todo o tipo de trafulhices de quem está no poder, onde as pessoas se respeitem mais, onde os compromissos sejam para ser cumpridos, onde todos tenham consciência dos seus direitos e obrigações, mesmo aqueles que os desconhecem.
Poder-se-á pensar que tudo isto é utopia, mas os projectos elaborados de forma séria e aplicados com coerência, respeito e dignidade, actuarão politicamente de forma muito mais eficiente na submissão do poder económico, definindo-se poderes sociais coerentes com a dignidade de todos, se o povo for o fiel depositário da cidadania e consciente que num regime democrático será ele o titular do poder.
Para que exista um poder que não ofenda os sagrados direitos numa sociedade democrática, é preciso haver regras para estabelecer e delimitar o seu uso, como garantia dos limites estabelecidos no anfiteatro da luta política.
Os discursos inflamados dos políticos da nossa praça, tornam-se incómodos quando expostos à realidade, porque a política só fará sentido se tiver algum efeito na vida das pessoas, se conseguir influenciar o que começa a constatar-se como inevitável, uma mudança sistémica necessária neste sistema político-partidário putrefacto, que só não cai porque está intrinsecamente ligado ao poder, sobrevivendo e perpetuando-se no tempo, na dependência e existência do outro mas infestado por políticos incompetentes, abrigados sob a capa da impunidade parlamentar instituída, contaminando tudo à sua volta e servindo de exemplo e modelo para um sem número de corruptos à espera que chegue a sua oportunidade.
Não chega exigir-se uma reforma política, pois mesmo que a essa reforma se venha a concretizar, acabando com toda a roubalheira e podridão a que assistimos no dia-a-dia, esta só se poderá vir concretizar, se existir coragem para levar por diante a reforma tributária e jurídica do Estado.
Essa reforma, contrariamente ao que o governo está a fazer, tem que incidir e assentar na redução dos impostos sobre o consumo, com efeito imediato nos preços ao consumidor, o que aumentará o consumo e a rotatividade dos mercados, salvando e viabilizando, a médio e longo prazo, as pequenas e médias empresas praticamente falidas resultado da quebra no poder de compra dos consumidores.
Não chega mudar os protagonistas, mantendo os mesmos privilégios para certas elites, pois acreditar que essa simples mudança, melhoraria política e socialmente o nível de vida e estabilidade económica do País, mais facilmente se poderia acreditar na existência do Pai Natal.
Se alguma dúvida ainda existisse, após 38 anos de democracia em Portugal, as promessas e compromissos assumidos pelos diferentes governos democraticamente sufragados, facilmente nos apercebemos que uma coisa são os programas eleitorais que nos impingem, para comprar o voto de cada cidadão, outra coisa é a realidade na sua concretização.
Torna-se necessário e imprescindível acordar as pessoas para a constatação deste facto, alertando-as para a necessidade de uma reforma nos princípios ideológicos e na mentalidade do País, correndo o risco de sermos cúmplices de negligência nas reformas necessárias, permitindo que todo o sector público seja alienado.
Admitirmos que não temos respostas para todos os desafios, e se não formos prudentes e conscientes nas escolhas, estaremos expostos e impotentes a uma avalanche neoliberal, através de medidas que terão a sua principal incidência no acréscimo da carga fiscal sobre os contribuintes, sem contrapartidas para o Estado, diminuição dos salários, educação, transportes, reformas e assistência médica, tornando a população cada vez mais pobre e espoliada dos seus direitos, por gente que agarrados ao poder não são mais nem menos do que autênticos bandos de salteadores.
João Carlos Soares
Barreiro, 29 de Janeiro de 2013

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