A manifestação de
contestação, prevista para o dia 19 na Ponte 25 de Abril, parece não estar a
ser entendido, pelos governantes desta república das bananas, que ela é isso e
só isso mesmo, um acto de rebeldia contra eles, e que sendo um acto de repúdio
e contestação, não poderá em tempo algum ser controlada, vigiada, silenciada ou
domesticada pelos algozes que estão no poder, muito menos conduzida e confinada
à vontade deles.
Esta manifestação gera todo o
tipo de análises possíveis, por uns interpretado como mais um protesto de
baderna, por outros, sinal dos tempos difíceis em que vivemos, portanto uma
vontade genuína do povo, numa reação ao ataque a que estão a ser alvo os seus
direitos, e que pretende mostrar na rua o despertar da consciência política de milhares
de cidadãos.
Sejam quais forem as
motivações, será bom saber que as pessoas ainda se dispõem a sair à rua para
protestar, reclamar e exigir respeito, sabendo-se de imediato, que pela localização
estratégica da ponte, irá criar dificuldades na travessia entre as duas
margens, mas nunca poderá ser utilizado como argumento de risco, uma sombra
para a democracia ou desrespeito e ameaça às instituições, ou irracionalidade
premeditada, mas sim uma resposta efectiva aos excessos de que os portugueses
estão a ser vítimas, daí a necessidade deste movimento contestatário ter o
impacto necessário, o que alguns pretendem, a todo o custo, minimizar.
Este tipo de contestação, não
pode nem deve ser manipulado ou silenciado pelos governantes, sejam quais forem
as justificações apresentadas, porque se trata de um grito de raiva na rua de
um povo sufocado, que está a ser levado à miséria, e que estão dispostos a
pagar qualquer preço pela liberdade.
Entrámos numa espiral sem
retorno, razão pela qual os governantes deverão preparar-se para serem
confrontados com este tipo de reacção da população, pois são um sinal
inequívoco de que vivemos numa sociedade plural, a qual não se pode construir
com medo, mas com respeito à diferença e à contradição.
É
necessário, indispensável e inevitável, que a população e os partidos
defensores dos valores da democracia, tomem consciência que, à situação de
subserviência a que o país chegou, se torna necessário que os cidadãos se
organizem, usando de todos os mecanismos ao seu alcance, com persistência na ação,
em continuidade, fazendo com que as manifestações de protesto, tenham
consequências e se possam configurar como uma verdadeira e consistente ameaça
ao sistema corrupto e fascizante, que nos pretendem impor, numa luta que só
poderá terminar, uma vez salvaguardados que estejam os direitos do Povo.
As
televisões e os agentes do poder, de uma forma quase despercebida, aos olhos
dos menos atentos, estrategicamente começaram a colocar nas horas nobres de
maior audiência, nos respectivos canais, fazedores de opinião que, passando
recados habilmente construídos, fazendo crer uma coisa, têm como objetivo exatamente
o contrário.
Se
não, vejamos; Todos os iluminados que diariamente nos bombardeiam, com a sua
retórica malabarista, todos eles, sem exceção, passaram por cargos de relevo,
quer a nível do governo, quer nas administrações de empresas de amigos e
conhecidos, com interesses diretos no Estado, alguns usufruindo do que
prepararam, enquanto governantes para essas empresas.
Agora,
bem instalados na vida, aparecem-nos qual Pôncio Pilatos, lavando as mãos das
atrocidades de que foram protagonistas, fazendo crer que discordam com as
medidas, atualmente implementadas pelo governo, quando, enquanto altos
signatários do país, fizeram exatamente o mesmo que estes, só que os tempos
eram de vacas gordas e agora às vacas acabou-se-lhe o pasto e não há leite que
chegue para alimentar toda a gente.
Tentam
enganar os incautos, com a sua capacidade de comunicação e disfarce, na
tentativa de adormecimento da população, deixando parecer que são acérrimos
críticos das políticas implementadas, quando afinal de contas, foram e
continuam a ser os seus maiores defensores, à espera de “novas oportunidades”,
para raparem o fundo ao tacho.
Não
é difícil chegar a esta conclusão, basta olharmos para os noticiários que,
constatamos, uma faixa significativa de agentes políticos que apoiaram as
políticas neoliberais dos governos, a mudarem de campo, mas só na aparência e
por conveniência.
Por
isso não nos iludamos, este tipo de atitude, é típico de pessoas sem carácter,
imagem degradante de grande parte da classe política no arco da governação, e
só acontece, porque se estão a aperceber da iminência do naufrágio inevitável a
que as políticas deste governo nos vão levar, e, portanto, passaram a denunciar
e a renunciar a esta estratégia demolidora, tentando demarcar-se desta linha,
para beneficiarem de uma melhor imagem perante os cidadãos, afirmando hoje,
aquilo que ontem negavam, e dando oportunidade a que o governo, depois de
apresentar medidas coercivas e restritivas, apareça com soluções maquilhadas,
mas que só diferem na roupagem.
Será
que dá para acreditar que, certos senhores, defensores do neoliberalismo ao
longo de toda a sua vida, representantes dos maiores grupos capitalistas deste
país, venham contestar as alterações à TSU, ou aos cortes nas tabelas
salariais, à alteração aos horários de trabalho, à mobilidade dos funcionários
públicos, às reformas dos pensionistas e reformados, por patriotismo? Só pode
ser mesmo a gozar com os cidadãos, tal a falsidade e cinismo destes peões, que
façam o que fizerem, não conseguirão disfarçar o seu baixo nível de consciência
política, agentes e lacaios do capital, assassinos do Estado Social.
Estamos a
passar por uma fase, em que os que estão no poder ou por lá cirandam, já não
conseguem disfarçar o mal-estar que a situação provoca, mesmo entre eles, e a
população não suporta mais sacrifícios, nem admite que a soberania possa ser
posta em causa, caminhando-se a “passos” largos para o funeral do sistema
político vigente, se nada acontecer que consiga, entretanto, e de forma
tempestiva, repudiando e exigindo uma mudança de rumo, evitar que Portugal se
afunde numa bancarrota, instalando-se em definitivo o caos.
Atingidos
os objetivos dos agentes deste neoliberalismo desenfreado, poderemos estar
perante um novo ciclo, ciclo esse que alguns de nós, ou os nossos antepassados
ainda têm bem ciente na memória onde, perfis de ditadores são o que menos
falta, podendo entrar-se num beco sem saída, assinando-se dessa forma a
capitulação incondicional da Democracia de Abril.
O governo
já fez saber da sua intenção em não permitir a manifestação dia 19 na Ponte 25
de Abril. Vamos de certeza ser confrontados com a presença das forças
policiais, para impedir a concretização da mesma, o que transformará este dia
de luta e contestação, em mais um confronto de valores e afronta à democracia, que
estes “delinquentes”, como lhes chamou Mário Soares, estão dispostos a levar às
últimas consequências.
Se razões
havia, para a realização desta manifestação, acresce agora a tentativa de
cercear um dos direitos consignados na Constituição, o direito à manifestação
sem condicionalismos de qualquer espécie, razão para que seja considerado por
todos aqueles que se sentem espoliados por este bando, como um estímulo
acrescido, servindo para acordar a consciência deste país onde todos se devem
unir na defesa dos seus direitos, colocando de parte o que os diferencia, e
aglutinando o que os identifica.
João Carlos Soares
Barreiro, 14 de Outubro de
2013
Sem comentários:
Enviar um comentário