Lendo
e relendo as afirmações de Krugman, sobre as dívidas europeias, da Grécia,
Portugal e Irlanda, em que fica no ar o espectro da falta de bom senso, como o
mundo e a europa estão a ser governados, parece que só aos nossos governantes,
e restante classe política, com responsabilidades de governação, estas
afirmações não estão a convencer, ou então, sabendo o buraco em que meteram o
país, tal como diz Krugman, ainda estão à espera da fada que irá produzir um
milagre, que nos livre de uma catástrofe social, há muito anunciada.
Dos
países em dificuldades, a Espanha, fugiu à masmorra a que Portugal se submeteu,
tomou as medidas que entendeu serem necessárias, para equilibrar o barco e,
passados dois anos, começam a ver a luz ao fundo do túnel, coisa que nós, muito
dificilmente, poderemos ambicionar ver, se nada acontecer entretanto, que mude e
contrarie as linhas de orientação política em curso, recolocando-nos no caminho
do desenvolvimento e afirmação, de uma nação secular como a nossa.
Aos
espanhóis foram pedidos sacrifícios, esforço combatido pelas populsções, mas
aceite com o princípio da conservação e manutenção da soberania do país, não
permitindo a ingerência de entidades externas, nem da União Europeia, na
procura de soluções para ultrapassarem o desequilíbrio nas suas contas, o que
não aconteceu com Portugal, por culpa dos nossos governantes, que capitularam e
se submeteram, sem apelo nem agravo, às garras dos agiotas capitalistas, os
quais em troca de dinheiro e promessas, destruíram toda uma cadeia de recursos,
deixando-nos ainda mais dependentes do mercado e apoios externos.
Sujeitos
às regras e compromissos celebrados entre o Estado Português e o triunvirato
maldito da troika, sem qualquer resultado à vista, e contrariamente às
afirmações dos nossos governantes, nada aconteceu, nem irá acontecer nenhum
milagre, porque a economia é uma ciência criada pelos homens, onde um mais um,
são dois e não talvez. Querem-nos fazer crer que, manipulando os números da
dívida e desemprego e transferindo o ónus da dívida de uns para outros
credores, a dívida diminuiria, o que não acontece, pois esta manter-se-á
inalterada, e por vezes agravada, porque para pagar os juros desse dinheiro,
nada resta para a peça fundamental na engrenagem do desenvolvimento de qualquer
economia, que é o investimento, resultando daí a tributação nos lucros das
empresas e nos salários da mão-de-obra criada em torno desses investimentos, no
consumo e serviços prestados.
Prova
deste descalabro europeu, porque é disso que se trata, são as alterações no
mercado financeiro, que oscila constantemente, face às crises de confiança
governamental, e não, face aos resultados económicos desses países. É a confiança,
como diz Krugman, que dita os juros e regula as economias, como se na confiança
ou desconfiança dos governantes, residisse a solução para os problemas de cada
país.
Por
aqui se pode aquilatar o ridículo a que se chegou, quando se misturam
sensibilidades com matéria pura, nada que não se veja ou adivinhe, tal como não
será nenhuma surpresa, o facto de que estes três países, nunca irão poder
saldar as suas dívidas. Nesse pressuposto, com as notícias ultimamente
veiculadas ao Ministério da Finanças, parte ou cerca de 50% das verbas do Fundo
da Segurança Social, aquele dinheiro que os contribuintes ao longo da sua
actividade profissional, depositaram à guarda do Estado Português, vai ser
aplicado, na dívida pública portuguesa, sabendo-se já que será a mesma coisa
que meter uma mão na boca do crocodilo, antes de um piscar de olhos, a mão já
se foi, porque com estes protagonistas, o Estado deixou de ser uma pessoa de
bem e sem palavra.
É
triste que esta escumalha, sim porque de escumalha se trata, bandidos,
aldrabões sem qualquer escrúpulo, salvaguardados pelas mordomias que
construíram para usufruto dos próprios e dos seus correligionários, se
banqueteiam perante a miséria e sofreguidão de uma população em desespero,
votada ao abandono, desprovida de meios e sem esperança num futuro de privações
e sem esperança.
A
união dos países europeus, sonho defraudado por políticas premeditadas e sem
nexo, subalternizadas ao poder de uma Alemanha de má memória, onde os
sentimentos de vingança de uma capitulação militar, alimentam políticas de
ambição desmedida, própria de sistemas neoliberais e fascistas, ditam as regras
do mercado, sem respeito pela soberania dos países, numa europa adormecida e em
total dependência económica e financeira, ligados a uma moeda altamente cotada,
desequilibrando por isso a balança entre as matérias importadas e as
exportadas, visto a Alemanha, ser o maior fornecedor de toda a Europa,
resultado do desmantelamento das estruturas produtivas e de transformação
desses países, aquando da sua adesão ao tratado europeu, tornando-as
dependentes crónicas, de produtos e matéria-prima.
Os
governos democraticamente eleitos em cada país deixaram de ser os decisores da
vontade popular, e passaram a ser mandatários e executores de regras e imposições
do Parlamento e Banco Central Europeu, dominado pela Alemanha, que se assume
como o protetorado esclavagista dos restantes países, quase todos do Sul e
antigos aliados na luta contra o domínio da Alemanha sobre a Europa, numa
competição desenfreada com outras potências fora do eixo europeu, Estados
Unidos, Rússia, China e Japão, que tendo dívidas públicas colossais, mostram o
fracasso e a ineficácia do sistema selvagem capitalista, onde os ricos são cada
vez mais ricos e os pobres cada vez mais na miséria.
Não
basta apregoarmos que estamos numa democracia, que escolhemos livremente os
nossos representantes, se o resultado do desempenho desses representantes, não for
coincidente com a defesa dos interesses, valores e condição de vida de quem
neles delegou confiança e do país.
Há que por termo a esta situação, impedindo
que esta economia baseada num mercado controlado e condicionado pela Alemanha, alicerce
ainda mais e implemente as suas raízes, porque estaremos a hipotecar a nossa independência,
o desenvolvimento do país e, que terá como resultado, uma trágica realidade com
exércitos de excluídos entre as camadas da população menos estruturada e
socialmente debilitada, tão comum nos sistemas de exclusão social que caracteriza
o capitalismo nas economias periféricas.
Ninguém
acredite que estas medidas impostas a Portugal, vão criar o milagre português, como
já ouvimos da boca de alguns ministros, pois toda a estratégia envolvida nos
programas de apoio, são gizados e parametrizados com o objectivo de criar uma
sociedade empobrecida, classista e de exclusão, criando-se um sistema de
apartheid social, regredindo aos tempos que antecederam a industrialização,
criando-se uma engrenagem de pobreza, sem emprego, e consequentemente
abundância de mão-de-obra barata, com a consequente liberalização do mercado de
trabalho, sem respeito pelos direitos e regalias dos trabalhadores.
É
preciso hoje, mais do que nunca, fazer-se uma depuração dos conceitos de
democracia, não permitindo a ascensão de determinadas terminologias que caem no
domínio público, como a exclusão social ou os socialmente excluídos, o que por
vezes provoca o desalento e capacidade dos cidadãos lutarem para serem elementos
indispensáveis no processo produtivo, económico e subsequentemente, a chave no
desenvolvimento do país.
Esperemos
não vir a ser uma das pedras do dominó, que agora começa a cair,
pedra-após-pedra, como refere Krugman, com as consequências que todos tememos.
Por essa razão, mais que não fosse, é urgente que os cidadãos tomem consciência
de que, continuando a escolher políticos sem palavra, estamos a ser coniventes
com as posições e decisões por eles tomadas, que no caso presente, tudo indica,
conduzirão o país a uma situação de rotura económica e social, cujo retorno
poderá acarretar para todos nós o “Cabo das Tormentas”, as amarras a uma
possível ditadura.
João
Carlos Soares
Barreiro,
11 de Novembro de 2013
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