Olhando
para as manifestações que vão acontecendo no nosso país, mais propriamente, nas
capitais de distrito, com predominância no Porto e em Lisboa, acções de
protesto e desespero, das populações contra as medidas governamentais e
ingerência externa, constatamos uma novidade introduzida após o 19 de Setembro,
que é o aparecimento de movimentos sem qualquer hierarquia ou organização, os
anonymus e os indignados.
Estes
grupos, perfeitamente identificáveis, muitos deles arregimentados pelas redes
sociais, cerram fileiras, mostram força e capacidade mobilizadora, para
enfrentarem as polícias e infligirem danos avultados, quer na propriedade
pública quer na privada, partindo montras e pintando slogans nas fachadas de
alguns edifícios emblemáticos e relacionados, ou com o poder ou com os grupos
ligados ao grande capital, como a banca.
Este
tipo de manifestantes, começaram a gozar de uma certa dimensão no espectro
contestatário português, popularidade e seguidores que, mesmo não sendo
estruturas organizadas, têm já uma grande implantação nas redes sociais, e movimentam-se
no interior das massas, de forma tática e objectiva, como se fossem militantes
de uma qualquer estrutura partidária.
Este
tipo de movimentos, já com algum historial e popularidade na Europa, mas que
assumiram um papel de relevo em Portugal, quando, através do uso de uma máscara
a cobrir os rostos dos manifestantes, fizeram capa de revista e primeiras
páginas, nos meios de comunicação social, e passaram a ser a imagem de marca,
quase uma esfinge do protesto e da contestação dos povos, secundarizando o
papel dos partidos de esquerda, e apresentando-se como uma alternativa ao
combate levado a cabo por esses partidos.
Este
movimento, correlacionado até certa forma, com o também Movimento dos
Indignados, ganhou ainda uma maior expressão junto das camadas mais desfavorecidas
e atingidas com o descalabro económico e social, no nosso país, que
transformaram estes movimentos como baluarte da contestação à globalização e
consequências na soberania do nosso país, relegando o desempenho dos partidos
políticos, para uma situação comprometedora, em democracia.
É
nesse pressuposto que, os dirigentes partidários, têm que de uma vez por todas,
passar a ouvir e estar atentos às alterações que entretanto foram acontecendo
na sociedade portuguesa, abrindo o seu espaço de discussão e ao mesmo tempo, absorvendo
as sensibilidades vivas da população, e deixando que as estruturas partidárias
existentes se sirvam da “antiguidade como um posto”, para afastarem ou
impedirem todos quantos, desiludidos, mas conscientes e coerentes dos valores
que os norteiam, venham a fazer parte dessas mesmas famílias políticas e
contribuir assim com a sua disponibilidade e vontade na luta contra os algozes
representantes do capitalismo.
Se
isso não vier a acontecer, há que temer num futuro próximo, o que já se sente
no presente, em que esses desiludidos e sem esperança no futuro, usam a
abstenção, como argumento de contestação, porque não houve capacidade nem
trabalho de esclarecimento e integração dessas pessoas, pelos partidos verdadeiramente
de esquerda, perdendo-se um enorme potencial, de podermos assistir à
constituição de um governo progressista, verdadeiramente empenhado na defesa
dos interesses e dignidade dos trabalhadores.
Faço
votos para que isso venha a acontecer, que a abertura a um espaço plural,
poderá diminuir o fosso entre a velha e a nova esquerda, abrindo caminho a novas
e estimulantes perspectivas para a luta das populações contra o capital.
Mas
para que isso seja uma realidade, será necessário e indispensável um exercício
de compreensão mútua que vá além dos preconceitos e procure aprender a
respeitar a diferença e a diversidade, vendo nela não uma fraqueza, mas uma
força e reforço do movimento de esquerda, em Portugal.
João
Carlos Soares
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