terça-feira, novembro 12, 2013

Um Exercício para além dos Preconceitos



Olhando para as manifestações que vão acontecendo no nosso país, mais propriamente, nas capitais de distrito, com predominância no Porto e em Lisboa, acções de protesto e desespero, das populações contra as medidas governamentais e ingerência externa, constatamos uma novidade introduzida após o 19 de Setembro, que é o aparecimento de movimentos sem qualquer hierarquia ou organização, os anonymus e os indignados.
Estes grupos, perfeitamente identificáveis, muitos deles arregimentados pelas redes sociais, cerram fileiras, mostram força e capacidade mobilizadora, para enfrentarem as polícias e infligirem danos avultados, quer na propriedade pública quer na privada, partindo montras e pintando slogans nas fachadas de alguns edifícios emblemáticos e relacionados, ou com o poder ou com os grupos ligados ao grande capital, como a banca.
Este tipo de manifestantes, começaram a gozar de uma certa dimensão no espectro contestatário português, popularidade e seguidores que, mesmo não sendo estruturas organizadas, têm já uma grande implantação nas redes sociais, e movimentam-se no interior das massas, de forma tática e objectiva, como se fossem militantes de uma qualquer estrutura partidária.
Este tipo de movimentos, já com algum historial e popularidade na Europa, mas que assumiram um papel de relevo em Portugal, quando, através do uso de uma máscara a cobrir os rostos dos manifestantes, fizeram capa de revista e primeiras páginas, nos meios de comunicação social, e passaram a ser a imagem de marca, quase uma esfinge do protesto e da contestação dos povos, secundarizando o papel dos partidos de esquerda, e apresentando-se como uma alternativa ao combate levado a cabo por esses partidos.
Este movimento, correlacionado até certa forma, com o também Movimento dos Indignados, ganhou ainda uma maior expressão junto das camadas mais desfavorecidas e atingidas com o descalabro económico e social, no nosso país, que transformaram estes movimentos como baluarte da contestação à globalização e consequências na soberania do nosso país, relegando o desempenho dos partidos políticos, para uma situação comprometedora, em democracia.
É nesse pressuposto que, os dirigentes partidários, têm que de uma vez por todas, passar a ouvir e estar atentos às alterações que entretanto foram acontecendo na sociedade portuguesa, abrindo o seu espaço de discussão e ao mesmo tempo, absorvendo as sensibilidades vivas da população, e deixando que as estruturas partidárias existentes se sirvam da “antiguidade como um posto”, para afastarem ou impedirem todos quantos, desiludidos, mas conscientes e coerentes dos valores que os norteiam, venham a fazer parte dessas mesmas famílias políticas e contribuir assim com a sua disponibilidade e vontade na luta contra os algozes representantes do capitalismo.
Se isso não vier a acontecer, há que temer num futuro próximo, o que já se sente no presente, em que esses desiludidos e sem esperança no futuro, usam a abstenção, como argumento de contestação, porque não houve capacidade nem trabalho de esclarecimento e integração dessas pessoas, pelos partidos verdadeiramente de esquerda, perdendo-se um enorme potencial, de podermos assistir à constituição de um governo progressista, verdadeiramente empenhado na defesa dos interesses e dignidade dos trabalhadores.
Faço votos para que isso venha a acontecer, que a abertura a um espaço plural, poderá diminuir o fosso entre a velha e a nova esquerda, abrindo caminho a novas e estimulantes perspectivas para a luta das populações contra o capital.
Mas para que isso seja uma realidade, será necessário e indispensável um exercício de compreensão mútua que vá além dos preconceitos e procure aprender a respeitar a diferença e a diversidade, vendo nela não uma fraqueza, mas uma força e reforço do movimento de esquerda, em Portugal.
João Carlos Soares

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